Através de um vidro escuro

Capítulo 13

Por Scya

O ar rodopiou quando Victoire e Teddy aparataram no jardim da casa dos Tonks. Victoire esperou a sensação de algo puxando seu umbigo desaparecer antes de conseguir abrir os olhos e Teddy parecia ainda desnorteado quando olhou ao redor, observando as copas das árvores altas do quintal onde havia crescido. Eles estavam com as mãos entrelaçadas e Victoire apertou os dedos fortemente contra os de Teddy quando abriu os olhos e ouviu o canto baixo dos pássaros que sobrevoam as árvores.

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No quintal havia muitas árvores antigas e altas. Era um terreno irregular e extenso que a família Tonks habitou por gerações. As limitações do terreno eram cercadas por metal que rangia quando os ventos fortes sopravam contra ele e, dependendo da intensidade, atravessavam os buracos na cerca e produziam um som de assovio que Victoire sempre considerou sinistro.

Os Tonks eram uma família trouxa muito antiga daquela cidade e, antes do nascimento do primeiro integrante bruxo da família, Ted Tonks, eram uma família tradicional de lenhadores e marceneiros. O avô de Teddy, Ted Tonks, mesmo sendo o primeiro bruxo, sempre cultivou uma paixão inexplicável por madeira e tinha como principal hobby trabalhar em uma pequena oficina que um dia pertenceu ao bisavô de Teddy, um marceneiro trouxa, e que ficava na parte mais distante do quintal, um casebre de metal remendado com tábuas de madeira e tijolos antigos.

A casa dos Tonks era central no terreno, sendo rodeada por árvores, arbustos e flores de todos os lados. Era uma casa pequena e antiga de dois andares, feita completamente de madeira e com simpáticas janelas vitorianas. Do outro lado do quintal, Victoire sabia que Andrômeda cultivava uma horta e um canteiro de flores. Mais ao fundo do quintal, próximo à oficina do falecido senhor Ted Tonks, Victoire sabia que havia a árvore mais antiga do terreno onde Ted havia construído uma casa na árvore feita completamente de madeira para sua filha, Nymphadora. Anos mais tarde, Victoire e Teddy haviam herdado a casa na árvore para suas brincadeiras.

O quintal dos Tonks havia se tornado uma herança muito especial para a infância de Teddy e Victoire. Havia o balanço duplo feito de metal e de madeira que também havia sido um presente do avô Ted Tonks para sua filha Nymphadora, existiam muitos buracos irregulares na cerca de metal que rodeava o terreno e permitia que Teddy e Victoire se esgueirassem para longe da propriedade dos Tonks e se perdessem pelos bosques que cercavam a casa, onde ambos construíram uma trilha pessoal até o lago e o parque mais próximo, seu refúgio particular.

Quando o ar soprou com mais força as copas das árvores, fazendo várias folhas caírem e a cerca de metal assoviar com a passagem do vento, Victoire percebeu que Teddy ao seu lado se encolheu.

— Você está com frio? – Ela perguntou gentilmente e se apressou para abraçar os ombros do namorado e aquecê-lo.

— É sempre nublado. – Teddy concluiu. Ele não olhava para Victoire e muito menos observava o quintal revirando suas lembranças, apenas olhava para cima, para a copa de algumas árvores e para o céu coberto por nuvens.

— O quê? – Victoire perguntou, apertando-o mais fortemente em um abraço e, na ponta dos pés, depositou um beijo acolhedor em seu pescoço.

— O dia 2 de maio. É sempre nublado e com ventos fortes por aqui. – Teddy concluiu e deu de ombros, deixando seus olhos passearem pelo quintal e observarem as folhas secas que formavam um tapete no chão.

— Isso não parece muito apropriado... – Victoire percebeu como o olhar de Teddy se entristeceu, especialmente quando os olhos castanhos repousaram no antigo balanço de madeira. Ela abraçou Teddy pela cintura e afundou a cabeça em seu pescoço. Ele a envolveu com os braços e sentiu sua respiração quente contra sua pele.

— Deveria ser. Eu estou acostumado. – Ele tentou parecer convencido para não deixar Victoire preocupada.

— Teddy... – Ela respirou profundamente e se afastou dele o suficiente para encará-lo de frente. Ele esboçou um sorriso torto e encostou seus lábios nos dela com um beijo rápido. Em seguida, ele segurou a mão de Victoire quando a conduziu para a varanda da frente da casa, sem deixar Victoire perceber seu olhar entristecido.

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Com um feitiço, Teddy destrancou a porta de frente. Embora tivesse passado os últimos dias na casa da avó e ainda considerasse aquele lugar como sua casa, havia uma sensação estranha que tomava conta da casa dos Tonks no dia 2 de maio. Era um sentimento triste, melancólico e perturbador, que insistia em trazer lembranças e pensamentos que serviam somente para entristecer e tornar aquele dia ainda mais insuportável.

