As Sete Ameaças

Parte III: Os Animais Guias – Um leão.


O barulho metálico ficou bem mais forte e logo conseguiram ver de onde vinha.

Do outro lado da porta existia uma cidade, mas não era uma qualquer: era uma cidade metálica. Tudo nela brilhava e soltava vapor. Roldanas giravam ritmadas, movendo carruagens sem cavalos, gigantescas estruturas de metal com nenhuma janela visível e até mesmo animais mecânicos nas ruas. Não existiam casas, eram grandes castelos de bronze que chegavam até o teto de pedra.

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Zaki estava boquiaberto, não conseguia acreditar no que estava vendo. Era uma cidade mecânica.

Olhou para os amigos e viu que eles estavam tão impressionados quanto ele, até mesmo Yuki, que apenas disse:

— Que barulho horroroso, o que há aqui?

E Ana começou a narrar tudo o que acontecia naquela cidade nos mais mínimos detalhes. Zaki não queria ficar à porta nem mais um minuto, começou a descer os degraus na entrada.

“Não vá sem mim novamente! ” rosnou Leeu.

Zaki estendeu a mão para o lado e sentiu a juba encostar em sua mão.

“Já pedi perdão por antes. “

Logo os outros também começaram a descer, sem parar de olhar ao redor e murmurar entre si as maravilhas que estavam vendo.

— O que é aquilo se mexendo? – perguntou Sophie.

— É um cachorro! – falou Clyde maravilhado – É um cachorro de metal!

Contudo, ao chegar mais perto da cidadela mecânica, Zaki notou que ela estava totalmente vazia, a não ser pelos robôs que andavam e balbuciavam coisas incompreensíveis em meio a todo o barulho agitado da cidade.

Passaram por lojas que pareciam bares, bibliotecas, laboratórios, casas e o que pareciam salões de festas. Bem no alto, pelas janelas encardidas dos prédios, Zaki pôde ver mais seres mecânicos alimentando as fornalhas com carvão para manter a cidade funcionando a todo momento.

— Onde estão todas as pessoas? – perguntou Paul.

— Se escondendo? Mortas? Desaparecidas? Fugidas? Não importa, não há ninguém aqui – falou Zaki olhando ao redor – Só essas criaturas mecânicas estranhas.

“Acha que eu conseguiria destruir uma delas com minhas presas? “

“Não acho que eles tenham um sabor muito bom. “

Repentinamente uma criatura completamente feita de bronze parou em frente a eles e começou a falar coisas sem sentido.

— É a língua esquecida – falou Sophie – Essa cidade deve ser muito antiga.

O homem de bronze parou de falar e passou um tempo calado, como se os analisasse ou estivesse pensando.

— Bem-vindos à Down City – pronunciou finalmente assustando a todos – Eu sou o Magistrado, o robô-líder de todos aqui. É um prazer recebe-los novamente, mestres. Deem uma ordem e a seguiremos com prazer.

Então ele ficou parado, como se esperasse que eles, de fato, dissessem alguma ordem. Foi Nina quem falou.

— Levem-nos aos humanos daqui.

Magistrado fez uma suave reverência.

— Imediatamente. Sigam-me.

Ele andou ágil pelas ruas vazias e cheias de roldanas e ferramentas esquecidas. Passaram por vários prédios e diversos outros robôs que faziam reverências quando eles passavam.

Chegaram, finalmente à um castelo grande que tiquetaqueava mais forte do que as outras estruturas ali. As engrenagens gigantescas girando como em um relógio. E no alto uma fina chaminé que soltava fumaça, fazendo o ar ao redor do castelo ficar denso e difícil de respirar. Zaki começou a tossir e teve que cobrir o nariz e a boca com o braço na fútil tentativa de filtrar o ar que entrava em seus pulmões.

Leeu também começou a tossir, ficando irritado no processo. Leeu ficava irritado muito facilmente.

“Vou destruir esse humanoide dourado que nos trouxe aqui! “

“Tenha calma, o ar ficará melhor quando entrarmos no castelo. “

“Assim espero pelo bem-estar desse idiota de metal. “

— Por aqui, mestres – falou o robô nem um pouco incomodado com a poluição do ar. Ele tocou na grande porta da frente e ela se abriu com um rangido ensurdecedor.

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Todos aumentaram o ritmo das passadas, ansiosos para entrar ali com pressa.

Magistrado cerrou as portas novamente.

— Sigam-me.

O castelo era imenso por dentro também. Era inteiramente feito de metal. As engrenagens podiam ser vistas através das paredes, que consistiam basicamente em tiras finas de metal. Mais robôs rondavam lá dentro, andando de um lado para o outro e falando na língua estranha que Zaki não reconhecia.

— Você entende isso, Sophie? – ele perguntou, esperançoso.

— Eu não, mas Pamela entende um pouco.

— Bem – começou Clyde – Essa pode ser a primeira vez que desejo a presença dela.

