O museu ficava no começo do centro, então Rebeca e Aloys não tiveram que andar tanto como da última vez que foram até lá.

No horário combinado, encontraram Maria na entrada do museu. A rua estava bem movimentada, já que praticamente a cidade toda queria ver a novidade. Fazia alguns anos que o museu havia fechado.

— Deve estar lotado lá dentro. — Maria falou, olhando ao redor.

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— Se está cheio aqui fora, imagina lá. — Rebeca falou. — Será que vamos ter que pagar para entrar?

— Sim. — Maria a olhou. — Mas não sei quanto. Não deve ser muito.

— O que estamos esperando? — Aloys perguntou.

Rebeca e Maria se olharam e em seguida andaram até a fila que estava perto da cerca do museu. Aloys as seguiu.

Antes de saírem, Rebeca avisou — ou obrigou — Aloys a não ficar chamando Maria de Margareth, ou mesmo ter algum tipo de ataque histérico quando visse o livro. Por isso, Aloys estava meio quieto, mas nunca deixando de olhar para todos os cantos possíveis.

— Ele está bem? — Maria cochichou no ouvido de Rebeca quando Aloys olhou para trás.

— Sim, ele só não está falante hoje... Maria?

— Hm? — A olhou.

— ... — Olhou para o chão, pensando se deveria perguntar ou não. — Por que você... falou comigo? — Maria a olhou como se não tivesse entendido. — Digo, desde que eu cheguei, você nunca tinha falado comigo...

Maria ajeitou os óculos no rosto, parecendo pensar no que dizer. — Para ser sincera, eu queria falar com você desde o primeiro dia que você apareceu. — Deu um pequeno sorriso, parecendo envergonhada. — Mas... meus amigos não acharam uma boa ideia.

— Por que não?

— Sabe como é gente do interior. São desconfiados de tudo. Principalmente de pessoas novas na cidade, e que vieram de cidade grande. Eles não queriam que eu me aproximasse — disse olhando para baixo, como se estivesse com vergonha de admitir.

— Talvez eles tivessem ficado com ciúmes.

— Talvez. Todos os dias eu pensava em falar com você, mas de alguma forma, algum deles me distraia... Desculpe.

— Por que está se desculpando?

— Eu deveria ser menos dependente deles. Não levar o que eles falam tão a sério... Meus pais me ensinaram a não julgar uma pessoa antes de conhecê-la, e eu me deixei levar pelo que eles falavam.

Rebeca olhou para Aloys, como se ele pudesse ajudar no que falar. Ele olhava para Maria como se a entendesse, ou como se sentisse certa compaixão.

— Olha, não se preocupe. — Rebeca colocou uma mão no ombro dela. — Você acabou falando comigo, não é? — Sorriu.

— Sim. Aloys me ajudou na minha decisão. — O olhou, sorrindo.

— Eu? — Aloys perguntou surpreso.

— Foi o que eu falei, depois daquela vez que você me chamou de... — Tentou lembrar o nome.

— Margareth. — Aloys disse.

— Isso. Depois disso eu dei boas risadas lembrando. Isso só me encorajou a falar com você. — Olhou para Rebeca.

— Obrigada então, Aloys. — Rebeca riu.

— As suas ordens.

Com a conversa, eles nem repararam que estavam quase entrando. Pouco depois, pagaram suas entradas — Rebeca pagou a de Aloys — e entraram. O museu era grande e estava lotado. Talvez não fosse tão fácil achar aquele livro.

Aloys não estava acostumado com lugares cheios, e a cada passo trombava em alguém, fazendo caretas. Quase se perdeu duas vezes, pois se distraia muito fácil e não prestava atenção para onde andava. Rebeca teve que segurar sua mão para mantê-lo por perto.

E eles procuraram. Rebeca ficava cada vez mais nervosa com a lerdeza das pessoas para olharem cada peça. Tinham que se mutuar em cima das vitrines e ficar duas horas olhando.

Para Maria, os dois estavam apenas impacientes para verem tudo o que tinha no museu. Ela ria toda vez que Rebeca revirava os olhos e respirava fundo, esperando a boa vontade das pessoas para sair da frente deles.

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Rebeca já estava achando que Aloys vira coisa demais na TV, na loja da Cecília. O livro não estava ali, já que eles já tinham visto praticamente tudo.

— O livro não está aqui, Aloys. — Rebeca o puxou para perto, falando em seu ouvido, meio impaciente, meio nervosa.

— Mas eu o vi naquela caixa, eu tenho certeza que era ele. Era o mesmo livro.

— Que livro vocês estão falando? — Maria se aproximou.

Nesse momento, eles estavam próximos de uma parede vazia. Aquela gente toda estava dando nos nervos de Rebeca.

— Uma vez, o Aloys viu uma reportagem que passou no jornal sobre o museu, e ele tinha visto um livro antigo e achou interessante — inventou na hora. — Mas ele não está mais aqui, pelo jeito. — Observou as pessoas.

Maria olhou ao redor e algo chamou sua atenção. — Por que será que aquele segurança está na frente daquela porta?

Os dois olharam na mesma direção. Não muito longe, havia uma porta grande, e um segurança em sua frente, de braços cruzados.

Rebeca puxou Aloys e chegou perto, fingindo estar vendo uma caixa de vidro que continha um pequeno baú dentro, e olhou para a sala onde o segurança estava. Não havia muito movimento, não conseguia ver muito. Apenas via que a sala era arredondada, e parecia que em várias partes haviam vitrines altas.

