– S-Sin?? – Gaguejei, tentando afastá-la de mim. A mulher se afastou, ajeitando os longos cabelos negros.

– Oras, não me reconhece mais? Ficávamos o tempo TOOOOOOOOODO juntos. – Ela acariciou o meu rosto, senti o local queimar e desviei a cabeça bruscamente.

– O que você quer aqui? – Minha voz falhou. Sin simplesmente deu um sorriso maldoso e me segurou pela mão. Eu não podia fugir.

Desculpa, Lorene.

–-x—

Mordi o lábio. Já havia pegado comida e esperava na mesma mesa que tomamos café da manhã juntos, sozinha, decidi não me juntar ao Lion, Sam, Taus e outros. Cutuquei o sanduíche de mortadela, preocupada. Eu não conhecia Dan direito, mas sabia que ele não era o tipo de pessoa que demorava. Não sem avisar.

Tomei um gole de suco de laranja apesar de não sentir o gosto. Não parava de procurar o loiro com os olhos, ele não estava em lugar nenhum!!

– Posso me sentar aqui? – Disse Carlos atrás de mim, baixinho, me dando um susto, ele se curvou e, sem pensar direito, acenei com a cabeça afirmativamente.

Ele sentou-se com um sorriso ao meu lado, tentei sorrir de volta, mas não deve ter sido convincente, pois ele tombou a cabeça, apoiando-a em uma de suas mãos e ficou assim, me encarando.

– Não vai falar nada? – O moreno perguntou depois de alguns minutos, me tirando do meu transe. Estranho, nem tinha percebido que havia ficado dispersa.

– D-Desculpa!! – Tentei me recompor, tomei outro gole de suco de laranja afobada, quase engasgando. Carlos me estendeu um guardanapo enquanto dava tapinhas nas minhas costas.

– Você realmente não está bem, Reny. – Ele arregalou os olhos castanhos claros de preocupação. – Vamos pra enfermaria... – Ele se levantou, estendendo a mão pra mim, pousei a minha em seu braço, acalmando-o.

– Estou bem, sério. Só estou um pouco cansada, não consegui dormir direito... – Me senti mal mentindo, mas o quê eu poderia fazer? Ele se sentou, ainda desconfiado.

– Mesmo assim você poderia ir pra enfermaria dormir um pouco. Tenho certeza que Sarah não se importaria...

Com todo meu esforço voltei a ser a de sempre, não vale a pena deixar Carlos preocupado por minha causa, ele é muito bom para isso.

– Acho depois que ela percebeu que o uniforme tinha ficado mais largo por causa do meu irmão ela quer ficar MUITO longe de mim. – Gargalhei.

– Isso se você acertar onde fica a enfermaria. – Carlos exibiu uma fileira de dentes brancos, zombeteiro. Ah!! Era ele que tinha me ajudado a achar Sarah antes!!

– Pelo menos eu não fico caindo de trepas-trepas. – Rebati, cruzando os braços. Ele fez uma cara de magoado.

– Mas é que a bola de futebol tinha caído perto e... E era tão nostálgico que...

– Que não resistiu? – Completei. Ele confirmou com a cabeça, a pele morena um pouco avermelhada. – Sabe a verdade...? – Ele me olhou curioso. – Eu morro de vontade de ir na gangorra! – Segredei.

– Eu também!!! Quer ir hoje depois das aulas? – Carlos parecia uma criancinha.

– Claro!! – Concordei sem nem pensar direito de novo. Ah, qualquer coisa eu chamava Dan para ir junto. Não ia fazer mal.

– Yaaaaaaaaaaaay!!! – Carlos bagunçou meus cabelos. Mas logo ficou sério, me encarando frio enquanto mordia uma rosquinha escrita “Assim você me mata”, o que deixou a cena tristemente cômica.

Ele de repente deu um sorrisinho.

– Você realmente está melhor né?

– ...

Ele esperou uma resposta, mas não pude dar, tinha acabado de perceber um inconfundível brilho dourado passando atrás de seu ombro, sem olhar para mim.

Nem uma única vez.

–-x—

– Hummmmmm, parece que a sua amiguinha albina está se dando bem com outro. O que acha disso, Daaaaaan? – Não sabia se estava mais com raiva dela mesma, do jeito que pronunciava meu nome ou do que ela estava falando. Realmente não sei, provavelmente os três mais um pouco. Indisposto, virei a cabeça para observar o que ela tinha dito.

Sin cravou as unhas em minha mão quando fiz o movimento.

– Não. – Sibilou, a voz totalmente diferente. – Ouse dar uma olhadinha nessa vadia e nunca mais a verá. – Advertiu – Pelo menos não fora de um caixão. – Completou após uma pausa com um sorriso contorcendo seu rosto. Apressei meu passo, fazendo de tudo para levar a mulher para fora do aposento e desejei com todo meu ser que Lorene não tivesse visto.

Entramos numa sala de serviço vazia. Quase não havia espaço para eu sozinho, imagina para dois. Eu conseguia sentir que qualquer movimento que eu fizesse faria milhares de esfregões, vassouras e afins despencariam em cima de nós. A salinha cheirava a mofo e cloro, quando Sin fechou a porta atrás dela ficou ainda pior.

– Então... E o nosso trato? – Ela se enroscou no meu pescoço, aproveitando que eu não poderia recuar.

– Eu já quitei ele há muito tempo, nem vem!!

– Mas tem os juros...

– Juros, que juros??

– Ser meu.

Um silêncio instalou no aposento, eu não suportava Sin, mesmo quando eu era igual a ELES, Sin me enojava. Nem era possível comparar ela com Lorene, Lorene era a luz, ela... Um monte de merda? Ok, está bom o bastante. Um monte de merda.

– Eu não devo mais nada a você. Muito menos eu mesmo.

– Ah, Daaaaaan. – Ela debochou. – Se você quiser sua amiguinha viva deve, sim. – Sin respondeu como se lesse minha mente. Eu baixei meus braços, derrotados, enquanto ela, vitoriosa, se aproximava cada vez mais de mim.

–-x—

– Reny? Reny?? – Carlos me sacudiu.

– Desculpa, tenho que ir. – Larguei minha bandeja de comida e segui aqueles dois, sem afastar os olhos.

Dan não faria isso, nunca. Eu só ia pedir uma explicação e pronto.

Observei a linda mulher. Os seus cabelos eram tão negros que refletiam azul. Os olhos violetas, desconcertantes, dava para enxergá-los de longe. Alta, esguia, escultural. Perfeita.

Perfeita igual Dan.

Afastei a ideia da minha cabeça. Ele me escolhera afinal, não?

Esbarrando em mais pessoas do que eu poderia contar até no meu estado normal, segui eles. Entraram em uma salinha de funcionários.

Com passos longos e leves me aproximei, encostando a orelha na porta. PARE, LORENE!! O QUÊ VOCÊ ESTÁ FAZENDO??? CONFIE NO DAN!!!

Ouvi um estalo. Um beijo.

– Dan, agora você é todo meu...