— Que exagero – falou a outra ofendida – Ela estava com medo, é completamente compreensível. Pamela é uma pessoa maravilhosa e muito inteligente!

— Certo – balbuciou Clyde.

Finalmente o robô parou em uma passagem aberta para uma sala mais metálica e brilhante que todas as outras.

— Aqui está.

Os quatorze entraram, mas não havia ninguém lá. Zaki virou-se zangado.

— Disse que os humanos estariam aqui.

— Não há humanos aqui – anunciou Magistrado – Eles foram embora há muito tempo. Contudo, nosso grande governante lhes deixou uma mensagem antes de ir. Ali – falou ele apontando para o fundo da sala, onde havia cinco cadeiras grandes e brilhantes. Era uma sala do trono.

Zaki foi o primeiro a partir em direção à cadeira. Estava frustrado e zangado, mas não mais que Leeu, que resmungava ameaças ao robô que ele nunca sequer teria a coragem de realizar.

No fundo da sala, um círculo gigantesco com dois ponteiros – um grande e outro menor – estava empoleirado. Todas as roldanas e engrenagens que se movimentavam ali pareciam trabalhar para aquele grande círculo metálico.

Os cinco tronos pareciam respeitar uma hierarquia de importância, como se fossem para o rei, a rainha e três príncipes. Na cadeira do meio, a maior, existia um círculo prateado com um botão. Zaki o apertou e o círculo esquentou consideravelmente.

Então uma luz muito forte foi emitida e um homem grande surgiu. Ele era forte e vestia roupas estranhas, de couro e tecido. Usava uma coroa repleta de roldanas como tudo ali e um monóculo e seu peito tinha uma espécie de cinto cruzado com palitos metálicos e ferramentas. Ele tinha a pele escura e um cavanhaque com costeletas.

O homem de luz sorriu e olhou ao redor como se os visse. Então ele falou:

— Bem-vindos à Down City. Eu sou o rei Magnus Lotus, trigésimo terceiro rei eleito. Gostaria de perguntar como é o futuro, mas não creio que poderiam me responder de forma que eu recebesse a mensagem, então lhes direi como é o passado. O mundo superior está em crise. As florestas, as águas, os animais... todos se voltaram contra nós humanos, por isso viemos para baixo da terra. O rei, no caso eu, é eleito pela população de Down City e governa enquanto lhes é agradável. Equipes de busca vão todas semanas para a superfície verificar se é seguro subir e trazem mantimentos. Construímos também uma hábil rede de túneis que nos leva a todos os lugares conhecidos pelo homem – ele deu uma gorda risada – Sim, demoramos muito tempo construindo esses túneis. Os robôs que construímos são cem por cento autossustentáveis e, vocês verão com seus próprios olhos, são incríveis companheiros e ajudantes. Obrigado Magistrado, se estiver aí...

— Não há de quê, mestre – falou o robô com a voz embargada. Se é que um robô poderia ter a voz embargada, mas esse parecia muito emocionado ao ver o homem de luz.

— Nossa vida é maravilhosa, não é perfeita, mas é maravilhosa. Vocês devem estar se perguntando por que estou fazendo esta mensagem, não é mesmo? – ele ficou repentinamente sério e olhou ao redor, dessa vez, como se quisesse ter certeza de que ninguém onde ele estava o observava – Nós somos estudiosos de mecânica, mas as artes mágicas não são nossa especialidade, na verdade, está comprometida na sociedade atual. Há apenas uma bruxa, e não se deixem enganar pelo nome pois ela é uma boa bruxa, e ela é a profetisa do castelo. Há alguns dias ela previu que quando eu me for, meus três filhos irão se rebelar, levar todos para a superfície e iniciar um reinado autoritário. Eu me pergunto se, neste futuro em que vocês estão, é isso o que acontece. No início eu relevei, achei que ela estivesse louca, mas meus filhos, de fato, se mostram mesquinhos, gananciosos e egocêntricos. Paladium, Gapazium e Luzarium são seus nomes. Eu creio que isso irá acontecer, por mais que me doa admitir, sei que meus filhos irão se rebelar. Porém, juntamente com a visão de meus filhos, a bruxa também viu que sete pessoas muito poderosas serão capazes de detê-los, contudo, em um futuro bem distante. Por isso gravo esta mensagem. Podem não mais ser meus filhos, e sim seus descendentes, mas eles provavelmente ainda mantêm seu reinado ditatorial. Eu lhes peço: impeça-os, derrote-os, façam seus melhores. Derrubem os governos e entreguem, novamente, o poder para o povo. Obrigado por me escutarem por tanto tempo e boa sorte em sua jornada.

Então a luz se apagou e o círculo de metal de onde ela saía começou a borbulhar até derreter por completo.

Magistrado voltou-se para os visitantes e anunciou:

— Sigam-me, vou lhes mostrar nosso arsenal.