Talvez pelo fato de Teddy nunca ter conhecido seus pais, ele sempre se perguntava como sua vida poderia ter sido caso Remus e Nymphadora estivessem vivos. A família teria morado naquela velha casa dos Tonks? O que seus pais estariam fazendo hoje? Como estariam lidando com o luto da perda de tantos amigos? Como teriam superado a Guerra? Seriam bruxos são importantes, heróis ou políticos influentes como os outros da família? Teddy se perguntava se suas lembranças daquela casa seriam outras. Talvez Remus e Nymphadora tivessem optado por morar em outro lugar... No campo, talvez? Ou em outra cidade? Em Londres? Ou em alguma cidadezinha mais remota como Godric’s Hollow? Teddy nunca saberia da verdade, mas era interessante tirar proveito do benefício da dúvida.

Quando Teddy abriu a porta, Victoire entrou primeiro. Ela acendeu a luz e abriu espaço para Teddy passar logo em seguida. Quando ambos estavam entrando na sala, que estava com as janelas fechadas e com ar abafado, Teddy e Victoire quase pularam de susto quando ouviram o som de vidro sendo estilhaçado atrás deles.

— Churchill! Seu gato idiota! – Teddy gritou alto quando se virou e viu o que havia causado o barulho repentino. Churchill estava andando em cima da prateleira de fotos, no meio das fileiras de molduras que Andrômeda guardava com tanto zelo. Quando Victoire e Teddy entraram na sala, ele se assustou e pulou, derrubando dois retratos no chão e despedaçando o vidro de ambos.

— Teddy! – Victoire o chamou com repreensão quando viu que Churchill havia saído correndo dali. Teddy parecia furioso com o gato. Churchill era o gato de sua avó Andrômeda e era mais velho do que Teddy. Já era um gato bastante velho, de fato. Costumava ter pelos escuros e brilhantes quando Victoire era criança, mas agora seus pelos estavam cinzentos e sem brilho nenhum. Teddy correu em direção á prateleira de fotografias de sua avó. Somente ele sabia o quanto aqueles retratos eram importantes para Andrômeda, lembranças sem as quais ele duvidava que sua avó conseguisse continuar vivendo. Victoire percebeu como Teddy estava desesperado quando viu os dois retratos caídos no chão e com o vidro estilhaçado. Ela percebeu que Teddy estava bravo pelo modo como ele afugentou Churchill para longe dali.

Teddy se ajoelhou no chão e tentou colocar os cacos de vidro no lugar, em cada um dos dois retratos. Ele sabia como Andrômeda se importava demais com aquelas fotos e como, com os anos, as fotos haviam se tornado tão importantes para ele também. Ele observava o vislumbre do sorriso de sua mãe, Nymphadora, com seus cabelos rosa chiclete e seu uniforme da Lufa-Lufa em um dos retratos e, no outro, uma versão bem mais jovem de Nymphadora, com cabelos loiros e cacheados, sendo empurrada no balanço do quintal por seu pai, a figura sorridente de Ted Tonks.

Teddy passou a ponta dos dedos nos lugares onde o vidro havia quebrado. Ele contornou a moldura dos retratos com um toque cauteloso, enquanto seus olhos não conseguiam desviar-se do rosto sorridente e infantil de sua mãe, assim como não conseguiam desviar-se da expressão de ternura e afeto visível nos olhos do seu avô. Por Merlin, como ele gostaria de tê-los conhecido.

Distraído e perdido em seus pensamentos, ele não percebeu que Victoire observava cada um de seus movimentos com atenção. Ela se sentou no sofá com uma postura perfeita e Churchill, que havia retornado á sala com um miado baixo e quase inaudível, se apressou e subiu em seu colo. Victoire acariciou o pelo pouco macio do gato e retirou algumas folhas secas e gravetos que estavam o incomodando. Ela sabia que Churchill costumava sumir por dias pelos bosques e florestas da região antes de ter vontade de voltar para casa.

Ela cerrou as sobrancelhas e franziu a testa quando percebeu que uma lágrima estava escorrendo pela bochecha de Teddy. Outra surgiu logo em seguida. Ela precisou resistir ao impulso de ir até lá e retirar aquelas fotos da mão do namorado, abraçá-lo forte e levá-lo para bem longe dali. Ela estava preocupada com ele. No seu colo, Churchill ronronava feliz pela atenção e carinho recebidos. Victoire sentiu um aperto no coração quando viu que as mãos de Teddy estavam trêmulas enquanto ele ainda segurava os dois retratos e, quando observou com mais atenção, ela percebeu que ele havia feito um pequeno corte com os fragmentos de vidro estilhaçado.

Teddy respirou fundo e podia apenas torcer para Victoire não perceber que ele estava chorando. Ele queria conseguir reparar os retratos com um simples feitiço, colocá-los de volta na prateleira e esquecer o que tinha acontecido, mas não conseguiria. Ele observou as fotos por um tempo indeterminado, os pensamentos vagando em lembranças que ele mesmo havia forjado a respeito de seus pais, de seus sorrisos, suas vozes, seus abraços. Lembranças que nunca existiram de verdade, mas sempre acompanhavam em seus pensamentos.

