BTS's Doctor Crush

Nenhuma donzela em perigo


A maioria das mulheres, quando sai de um relacionamento, resolver tirar um tempo para si mesma, quem sabe até mesmo para curar algumas feridas. Mas, como eu já havia dito, eu não sou como a maioria das mulheres — eu sou do tipo que é lançada para fora do seu próprio namoro com nada além da roupa do corpo e um peixe de estimação e, algumas semanas depois, está de mãos dadas e perigosamente perto de um de seus mais novos chefes.

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Às vezes, eu me pergunto como deve ser ter uma vida normal.

Sentada sozinha em uma cafeteria não muito longe do "meu" apartamento, eu me questionava se não acabaria ficando vesga de tanto tentar olhar, ao mesmo tempo, para meu celular e para a xícara de café já metade esvaziada a minha frente, ambos sobre a mesa. Eu balançava minhas pernas inquietamente, tentando decidir se deveria apenas terminar meu expresso ou ligar para ele — fazer os dois simultaneamente estava fora de cogitação, considerando a desastrada que sou. Não, eu não iria ligar. Ainda estava confusa, envergonhada pelo meu pequeno show hormonal e, acima de tudo, curiosa demais. Se tivesse que falar com Yoongi agora, provavelmente não conseguiria me segurar e acabaria lhe atropelando com um milhão de perguntas, especialmente a famosa "quem era aquele galã de novelas de ontem à noite, e o que você fez com o habitual Yoongi ranzinza e preguiçoso?".

Mas droga, por que eu estava assim? Fazia algum tempo que eu já me sentia confortável ao lado dele ao ponto de conversarmos normalmente, porém, ontem havia sido diferente — ao ponto de fazer meu coração acelerar e com que meu corpo quisesse involuntariamente ficar mais próximo do dele. Além disso, aquele terno que lhe dava todo um ar de homem não tinha me ajudado em nada a não encará-lo constantemente. Eu me senti atraída, era isso? Aigoo... mal sai de um relacionamento e já me encontro na seca.

Bufei, sentindo-me como uma adolescente e, finalmente, escolhendo a xícara de café como minha companhia. Eu estava sentindo falta de conversar sinceramente com alguém, no fim das contas. Quando minha vida era monótona e um tanto sem sal, Jung Soo estava sempre ao meu lado; agora, quando me deparo com uma surpresa diferente a cada dia, a bendita resolve viajar. Levando a xícara com o líquido ainda quente até os meus lábios, eu comecei a me perguntar se não seria melhor substituir minha melhor amiga pela Siri ao algo do tipo.

O castigo por tal pensamento veio logo em seguida, de jatinho de tão rápido: meu telefone tocou estridentemente sobre a mesa, assustando-me e fazendo com que eu engasgasse e queimasse meu lábio inferior com o café. Jung Soo era uma feiticeira, só pode. Desculpando-me timidamente com as pessoas ao meu redor, que me olhavam como se eu fosse maluca (talvez elas tivessem razão, afinal), eu fitei a tela do aparelho, onde o nome de Hoseok aparecia no centro.

— Alô. — atendi, já recuperada do susto.

Eu odiava quando minha mãe dizia que eu era muito distraída, mas sabia que, não muito lá no fundo, ela estava certa. E era por isso que eu vivia me assustando desnecessariamente com as coisas.

Bem, isso fora um comentário fora de hora.

Alô, Sun Hee! — como sempre, ele estava feliz. — Como está?

— Bem, Hoseok. — respondi, contagiada pela sua alegria. De repente, lembrei-me de que ele havia se machucado e me senti uma pessoa terrível por não ter ligado para saber como ele estava. Uma pessoa distraída, afinal. — E você? Yoongi me disse que você se machucou.

Aigoo... não foi nada demais. Eu nem precisei enfaixar, o médico só pediu que eu repousasse e, em alguns dias, já estarei curado e pronto para aprontar a próxima. — a tranquilidade em sua voz me reconfortou. Quando estava prestes a respondê-lo, ele continuou. — Eu liguei para saber se gostou da apresentação.

