Os oponentes de Zara riam sarcasticamente.

O Espadachim olhou para seus “colegas” e assentiu, antes de começarem a atacar incessantemente, ataques ridiculamente amadores como apenas jogar pedras, mas que atraiam a atenção de Zara, e muitos chegavam a atingi-la.

Zara já estava suja e com roupas e cabelo bagunçados, queria olhar novamente para o rapaz atrás de si, no camarote, queria olhar para Roen, ver se estava bem. Arriscou olhar para trás onde viu seu amigo caído e desmaiado.

A menina estressava-se cada vez mais, seu queixo começava a bater. Ela abaixou a cabeça, escondendo os olhos com os longos cabelos e começou a piscar incessantemente, com os olhos começando a brilhar lentamente.

Quando o Espadachim aproveitou a fraqueza da menina para ataca-la de perto com as espadas, e correu em sua direção, Zara fez a última coisa que pensou que podia fazer. Com os dedos esqueleticamente afastados e dobrados, a menina fez um gesto muito estranho com as mãos, erguendo-as com certa dificuldade na frente do rosto e com os dois braços tremendo muito.

Ninguém entendeu a princípio o que estava acontecendo, os outros três oponentes não pararam de atacar, até que perceberam o que a menina estava fazendo.

Espadachim estava erguido no ar, como se estivesse sendo sufocado. Seus membros retorciam-se tremulamente e todos soltaram um suspiro de surpresa. A maioria dos oponentes deu um passo hesitante para trás.

Dobra de Sangue. Pensou o dobrador de fogo estupefato.

– Eu disse: PAREM A LUTA. – Gritou Airon pulando para dentro da plataforma, entre Zara e os oponentes. Ao ouvir a voz do amigo, a menina soltou o Espadachim que caiu no chão traumatizado e arrastando-se para longe da menina. Zara olhava para Airon com dificuldade, pois a sua vista começava a embaçar e seu corpo perdia o equilíbrio, fazendo-a cambalear.

Assim que o rapaz pousou os pés no chão um jato de fogo azul saiu de sua boca, e ele apontou o jato de um lado para o outro. Airon tinha vontade de mata-los.

A luz azulada foi a ultima coisa que Zara chegou a ver antes de desmaiar.

Todas as pessoas, desde dobradores, até plateia, e até mesmo os companheiros de Airon no camarote, olhavam estupefatos para a cena. Era um dobrador de fogo de verdade! Quando os quatro oponentes recuaram com medo do menino, Airon voltou-se para Zara o mais rápido que pôde, colocando a cabeça da menina no colo.

Ela estava inconsciente, e os olhos semiabertos ainda brilhavam um pouco. O menino pegou Zara no colo.

– Levem o rapaz para as minhas acomodações e cuidem dele. – Ordenou olhando para os servos que ficavam no camarote. Eles correram para obedecer e Airon olhou novamente para Zara. Era mesmo irônico revê-la numa situação daquelas. O que mais o impressionava era como a dobra de terra de Zara estava incrível!

– Feliz Aniversário, Zara. – Sussurrou ao ouvido da menina. Mal sabia ele que mesmo naquele estado de inconsciência Zara pôde ouvir aquela frase como um sussurro distante.

Airon saiu das instalações do Torneio de Dobra e montou na Ave Negra até chegar em Omashu, onde estava instalado na sessão de Convidados de Honra do palácio. Ele aterrissou no pátio arborizado e rapidamente entrou. Os criados olhavam pasmos. O Tenete Airon chegando com uma garota ferida era algo muito incomum, afinal, ele sequer demonstrava sentimentos.

– Deixe que eu a levo...

– Eu levo. – Airon interrompeu o criado antes mesmo que ele terminasse. - Quero um quarto. Estão trazendo um homem para o meu, preciso de um com duas camas. – Ordenou Airon friamente.

– Senhor, só temos quartos individuais... – Informou a criada hesitante. – Ou de casal. – Completou incerta.

Airon pensou por alguns minutos.

– Quero um de casal, e me arranjem um colchão para colocar no chão, ao lado da cama. – Falou.

– Siga-me, Senhor. – Disse a criada sentindo-se levemente idiota por chamar um garoto de senhor. A mulher guiou Airon até o tal quarto, onde ele deitou Zara na cama com cuidado. Ele suspirou cansado, olhado para a menina desmaiada na cama.

– Saia. – Disse Airon friamente, e logo a criada obedeceu.