Quando percebeu que as poucas lágrimas já haviam parado de cair, ele observou como seus dedos tremiam sem parar. Observou o pequeno corte na lateral do seu dedo anelar e se xingou mentalmente de idiota. Ele piscou algumas vezes, respirou fundo e alcançou a varinha no fundo de seu casaco. Ele ouviu Victoire se remexendo no sofá, ansiosa. Quando usou o feitiço de reparo nos retratos, Churchill se levantou do colo de Victoire e escalou o encosto do sofá, onde observava Teddy com seus olhos felinos verdes e brilhantes.

Teddy se levantou então, ainda sentindo as pernas falhando para suportar seu peso. Ele cambaleou para trás, fazendo Victoire se levantar e tentar segurá-lo pelos ombros.

— Você está bem? – Ela perguntou.

— Vovó ficou dias pensando que o gato tinha desaparecido... Ele não pode simplesmente fazer isso com ela, Vic. Ele arranha meus sapatos, deixa minhas roupas cheias de pelo e derruba tudo pelo caminho... – Teddy rangeu os dentes conforme resmungava sobre o gato. Churchill apenas lançava-lhe um olhar intimidante no encosto do sofá. A relação de Teddy com Churchill nunca foi das melhores, embora Teddy sempre tenha sido muito amável com todos os animais. Ele e Churchill viviam em uma relação de amor e ódio mútuos por vinte anos, onde ambos disputavam a atenção e carinho de Andrômeda nos dias chuvosos.

Quando caminhou até as prateleiras, ele repousou os dois retratos lado a lado no seu lugar de direito. Foi meticuloso para arrumá-los da mesma maneira que sua avó costumava fazer. Quando se virou, Churchill ainda olhava para ele com grandes olhos verdes e brilhantes. Teddy respirou fundo, foi até o gato e acariciou os pelos na sua cabeça com as pontas dos dedos antes de seguir pelas escadas para o andar de cima da casa.

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Victoire sabia que Teddy havia ido até seu quarto buscar as flores que havia comprado alguns dias atrás. Ela sabia também que aquelas mesmas flores logo estariam enfeitando os túmulos da família Tonks e Lupin no cemitério não muito distante dali. De repente, Victoire percebeu que não seria uma boa ideia segui-lo. Churchill, como se estivesse lendo seus pensamentos, desceu do sofá e, chamando Victoire com miados baixos, foi até a cozinha da casa dos Tonks.

Victoire o seguiu, atravessando o batente da porta de madeira que separava a sala da cozinha. Mesmo que já tivesse estado na casa dos Tonks inúmeras vezes, sempre que entrava na cozinha Victoire tinha a estranha sensação de estar entrando em um cômodo apertado demais, mas não pelo fato da cozinha ter sido feita em um cômodo estreito: dentre várias bancadas de madeira e a mesa no centro onde eram feitas as refeições dos dois residentes daquela casa, a cozinha dos Tonks era espaçosa, mas estava abarrotada de utensílios e objetos variados até no alto dos armários de madeira nas paredes.

Churchill levou Victoire até o canto da cozinha onde estava sua tigela de ração e a outra de água. Ele miou mais algumas vezes, insistente. Victoire se aproximou e com um aceno da varinha ela encheu a tigela vazia de Churchill com água. Ele parou de miar e quando Victoire se deu conta, estava escalando uma pilha de panelas do lado da pia da cozinha. A tigela de ração estava cheia, fazendo Victoire imaginar Andrômeda enchendo-a todos os dias, renovando a ração, mesmo sem ter certeza se Churchill voltaria para casa. Churchill costumava realizar passeios muito longos e sumir por até semanas, mas de um modo ou de outro, Andrômeda sempre soube que ele voltaria.

Ainda subindo em cima de várias panelas empilhadas, Victoire observou o exato momento que, com um movimento não calculado de sua cauda, Churchill derrubou uma frigideira diretamente no chão. O barulho o assustou e fez seus pelos se eriçarem. No instante seguinte, ele atravessou a janela aberta e correu para o jardim.

— Tenha um bom dia, senhor Churchill. – Victoire se despediu conforme colocava a frigideira de volta em cima da pia da cozinha.

Ela percebeu que o fogão de lenha ainda tinha as brasas incandescentes queimando um pouco de madeira e produzindo um calor confortável. Perto do fogão, havia uma fileira de frascos empilhados, todos etiquetados e organizados por tamanho. Em cada um deles, Victoire leu nomes de ingredientes de poções frescos, temperos e especiarias diversas. Em cima do fogão de lenha, havia uma chaleira que saia vapor, provavelmente encantada para não deixar o chá esfriar. Na janela por onde Churchill havia escapado havia a bancada mais antiga da cozinha, onde havia um aquário de vidro fechado com uma tampa de metal. Lá dentro, havia seis sapos coachando baixo enquanto se refrescavam em um mini ambiente que reproduzia uma poça d’água com muita lama e musgos. Victoire reconheceu que o maior dos sapos, marrom e com manchas escuras nas costas, que coachava com maior frequência, era Soto, o sapo de Teddy que ele levou para Hogwarts por sete anos, mesmo depois de ganhar uma coruja.

