Os movimentos voltaram aos poucos. Havia uma venda nos meus olhos. E eu pude sentir que eu estava amarrada. O chão era áspero e eu pude perceber a madeira, os leves movimentos que me deixavam tensa me fizeram acreditar que eu estava em algum barco.

— Tem alguém ai? – Eu disse para o desconhecido.

Mas não recebi nenhuma resposta.

As minhas mãos estavam presas de uma forma em que uma ficava virada para outra, impedindo qualquer tipo de movimento com elas.

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Abaixei minha cabeça e assim pude afrouxar a venda com o meu o ombro. Fiz movimentos faciais até que a venda finalmente caísse ao meu pescoço.

Estava escuro, mas as frestas na parede de madeira me disseram que ainda era dia. Olhei ao redor e percebi que não estava sozinha. Haviam mais pessoas desacordadas na mesma posição que eu. Elas também foram sequestradas pela União do Fogo.

Forcei as minhas mãos, mas a corrente não cedeu. Eu preciso de ajuda.

— Tem alguém acordado? - Falei um pouco baixo, não queria que nossos captores ouvissem.

De novo nenhuma resposta. Ouvi alguns roncos e gemidos. Alguém estava finalmente acordando.

— Você que está no chão. Force seu rosto até que a venda caia.

Não sei se ela iria me ouvir, mas vi alguns movimentos estranhos.

Meu coração gelou quando eu vi quem era. Eu o reconheci.

— Ty zin? – Perguntei desacreditada.

— O que está acontecendo? – Ele me perguntou com dificuldade.

Foi naquele momento que eu percebi, eu conhecia algumas pessoas que estavam ali, e a coisa em comum entre elas e que elas eram dobradores de fogo.

— Nós fomos sequestrados. Só isso. – Respondi com uma ponta de ironia, apesar de toda essa situação, eu não gostava desse garoto.

Os minutos se passaram e outras pessoas acordaram.

Uma pessoa querida e conhecida estava no meio.

— Riku?

O olhei, ele parecia tenso. Seus olhos ainda estavam vendados. O sorriso estranho que cortou o seu rosto me fez perceber que ele não estava sob os efeitos dos estabilizadores de humor.

A venda dele queimou como papel. Seus olhos dourados estavam azuis. O cheiro de queimado iria chamar a atenção dos soldados.

— Não faça isso Riku.

— Não fazer o que? - Ele perguntou sarcasticamente.

Desisti, não tem como conversar com ele nesse estado.

— Como vocês vieram parar aqui? – Eu disse para qualquer um.

— Eu não lembro. Mas eu acho que foi ontem. Eu voltei para casa e não havia ninguém lá, quando eu abri a porta do meu quarto tudo ficou escuro e eu acordei aqui. – Disse o garoto baixo que eu acho que é o Uni.

— Isso também aconteceu comigo, mas foi hoje de manhã. – Fiquei surpresa quando eu ouvi a Zelena. Ela esteve se mantendo quieta até agora. Sua voz saiu como um sussurro sufocado. Acho que ela não queria que a víssemos nesse estado.

— Temos que dar um jeito de sair daqui. Não podemos ir para a União do fogo!

— União do fogo? - Alguns me perguntaram. Acho que eles ainda não sabiam o que realmente estava acontecendo.

Eles estavam visivelmente nervosos. A vida de um dobrador de fogo na União tinha as seus rumores. Trabalho forçado era o que mais assustava a todos.

— Por que você está aqui? – Zelena finalmente se mostra como ela é.

— Por quê?

— Sim, pelo que sabemos a União do fogo está apenas atrás do dobradores de fogo. Pelo o que eu sei eles não se interessam por dobradores de outros elementos.

Ouço o que ela diz com atenção.

— Vocês não viram televisão?

— Como iríamos assistir televisão nesse estado?

Eu realmente poderia dizer qual o interesse deles comigo, mas hesito. Não irei falar nada agora. Não quero iludi-los a pensar que eu posso resolver isso sozinha.

— A deixa para lá, eles devem ter me confundido.

Riku ri.

— Do que você está rindo? – Zelena diz incomodada.

— Ah minha Mira. Você realmente vai esconder a verdade deles? Onde está a diversão disso?

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— Verdade? – Alguns se perguntam.

— Riku. Fique quieto. Não quero arranjar problemas nesse momento.

— É melhor vocês dois falarem antes que... – Zelena não completa a frase, ouvimos passos e todos prendemos a respiração.

Um alçapão é aberto no teto. De lá, Zunder nos olha.

— Meus compatriotas. Vejo que vocês já acordaram. Talvez agora vocês possam aproveitar a viagem. – Ele falou em um tom de zombaria.

Nesse momento Riku conseguiu se soltar e uma explosão azul me faz fechar os olhos.

Tudo acontece muito rápido. Eu sou solta por alguém e em pouco tempo conseguimos sair dos fundos do barco.

Somos em 10. Nós da escola de combate e mais 5 da escola de tecnologia.

— Riku como você conseguiu?

— Eles nos prenderam com algemas de aço. – Ele riu — Mas o meu fogo é mais quente.

Quando a fumaça começa a cessar somos cercados por pelo menos 30 soldados.

— Fogo azul? Isso é realmente fantástico. Quem poderia imaginar. Você foi o mais fácil de ser capturado. – Zunder disse com admiração.

