As Neuras de João - Joanca

capítulo 2 - A primeira vez que a vi


Mais um dia de consulta, mesmo esquema, subo o elevador, espero, folheio revistinhas, sai alguém aliviado do consultório e eu entro. Só que dessa vez meus ânimos não estavam muito pra cima não, logicamente estava achando ótimo poder ver a Dra. Olga aquela linda, que além de todas as qualidades físicas que não eram poucas, se é que você me entende, estava me ajudando muito a enfrentar minhas neuras.

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– Olá João, muito bom poder vê-lo novamente, entra pode sentar ao meu lado como sempre.

– Valeu Doutora, mas, desta vez prefiro deitar no Divã.

– Aconteceu alguma coisa João?

– Prefiro não falar.

– Tem certeza, fala só um pouquinho, por favor.

Como resistir a voz dessa mulher meu Deus, resolvi falar só um pouquinho, mas, aí ela se aproximou de mim, sentou na cadeira da frente, cruzou as pernas, que pernas, pronto fiquei nervoso e quando fico nervoso as palavras simplesmente saem da minha boca.

–Você acredita que minha mãe me colocou de castigo? Castigo! que coisa mais antiga. Os pais acreditam mesmo que nos colocar de castigo melhora nossa situação com eles? Sinto lhes informar senhores pais, mas, a situação só piora, nós já estamos bravos por que provavelmente fizemos alguma merda aí vêm os pais no meu caso a Dona Dandara e piora tudo com aquele papinho de que as coisas vão mudar, é tudo para o meu bem e mais algumas coisas que eu sinceramente não escuto, porque já começo a maquinar estratégias para fugir do castigo.

– O que você fez dessa vez João?

– não fiz nada, tipo nada mesmo, acho que esse foi o problema, minha mãe descobriu que não estou indo na escola. Aquela fofoqueira da diretora da minha escola ligou pra minha mãe e contou que eu não vou à aula há tempos, imagina ainda mentiu falando que eu fui menos de uma semana à escola, eu tenho certeza que foram pelos menos dez dias, isso se não foram quinze.

Que coisa chata ficar indo pra escola, que propósito tem isso na vida de alguém? A gente faz continhas e aprende símbolos que não usaremos nunca, tem sempre aquele professor chato reclamando que ninguém presta atenção, a inspetora que insiste em puxar meu fone de ouvido e me mandar para sala. Me diz doutora para que aprender um português todo certinho se a gente chega na internet e todo mundo abrevia as palavras, troca os sentidos, inventam palavras, isso quando não falam totalmente errado, tipo mim liga, nós se falamos depois.

– João a escola é muito importante devido principalmente aos relacionamentos que criamos.

– Esse sempre foi meu problema com escola, as pessoas eu não gosto delas.

– Você tem razão isso é um problema, mas, não é só das outras pessoas, você sabe que não facilita também né, quando você simplesmente julga que os outros não gostarão de você, seu subconsciente assimila aquilo e você nem tenta.

– É pode até ser, mas, eu não ligo para as pessoas elas que se danem o problema foi em casa à coisa ficou feia, minha mãe ficou tão arrasada, tão destruída, foi como se tivesse esgotado ultimo fio de esperança que ela tinha. Caraca, também né, eu nunca prometi nada para ela, assim ela nunca espera nada de mim e não se magoa, mas ela insiste em acreditar em mim, insiste em dizer que eu posso mais, já disse para ela sou um buraco negro isso não vai mudar.

– Como você se sentiu ao ver sua mãe triste?

Respirei fundo antes de responder, deu uma pontada no peito, como se sentisse uma apunhalada no coração, segurei para não chorar, não poderia não na frente da gata da doutora Olga o que ela ia pensar de mim né, tá aí o que será que ela pensa de mim? Foco João, foco.

– Doeu em mim de verdade, fiquei quieto, não sabia o que falar, até tentei dizer para ela que minhas notas eram boas e que as faltas eu corria atrás, mas, o olhar dela estava distante, acho que o que doeu mais foi à mentira sabe, não poder confiar em mim, ver as lágrimas dela me fez chorar também, por que eu sabia bem lá no fundo que tinha machucado e eu nunca quis isso, não com ela. o olhar de decepção dela me destruiu também, acabei indo pro quarto.

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– E vocês conversaram depois?

– Pior que isso, ela se vingou, da pior maneira, ela ligou para que babaca do Renê, acredita nisso doutora, o cara some por anos, nos abandona e na primeira vez que eu piso na bola, tá não primeira vez, talvez a quinta ou décima, mas, isso não importa, ela chamou ele, ele!!!! O cara que mais errou na vida, como se eu fosse ouvir aquele mané, bati a porta na cara dele, que raiva, vazei para o meu quarto.

– você realmente não gosta do seu pai não é mesmo? Ele te machucou de verdade é isso?

