Através de um vidro escuro

Capítulo 7

Por Scya

Quando os pés de Victoire tocaram o chão de areia nos jardins do Chalé das Conchas, ela imediatamente sentiu o cheiro familiar de sua casa, assim como a brisa tranquila que soprou contra seus cabelos a vez lembrar-se de sua infância.

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Teddy aterrissou logo ao seu lado e ela percebeu o modo confuso com que ele olhou ao redor, completamente atordoado por um instante e levando as mãos até o cabelo para arrumá-lo. Antes que Victoire tivesse oportunidade de observar como estavam as coisas em sua própria festa de aniversário, um vulto de cabelos ruivos entrou em seu campo de visão e pulou no pescoço de Teddy em um abraço apertado.

— Teddy, Teddy! Você chegou! – Dizia a voz animada de Lily Luna enquanto ela se pendurava no pescoço do rapaz - Você não vai acreditar no que o Hugo acabou de fazer...

Teddy imediatamente olhou Victoire por cima dos ombros de Lily. Ambos estavam sorrindo e Victoire admirava a cena com um olhar de surpresa.

— O que o Hugo acabou de fazer? – Teddy perguntou pacientemente enquanto ergueu Lily mais alguns centímetros do chão antes de colocá-la de volta. Ela o encarou com os olhos furiosos e cruzou os braços na frente do corpo.

— Ele disse para o Lysander Scamander que eu gosto dele. – Lily Luna fez uma expressão de desgosto enquanto esperava a reação de Teddy para sua grande notícia.

— E você gosta dele? – Teddy a provocou, sabendo como o assunto era sério e verdadeiro para crianças de dez anos.

— É claro que não! – Ela parecia exasperada. - Eu quero muito socar o Hugo! – Ela virou de costas e olhou ao redor, observando por entre as pessoas presentes qualquer sinal do seu primo ruivo. - Para onde ele foi? Você viu ele?

— Eu acabei de chegar, mas se você precisar de ajuda para socar alguém, pode me chamar. – Teddy sorriu para Lily antes de passar o seu braço pela cintura de Victoire. Eles estavam atrasados e precisavam encontrar Bill e Fleur Weasley.

— Obrigada, Teddy. – Lily sorriu de volta e, como se tivesse percebido agora que Victoire também estava ali, ela acenou para a prima e sorriu novamente. - Oi Vic! Feliz aniversário! Quando você abrir o presente dos meus pais, lembre-se que fui eu que escolhi.

— Obrigada, Lily. – Respondeu Victoire, mas Lily já estava correndo em direção as outras crianças e gritando o nome de Hugo em voz alta.

O casal seguiu andando pelo caminho de pedras brancas que formava uma passagem pela areia fina. O jardim do Chalé das Conchas, meticulosamente cuidado por Fleur e suas filhas, estava repleto de flores brancas que cintilavam contra a luz do sol. Victoire conseguia se lembrar em detalhes de todas as vezes que trabalhou naquele jardim, de todos os momentos que terminaram com Dominique perseguido-a para conseguir atirar areia ou conchas na irmã mais velha enquanto as duas corriam em direção a areia molhada, deixando pegadas profundas por onde passavam.

Quando se aproximaram do local onde a festa estava acontecendo, rapidamente se tornaram a atenção de toda a família. Victoire estava atrasada para seu próprio aniversário, mas quando colocou os pés na varanda da frente de sua casa, onde todas as mesas estavam organizadas ao redor, imediatamente todos se levantaram e inclusive alguns começaram a aplaudir.

Teddy permaneceu ao lado de Victoire enquanto ela conversava com toda sua família e amigos. Acontece que grande parte da família de Victoire era também família de Teddy, como quando sua avó Andromeda veio parabenizá-la por seu aniversário e também perguntar por que chegaram atrasados se Teddy saiu de casa mais cedo para encontrá-la ou quando Bill e Fleur repetiram a mesma pergunta, repletos de reprovação. O tio Ron parecia excepcionalmente animado quando se aproximou aplaudindo Victoire e informando-a que o seu presente já havia sido entregue aos seus pais – ele esperava que eles tivessem guardado, embora não tivesse certeza.

