Rebeca não conseguia pensar em ninguém que estivesse esperando por ela. Talvez Isabel, mas ela já estava em Dy conversando com Olívia. Será que ela estava pronta para falar sobre seu passado misterioso?

Se despediu de Minor, pedindo desculpas mais uma vez, e segurou a mão de Ethan. Haziel foi junto, e os três voltaram ao pátio da clínica. Seguindo a direção que Ethan apontara, olhou, vendo alguém deitado em um dos bancos. Não demorou muito para que reconhecesse aquela silhueta. Ela hesitou.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Ele sabe de tudo — comentou Ethan, tentando tranquilizá-la.

— Tudo, tudo?

— Sim. Eu mostrei.

— Como assim mostrou? — E o encarou.

— Ele leu a carta e quis ver com seus próprios olhos.

— Por livre e espontânea vontade?

— Sim...

— Ethan — pressionou, não acreditando completamente.

— Eu só fui até ele para...

— Eu não acredito! Eu falei que não queria intervenção de vocês.

— Ele está ali, te esperando, não é o suficiente? Era isso o que você queria.

Ela cruzou os braços. — Você falou igual a Isabel agora.

Ethan olhou brevemente para Haziel, que se divertia.

— Quer que eu volte no tempo e desfaça isso?

Rebeca se virou e começou a caminhar rapidamente até Gabriel. Antes de se aproximar, percebeu que ele dormia. Ou só estava de olhos fechados. Hesitou mais uma vez ao parar do seu lado e olhou para trás. Até Haziel acenou para que ela fosse logo.

Quando virou-se de volta e viu Gabriel a observando, sentiu as bochechas esquentarem de vergonha. Não sabia o que dizer, nem como agir.

Ele se sentou, também se sentindo um pouco perdido.

— Eu... sinto muito. Por ser tão egoísta, idiota, por esconder tudo de você...

— Eu ainda estou chateado — disse ele, de supetão. — Mas acho que entendo porque você não me contou antes. E... eu vi como tudo aconteceu. Entendi que foi... confuso e... amedrontador.

Rebeca concordou. — Eu me senti horrível por te machucar daquele jeito, ainda me sinto, na verdade... Por que você... resolveu vir?

— Porque eu quis te ver depois de saber de tudo. Porque... eu queria dizer que está tudo bem. — Gabriel puxou a mão dela e a fez se sentar. Ergueu as mãos e cruzaram os dedos. Rebeca sentiu o que ele sentia, e pela primeira vez em muito tempo, se sentiu mais leve, feliz.

Ela riu. Algumas lágrimas escaparam de seus olhos.

Então, eles se abraçaram.

— E-eu tive tanto medo... Tanto... — balbuciou Rebeca, as lágrimas caindo com mais intensidade. — Medo de nunca mais te ver, falar com você... de você me odiar para sempre...

— Eu não poderia te odiar para sempre... — murmurou ele, sentindo a garganta apertar. — Por mais raiva que eu pudesse sentir... sabia que não seria maior do que o que eu sinto por você.

Rebeca fechou os olhos, o segurando mais firme entre seus braços, sentindo seu cheiro, sua presença, seu calor. Era tudo o que ela mais sentia falta. Ele.

De longe, Ethan e Haziel assistiam, e logo Isabel se juntou ao grupo.

— É tão lindo quando eles se acertam — disse ela, enxugando suas próprias lágrimas.

Ethan tinha um sorriso orgulhoso no rosto. Tudo dera certo no final.

— É como se as coisas ficassem fora do eixo quando eles ficam afastados... — Ele observou uma Isabel emocionada, notando algo diferente nela, mesmo sem ler seus pensamentos. Sabia que algo estava desbloqueado ali, porém, não quis ver. Sentiu uma espécie de empatia, já que ele entendia como era aquela sensação. Resolver seus problemas com alguém amado.

— Bom, eu preciso ir, meus amigos, o trabalho me chama — falou Haziel. — Uma outra hora podemos nos encontrar e bater um papo.

— Claro, obrigado pela ajuda — agradeceu Ethan.

— Foi um prazer. Até mais — despediu-se de Isabel e caminhou para o prédio.

Isabel foi se sentar no banco logo atrás deles. — Sabe, Ethan, eu percebi que te entendia.

