O relacionamento entre Dominique e eu depois daquele inocente beijo mudou. Nique era uma prima da qual eu nunca esperei nada mais do que um cartão de natal, e olhe lá, mas ela se tornou uma pessoa que eu gostava de manter sempre por perto. Talvez pelo fato de eu a considerar como meu único amor da infância, talvez porquê ela fosse uma das poucas que realmente me entendesse, mas a verdade é que eu mudei bastante depois daquele beijo.

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Em agosto, com a chegada da minha carta de Hogwarts, eu senti que era a minha hora de amadurecer — e talvez vocês percebem que essa palavra para mim pode ter um significado diferente do que para vocês. E assim eu fiz, lendo a carta que eu sempre esperei receber eu decidi que não seria mais James Potter II, o garoto que tinha uma paixonite por sua prima, eu passei a ser James Sirius Potter, o homem a procura de seu amor.

E não ousem falar que aos 11 anos eu não tinha idade para ser homem!

Só não sabia, no entanto, que encontraria aquilo que procurava tão facilmente como ocorreu.

Observava as constantes mudanças de paisagem conforme o trem ia em direção ao nosso destino. Há pouco tempo a máquina havia deixado a plataforma, mas eu não imaginava que sentiria falta da minha Cara de Pimenta tão rápido.

— Você tá estranho. — Dominique acusou e eu a encarei fingindo não saber do que ela falava.

— Não tô, não. — Respondi voltando a olhar pela janela e a ouvi suspirar.

— Você sabe que pode con... — Mas jamais soube como ela pretendia terminar aquela frase. A porta da nossa cabine se abriu com um único estrondo e uma garota entrou gritando por ela, acompanhada por uma outra visivelmente mais tímida.

— Dominique! Eu não acredito que você está mesmo aqui! Depois de me dizer que sua mãe te mandaria para a França e mudar de ideia em seguida eu decidi que só acreditaria vendo! — Tirei os olhos da janela outra vez para encarar a morena que gritava, assustado. Os cabelos dela conseguiam ser piores do que os da tia Mione jamais foram.

— Lisa! — Dominique gritou de volta e eu fiz uma careta mostrando o quanto estava descontente com toda aquela gritaria. — Mas é claro que estou aqui! Nem pensar que te deixaria aproveitar o castelo sozinha.

— O.K. miladies, se é que posso chamá-las assim, já que pretendem continuar gritando como hienas esfomeadas, permitam-me sair. — Resmunguei, esgueirando-me para fora da cabine e bufando ao conseguir alcançar o corredor.

Estava meio irritado por Dominique ter estragado a paz da minha viagem, mas, assim que abri a porta da cabine onde Victoire afirmou que estaria, todo vestígio de raiva evaporou.

Lá estava ela, com seus cabelos cor-de-rosa caindo por seu rosto e quase me privando de ver o sorriso mais lindo que julguei um dia ter visto. Sabia que havia outras pessoas na cabine mas ela possuía um brilho próprio que ofuscava qualquer um ali dentro. Senti a respiração me escapar quando ela me encarou com seus olhos... azuis? pretos? Difícil dizer já que ela parecia mudar a cor deles por pura diversão.

Ouvi alguém pigarrear e pisquei duas vezes antes de, com toda a força que tinha em mim, desviar o olhar para a pessoa.

— Terra para James. — Victoire brincou e eu pisquei mais algumas vezes para entender o que acontecia. — Toma, acho que precisa disso. — Ela me estendeu um pano e fez um discreto movimento em seu queixo.

Só então percebi que babava. Conforme meu rosto adquiria um tom de pimenta muito parecido com o da minha mãe, todos presentes na cabine explodiam em risadas.

— Esse é James. — Victoire denunciou enquanto ainda tentava se recuperar da crise de riso. — James, esses são Ruby, Mellory e os não tão estranhos para você, Lorcan e Lysander. — Ela apontava respectivamente enquanto falava e ao terminar as apresentações, puxou-me pela cintura e me sentou em seu colo.

Tão rápido quanto ela fez, pulei de volta ao chão e a encarei com certa indignação. Já não tinha eu cuidado para passar vergonha o suficiente?

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Não me entendam mal, jamais vi problema nenhum ficar no colo de Vic agarrado a ela, mas eu já era um homem! E se Ruby entendesse aquele gesto erroneamente? Para justificar meu ato tive que colocar meus pensamentos em palavras, até porquê não queria magoar o coração de minha querida prima.

— Eu já sou um homem, Victoire, sinto que terá que recorrer a seu irmão de agora em diante para carregar alguém no colo. — É , existiam desvantagens em ser um homem.