Olhar o horizonte me situou. Nós estávamos onde o Riu Yue Bay deságua no grande mar. Isso significava que ainda estávamos no território de Republic city, isso me animou um pouco.

— Todos estão soltos? – Pergunto.

A maioria de nós estava. Mas alguns ainda estavam desorientados demais para responder.

— Se rendam. Esse motim não vai levar a nada. Já estamos saindo do território de Republic City. Não há como fugir. – Um soldado disse.

— Prefiro morrer a ir para a União do Fogo. – Ty zin afirmou.

Acho que essa não era apenas a opinião dele.

— Irmãos. Tudo o que você ouviram sobre a nossa pátria mãe é uma mentira descarada contada pelo governo dessa ditadura.

— Então por que nos sequestrarem? - Eu pergunto com conviccção.

— Mira? Achei que você era a que mais sabia sobre como é a vida dos pobres nessa cidade, se não você não faria parte da UCG não é mesmo?

— Você não sabe nada sobre mim. – Eu o ataquei. Eu dobrei a água do rio e quase o derrubei da embarcação. Foi uma enxurrada que balançou todo o barco.

Respirei fundo. Deixando a raiva espairecer.

— Agora sim. Um pouco de ação.

Riku atacou com vontade. E isso incentivou o resto dos prisioneiros.

Apesar de todos os nossos esforços só Riku e Zelena estavam dando conta. O dobradores da escola de tecnologia não sabiam o que fazer. Assim eu me pus à frente deles. Atacando quem ousasse ameaça-los. Éramos poucos, apenas estudantes e o que estava nos motivando era que não tínhamos nada a perder.

No calor na batalha eu ouvi uma voz. Engoli em seco. Não agora! Olhei para a imensidão azul. Tão tentadora. Seria tão mais fácil. Eu dei alguns passos em direção a proa. Vozes ao fundo me chamavam. Mas aquilo não importava. Nada mais importava.

Tudo ficou quente. Uma dor me tirou do transe. Fogo azul estava consumindo as minhas vestes.

Olhei para Riku assustada.

— Você não vai querer perder a melhor parte não é? -- E ele apagou o fogo que estava em mim

— Não vou mesmo. – Concordei.

Tudo estava coberto por fumaça. O barco já estava em chamas. Mas ninguém parecia realmente se importar em apagar. Fiz como Meelo havia me dito. Apesar de ainda não conseguir chegar perto do que ele podia fazer eu afastei a fumaça com um vento forte e grosseiro, apesar dos meus esforços isso só aumentou o fogo.

— Como? – Ouvi Zelena dizer antes de ser atacada novamente.

Eu tive receio de dobrar a água. Eu tive medo de que o rio pudesse me afetar novamente.

Zunder havia se recuperado. Ele estava envolto por uma camada de fogo vermelho. O fogo de Riku era mais forte, mas o general tinha muito mais habilidade. Foi nesse momento que um dragão de fogo vermelho saiu de suas mãos e atacou Riku fazendo cair do barco.

Todos pararam subitamente.

Riku era a nossa melhor chance. Até Zelena parecia afetada. Eu não tinha ideia do que fazer. Minha mente ficou em branco. Só percebi o que eu havia feito quando eu atingi a água. Ela já era salgada nesse ponto. Quando eu comecei a afundar ela entrou pelo meu nariz e garganta. Tudo ardia. Eu não conseguia me mexer. A luz foi ficando cada vez mais distante. Meus olhos se fecharam.

— Mira?

Uma voz se aproximou. Eu não estava sentindo mais nada. Abri os olhos com cuidado. Uma forma humana transparente estava na minha frente. Ela não possuía nariz ou boca. Só olhos profundos e azuis.

Olhei ao redor. Tudo era branco.

Pensei em Riku.

— Não precisa se preocupar com o seu amigo. Ele está bem.

A voz não saia da criatura. Ela estava na minha mente.

— Quem é você?

— Eu? Eu sou o Yue Bay. Me desculpe as vezes eu esqueço que você não lembra de mim.

As palavras da Avatar Korra me atingiram naquele momento.

— Você limpou minha memória.

— Sim eu fiz isso.

— Por que você fez isso?

— Por que isso tinha que ser feito. Sua mãe me pediu e eu concedi esse desejo a ela.

Eram tantas perguntas. Mas eu não podia perder tempo. Eu precisava voltar e salvar os dobradores.

— O que você quer de mim?

— Eu? Eu apenas queria conversar.

— Por isso você matou tantos dobradores de água? Por que queria conversar?

— Você é a Avatar, mas antes disso você é apenas uma humana. O valor de uma vida para você é diferente para mim.

A criatura ficava parada e movia a sua cabeça transparente de vez em quando, parecia que ela queria demonstrar emoções.

— Mira, o tempo está acabando.

— Tempo?

— Venha me visitar mais vezes. Eu prometo que você não vai se afogar no processo.

Assim tudo fica branco.

Meu nariz e garganta começam a arder novamente. Tem água nos meus pulmões. Eu começo a tossir.

Abro os olhos e vejo Suni? E Meelo? Como?

A cara de alívio deles é aparente.

— Cadê o Riku? – E a primeira coisa que me vem à mente.

— Não se preocupe, ele está bem. Ele sabe nadar.

— Por que vocês estão aqui? O que aconteceu? – Pergunto com dificuldade.

— Você não sabe? Você salvou todos os prisioneiros. Você destruiu aquele barco.