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Os amigos de Victoire também estavam entre os convidados da festa. Teddy conhecia todos eles muito bem, principalmente os que estudaram com Victoire em Hogwarts ou as garotas que costumavam dançar balé com sua namorada durante a infância e que mesmo estudando em Beaubatoux mantiveram contato por todos esses anos.

Teddy passou os olhos ao redor procurando um lugar para se sentar no meio de tantas cadeiras e mesas. Ele precisava se lembrar que muitos de seus primos estavam em Hogwarts, portanto havia a sensação de algo faltando quando ele se via procurando James Sirius e Roxanne Weasley disputando Quadribol ou Albus e Rose sentados em um canto da festa, Rose com um livro e Albus com uma revista.

Precisava se lembrar de que Lucy Weasley também estava em Hogwarts, pois era tão interessada em política quanto seu pai Percy e dificilmente deixaria Kingsley, Harry ou Hermione em paz. Se Dominique estivesse ali, já teria tomado a atenção de Victoire com alguma novidade ou estaria furiosa porque Fred II teria implicado com seu cabelo. Teddy sorriu quando percebeu que no fundo sentia falta dos primos.

Victoire estava ocupada demais conversando com suas amigas e com sua mãe. Ela gesticulou para que Teddy procurasse um lugar para se sentar. Ele encontrou uma cadeira vaga ao lado de sua avó e logo estava servindo-se do almoço preparado pela família para comemorar o aniversário de sua namorada. A senhora Augusta Longbottom, mãe de Neville, foi convidada também e estava conversando animadoramente com Andrômeda Tonks. Nenhuma das duas se preocupou com a presença de Teddy na mesma mesa e o rapaz se sentiu confortável o bastante para almoçar.

Após todo o alvoroço pela chegada de Victoire em sua própria festa, demorou um pouco para que ela conseguisse se desvencilhar de tantas pessoas e encontrar um lugar confortável para se sentar-se à mesa de sua família. Seu tio Harry Potter estava sentado ao seu lado, vestindo seu terno bruxo e uma capa, como de costume. O olhar por trás dos óculos redondos estava risonho conforme ele acompanhava com o olhar a conversa que se seguia na mesa. Victoire então ouviu a voz alta e escandalosa de seu tio Ron do outro lado da mesa:

— Então vocês não repararam que o Bill está comprando uma poção para tingir os cabelos? – Ron segurava uma caneca cheia de hidromel enquanto gesticulava para os cabelos do irmão mais velho que estava sentado ao seu lado.

— Ah, Bill! Que nível chegamos, hein? – George deu uma cotovelada no irmão mais velho antes de aceitar mais um pedaço de carne assada que sua esposa Angelina colocava em seu prato.

— Eu realmente percebi que os cabelos do Bill estavam em um tom muito mais vívido do que da última vez que eu o vi. – Ginny Potter, a caçula da família, disse com uma voz alta e alegre enquanto enchia o seu próprio copo com mais suco de abóbora.

— É aquele kit-feitiço do Wonder Witch, Bill? – Ron continuou dizendo com seu olhar presunçoso de bom vendedor enquanto observava a expressão tensa no rosto de seu irmão Bill, como de quem estivesse se segurando ou para rir ou para distribuir xingamentos pela mesa da família. Com um olhar vitorioso, Ron enfiou uma garfada de comida na boca enquanto continuava provocando os irmãos. - Com certeza foi a Ginny que te indicou, não é? Ela deve estar usando bastante para cobrir os fios brancos antes que alguém perceba.

— E ela sabe que temos um estoque muito bom desse kit lá na loja. – Georga Weasley, agora fatiando seu pedaço de carne assada, piscou cúmplice para sua irmãzinha mais nova.

— Ah, meninos. – Ginny tomou um gole de seu suco enquanto tentava não engasgar quando encontrou o olhar de Ron e teve uma súbita vontade de rir. - Por favor, vocês sabem que o Harry tem cabelos brancos o suficiente para nós dois.

Harry, calado até então, observou Ginny dando risinhos baixos do seu lado enquanto Ron apontou para seus cabelos e sussurrou alguma coisa no ouvido de George, que riu silenciosamente enquanto concordava para o que Ginny tinha dito. Infelizmente naquela mesa, em uma desvantagem questionável, Harry não teve escolha senão rir e se conformar com a ideia de que tinha, de fato, mais cabelos brancos do que a maioria dos seus amigos.