Ela viu um homem, vestido igual a um paramédico, usando luvas. Ele estava agachado, mas Rebeca não conseguia ver o que ele estava fazendo.

— Verdade, eu tinha me esquecido. — Maria falou, também olhando. — Tem mais uma ala ali. Ela é especial.

— Especial como? — Rebeca perguntou.

— São artefatos encontrados na cidade e arredores. Ou são antiguidades muito frágeis.

Rebeca e Aloys se olharam.

— E como você sabe? — Rebeca indagou, olhando para dentro da sala.

— Uma tia minha trabalha na área administrativa. Às vezes é ela que recebe as peças, e me falou.

— Talvez o livro esteja lá dentro. — Aloys disse, apertando a mão de Rebeca.

Maria o olhou. — Você quer mesmo ver esse livro, né? — Ele balançou levemente a cabeça. — Vamos tentar descobrir. — E saiu andando até o segurança.

Os dois foram atrás dela. Maria parou na frente dele.

— Licença, senhor? Por que essa ala está fechada?

O segurança, que parecia cansado, descruzou os braços. — Aconteceu alguma coisa lá. — Olhou rapidamente para dentro da sala. — Dois rapazes desmaiaram e chamaram uma ambulância.

Os três olharam ao mesmo tempo. Lá dentro, além daquele paramédico, tinha mais dois. Dois deles estavam agachados ao lado dos meninos, que estavam no chão. O outro estava arrumando uma espécie de cama móvel.

Rebeca só conseguia ver o rosto de um garoto, e ele parecia assustado, com os olhos meio arregalados, como se estivesse vendo algo medonho no teto. Ela olhou para cima, mas não havia nada além da cor branca e algumas luminárias.

— O que será que aconteceu? — Maria perguntou.

— Não sei. — O segurança respondeu. — Eles apenas caíram no chão e ficaram.

— O senhor sabe dizer se essa ala vai ficar fechada o dia todo? — Rebeca o olhou.

— Acho que não. Os paramédicos vão levar esses dois para o hospital, e depois disso posso liberar a entrada. Mas não sei quanto tempo vai demorar... E acho que não é a primeira vez que isso acontece.

— Isso? — Rebeca perguntou. — De alguém desmaiar?

— Sim. Eu cheguei agora, mas pelo que ouvi de outros seguranças, já aconteceu antes do museu ser reformado.

— Mas ninguém soube por que isso aconteceu? — Maria o olhou.

— Achavam que era o ar de lá de dentro, já que o museu era velho. A tinta acaba se desprendendo da parede, sabe? Então fazia algumas pessoas passarem mal.

— Mas como pôde continuar? — Rebeca cruzou os braços.

O segurança levantou os ombros, querendo dizer que não sabia. Os três ficaram encostados na parede ali perto.

— O que será que está causando isso? — Maria perguntou. — Será que são espíritos?

— Pff. — Rebeca riu. — Duvido muito. Não faço a mínima ideia. Só quero ir lá logo.

Eles esperaram pelo que pareceu meia hora. O segurança acenou para eles, e liberou a passagem. Rapidamente, entraram.

Não havia janelas na sala, apenas algumas entradas de ar nos cantos. Eram três vitrines grandes, de pelo menos um metro e meio de comprimento, pegando a parede circular. Entre a primeira e a segunda vitrine tinha uma porta da mesma cor da parede. Pelo jeito os paramédicos tinham saído por ali.

Ninguém pareceu perceber que a entrada da ala estava aberta, então só haviam os três. Começaram a olhar cada peça exposta nas vitrines, até chegar na vitrine do meio.

Rebeca viu um livro, mas antes de se aproximar, olhou para Aloys. Nem precisava perguntar se aquele era o tal livro. A cara dele mostrava muitas emoções. Ele parecia estar impressionado, ansioso e meio petrificado. Sem falar que sua boca estava aberta.

Ele se aproximou, colocando as mãos no vidro, como se quisesse ter certeza que ele estava lá, e encarou o livro.

Sentindo a garganta secando, Rebeca ficou ao lado dele. — Finalmente — sussurrou.

Ela achou que sentiria alguma coisa quando visse o livro, ou quando se aproximasse dele. Um arrepio, uma luz em sua cabeça... Mas nada. Ele estava fechado, a capa da frente era marrom escuro, meio terroso e parecia bem velha e desgastada.

Havia uma plaquinha no suporte onde o livro estava. Estava escrito que ele tinha sido achado em uma toca de corujas no alto de uma árvore.

Não era possível.

Aloys mal piscava. — Sim. — Olhou para Rebeca. — Como vamos pegá-lo?

Opa.

— Para que vocês querem pegar esse livro? — Maria perguntou, curiosa, olhando para os dois.

Opa dois.

— ... se eu te contasse, você não ia acreditar. — Rebeca a olhou, sentindo como se tivesse sido pega fazendo algo errado.

Maria estranhou, mas riu. — Pode tentar, se quiser.

— Precisamos pegar o livro. — Aloys falou baixo, olhando meio nervoso para Rebeca, segurando seu braço.

— Não tem como pegar ele. — Maria ficou mais perto deles. — O único jeito é por aquela porta, e ela fica trancada. — Apontou para a porta que ficava entre as primeiras vitrines. — Mas não é impossível... Se vocês me contarem, eu posso ajudar.

Aloys e Rebeca trocaram olhares duvidosos.