Havia uma porta de vidro entreaberta. Victoire não sabia que aquela porta, que dava acesso para o quintal, deveria estar entreaberta. Ela se aproximou da porta dupla de vidro e, antes de fechá-la, deu uma olhada no poleiro que ficava ao lado da porta, no lado externo. Duas corujas, uma bem antiga e com penas pretas e arrepiadas e a outra pequena, com penas azuis celestes e um bico amarelo, estavam dentro da gaiola. Ela fácil distinguir qual das duas corujas pertencia a Andrômeda e qual pertencia a Teddy, que havia enfeitiçado sua coruja para ter penas azuis quando estava no quinto ano em Hogwarts.

Nos fundos, havia o canteiro com flores e um jardim muito bem cuidado. Victoire observou por um instante os regadores enfeitiçados para regar as plantas com aspersão de água, que flutuavam em cima do canteiro despejando gotículas que haviam sido meticulosamente calculadas previamente. Andrômeda cultivava suas próprias ervas, fungos e plantas mágicas, assim como a maioria das famílias bruxas tradicionais.

Victoire fechou as portas duplas com força. Provavelmente estavam enferrujadas. Ela pensou por um instante em fechar a janela também, mas imaginou que esta deveria ficar aberta para caso Churchill decidisse retornar.

Na mesa no centro da cozinha, onde Teddy e Andrômeda realizavam suas refeições solitárias, havia a última fatia de uma torta caseira e duas torradas que haviam sido queimadas demais, do jeito que Teddy gostava. Ela poderia imaginar Andrômeda e Teddy sentados ali hoje de manhã, com a senhora Tonks tomando chá com dedos trêmulos enquanto Teddy devorava as fatias de torta, torradas e bebia poucos goles de seu chá. Poderia ser um dia como qualquer outro, no qual Teddy usaria a rede de Flu logo em seguida para chegar até o departamento onde trabalhava no Ministério da Magia e Andrômeda, logo após a saída de seu neto, limparia a cozinha antes de se preparar para receber alguma visita ou cuidar do jardim.

Mas Victoire sabia que hoje não era um dia como qualquer outro. Teddy havia trocado sua folga com outros funcionários para não precisar ir até o Ministério, mesmo sabendo que dificilmente encontraria algum trabalho no meio de tantas comemorações. Ele e a avó, logo depois do café da manhã, se levantariam e seguiriam, juntos, até a igreja no fim da rua. Victoire não sabia ao certo se acreditava em alguma religião, não quando a grande maioria delas abominava bruxaria e tudo o que fosse relacionado com ela, mas sabia que Andrômeda acreditava em Deus e considerava indispensável a visita até a igreja em um dia tão significativo como esse.

Andrômeda não costumava visitar o cemitério no dia de 2 maio com Teddy. Ela o havia levado por muitos anos durante sua infância para fazê-lo entender e procurar deixá-lo mais próximo dos pais, porém quando Teddy entrou em Hogwarts e Andrômeda ficou sozinha pela maior parte do ano, ela visitava o cemitério somente se tivesse companhia de outros amigos e familiares.

No dia 2 de maio, após a celebração do aniversário de Victoire, era uma tradição que os adultos fossem prestar suas homenagens em cemitérios e memoriais, sendo o mais popular deles realizado em Hogwarts todos os anos. A família Weasley não costumava levar as crianças nessas visitas ou nos memoriais, exceto o de Hogwarts, por ser mais compreensível. Andrômeda, por ter se tornado muito próxima dos Weasley quando Nymphadora participava da Ordem da Fênix e quando Teddy frequentou a Toca durante sua infância, costumava acompanhá-los quando faziam as visitas, incluindo a visita até os túmulos de sua própria filha e de Remus.

Victoire e Teddy nunca haviam acompanhado a família nesse tipo de visitação porque sabiam que era algo íntimo daqueles que haviam presenciado a guerra e sentiam-se profundamente feridos pela perda de tantos amigos. Ela e Teddy costumavam ser encarregados de cuidar dos primos mais jovens enquanto os pais e o restante da família estavam fora. Este ano, porém, houve uma mudança que Victoire não previu: as crianças foram junto com o restante da família para as visitações. Ela ficou surpresa quando o avô Weasley havia anunciado, mas sentiu-se feliz por ver que isso faria bem para sua família. Ela e Teddy foram dispensados da tarefa de cuidar dos primos mais novos e por isso estavam na casa dos Tonks mais cedo do que o previsto.

Quando Victoire ouviu um barulho vindo do andar de cima, ela soube que Teddy já estava retornando. Foi quando ela se preparou para retornar até a sala que ela percebeu que havia, em cima da mesa, um caldeirão pequeno de estanho que era geralmente usado para o preparo de poções mais simples. Quando se inclinou para o caldeirão, ela rapidamente identificou seu conteúdo e torceu o nariz, em dúvida.