Victoire simplesmente adorava o clima que havia entre os irmãos de seu pai e toda a família. Eles eram divertidos e descontraídos entre si, quase como se Victoire tivesse a impressão de que ainda fossem adolescentes fazendo brincadeiras uns com os outros. Quando via fotografias de seus tios mais jovens, ela conseguia reconhecer os mesmos sorrisos, risadas e gestos.

Uma conversa sobre a comida da avó Molly se seguiu pela mesa, com Ron reclamando que sua mãe não havia se lembrado de preparar tortinhas de caramelo e logo recebendo um olhar repreensivo de Hermione pelo comentário desnecessário. Charlie comentava com todos na mesa como sentia falta da comida da mãe quando passava tempo demais da Romênia sem poder vir visitar a família na Inglaterra. George perguntou se a comida dos dragões era tão ruim assim, arrancando gargalhadas da mesa. Charlie tentou atirar um garfo no irmão, mas foi repreendido por seu pai Arthur Weasley que acabara de se sentar-se à mesa.

Quando a conversa foi se tornando cada vez mais particular, com sussurros e cochichos somente para as pessoas mais próximas, sem ninguém gritando do outro lado da mesa para ser ouvido, Harry se virou para Victoire ao seu lado:

— Nossa Victoire está completando 18 anos hoje. Isso é quase inacreditável.

— É inacreditável pensar que a Lily já tem quase 10 anos e que em setembro do ano que vem ela estará indo para Hogwarts. – Victoire disse para Harry quando o encarou de volta e encontrou seu olhar gentil a observando.

— Sim, é verdade. Eles estão todos crescendo muito rápido. – Harry suspirou enquanto limpava as mãos em um guardanapo.

A avó Molly Weasley se aproximou da mesa com uma bandeja de sobremesa em mãos e começou a distribuí-la pelos pratos vazios de cada um dos seus filhos. Harry tentou avisar a senhora Weasley que já estava satisfeito e que não precisava de mais sobremesa, mas Molly colocou não apenas um, mas duas fatias de torta em seu prato, alegando que Harry sendo magricela como sempre foi passava um mal exemplo para seus filhos.

Quando Molly foi servir Victoire, ela distribuiu dois beijos estalados na bochecha da neta mais velha e colocou mais chocolate em sua parte da sobremesa.

— Será difícil conseguir um espaço para o bolo de aniversário. – Concluiu Harry, sorrindo para Victoire e revirando suas duas fatias de torta com um garfo.

Percebendo que o restante das conversas na mesa foram reduzidas a pequenos cochichos enquanto a família era distraída com mais comida, Victoire achou seguro conversar sobre um assunto mais delicado com seu tio Harry e sua tia Ginny que estavam sentados mais próximos dela.

— E como estão as expectativas para a nova curandeira da família? Meu pai disse alguma coisa?

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— Não comentou nada por enquanto. – Ginny arqueou uma sobrancelha para observar Bill do outro lado da mesa com um olhar preocupado. - Se eu bem conheço meu irmão, ele deve estar arrasado por você estar indo embora, mas é claro que não vai deixar ninguém suspeitar.

Victoire assentiu com a cabeça, encontrando o olhar preocupado de Ginny. Depois de levar o garfo com um pedaço de torta até a boca, ela continuou dizendo: - Eu perguntei para o Teddy se estava tudo bem com a Andrômeda sobre ele se mudar para Londres comigo.

— Andrômeda é muito mais forte do que aparenta, Vic. Ela vai ficar bem no tempo certo. Eu mesmo vou me certificar de ir visitá-la. – Harry respondeu prontamente, suspeitando de que a conversa fosse seguir esse rumo. Ele já estava familiarizado com as inseguranças dos mais jovens, tendo ele mesmo passado por isso anos atrás e também por já ter tido essa conversa com seu afilhado.

Victoire assentiu, ainda mantendo suas próprias dúvidas sobre o assunto, mas devido ao olhar preocupado e parental com que seus tios estavam a observando, ela concluiu que não era uma boa ideia preocupá-los demais com isso. - E como está indo no Ministério, tio Harry? Ainda aquelas pilhas imensas de papéis para preencher?