— Como assim? — Ele acomodou-se ao lado dela.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Eu te achava um ridículo por negar e afastar a Rebeca, mas... analisando tudo o que eu sentia com relação à Olívia, percebi que eu fazia o mesmo. Qualquer coisa que me lembrasse ela, eu afastava. Negava. Escondia no fundo da minha alma e trancava a sete chaves, com medo de deixar tudo aquilo na superfície e me machucar ainda mais.

Ele queria muito saber de tudo o que acontecera, mas resolveu ser paciente e apenas ouvir com atenção.

— Talvez você já saiba, mas eu matei Olívia em uma vida graças a um acesso de raiva idiota. Eu havia renascido há pouco tempo. Minha última vida humana acabou em 1290, então eu não tinha total controle da minha força, dos poderes recém descobertos... Eu impedi que ela seguisse sua vida, e eu me culpei durante todos esses anos, séculos... Jurei que nunca mais usaria meus poderes e até entrei para o convento, para tentar diminuir minha culpa e recompensar de alguma forma. Foi lá onde eu conheci a Rebeca. — Abriu um sorriso nostálgico.

“Eu tive medo de machucá-la, mas... ela era tão... querida. Era impossível não querer ficar perto dela. Então, eu decidi que tudo bem se eu me esforçasse. Eu já não usava mais meus poderes para nada, então não seria tão difícil. E se eu ficasse irritada, ou enciumada ou qualquer outra coisa, eu me afastava... Eu me apeguei a ela de um jeito que nunca achei que poderia. Não depois de Olívia.”

Ethan considerou e, como ela parou de falar, perdida em pensamentos, resolveu perguntar, suavemente:

— E por que você bloqueava seus pensamentos?

— Tinha medo de que os outros pudessem saber como eu era fraca e idiota. Não queria que soubessem do que fiz, do que eu sentia, da culpa que eu carregava. Nem eu mesma queria saber. Talvez, no final das contas, eu bloqueava meus pensamentos mais para mim do que para os outros. Sem falar que eu não queria que a Rebeca soubesse, não queria que ela me visse como um monstro, que tivesse medo de mim.

— Nós escondemos tantas coisas dela e de nós mesmos por ela... — refletiu Ethan, observando o casal se separar e sorrir, começando uma conversa.

— Foi melhor assim. Agora nós podemos ser inteiramente sinceros com ela... E no fim, você se abriu primeiro do que eu. — Ela sorriu, dando uma cotovelada em seu braço.

— É. Eu demorei tempo demais.

— Eu entendo.

— Bom... Então você se resolveu com Olívia.

— Sim... Ela nunca guardou um pingo de raiva por mim. Nada. Ela soube desde o início que não foi minha intenção fazer mal a ela. Se tivéssemos nos encontrado antes, tanta coisa poderia ter sido diferente...

— Aconteceu do jeito que devia — confortou ele. — Agora vocês estão livres para recomeçar...

— Recomeçar? — Isabel o olhou, surpresa.

— Achei que...

— Não, não. — E deu risada. Uma risada leve e feliz, que Ethan vira pouquíssimas vezes. — Nós duas mudamos muito, não temos os mesmos sentimentos, as mesmas preferências... Tomamos rumos diferentes. Nem que quiséssemos daria certo.

— Entendo.

Percebendo uma aproximação, ambos olharam para frente, vendo Rebeca e Gabriel se aproximando de mãos dadas. Eles sorriram.

— Acho que tenho muita coisa para contar para vocês — anunciou Isabel.

— O quê? — Rebeca perguntou, curiosa.

— Vai saber daqui a pouco. — Ethan levantou. — Melhor irmos para casa.

— É sempre daqui a pouco, já, já, vocês não cansam de fazer isso comigo?

— Não, não canso nunca! — Isabel riu, colocando-se de pé em um salto.

— Uau, como você está feliz.

— Como não ficaria vendo meu casal preferido junto? — Abraçou os dois pelos ombros, parecendo uma tia melosa.

— Então vamos logo, ou eu vou morrer de curiosidade!

— Quer fazer as honras? — Ela indicou o chão a frente.

— Vai mesmo confiar na minha habilidade desastrosa de chamar um portal?

— Não é desastrosa. Você só não tinha passe livre para aquela área.

— E vamos para onde? Minha casa?

— Pode ser.

Ela se concentrou, se lembrando do seu celeiro, que devia estar se sentindo abandonado àquela altura.

Um portal se materializou na frente do grupo e, daquela vez, era possível ver o interior do celeiro perfeitamente. Rebeca sorriu, orgulhosa, e foi a primeira a atravessar.