— Teddy? – Ela chamou em voz alta. – Sua avó costuma ter problemas para dormir?

— O que? – Respondeu a voz de Teddy. Pelo barulho de passos, ele já estava descendo as escadas. – Não, por quê?

— Ela tem muita poção para dormir. – Victoire comentou e se perguntou se Andrômeda estivera tendo problemas para dormir ou se talvez hoje fosse um dia especialmente difícil para se conseguir dormir sem a ajuda de uma poção. Quando ela se virou, Teddy estava esperando no batente da porta da cozinha, com as flores em mãos.

De imediato, Victoire soube que eram muitas flores. Ela se adiantou e estendeu os braços para ajudar Teddy a carregar os buquês floridos, apanhando dois com as mãos. Teddy já estava caminhando em direção à porta e Victoire percebeu como o semblante do seu namorado estava sério. Antes de sair da cozinha, ela se virou e teve o vislumbre de Churchill retornando para dentro da cozinha pela janela aberta.

Quando os dois saíram da casa, Victoire precisou se apressar para acompanhar Teddy com seus passos rápidos e precisos. Ele estava mais sério do que Victoire jamais havia visto. Seus ombros estavam rígidos e não estavam se movendo conforme ele andava, quase como se ele estivesse forçando sua postura para adquirir firmeza. Teddy não era assim. Ele era espontâneo e leve. Não calculava seus movimentos, apenas os fazia e isso, muitas vezes, tornava-os engraçados e característicos de um rapaz desajeitado. Mesmo Teddy tendo uma determinação incomum e passos mais largos do que os de Victoire, ela conseguiu alcançá-lo bem rápido. Para ter certeza de que Teddy continuaria ao seu lado e não aparataria de repente dali, ela tocou gentilmente seu braço e ele a olhou de lado.

Quando Teddy sentiu o toque de Victoire, sua postura se suavizou e seus ombros relaxaram, se tornando caídos como sempre. Victoire se sentiu aliviada, mas não tanto quanto Teddy. Ele permitiu que Victoire entrelaçasse a mão em seu braço e a guiou pelas ruas da cidade onde nasceu.

Victoire já havia ido até aquele cemitério algumas vezes, mas em nenhuma das ocasiões era dia 2 de maio e nem mesmo estivera sozinha com Teddy naquela visita antes. Uma vez, Harry e Ginny trouxeram os dois. Foi a primeira vez que Victoire viu os túmulos da família Tonks e da família Lupin. Era aniversário de Remus e, sem saber disso, Victoire estava visitando Teddy na casa da avó e acabou indo para a visita, como uma intrusa. Ela se lembrava de como tudo foi triste, embora Teddy tivesse se comportado completamente diferente também e, mesmo com Harry dizendo que estava tudo bem se Teddy quisesse fazer alguma pergunta ou ir embora dali, ele ficou estranhamente calado e negou com a cabeça.

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Outra vez, ela esteve naquele cemitério com seu pai Bill Weasley e seu tio Charlie. Os dois haviam sido amigos próximos de Nymphadora e Remus e estavam ali para prestar suas homenagens em um dia no meio de setembro. Victoire tinha quase nove anos. Os dois irmãos haviam bebido bastante naquela tarde. Quando chegaram ao cemitério, esqueceram-se de que Victoire estava ali e Bill e Charlie começaram a se lembrar de como sentiam falta dos dois amigos. Naquele dia, Victoire descobriu muito sobre os pais de Teddy. Muito recentemente ela havia descoberto que Remus era um lobisomem e, mesmo se não soubesse, poderia perceber isso facilmente pelo modo como Bill agradecia Remus por tê-lo ajudado quando ele foi mordido por Fenrir Greyback. A casa dos Tonks ficava em uma cidadezinha vizinha a Ottery St Catchpole, onde Charlie e Bill cresceram na Toca. Eles haviam sido amigos de infância de Nymphadora, pois tinham idades próximas, tendo Charlie frequentado Hogwarts nos mesmos anos que ela, embora ele fosse da Grifinória e ela da Lufa-Lufa. Charlie se divertia enquanto ria com Bill se lembrando de que, quando era adolescente, quase foi convencido a chamar Nymphadora para sair e Bill sorriu de volta para o irmão, dizendo que a mãe Molly Weasley tentara juntar Bill e Nymphadora antes do casamento de Bill com Fleur.

A terceira vez que Victoire esteve ali foi durante uma de suas férias de Hogwarts. Ela e Teddy já estavam namorando e, naquelas férias, ela veio até o cemitério com Teddy, Andrômeda e Lyall Lupin, o avô de Teddy. Ela e Andrômeda ficaram afastadas, deixando que Lyall e Teddy conversassem. Algo estava acontecendo e sendo discutido entre os dois.

A quarta vez que Victoire esteve no cemitério local foi durante o funeral de Lyall Lupin, poucos anos atrás. A ocasião ainda despertava-lhe calafrios ocasionalmente porque Victoire não havia presenciado muitos funerais durante sua vida.