— É muita burocracia... Leva muito tempo, sempre. Quando você menos se dá conta, a pilha de papéis triplicou. – Harry se remexeu em sua cadeira, observando Victoire com um olhar profundo e falando com a convicção de um político. - Ser chefe do departamento de Aurores era bem mais fácil e agora, como estou no controle de todo o Departamento de Execução das Leis da Magia, está tudo saindo do controle.

— Você poderia pedir ajuda para a Tia Hermione, ou pedir para aumentarem os prazos com o Ministro da Magia... – Sugeriu Victoire.

— Hermione tem sempre muito trabalho para fazer, trabalhando sempre tão perto do Ministro assim. Eu não gostaria de incomodá-la. – Harry observou Hermione, sua melhor amiga há mais de 30 anos. Sorriu novamente para Victoire antes de voltar sua atenção para sua torta de sobremesa.

Antes que Victoire pudesse voltar para seus pensamentos, uma voz alta e autoritária, do tipo que trabalha com dragões e precisa se sobressair da multidão, foi ouvida por toda a mesa.

— Então, espero que todos estejam em Hogwarts esta noite para o memorial e também para as comemorações. – Seu tio Charlie ordenou, ficando de pé e erguendo sua caneca de hidromel bem alto. Charlie era o mais baixinho de todos os irmãos, ele tinha o rosto muito quadrado com o cabelo ruivo cortado rente a cabeça em um estilo militar. Sua barba por fazer era áspera e já estava chegando até a metade de seu pescoço, com muitas falhas e marcas de queimadura. Seu rosto tinha marcas estranhas e alguns arranhões, especialmente perto da orelha esquerda onde ele disse ter se metido em confusão com um Rabo-Córneo Húngaro uma vez.

Victoire sempre percebeu que Charlie tinha um corpo muito assimétrico, com braços estranhamente fortes e ombros muito largos para seu corpo pequeno e baixo. Apesar de tudo, tio Charlie passava a sensação de segurança de um homem que trabalha com dragões e enfrenta perigos. Por coincidência, ele era o tio favorito de Dominique,

— Eu estarei lá. Fui eu quem escreveu o discurso do Ministro para a ocasião. – Sua tia Hermione anunciou para todos quando Charlie voltou a se sentar. Muitos também ergueram seus copos e assentiram, mas Hermione permaneceu sentada embora a excitação e o orgulho transparecessem por sua voz. Sua tia Hermione era sempre muito elegante, dificilmente a encontraria sem suas roupas sociais e um semblante incrivelmente sério e profissional.

— O que esse cara faria dentro do Ministério sem você, Mione? – Ron reclamou irritado ao lado de Hermione na mesa. Completamente diferente de sua esposa, Ron sempre se vestia despreocupadamente quando não estava com o seu uniforme de vendedor da Gemialidades Weasley. Ele estava vestindo uma camiseta de botões laranja, dando um contraste engraçado com seus cabelos. Alguns botões estavam abertos e a manga dobrada até os cotovelos. Seus cabelos precisavam de um corte e estavam um pouco bagunçados, além de da sombra de uma barba estar começando a aparecer em seu rosto. Quando ele resmungou, sua mão acertou sua caneca de hidromel. - Você merece muito mais o cargo mais alto do Ministério...

— Não fale besteiras, Ron. – Hermione o repreendeu, segurando a caneca de hidromel de seu marido instantes antes dela cair no chão. De manhã, passou alguns minutos insistindo para que seu marido colocasse uma gravata para a ocasião, mas nessas discussões dificilmente ela se saia vitoriosa.

— Mãaae! – Ouviram uma voz infantil chamar e Hermione rapidamente aguçou seus ouvidos maternos quando reconheceu a voz desesperada de seu filho Hugo. Ela e Ron se viraram a tempo de vir o pequeno, com os cabelos tão ruivos quanto os do pai e sardas pincelando seu rosto como em grande parte da família. Ele estava ofegante e quando encontrou os pais, se apoiou no joelho de Ron para recuperar o fôlego.

— O que aconteceu, Hugo? – Hermione quis saber, já procurando qualquer sinal de algum machucado ou ferimento no filho.

— A Lily simplesmente ficou maluca, ela não para de me perseguir! Ela quer me socar! – Ele disse rapidamente, ainda tentando recuperar o fôlego e limpando o suor da testa.

— Então por que você parou de correr? – Ron perguntou, repleto de indignação. Ele gesticulou para que Hugo continuasse a correr e o filho saiu em disparada pela festa, deixando Hermione e Ron com sorrisos divertidos no rosto.