— Oh! — Ela exclamou surpresa e me arrisco dizer que triste também. — Sei que já não é um bebê, mas pensei que gosta...

Impedi que a frase fosse finalizada balançando a cabeça negativamente. Se Vic continuasse a reagir daquela maneira eu poderia deixar minha determinação ir pelos ares e me aninhar em seu colo como um neném de meses. Mas tinha que provar para Ruby, sem ela ao menos desconfiar, que eu era o homem certo para ela. E agir como um garotinho assustado não ajudaria nisso.

— Conforme-se, Victoire. — Ouvi a voz severa e doce de minha amada e olhei em sua direção, provando de sua fala como se fossem notas musicais. — Aqui. — Ela olhou para mim sorrindo e deu um tapinha no assento ao seu lado.

Exibi um largo sorriso enquanto aceitava a sugestão e me sentava ao seu lado.

— Então... — Victoire me encarou esperando por algo e eu a encarei de volta.

— O quê? — Perguntei olhando os outros em seguida.

— O que você quer, James?

— Nada ué.

— Você sempre quer alguma coisa. — Confirmou e confesso que me senti um pouco ofendido, aquilo nem sempre era verdade. Ou talvez fosse. Mas eu não falaria na frente de todos que queria o amor eterno de Ruby.

— Nem sempre. Dessa vez só quero me livrar dos gritos de Domi e da amiguinha escandalosa dela. — Era meia verdade.

— Por que não vai atrás de Fred?— Perguntou e eu comecei a cogitar a possibilidade de Vic não querer minha ilustre presença em sua cabine.

— Deixe o garoto aqui. — Ruby interviu e eu não pude deixar de exibir um sorriso de todos os dentes. Ela estava tão na minha.

(…)

Eu, Fred, Dominique e a amiga dela estávamos vibrando por termos sido selecionados para a Grifinória. Dominique estava contando como o chapéu nem cogitou a possibilidade de mandá-la para outra casa quando senti um toque em meu ombro.

— Blá blá blá Weasley blá blá Grifinória. — Ouvi a voz de Victoire e poderia jurar que ela revirava os olhos. — Há controvérsias. — Afirmou e ouvi uma doce melodia também conhecida como a risada de um anjo e me virei, percebendo que Ruby estava parada ao lado de Victoire e, assim que eu a encarei ela sorriu para mim.

E cara, meu coração bateu tão rápido que eu não me surpreenderia se falasse que eu desmaiei ali mesmo.

— De qualquer maneira. — A loira voltou a falar e Ruby prestou atenção na amiga, mas eu só tinha olhos para ela. — Parabéns. — Disse e acho que ela abraçou Domi, mas não tenho certeza.

— É uma pena que não tenham ido para a Corvinal, somos muito mais divertidos. — Ruby afirmou jogando os cabelos - agora pretos com mechas azuis - no ar e olhando diretamente para mim.

— Eu com certeza teria escolhido Corvinal se dependesse de mim. — Disse estufando o peito, apesar de aquilo ser uma mentira absurda e ouvi Ruby rir.

—Viram? É uma nova era! Vou avisar isso para aquele chapéu velho. — Victoire exclamou sorrindo e depois elas foram andando até uma outra parte da mesa onde uma garota um tanto parecida com Ruby estocava doces em suas vestes.

— Cara. — Fred me cutucou com o ombro e apontou para onde Ruby estava. — O que foi que eu perdi?

Exibi um largo e maroto sorriso. Se Fred achava que tinha algo acontecendo, Ruby com certeza estava na minha.

(...)

Depois daquela noite, encontrar Ruby foi quase uma missão impossível. Como eu estava no primeiro ano tinha poucos horários livres e esses nunca eram compatíveis com os horários de Ruby, porque ela simplesmente não tinha nenhum horário livre e ainda por cima era monitora. Ou seja, sempre que eu tinha sorte de esbarrar com ela pelos corredores, recebia no muito um sorriso e um tchauzinho ao longe.

Só percebi o que deveria fazer para ter um pouco de tempo com ela pouco antes das férias de inverno.

— É a sexta vez só essa semana, James. — Ruby disse em um suspiro e eu ergui os ombros como se não pudesse fazer nada em relação. — E é só terça-feira! — Acrescentou a espera de uma reação decente. — Você está prejudicando a Grifinória no torneio das casas. — Suspirou me olhando séria e eu alternei o peso de uma perna para a outra.

— Não é minha culpa se você está sempre no lugar certo na hora errada. — Na verdade era sim. Eu fiz questão de decorar a rotina da Ruby e sempre estar fazendo algo errado quando ela estivesse por perto.