De qualquer modo, Teddy se sentia com sorte por ter Victoire com ele hoje. Era a primeira vez que os dois estavam fazendo isso juntos e sozinhos. Pode não parecer muita coisa, mas para Teddy fazia toda a diferença do mundo. Ele nunca saberia o que esperar daquele momento assim como nunca saberia se preparar completamente para ele. Apenas sabia que a presença de Victoire e tê-la segurando seu braço era mais do que gratificante. Todo o peso de seus ombros parecia ter sumido quando ela o tocou e ele, antes tentando manter-se firme e confiante para não transmitir a real insegurança que havia dentro de si, de repente soube que mesmo que tudo desse errado e ele desmoronasse, mesmo que seu mundo colapsasse e se partisse em mil pedaços, Victoire estava com ele e, portanto, não havia nada a temer. Ele se desvencilhou da falsa confiança que precisava transmitir e foi invadido por uma confiança e alivio verdadeiros que fizeram todo o peso de seus ombros desaparecer.

Os dois passaram em frente a majestosa igreja quando chegaram até o fim da rua. Victoire sentiu um arrepio percorrendo seu corpo quando as badaladas dos altos sinos ressoaram até o outro lado da rua. Estava acontecendo uma celebração e a igreja estava cheia de fiéis. Teddy não pareceu se impressionar tanto quanto Victoire, apenas seguiu em frente. Caminharam por muitos quarteirões e atravessaram bairros inteiros. Nenhuma palavra foi dita entre os dois, embora Victoire continuasse segurando Teddy com firmeza pelo seu braço esquerdo. Ela percebeu que ele evitava olhá-la nos olhos, evitada desviar o olhar para qualquer lugar que não fosse o caminho adiante. Sua postura oscilou em alguns momentos, mas ele manteve seus passos na mesma intensidade até chegarem ao cemitério.

Havia uma pequena capela na entrada do cemitério, assim como um estacionamento de concreto e árvores com poucas folhas. Uma cerca de metal com arame farpado separava a cidade do lugar inóspito logo a frente. O portão de ferro torcido estava aberto. Quando as lápides mais antigas entraram no campo de visão dos dois, Teddy e Victoire se separaram para segurar as flores de uma maneira mais confortável em seus braços. Caminharam para dentro do terreno gramado quando atravessaram o portão até seguirem por um caminho de paralelepípedos no chão que delimitava uma trilha estreita entre as fileiras de lápides de pedra que pincelavam o chão. Algumas pessoas caminhavam para lá e para cá, mas nenhum deles parecia conhecer Teddy e Victoire, muito menos saber sobre a Guerra. Eram apenas trouxas visitando familiares e amigos.

Teddy Lupin seguiu na frente de Victoire porque conhecia o caminho com exatidão. De todas as vezes que esteve ali, havia memorizado com facilidade onde seguir para encontrar as lápides dos pais. Ele se sentia triste sempre que entrava naquele lugar. Era uma atmosfera sinistra e estranhamente silenciosa que carregava uma falsa sensação de paz. Os ventos fortes característicos da data ainda sopravam contra as árvores que eram espalhadas pelo cemitério e Teddy por muitas vezes sentiu um arrepio percorrendo sua espinha como o toque de dedos frios em sua nuca.

Não demorou muito para Teddy e Victoire avistarem as lápides da família Tonks e Lupin. Os dois conseguiram as reconhecer de longe. A primeira e mais antiga era a de Ted Tonks, feita de uma pedra mais escura do que as demais. Ao seu lado, estava a lápide de sua filha Nymphadora Lupin – Tonks, Teddy precisou se corrigir mentalmente. Ela havia sido uma Lupin por muito pouco tempo e, mesmo assim, sempre preferia que a chamassem de Tonks do que de Nymphadora. A lápide de Tonks e a de Lupin ficavam lado a lado, ambas construídas com pedra branca. Ao lado de Remus, Teddy reconheceu a quarta lápide e mais recente de todas: a de seu avô Lyall Lupin que era feita com uma pedra de tonalidade caramelo. Ele sabia que sua avó Hope Howell Lupin havia morrido muitos anos atrás e que havia sido enterrada em um cemitério do outro lado do país, entretanto foi um pedido de Lyall que Teddy garantisse que ele fosse enterrado ali, ao lado de seu filho único, Remus Lupin.

Teddy se remexeu desconfortavelmente dentro de seu casaco. Victoire o olhou de lado, preocupada. Ele tinha o mesmo olhar sério de mais cedo, com um pouco de tristeza evidente, mas ainda sim, desconforto. Victoire foi até seu namorado e, segurando os buquês com uma única mão, ela envolveu seu ombro em um abraço e ficou na ponta dos pés para depositar um beijo carinhoso em sua bochecha. Teddy se virou para ela, parecendo envergonhado. Ele sorriu fracamente e, conseguindo ignorar a sensação ruim que percorria todo o seu corpo, ele alcançou seus lábios e a beijou.