***

Após a sobremesa, Teddy observou Victoire por vários minutos, esperando para ver se ela viria procurá-lo logo. Da mesa de sua avó, ele podia ter uma visão bem diferente da festa, percebendo que a mesa onde havia a maior concentração de pessoas e também com mais barulho era a mesa da família Weasley que se estendia por quase metade da festa.

Quando percebeu que Victoire estava ocupada conversando com seus tios, Teddy se levantou e percorreu algumas mesas para conversar com outros amigos e convidados. Dinah, uma das amigas de Victoire que Teddy mais gostava, tomou boa parte de seu tempo com uma conversa divertida sobre os tempos de Hogwarts. Outros ex-alunos, embora a maioria tendo a idade de Victoire, se lembravam de Teddy pelas detenções que ele, como Monitor Chefe, havia designado. As amigas de Victoire que dançavam balé o cumprimentaram de longe, enquanto alguns de seus próprios amigos, que consequentemente se tornaram amigos de sua namorada, convenceram Teddy a se sentar em sua mesa por um tempo, enquanto riram de piadas antigas, se lembravam de momentos embaraçosos na vida de Teddy e apostavam entre si quantos filhos os dois teriam daqui uns anos.

A verdade era que eles faziam isso apenas para vê-lo ficar envergonhado e tentar fazê-lo mudar as cores de seu cabelo inconscientemente, como acontecia anos atrás. Teddy e Victoire foram o casal número 1 de Hogwarts por anos e esses amigos de Teddy se lembravam de como foi difícil para os dois ficarem juntos e provocá-lo sobre momentos como esse era sempre prazeroso.

Após conseguir se desvencilhar de brincadeiras embaraçosas com seus amigos, Teddy voltou para a festa e procurou a senhora Weasley para se certificar se ainda faltava muito tempo para cortarem o bolo. Era difícil ver o tempo passando durante uma festa com amigos e família. É claro que a única pessoa que Teddy gostaria de passar o tempo estava ocupada demais dando atenção para os convidados, sentando-se em todas as mesas e agradecendo por todos os cumprimentos. Como acontecia em todos os seus aniversários desde que ela tinha três anos, Victoire era estrela.

Se afastando da festa mais um pouco, Teddy foi até a parte externa do jardim, já longe das mesas e da movimentação contínua de pessoas. Apenas as crianças estavam ali fora, perto das pedreiras brancas que cercavam a propriedade e delimitavam a praia. Mais precisamente, duas crianças encrencadas estavam ali, onde Teddy pôde ouvir em alto e bom tom a voz rígida de Fleur Weasley.

— Louis, o que você estava pensando? – Ela estava abaixada para ficar da altura de seu filho mais novo, que estava sentado em uma pedra com os joelhos vermelhos e inchados. Fleur conjurava um feitiço curativo com irritação. - Eu já disse que quero vocês bem longe daquelas pedras! Elas são perigosas, são muito escorregadias. Para vocês sofrerem um acidente... É muito fácil.

Molly, a prima de Louis que estava o acompanhando na brincadeira, estava sentado ao seu lado, sem nenhum ferimento, mas recebendo a mesma repreensão de sua tia Fleur. - Molly, querida, não acredite em tudo o que o Louis te disser, ele simplesmente tem um gostinho por desrespeitar as minhas ordens...

Louis se encolheu enquanto a varinha de Fleur circulava no ar em cima de seu joelho e fazia aparecer ataduras mágicas. Ele reclamou de dor e Fleur o repreendeu outra vez, dizendo que logo iriam buscar uma poção para aliviar a dor. Louis insistia que sempre brincou naquelas pedras e nada nunca aconteceu com ele, fazendo Fleur se irritar cada vez mais com seu filho mais novo. - Vamos para dentro agora, sim? Acredito que já seja quase a hora de cortarmos o bolo.

Quando os três passaram por Teddy, a pequena Molly acenou timidamente para ele, enquanto Luis andava mancando sendo puxado por sua mãe que tinha um olhar furioso. Eles retornaram para a festa e Teddy continuou na parte externa dos jardins, caminhando lentamente enquanto se aproximava da parte onde a areia estava úmida pelas ondas do mar. Ele observou o sol no horizonte, ele conseguia enxergar os movimentos das ondas mais adiante pelos contornos cintilantes da luz do sol. Ele sentiu os ventos frios que vinham sem nenhum aviso do oceano, o atingi-lo e enchê-lo de calafrios.