O garoto sentou-se ao lado de Zara na cama e ficou observando o rosto dela com cautela.

Um ano atrás, Airon dormira abraçado a ela e partira na manhã seguinte, sem sequer dizer adeus. Ele sabia que enfrentaria muitas perguntas assim que ela acordasse. Mas ele também tinha muito a perguntar. Primeiro, quem seria o homem que tentara defender Zara? Onde estava Gumo? Quando pretendia voltar para o Polo Norte? Para onde iria agora?

Airon não queria deixar a menina sozinha novamente. Sabia que não podia ir ao Polo Norte, mas o faria se necessário.

Não posso deixar que ela controle a minha vida desse jeito. Zara precisa de mim. Ela pode salvá-la. Pensava a o menino acompanhado de um suspiro cansado e inquieto.

Enquanto Airon olhava para a jovem Avatar desacordada, ela tinha estranhos vislumbres no limbo em que se encontrava.

Ela via um menino nômade do ar em meio aos destroços de uma cidade. Via o mesmo meninos cercado por dobradores de terra. Via aquele mesmo menino em diversos lugares, enfrentando dificuldades diferentes. Por fim Zara vira que o menino era u avatar. No ultimo vislumbre, o menino lutava contra um homem e entrava no estado avatar, mas ao invés de derrota-lo por fim, ao invés de mata-lo o menino tocava a testa do homem.

Zara não conseguia ver o final da visão pois tudo estava claro demais em sua mente, estava muito branco, quase se apagando.

– Zara. – Ouviu uma voz masculina, adulta e gentil lhe chamar. – Não se arrisque como fez. Você precisa se manter firme e parcial. – Disse a voz em sua mente.

– Avatar Aang? – Perguntou Zara com a voz fraca. – Me desculpe eu estava entusiasmada. – Pediu a menina.

– Não peça desculpas a mim. Você fere pessoas enquanto não aprende a usar todo o seu poder. – Disse o Avatar. – E quando aprender, terá de usá-lo para o bem. – Concluiu.

Diante de Zara, em sua mente, um homem apareceu. Era um homem da tribo da água, com cabelos compridos e olhos tristes.

– Não desperdice seu poder com competitividade. – Aconselhou o homem. – Nada vale a pena quando não ajuda na sua missão. – Disse ele. Zara pôde reconhece-lo como Kuruk, o ultimo avatar da água antes de Zara.

– Qual missão? – Perguntou Zara, quase adivinhando a resposta.

A visão de Kuruk se apagou, e diante da menina Aang apareceu olhando-a com cautela, em seguida, atrás do nômade do ar, apareceu Roku e todos os Avatare anteriores, formando um enorme circulo ao redor da menina, ela mal conseguia ver o outro lado do circulo, e quando ele esrava prestes a se fechar ao lado dela, um rapaz de cabelos longos e barba no queixo lhe apareceu sorrindo.

– Nós sabemos quem é a nossa missão. – Disse gentilmente o rapaz.

Zara se lembrou das conversas com Tuí e La. Não podia acreditar que tinha, por um segundo, esquecido de Tuí e de La.

– O Equilíbrio. – Sussurrou a menina recebendo um sorriso de volta do rapaz, que sumiu em seguida, assim como todos os outros Avatares, um a um, chegando finalmente em Aang, que sorriu para a menina antes de desaparecer.

Com um suspiro forte Zara soltou um gemido dolorido. Já era noite, e Airon dormia no chão ao seu lado. Ela abriu os olhos encontrando o teto do quarto iluminado com o formato da janela, a luz da lua batia bem acima da menina. Ela sorriu um sorriso dolorido e olhou para o outro lado, onde Airon dormia.

Só então se lembrou do que aconteceu. Havia entrado numa competição que deu errado, desmaiou pouco antes de entrar no estado avatar e Airon estava lá. E agora Airon estava aqui.

Relaxou no colchão e fez uma lista mentalmente de coisas que precisava resolver, coisas que precisava fazer.

Primeiro: Procurar Roen. Segundo: Esclarecer tudo isso com Airon. Terceiro: Voltar para o Polo Norte. Quarto: Procurar Mamãe e Papai. Quinto: Procurar Gumo. Sexto: Pedir a Yue o Mestre do Fogo. Passou mentalmente.

Focou sua mente no primeiro item da lista e virou-se na cama, de costas para Airon. Agora estava exausta, precisava descansar para poder resolver tudo no dia seguinte. Mas não conseguia dormir. Suspirou profundamente e se encolheu na cama.