Foi um tipo de beijo diferente, que não transmitia paixão ou até mesmo qualquer tipo de romance, mas sim compreensão. Ele sabia que não conseguiria colocar em palavras o que estava sentindo, mas esperava que Victoire entendesse o quanto ele estava grato por ela estar aqui hoje com ele. Havia ternura, afeto e carinho envolvidos naquele beijo, mas acima de tudo havia a segurança de saber que os dois estavam ali, juntos.

Eles se separaram e Teddy também segurou os dois buquês com uma única mão para poder abraçar Victoire pelos ombros. Eles ficaram parados lado a lado, observando as lápides por algum tempo, Victoire se esforçando para captar pequenos detalhes e Teddy, um pouco estonteado, tinha os olhos fixos nos nomes marcados na pedra, mas sem conseguir vê-los de fato. Sentia que sua visão começara a ficar embaçada por lágrimas não convenientes que em breve começariam a escapar-lhe dos olhos sem nenhum convite ou autorização.

Victoire foi primeiro. Ela adiantou-se alguns passos e estendeu a mão para que Teddy a acompanhasse. Eles entrelaçaram os dedos enquanto começaram a distribuir as flores pelos túmulos. Teddy sabia exatamente onde cada flor deveria ser colocada, cada uma com suas peculiaridades. As flores que enfeitariam a lápide de Ted Tonks hoje eram flores pequenas e vermelhas, bastante delicadas e simples. Victoire ajudou Teddy a organizar as flores em pequenos arranjos em cima da lápide. Para Tonks, as flores eram coloridas, de vários tamanhos e formas, muito diversificadas e em grande quantidade. Foi divertido arrumá-las pela lápide de sua mãe, porque elas não seguiam um padrão e eram muito diferiam muito entre si. Ele descobriu, quando ainda era criança, que as flores diferentes e coloridas eram um trocadilho para a condição de sua mãe como metamorfomaga e pensou que isso parecia apropriado o suficiente, ter flores tão inéditas e diferentes como Tonks costumava ser.

Para Lupin, suas flores também seguiam um trocadilho especial que Kingsley e Harry mantiveram por tantos anos. Eram flores roxa de mata-cão que enfeitavam seu túmulo e faziam uma referência ao fato de Remus ser um lobisomem. Harry sempre dizia que Remus acharia a brincadeira apropriada e divertida e, por isso, Teddy também achava. Lyall Lupin tinha as flores em uma tonalidade de amarelo, o que Teddy também achava apropriado para seu avô. Ele organizou o as flores em arranjos sobre a lápide e quanto terminou, se afastou e parou ao lado de Victoire, admirando cada uma das lápides com admiração e orgulho.

Quando os ventos foram se tornando mais fortes, Teddy se prontificou para abraçar Victoire e mantê-la aquecida. Ela ainda usava o vestido de sua festa de aniversário, sem nenhum casaco. Teddy deveria tê—la avisado que o clima era sempre nublado e sinistro no dia de hoje, um insulto. Apesar de tudo, ele não se importou de permanecer abraçando-a por um longo tempo, tendo-a aconchegada contra seu peito. Os dois permaneceram em silêncio, apenas observando as flores se movimentando com o vento.

Orgulho. Teddy sorriu, embora Victoire não pudesse vê-lo sorrindo. Ele estava feliz. Ele sentia-se orgulhoso. Um sentimento de triunfo percorreu por todo seu corpo desde os dedos dos pés até os fios arrepiados de seus cabelos castanhos. Ele havia conseguido. Estava ali, com Victoire. Haviam depositado flores para seus pais e avôs, estavam abraçados e Teddy ainda sentia seus olhos embaçados com lágrimas, mas não como algo ruim como todas as outras vezes.

Ele sentia-se orgulhoso.

Estava ali hoje para se lembrar de como seus pais foram heróis. Estava ali hoje para sentir orgulho de ser filho deles. Sentia saudades, não podia negar. Gostaria que os dois estivessem com ele, gostaria que tivessem tido a oportunidade de formarem uma família e de criarem seu filho. Quando era pequeno, teve a impressão de que essa oportunidade fora arrancada de seus pais repentinamente e que isso não era justo. Ele teve medo, por muito tempo, da Guerra que lhe deixara órfão de pai e de mãe. Teve medo de pensar nos pais morrendo no meio de uma guerra, assassinados. Ele teve pesadelos, embora nunca tenha presenciado tal momento. Quando recebeu a carta em Julho, depois de completar 11 anos, ele não quis ir para Hogwarts. Não quis. Foi em Hogwarts que a Batalha aconteceu, foi lá que seus pais foram mortos. Foi Hogwarts que tirou Remus e Tonks dele.