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Eu tossi, como se ainda tivesse engasgando com o café. Será que Yoongi havia lhe dito alguma coisa?

Bem, ele disse que não contaria nada, e eu resolvi confiar naquilo.

— Foi boa. Ótima. — disse, um pouco mais rápido do que o necessário. — Uma pena que você tenha perdido.

Talvez nem tanto, disse uma voz irritante em mina cabeça. Aish, Sun Hee, se controle e haja como a profissional que é!

Sabia que iria gostar. — pausou, pigarreando. Eu não podia vê-lo, mas senti que ele estava assumindo o tom de voz de quem estava aprontando algo. — O que me surpreendeu foi o hyung ter gostado também.

E então, meus pés começaram a balançar nervosamente de novo.

— Ele disse isso?

Aniyo... mas ele chegou todo sorridente, mesmo estando encharcado pela chuva. Ele não disse nada, mas fazia tempo que eu não o via tão relaxado assim. — só deu tempo de concordar com um murmuro, antes que ele emendasse: — Sabe, vocês deveriam assistir a mais apresentações de balé juntos.

O que estava me deixando tão inquieta era o fato de eu estar mentindo para Hoseok, certo?

Aish... eu me conhecia bem o suficiente para saber que não era só isso.

— Quem sabe... — sussurrei, dando de ombros.

Depois de conversarmos mais um pouco, eu pedi para que ele se cuidasse e, em seguida, encerrei a chamada. A essa altura, o mísero resto de café dentro da xícara já havia esfriado e, por isso, resolvi que o deixaria ali mesmo. Como já tinha pago a conta, levantei-me e deixei o ambiente, me encolhendo para que as pessoas não notassem que a louca do telefone com um toque desnecessariamente alto estava indo embora.

Caminhando (adivinhem só, distraidamente) de volta para casa, minha mente me levou novamente para a cena do pequeno sorriso de Yoongi, ofegante e com o rosto vermelho por causa da nossa corrida. Ele estava tão molhado que, naquele momento, eu não sabia se ria também ou se sentia pena por tê-lo colocado naquela situação — mas parece que, pelo o que Hoseok dissera, ele acabou gostando tanto quanto eu.

Balancei a cabeça, afastando todo e qualquer pensamento relacionado à noite anterior. Quando o fiz, acabei pousando meus olhos em um panfleto esverdeado colado em um poste, que chamou minha atenção ao ponto de me aproximar para lê-lo. Era um anúncio de um dono de um restaurante, que estava passando o ponto.

Eu me animei, lembrando-me de todos os incentivos que o universo vinha me dando nos últimos tempos, e uma ideia acendeu em minha mente.

Era cedo demais para começar a concretizar minha ideia de ter meu próprio restaurante? Sim, talvez. Mas eu ligava para isso? Jamais!

Animada, eu arranquei do poste o panfleto com uma força um pouco exagerada. O local não era muito longe dali, portanto, não custava nada ir até lá para dar uma olhada — apenas uma rápida espiada, só para ter noção de custos, não mataria ninguém. Além disso, manter minha cabeça ocupada com outras coisas além dos meus pensamentos sem pé nem cabeça seria bem útil nesse momento.

Sorrindo, eu comecei a caminhar mais rápido, como se o restaurante fosse sair correndo se eu demorasse muito para chegar até o mesmo. Por fim, eu acabei chegando no estabelecimento mais rápido do que eu esperava e, de bônus, meu rosto queimava e faltava uma certa quantidade de ar em meus pulmões. Precisei me recompor e respirar fundo algumas vezes, antes que a minha entrada fosse anunciada pelo sino da porta.

O lugar estava mal pintado e, talvez pelo dono estar vendendo-o, possuía apenas algumas mesas velhas e desocupadas, que davam ao local uma atmosfera um tanto assombrada. Eu nem havia parado para pensar se o restaurante estava aberto e, quando isso passou pela minha cabeça, eu achei que seria melhor ouvir o arrepio em minha espinha e dar meia volta, ligando para o dono mais tarde para conversar com o mesmo por telefone.

