Airon estava mais calmo que o dia anterior, mas completamente confuso e irritado com a situação. Não sabia que o nome de tal sentimento era ciúme, mas o sentia, e muito. Ele viu Zara e Avalon aproximando-se da cabana, os dois com sono e claramente exaustos.

Avalon segurava a duppata de Zara, e estava recolocando-a sob os ombros da garota, enquanto ela lhe sorria timidamente. Airon ficara furioso, não entendia a razão pela qual ela era tão gentil com o irmão, e tão rígida com ele.

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Ainda com certos conflitos internos, a tarde se passou calmamente, até que Muraoka chamou Zara para a primeira lição. Elas deixaram os três garotos sozinhos, sob a supervisão de Sozen.

– Sozen, qualquer sinal arisco, pode tomar qualquer providência. – Disse Zara ao tigre-leão antes de sair.

Muraoka levou a jovem Avatar por uma caminhada além do templo, para uma das outras montanhas interligadas por pequenas e fortes pontes de madeira. A tarde estava ensolarada, e as duas demoraram pouco mais de meia hora para chegar ao lugar onde Muraoka queria levar a garota.

Tratava-se de um pequeno altar coberto por ervas daninhas, no topo de uma montanha mais alta que a do templo. As ruínas da pequena abóboda eram agradavelmente belas, e Zara sentiu-se satisfeita, por alguma razão, ao encarar as escrituras por todas as partes da construção.

– Zara, vê aquilo? – Perguntou Muraoka apontando para um pequeno baú no chão, num cantinho escondido, coberto de hera. A garota forçou um pouco a vista até encontra-lo, e assentiu com a cabeça. – No final das suas lição, você vai abrir aquele baú. Eu não sei o que tem nele, e nem quero saber. Seja o que for, é pra você. Quando abrir, faça o que achar que deve fazer.

Zara encarava o baú, um pouco curiosa. Mas já havia entendido que tudo vem a seu tempo, e respeitaria todas as lições dadas por Muraoka.

Passaram o resto do dia apenas conversando, a Nômade do Ar fazia perguntas reflexivas para Zara, sem julgá-la pelas resposta ou induzi-la a nada. Falaram sobre a família de Zara, em sua maioria, e sobre a vida que ela tinha no Polo Norte. O que ela achava justo, injusto, o que notava e o que deixava de notar. Conforme as palavras eram ditas, e Zara pensava nas perguntas de Muraoka, seu ponto de vista começou a mudar aos poucos.

Falaram sobre o passado, sobre a vida do Avaar Aang. Alguns nomes que Muraoka falava eram estranhamente familiares à garota. Poucas horas depois do espetáculo do por do sol, estavam prestes a ir embora.

– Mais uma coisa, Zara. – Falou Muraoka antes que as duas se levantassem. Zara ergueu o olhar, atenta. – Você ainda precisa aprender a dobra de fogo, espero que não esqueça disso. Aqui, eu só posso ajudar-lhe com o ar, mas estou certa de que Avalon pode te ajudar. – Disse seriamente, enquanto a garota apenas assentiu, com a cabeça mergulhada em pensamentos.

As semanas seguintes se passaram com poucas modificações. Pela manhã, Zara ia para o salão do templo para aprender dobra de fogo com Avalon, enquanto Muraoka dava um jeito de tirar Gumo e Airon dali. Zara não queria que Airon soubesse que Avalon podia dobrar fogo, e Muraoka aceitou a sua opinião sem mais perguntas.

Com pouco mais de um mês, Zara sentia-se confiante em treinar a dobra de fogo com Avalon, e já era capaz de gerar pequenas chamas e lançar em alguma direção. Muraoka começou a ensiná-la meditação, a obtenção de controle interno. Graças à meditação, Zara conseguiu se comunicar com Raava mais uma vez.

Foi numa madrugada de chuva que Zara começou a ter certos pesadelos.

Era um campo escuro, vazio, como um deserto de chão avermelhado. Diante de seus olhos, uma gigante árvore seca e oca possuía um selo brilhante de símbolos avermelhados e arroxeados. Tudo parecia morbidamente silencioso, exceto por uma respiração profunda que a garota podia ouvir.