Ele chorou por muitas noites, culpou os pais por terem escolhido estar lá naquele dia horrível. Culpou seu padrinho Harry e sua avó por não ter impedido e, afinal, culpou a si mesmo por não ter conseguido se despedir. Ele esteve com seus pais por menos de um mês e por mais que tentasse, ele não conseguia se lembrar de suas vozes, de seus abraços. Havia muitas fotos do que poderia ter sido sua família. Havia muitas fotos do primeiro mês de vida de Teddy. Ele gostava de uma em particular onde Andrômeda ensinava Nymphadora a dar o primeiro banho em um bebê Teddy recém-nascido, de cabelos azuis. Havia outra fotografia de Lupin, com o sorriso mais verdadeiro e radiante que Teddy já havia visto, segurando o filho orgulhosamente nos braços. Se eles soubessem o que aconteceria em seguida, teriam tirado mais fotografias? Se eles soubessem, teriam ido até a Batalha de qualquer jeito?

Ele os culpou por muitos anos. Sentia-se injustiçado por ter perdido os pais de maneira tão catastrófica. Sentia que tudo havia sido arrancado dele de maneira brusca e isso havia terminado com sua oportunidade de ser feliz sem um pai e uma mãe. Ele nunca pensou que pudesse ser feliz quando sua vida havia sido estraçalhada e destruída quando ele nem conseguia se lembrar. Ainda doía, bem no fundo de seu peito, a saudade. Ainda havia pensamentos e perguntas sem respostas, ainda havia suposições e dúvidas, ainda havia sua imaginação que insistia em perturbá-lo com imagens e lembranças de uma vida que nunca seria real. Nunca seria dele. “E se...” Isso nunca o deixaria em paz. Ele dificilmente conseguiria se livrar daquele sentimento, daquilo que o espreitava desde que era pequeno. O que Remus faria? Como as coisas seriam se Tonks estivesse aqui? O que eles diriam a respeito disso?

Ele respirou fundo.

Seus pais não voltariam nunca mais. Não haveria novas fotografias com os raros sorrisos de Remus Lupin ou com novas cores do cabelo de sua mãe. Ele já tinha tudo que restava a respeito de seus pais. Já tinha todas as memórias que conseguiu reunir. Sentia que conhecia os dois, embora não conseguisse se lembrar deles, nem mesmo de um abraço.

Não importa quantas vezes Teddy chorasse ou se sentisse injustiçado, não importa como os acontecimentos tivessem seguido: Remus e Tonks ainda teriam morrido naquela Batalha, por mais que os pensamentos de Teddy insistissem em imaginá-los voltando para a casa, para ele.

A oportunidade de terem sido uma família havia sido arrancada dos três. Teddy sabia que não havia como mudar isso. Um dia, talvez, ele mesmo tivesse sua própria família. Talvez ele encontrasse a verdadeira felicidade e se sentisse inteiramente feliz, sem precisar se preocupar como as coisas teriam sido se Remus e Tonks estivessem vivos.

Ele estava esperando ansiosamente o momento em sua vida onde pudesse olhar para trás e ver que qualquer caminho o levaria até ali, estando seus pais vivos ou não. Ele precisava ter certeza de que estava construindo algo certo e, de fato, só teria certeza disso enquanto Victoire estivesse com ele. Era assim que ele se sentia toda vez que estava junto com ela: ele sentia que estaria abraçando-a de qualquer jeito, com Remus e Tonks aprovando ou não, vivos ou não.

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Ela era a única certeza que ele tinha.

Sentiu o peso em seu peito que quase o sufocava todas as vezes que vinha até ali se suavizando. Ele finalmente conseguiu respirar e sentir o ar fresco renovando-se em seus pulmões. Ele sentiu-se, por um instante, leve. Fechou os olhos e respirou outra vez. Não havia nada o impedindo de se sentir-se leve, nada o sufocando. Ele havia entendido. De olhos fechados, ele conseguia ver com exatidão seus pais, Remus e Tonks, sorrindo orgulhosamente para ele, ambos de peito estufado e com olhos cheios de lágrimas.

Aquilo provavelmente era outro fruto da imaginação de Teddy, tentando enganar-lhe outra vez. Mesmo de olhos fechados, ele sorriu também. Imaginação ou não, era real para Teddy.

Uma lágrima solitária desceu pelo rosto de Teddy quando ele ainda estava com os olhos fechados. Ele não parecia com pressa de abrir os olhos novamente tão cedo. A visão de seus pais sorrindo nunca foi tão real e autêntica como aquela e ele não estava disposto a deixá-los ir. Imaginou que logo fosse começar a chorar sem parar, que as lágrimas fossem começar a escapar-lhe pelos olhos como sempre. Estava com a visão embaçada fazia muito tempo, mas apesar de suas previsões, foi somente aquela lágrima solitária que apareceu.

Enquanto ainda se sentia estonteado pela visão de seus pais, Teddy não percebeu quando seus cabelos foram mudando para a cor azul, bastante parecido com a cor dos cabelos que sua mãe usava naquela visão e com a cor que ele costumava usar poucos anos atrás e quando ele era criança.

Victoire, observando-o de baixo, sorriu. De olhos fechados, ele havia se tornado leve novamente.

Teddy Lupin era azul.