Fui interrompida por passos arrastados, que vinham de onde eu imaginei ser a cozinha.

— Boa tarde. — disse uma voz grossa, fazendo com que eu desviasse a minha atenção da porta. — Posso ajudá-la?

Deparei-me com um homem de estatura mediana, com gordura corporal de sobra, camiseta, barba e suor pingando de sua testa. Com um sorriso aberto, ele exibia os dentes amarelados na tentativa de parecer prestativo — só que, na verdade, ele era mais aterrorizante do que o lugar.

— Eu... — pausei, pensando se realmente não seria uma boa ideia ir embora. Não, eu estava sendo preconceituosa. Balancei o panfleto no ar, atestando que ficaria para fazer o que vim fazer. — Vi seu anúncio. Gostaria de dar uma olhada no lugar, se possível.

Com a cabeça, ele concordou, sem desviar os olhos de mim.

— Claro, fique à vontade. Imagino que você já tenha visto tudo por aqui, então, gostaria de ver a cozinha?

Ye. — concordei, levando alguns segundos para começar a me mover.

Quando me aproximei, o homem abriu espaço para que eu passasse na sua frente e eu agradeci com um aceno de cabeça — o que constatei logo em seguida que havia sido um erro, assim que pude sentir seus olhos fixos em mim.

Pare de preconceito, Sun Hee. Isso é coisa da sua cabeça.

— O lugar precisa de algumas reformas, não é? — indaguei, tentando tornar o clima menos pesado.

— É, verdade. Mas estou disposto a baixar o preço. — respondeu, despreocupado. — Ou, se preferir, posso vir aqui todo dia para ajudá-la com o que precisar.

Eu ao menos tive tempo de estranhar sua fala, ou sua voz rouca. Senti uma respiração quente e descompassada em meu pescoço e, em seguida, uma mão segurar o meu quadril por trás, o que me fez pular de susto. Eu não consigo explicar muito bem o que veio em seguida, só consigo me lembrar das batidas rápidas e fortes que meu coração dava: eu tentei me soltar, o que fez com que ele aumentasse a força do aperto em minha cintura. Eu gritei e, quando ele me xingou, perdi o controle das minhas ações. Virando-me, eu acertei uma cotovelada em seu rosto, algo que havia aprendido durante uma aula de defesa pessoal há algum tempo. Quando ele cambaleou para trás, me soltando, eu me virei para encará-lo. Agora furioso, o homem tentou avançar na minha direção, erguendo a mão para me estapear.

— Você vai se arrepender de ter feito isso! — esbravejou.

Eu já tinha visto aquela cena antes, quando o diretor do hospital e meu ex chefe, tentou me acertar um tapa — a diferença era que, daquela vez, eu tinha um grupo de sete homens para me defender. Agora, eu estava sozinha com aquele homem raivoso, e eu via nitidamente sua mão vindo na minha direção.

Mas eu não era nenhuma donzela em perigo, jamais fui.

Reunindo todo o ódio e medo que sentia naquele momento, eu acertei meu pé em suas partes íntimas, pegando-o de surpresa. Ele gritou de dor e, em seguida, caiu no chão, se contorcendo. Eu não pude evitar em acertá-lo com mais alguns chutes em lugares do seu corpo que eu tinha certeza que ele nem mesmo conhecia e, quando parei, estava quase tão ofegante quanto ele.

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Ele não me olhava, apenas gemia e se remexia, quase enfiando a cabeça dentro do piso sujo. Eu tinha palavras de ódio presas em minha garganta, queria xingá-lo e gritar para que pensasse duas vezes antes de fazer isso com outra pessoa, porém, estava assustada demais para conseguir falar. Quando comecei sentir raiva de mim mesma, dei dois passos para trás, cambaleando.