– Raava. – Rugiu uma voz profunda e masculina, que fez Zara arrepiar-se mesmo no corpo físico. – O que vem fazer aqui depois de tantos séculos? – Perguntou a voz, como um estrondo. Zara engoliu em seco. Sabia de quem era a voz.

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Acordou com um grito abafado pelo travesseiro, o coração à mil e o corpo inteiro soando. Seus lençóis haviam todos caído no chão graças a noite inquieta que estava passando.

– Zara? – Chamou uma voz doce e amiga, mas que mesmo assim assustou a garota fazendo-a virar-se para Gumo assustada. O rapaz coçava o olho, sonolento, aparentemente o único que havia acordado com a menina. – Está tudo bem? – Perguntou amigavelmente, quase num sussurro.

– Sim... – Ela falou num suspiro aliviado. – Foi apenas um sonho. – Tranquilizou-o. – Vamos descansar, tudo bem? – Disse virando-se de lado e pegando os lençóis para se cobrir novamente.

Naquela semana, Zara acordava todas as noites graças ao mesmo sonho que tinha. Em todos, estava diante da árvore oca, mas em alguém a voz intenso não se pronunciava, apenas aquela respiração profunda. Num certo dia, as coisas começaram a ficar mais sérias.

O céu negro do sonho parecia estar se preparando para uma tempestade, quando uma gargalhada estrondosa atingiu os ouvidos da garota.

– Raava, como pôde deixar sua cápsula me encontrar tão facilmente? – Disse a voz, entre risadas altas e assustadoras. – Mas é tão nova... Este problema será resolvido até nosso encontro, menina. – Falou.

– Zara, acorde! – Disse a voz desesperada de Raava. – Acorde! – Gritava enquanto Vaatu apenas gargalhava maldosamente.- Zara, você precisa acordar! – Implorava.

– Zara! Acorde! – Sussurrava Gumo agitando-a pelos ombros. Todos ainda dormiam quando Zara conseguiu despertar. O rapaz suspirou aliviado e a convidou a sair da cabana para conversar. Agradecida por ir respirar um ar livre, Zara o acompanhou até o pátio do templo, levando consigo um dos lençóis para se manter esquentada, e Gumo fez o mesmo.

– Você não dormiu bem nenhum dia esta semana, Zara. – Observou o amigo, olhando-a preocupado. Sentaram-se num muro baixo por ali, e Zara suspirou ao olhar para Gumo.

– Tenho tido pesadelos com Vaatu. – Ela sussurrou, como se fosse o maior segredo do mundo. Gumo franziu o cenho antes de sentir a primeira gota de chuva tocar-lhe o nariz.

Eles correram para dentro do templo, protegendo-se da chuva que começara a cair de repente. Ventava muito forte, mas por trás das paredes grossas não parecia tão frio. Dividiram os lençóis para aquecer-se melhor e então começaram a conversar.

Zara contou-lhe sobre os sonhos e sobre como iam os treinos de dobra de fogo, assim como Gumo falou sobre as coisas que estava aprendendo. Conversaram sobre Airon e Avalon, mas muito pouco, aquele era um assunto um tanto delicado.

Em dado momento, Gumo pediu que ela dobrasse fogo para que ele visse. Satisfeita com o pedido, a garota criou uma chama pequena, azulada, porém ainda muito fraca se comparada com as chamas de Airon ou Avalon. Mas aquela era suficiente.

A tempestade apenas piorou conforme as horas passavam, então os dois dormiram ali mesmo, encostados numa parede qualquer e apoiados um no outro. Zara finalmente teve um sono tranquilo, sem sonhos, sem Vaatu.

Mas a paz não a fez companhia por muito tempo. Com o passar dos dias, os pesadelos voltaram até Zara finalmente conseguir entrar em contato com Raava numa de suas meditações, cada dia mais frequentes.

– Zara! – Exclamou o espírito assim que o contato foi feito.

– Raava, o que está acontecendo? – Perguntou a garota, antes de qualquer coisa. Raava suspirou aliviada por finalmente falar com a garota e pôs-se a explicar.