Rapidamente ele se lembrou daquele lugar, de como tinha boas lembranças daquela praia de areia branca repleta de pássaros e flores igualmente brancas. Lembrava-se de passar tardes inteiras ali, de nadar naquelas águas agitadas do mar, de construir castelos de areia, de perseguir Victoire por toda a extensão de sua casa e de brincar de esconder-se mais adiante no meio das pedras brancas escorregadias.

Em algum momento seus pensamentos o levaram de volta na época em que Victoire e ele costumavam acampar. Claro que eles costumavam acampar na parte externa de suas casas, no quintal da casa de Andromeda, da Toca, da casa do tio Harry e na praia do Chalé das Conchas. Eles passavam a noite toda acordados, com as luzes apagadas, contando histórias e imaginando coisas com os sons da noite lá fora. É claro que Teddy sempre dormia primeiro e Victoire tentava acordá-lo logo depois. A barraca que eles dividiam havia sido um presente de seu tio Ron e era um produto da loja dele, onde eles podiam acampar seguros na noite e mesmo assim conseguir ver o céu estrelado e com uma boa reserva de doces e chocolate que Teddy e Victoire devoravam em uma noite só. Em algum momento daquela brincadeira, em uma noite que acamparam ali na praia do Chalé das Conchas, Teddy se lembrava do seu primeiro beijo. Ele e Victoire nunca conversaram sobre isso, mesmo anos depois, e ele não tinha certeza se ela ainda se lembrava ou se como ele por muito tempo ela tenha se convencido de que foi apenas um sonho.

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— Como estão as coisas, Teddy? – Uma voz familiar tirou Teddy de seu devaneio agradável, fazendo perceber que ele estava se aproximando inconscientemente do mar porque as ondas mais fracas já haviam encharcado seus sapatos na areia úmida. - Faz algum tempo que não te vejo, recusando sempre os meus convites para jantar... Estou começando a pensar que Lily fez alguma coisa para assustá-lo.

Ele se virou e ao seu lado estava seu padrinho, com os sapatos também encharcados pelas ondas mais fracas. Ele não pareceu se importar.

— Eu estou bem, Harry. Eu só estou com muito trabalho no Ministério, acho que você sabe como é. Preciso dizer a Ginny que só vou poder me juntar a vocês para um jantar depois que tudo estiver certo com o apartamento e com Vic. – Ele se justificou e observou o padrinho parar ao seu lado e observar o oceano a sua frente.

— Prioridades. – Harry sorriu para o sol refletido nas águas.

— E como você está? – O afilhado perguntou, seguindo o olhar do padrinho e acompanhando a paisagem.

— Tão abatido quanto você, mas por outros motivos. Eu estou preso demais no Ministério, sinto falta da ação. Há apenas rumores tediosos sobre novos bruxos das trevas e artefatos perigosos que não rendem nenhuma investigação satisfatória. Estou quase entregando o cargo e me mudando para a Austrália. – Harry suspirou fundo, parecendo muito frustrado e gesticulou para o oceano, indicando que seguiria por ali.

— Não seria má ideia. – Teddy comentou, percebendo as palavras sinceras de seu padrinho por trás de seu senso de humor.

— Você viria comigo? Para a Austrália? – Harry o observou de lado, arqueando as sobrancelhas e sorrindo com a ideia. - Só eu e você de férias no país que foi eleito o melhor lugar do mundo para a comunidade mágica por quatro anos seguidos pelo Profeta Diário...

— Eu raramente leio o Profeta Diário, mas... – Teddy começou a dizer, rapidamente sorrindo para o comentário de seu padrinho “Não deixe Ginny ouvir isso...” antes de continuar falando: - Não seria má ideia. Eu só preciso pedir permissão antes. De duas pessoas.

— É claro. – Harry e Teddy riram juntos da afirmação sincera de Teddy. - Como está sua avó? Como foi hoje de manhã?

— Bom, ela parece estar se divertindo muito com a senhora Longbottom. Elas sempre trocam receitas de chá e dicas de jardinagem. – Teddy trocou o peso de uma perna para a outra e sua voz estava calma e tranquila, com um toque de sarcasmo e diversão, como de costume. - Foi tudo bem hoje de manhã, o mesmo de sempre.