Não, ele era o ser humanos asqueroso daquela história, não eu. Se fosse para sentir nojo de alguém, com certeza sentiria dele.

Aproveitando que o homem ainda estava no chão, eu resolvi que precisava sair dali. Respirando com dificuldade e com o raciocínio um pouco conturbado, eu contornei seu corpo caído e, em questão de segundos, estava andando apressadamente pela rua, sem saber ao certo para onde estava indo. Na verdade, eu não sabia ao menos distinguir se estava apenas andando rápido ou correndo pela rua e, sem ter noção da distância que percorri, eu só consegui parar ao ouvir o toque do meu celular.

Eu não estava nem um pouco disposta a atender, porém, quando vi o nome de Yoongi acender em minha mão trêmula, eu apenas cliquei no botão de cor verde e posicionei o aparelho em meu ouvido.

Alô, Sun Hee. — eu lhe ouvi dizer. Ele parecia um pouco tímido, porém, eu não estava em um momento em que podia confiar nos meus julgamentos. — Eu só liguei para...

Eu só pude perceber o quão alto estava soluçando quando ele, de repente, parou de falar. Encostada em alguma parede, em um lugar que mais parecia um beco, eu senti lágrimas quentes deixarem meus olhos, molharem minhas bochechas e, por fim, pingarem no meu moletom cinza.

Eu nem tinha notado que estava chorando.

Sun Hee? Você está bem? — perguntou, preocupado. Ele falava rápido, mas, de algum modo, eu conseguia entendê-lo. — O que aconteceu?

Eu queria falar. Precisava falar. Porém, por telefone, eu sabia que simplesmente não conseguiria.

— Yoongi... — sussurrando seu nome, eu torci para que ele tivesse escutado meu chamado. — Você pode vir me buscar?

Claro, claro que posso. — respondeu prontamente, fazendo com que eu suspirasse aliviada. — Onde você está?

Eu não fazia ideia de onde estava. Nem mesmo olhando ao meu redor, para as altas paredes de tijolos e as lojas quase todas fechadas, eu conseguia descobrir.

— Eu... — chegando a conclusão de que ele provavelmente teria um mal súbito se eu lhe disse a verdade, parei. Lembrei da existência da tecnologia. — Vou lhe mandar a localização.

Está bem. Estou indo até você. — disse, sem fazer perguntas. — Por favor, fique segura e espere por mim.

Mesmo sabendo que ele não podia me ver, eu apenas concordei com a cabeça. Não consigo me lembrar quem desligou primeiro, porém, quando segurei o celular bloqueado em minha mão, me senti culpada. Eu provavelmente tinha deixado Yoongi preocupado e, por isso, ele viria correndo e sem se preocupar consigo mesmo. Eu não deveria ter feito isso, porém, soluçando baixinho, eu só podia esperar que ele chegasse e eu pudesse, enfim, me sentir protegida.

E não demorou muito para que isso acontecesse. Quando um barulho alto de pneus raspando contra o asfalto chamou minha atenção, eu ergui a cabeça, sem me preocupar com o rosto inchado. Eu nem precisava vê-lo saltar do lado do motorista para saber que era ele.

— Sun Hee! — exclamou, andando apressadamente até mim, com os olhos abertos de um modo que eu nunca havia visto.

Eu não me movi, até o momento em que senti seus braços me abraçarem pelos meus ombros. Nossa diferença de altura não era gritante, por isso, eu pude esconder meu rosto na curva do seu pescoço sem problemas.

— Você está bem? — perguntou baixinho, porém, como falava próximo ao meu ouvido, não tive dificuldade para entendê-lo.

Minha respiração estava calma, o que possibilitou que eu fechasse meus olhos por um momento.

Agora, eu estava bem.

Ye. — sussurrei de volta.

Eu não queria sair daquele abraço, porém, não me incomodei quando ele gentilmente me afastou, analisando em seguida cada detalhe do meu rosto. Respirou fundo, parecendo mais aliviado. Fitando meus olhos diretamente, disse:

— Vamos embora.