– Ele é um idiota, e o pior não é isso, quando eu voltei para sala, eles já estavam amiguinhos, cheios planos e estratégias para mudarem minha vida, tiraram todos os vídeo games, celular, computador, tudo e parou por aí não, se a desgraça já estava grande, piorou, minha me disse que a partir de amanhã ou vou para Ribalta com ela, Rá! O que é que aquele lugar pode ter de bom para mim?

– Bom João, sinto lhe informar, mas creio que seus pais estão certos e que você deveria dar uma chance, para tudo, para sua mãe, para o seu pai e especialmente para essa visita a ribalta, vai que muda sua vida.

– Para pior só se for né – ri ironicamente, sem acreditar em nenhuma palavra dela.

Acordei sem motivação nenhuma para qualquer aventura que fosse ir à Ribalta, infelizmente para mim, fugir não era opção. O Renê me levou para escola e depois me pegou e levou até a porta da Ribalta, Dona Dandara estava lá me esperando com cara de poucos amigos, mas, o que me irritou mesmo foi o grandalhão em cima dela.

Dandara: - Oi Gael, tudo bem esse é meu filho João ele vai para Ribalta comigo.

Pensei sem coragem de falar. Não gostei desse cara, mãe não gostei desse cara!

Gael: - Olá João, que bom te conhecer, quem sabe você não vem treinar comigo, ham!

Primeiro que ele não para de olhar para ela, segundo ele não quer treinar comigo coisa nenhuma, eu sei bem o que ele quer treinar e não é comigo, terceiro, tinha terceiro? ah EU NÃO GOSTEI DESSE CARAAA! respirei fundo, franzi os olhos e disse com voz de homem, tentei pelo menos.

João: oi Gael, obrigado pelo convite, mas, não faz meu tipo.

Certeza que ele entendeu o recado, humm aproxima da minha mãe para ver com quantos paus se faz o que mesmo? sou péssimo para trocadilhos, começando a concluir devia ter ido para escola.

Dandara: - Vamos João a aula do Edgar deve estar começando.

João: - Vamos mãe.

Dandara: - Até mais Gael foi ótimo te ver.

Gael: - Até mais Dandara, foi um prazer te ver também, até mais João.

João: - Até.

Minha mãe saiu me arrastando escada acima com se fosse perder o maior espetáculo da vida dela, longe de ser isso, sala escura, um palco, uma arquibanca com uma galerinha que vamos combinar parecia tudo meio maluco. a única coisa boa era o Pedro, meu melhor amigo que estava lá, sentado na parte mais alta dos bancos, sentei do lado dele.

– E ae Jhonny, muleque solto, o que é que você está fazendo aqui?

– Minha mãe né, me colocou de castigo depois que descobriu sobre as faltas na escola.

– Vixe ela tem razão, você sumiu brother.

– Ta Pedro não quero falar sobre, me diz qual é o lance aqui?

– Teatro, vão ter algumas apresentações de impreviso.

O professor pediu silencio para começar a aula, olhei para frente e tinha uma garota de costas, achei bizarro, como que alguém se apresenta de costas? Me ferrei por que ela não ficou de costas, antes mesmo que eu pudesse raciocinar alguma idiotice ela virou e tudo parou, eu não via mais ninguém em volta, não ouvia barulho a não ser a sua voz, não conseguia piscar apenas encarava ela como se estivesse hipnotizado, que garota linda, quase da minha altura, cabelo liso e castanho, olhos da mesma cor do cabelo, achei a boca dela linda, de repente eu já não era dono de mim, minhas mãos congelaram, meu coração disparou, faltou ar, e uma sensação que eu nunca tinha sentido foi tomando conta de mim, o que era aquilo? eu nunca tinha sentido algo tão forte?

– Pedro, quem é essa – falei sem nem olhar para ele.

– É a Bianca Duarte, atriz.

Bianca, Bianquinha, a garota mais linda que eu já vi e eu sei que pode parecer exagero da minha parte, mas eu poderia jurar que ela estava olhando para mim, olhando mesmo sabe, seus olhos me encaravam como se estivéssemos sozinhos naquele lugar, foi a primeira vez que alguém me olhou nos olhos e eu não desviei o olhar, minha vontade era ficar ali para sempre, simplesmente olhando de volta.

Edgar: - ótima Bianca, grande apresentação, foi muito bom mesmo.

A voz do professor me trouxe a realidade, me despertou, o momento passou e ela desceu do palco, tudo parecia voltar ao normal, as pessoas ainda estavam ali, o local era o mesmo, o Pedro ainda estava tagarelando coisas que eu nem ouvia, mas, eu, eu não era o mesmo, não sabia o que tinha acontecido e nem o porque estava me sentindo tão estranho, precisava descobrir antes que aquilo me consumisse e sabia exatamente quem poderia me ajudar...