— E você já foi visitá-los? – Com essa pergunta, Harry desviou o olhar para longe de Teddy, voltando a fitar o reflexo do sol na água.

— Ainda não. Vic disse que me acompanharia. – Teddy disse simplesmente, as palavras muito mais leves do que deveriam ser. Com o passar dos anos, seu afilhado estava aprendendo a lidar com isso da melhor maneira possível e Harry estava muito orgulhoso dele.

— Lembre-se de levar as flores roxas mata-cão que eu te mostrei. Remus com certeza acharia uma ótima ideia. – Harry confidenciou para seu afilhado a brincadeira que fazia com as flores de Remus durante todos esses anos e ficou surpreso quando Teddy achou que seria uma ótima ideia também.

— Já providenciei. – Ele respondeu prontamente.

— Está tudo bem mesmo, Teddy? – Harry se virou e buscou encontrar o olhar de seu afilhado. No fundo, ele tinha medo de encontrar os mesmos olhos tristes do garotinho de quatro anos que se recusava a acreditar no que tinha acontecido com seus pais.

— Eu estou bem, só um pouco cansado. – Teddy respondeu, sem olhar diretamente nos olhos de Harry e ainda fitando o oceano.

— Assim você realmente está parecendo filho de Remus Lupin. – Harry comentou, percebendo que Teddy não responderia a sua preocupação. Era isso que acontecia quando seus filhos cresciam, algo que ele viu acontecer com Teddy, James e Albus e que estava vendo acontecer com Lily Luna: eles achavam as preocupações dos pais completamente superestimadas.

Quando percebeu que seu padrinho poderia estar começando a se preocupar demais, Teddy tentou mudar de assunto:

— Onde está o professor Longbottom? Eu pensei que ele viria hoje.

— Neville? – Harry piscou e arrumou os óculos no nariz, surpreso com a pergunta inesperada. - Você sabe como é impossível para ele sair de Hogwarts em um dia como esse... Tenho esperança de vê-lo à noite, durante o Memorial.

E lá estava o principal motivo de Teddy nunca conseguir ver o 2 de maio como uma data qualquer e nem conseguir superá-lo propriamente. O Memorial. Acima do aniversário de morte de seus pais e do aniversário de Victoire, ele sabia que a comemoração do fim da Guerra era uma das partes mais tristes do dia, não apenas para ele, mas para toda sua família. Todos os anos. Sempre seria.

— Eu não tenho certeza se irei... – Ele disse simplesmente.

— Teddy. – Harry o chamou, sua voz adquirindo o tom severo de um pai preocupado. Ele não teve escolha senão encontrar o padrinho o encarando com os olhos tristes. - É um memorial ás vítimas da Guerra Bruxa. Você sempre gostou de participar quando era mais novo.

— Certo. – Teddy suspirou fundo, percebendo que estava sendo repreendido por seu padrinho. - Se não tem jeito...

Os dois ficaram em silêncio por muito tempo, apenas sentindo as ondas fracas alcançarem seus sapatos e trazendo uma sensação fria para o seu corpo. Harry observava o céu repleto de nuvens acima dos dois e tentava ouvir a movimentação das ondas enquanto Teddy ainda observava as ondas movendo sobre as águas do mar.

Essa era uma das vantagens de ter o seu padrinho como seu pai e seu melhor amigo. Você podia passar horas e horas com ele ao seu lado, sem dizer absolutamente nada e sem ter que se preocupar com a ideia daquilo se tornar uma situação constrangedora. Era bom, no silêncio que se seguiu, saber que tem alguém ao seu lado.

— Eu soube que você anda trocando muitas cartas com James ultimamente. Devo me preocupar? – Harry disse de repente, trazendo outros pensamentos para a cabeça de Teddy agora.

— James! – Ele exclamou surpreso por Harry ter tocado no assunto. -Ah, o que eu posso fazer? Ele consegue ser incrivelmente irritante mesmo quando está em Hogwarts. Me persegue por correspondência desde que ganhou uma coruja.

— Seja gentil, Teddy. James precisa muito de você. Ele confia em você. – Harry aconselhou.

— Estou acostumado a ser responsável o suficiente.