– Por alguma razão, eu estou ficando mais forte, o que significa que o mundo está ficando um lugar melhor. – Falou, sendo bem clara. - Eu não entendo o que está acontecendo, apenas sei que quanto mais forte eu fico, mais fácil é para você entrar no mundo espiritual, e mais fácil é para Vaatu sentir a sua presença lá. Enquanto você dorme, seu espírito se eleva inconscientemente e vai para onde está sendo atraído, mas no caso, Vaatu atrai a mim, já que o nosso estado natural é junto um ao outro.

– Então quando melhor o mundo for, mais fácil será a comunicação com você, mas também com Vaatu? – Perguntou a garota, vendo Raava assentir.- Devemos fazer algo quanto à isso?

Raava pensou por alguns segundos antes de recomeçar a falar.

– Você não deve responder a nada que Vaatu falar em seus sonhos, Zara. – Ela falou com a voz profunda e sábia, preocupada com a garota. – Embora preso, Vaatu é perigoso e eu não sei quais são os limites de seu poder. – Disse o espírito.

Mesmo depois de entender um pouco melhor o que estava acontecendo, Zara ainda queria falar com o poderoso espírito negro. Havia algo naquilo tudo que ela não sabia, e que ele talvez pudesse saber.

Enquanto o tempo passava, Zara aprendeu a controlar o lugar para onde seu espírito ia durante as noites de sono, e passou a ir até o Polo Norte ver seus pai e seu pequeno irmão. Em alguns dias, quando estava inquieta, vagava por aí, procurando por respostas e ansiando por coisas que ela mesma não sabia denominar.

– Zara? – Chamou Muraoka num dia comum, enquanto a garota meditava no ponto mais alto da montanha mais alta dos arredores do templo. A jovem Avatar abriu os olhos lentamente e encarou a mulher por alguns segundos. – Quero que respire fundo, como te ensinei, e segure toda a energia que puder.

Zara mudou a postura para uma mais ereta, uniu as mãos ao lado das ancas e fechou os olhos. Passou alguns minutos naquela posição, tempo este que há algumas semanas era impossível de conseguir ficar.

– Agora solte o ar, mantendo esta energia em seus membros. – Instruiu a mulher. – Devagar. – Completou.

Zara soltou o ar pelo nariz muito lentamente, enquanto abria os cotovelos e esticava os braços. Podia sentir a energia leve de seu corpo fluindo pelos braços e tronco, assim como um vento fraco que a atingia por trás.

– Abra os olhos. – Disse Muraoka, com um sorriso orgulhoso. Zara obedeceu e constatou que aquele vento fraco estava fluindo tal como a energia, e que ela estava, naquele momento, pela primeira vez, dobrando o ar.

Não se exaltou nem um pouco. Continuando com os movimentos lentos, virou a palma da mão esquerda para a direita e a trouxe para o centro de seu corpo, enquanto a outra pairava em cima, com a palma virada para a esquerda. Lentamente, mas instantaneamente, o vento se cruzou diante do corpo da garota, antes de cessar devagar ao baixar de mãos da jovem avatar.

Assim ficou marcada a sua primeira dobra de ar.

Quando Avalon soube que Zara havia dobrado o ar, não pôde evitar um sorriso orgulhoso no rosto, sorriso este que não passou despercebido por Airon.

Aos poucos, o irmão mais novo aprendeu a ignorar a presença de Avalon, e logo podia aturá-lo sem mais problemas, enquanto o mais velho já havia parado de se importar com aquela briga sem razões plausíveis.

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Em menos de seis meses, o treinamento de dobra, de ar e de fogo, estavam decolando como nunca. A relação de Zara com Avalon também estava cada dia melhor, de modo que nos treinos, quando estavam sozinhos, o rapaz sorria abertamente, o que muito a agradava.

– Tudo bem, você já está num nível muito bom! – Disse o rapaz num breve intervalo que tiraram para descansar. Avalon usava uma bermuda folgada, amarela, com uma regata laranja tão folgada quanto; ao passo que Zara estava com uma bermuda amarela um pouco menor e uma camisa longa parecida com um kimono, sem mangas, e num tom escuro de marrom, amarrada por uma faixa amarela.

– Há alguns meses eu nunca imaginaria estar dobrando fogo. – Admitiu Zara. – Pense que nunca conseguiria... – Falou antes de tomar um gole d’água servida por Avalon.

– Logo vou ter que testar seu nível para aplicar o treinamento intenso... – Ele disse sorridente e orgulhoso do próprio trabalho.

– Zara, podemos conversar...? – Disse Airon parecendo de repente, fazendo a garota quase cuspir a água e virar-se para o mesmo. O irmão mais novo ainda não sabia que Avalon era capaz de dobrar fogo, e Zara temia a reação dele. – Por favor? – Pediu sem encará-la, com a feição séria e a postura tensa.

Zara se levantou pedindo a Avalon licença com os olhos, e foi ao encontro de Airon, passando a caminhar com ele pela área externa do templo.

– Algum problema? – Perguntou Zara, um pouco tensa. Airon suspirou profundamente e a olhou pelo canto dos olhos. Foi apenas naquele momento que a jovem AVtaar repsarou em como Airon estava diferente.

Havia mantido o cabelo curto, e a barba mal feita cobria a extensão de sua mandíbula. Estava com a postura mais forte, certamente estava treinando, e o olhar antes raivoso e vivo, agora parecia tenro e indiferente.

– Eu preciso ir embora. – Ele anunciou fazendo a garota parar de caminhar na mesma hora. Airon virou-se para ela, encarando-a sem maiores dificuldades.

– O quê? – Zara perguntou descrente. – Por quê? Para onde? Airon, algum de nós fez alguma coisa? – Perguntou tentando esconder uma gota de desespero na sua voz. Airon sorriu de canto e seu solhos brilharam por um momento.

– Eu queria que você soubesse antes, não gosto de esconder nada de você. – Falou o rapaz. – Em duas semanas eu faço dezoito anos, e abandonei o meu cargo no exército da Nação do Fogo sem mais nem menos. Preciso chegar lá antes do meu aniversário e tentar continuar em meu posto. – Zara piscava, atônita. Era uma razão real.

Depois de alguns minutos de silencio, Zara sentia um peso de culpa nos ombros. Abandonou uma vida próspera, por minha causa. Pensava.

– Eu entendo. – Ela disse fechando os olhos e suspirando profundamente. – Quero te pedir desculpas pelo modo como te tratei no início...

– Não, você estava certa. Sempre esteve. Obrigado. – Interrompeu. Embora já houvesse dado a notícia que queria, Airon ainda estava muito tenso, coisa que não passou despercebida aos olhos da jovem Avatar.

– Airon, você está bem? – Perguntou Zara franzindo o cenho, confusa. Ela examinou-o, não por muito tempo, e logo assustou-se. – Você vai embora hoje?! – Perguntou estupefata, vendo que o rapaz já estava mais uma vez com as roupas da Nação do Fogo.

Ele sorriu mais uma vez, fechando os olhos. Aquele sorriso parecia mais malicioso do que tenro, e logo ele a encarou com os olhos dourados brilhando.

– Vou sim. – Confirmou. – Mas antes eu preciso testar uma coisa, e é por isso que estamos aqui. – Disse fazendo a garota olhar ao seu redor. Estavam completamente sozinhos, num espaço deserto do templo, próximos há algumas colunas de sustentação.

Dando poucos passos para frente, Airon pôs-se há poucos centímetros de distância de Zara, assustando-a um pouco.

Sem sombra de dúvidas, era um rapaz muito bonito. O cabelo curto agora me parecia muito charmoso, assim como a barba mal feita. Estava com a respiração pesada, que eu já sentia com o hálito quente perto do meu rosto. Parecia tenso demais, talvez até com medo.

– Airon você não... – Ia dizendo Zara, quando sorrateiramente Airon já estava com os braços envoltos no corpo da garota. – Airon, o quê você...? – Foi interrompida pelo olhar fulminante e intenso que o rapaz lhe direcionava. Em poucos segundos, a boca de Airon estava há poucos milímetros dos lábios de Zara.

– Fique parada. – Ordenou fechando os olhos, o que a fez arregalar os dela ainda mais.