— Passe na ala hospitalar depois do jantar, informarei para madame Pomfrey e, por favor, não faça como da última vez e consiga uma detenção cumprindo uma detenção!

Eu a observei sumir pelo corredor e exibi um largo sorriso antes de seguir o meu caminho.



Papai tinha me dito que os melhores natais da vida dele foram em Hogwarts e por isso eu tinha decidido ficar por lá mesmo. Mas naquela manhã de natal estávamos reunidos no Café Madame Puddifoot e mamãe havia trazido dezenas de cartas no lugar dos meus presentes.

— Trinta e sete detenções em três meses e meio de aula. Você é um prodígio, James! Nem mesmo Fred tem tantas detenções, digo, você tem que ter muita dedicação para conseguir fazer isso... — Minha mãe continuou falando por muitos minutos mais e a cada palavra ela ficava mais vermelha, mas eu havia parado de escutar logo no início, pensando no que Ruby deveria estar fazendo uma hora dessas e como seriam nossos natais juntos.

Ouvi meu pai pigarrear e Lily me cutucou.

— Hm? — Perguntei encarando meus pais um pouco perdido e minha mãe suspirou derrotada.

— Você ouviu alguma coisa do que a sua mãe disse? — Meu pai perguntou me analisando cuidadosamente.

— Claro que ouvi! E sinto muito, mãe, mas é que... — Fechei a boca antes que falasse demais. — Eu sou filho dele! — Tentei mudar o rumo da conversa, apontando para meu pai, mas sem olhar para ninguém.

— James, se tiver algum problema pode nos contar. Como seus pais nosso dever é ficar do seu lado. — Mamãe retornava a cor normal e disse docemente, esticando a mão sobre a mesa para tocar meu rosto. Suspirei, passando a encarar meus biscoitos e acabei decidindo falar.

— Bem, tem essa garota... — Comecei e percebi que meus pais trocavam olhares. — E ela é muito ocupada, a única maneira de eu conseguir algum tempo com ela é ficando de detenção e eu sinto muito, mãe, por todas as detenções mas é que... eu a amo. — Confessei de uma vez, se pensasse eu provavelmente não falaria nada, mas decidi não pensar e meus pais ficaram um tanto surpresos com a declaração, não demonstrando reação alguma por um tempo.

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— Oh, James! — Mamãe finalmente disse algo, sorrindo e contornando a mesa para me abraçar. — Isso é tão fofo! — Afirmou enchendo meu rosto de beijos enquanto eu tentava a afugentar. — Conte-me tudo sobre ela!— Pediu ainda sorrindo enquanto voltava para seu lugar e me olhou com expectativa.

— Bem... — Comecei meio incerto, Ruby e eu não tínhamos nada oficialmente, deveria falar sobre ela para meus pais? — O nome dela é Ruby... — Que mal teria, afinal? — Ruby Chang...

O sorriso sumiu do rosto da minha mãe, indo diretamente para o do meu pai, que começou a rir como se tivesse ouvido a melhor piada do mundo.

— James Sirius Potter eu o proíbo de qualquer contato com essa garota! — Mamãe vociferou e eu a encarei com olhos arregalados.

— Ginny! — Ouvi meu pai a repreender após se recuperar das risadas. — James, não escute sua mãe, se você realmente gosta... ama essa garota, fale com ela antes que outro diga...

— Não! Deixe isso para lá! Ele tem onze anos, Harry, não sabe o que é amor...

— Vocês não me disseram que amor é quando seu coração bate tão forte que...

— James, querido, escute sua mãe. Não vale a pena! Quando estiver mais velho você vai acabar descobrindo que ama a Lily.

— Ginny, ele é irmão da Lily. — Papai a lembrou e ela bufou.

— Você entendeu o que eu disse, Potter!

— Mãe. — Chamei e ela me encarou com aquela cara de pimenta que eu tanto amava. — Eu sei que eu sou muito novo e ainda tenho muito para aprender, mas eu sei também o que é que eu tô sentindo e eu amo a Ruby. — Mamãe encheu a boca para dizer algo mas papai fora mais rápido.

— James, se você realmente sente isso por esta garota, diga a ela. Deixe o tempo dizer o que vai acontecer depois disso.

Meu pai não era exatamente um gênio, principalmente amorosamente falando. Mamãe normalmente era quem tinha os melhores conselhos. Mas naquele natal aquelas soaram como as palavras mais sábias que eu já tinha escutado em toda minha curta vida. Um conselho que merecia ser seguido. E foi o que eu resolvi fazer, até porque apesar de eu não estar entendendo o que estava acontecendo ali, meu pai deveria ter conselhos melhores sobre o que fazer e não fazer em relação a uma garota.

Quando as aulas voltaram eu decidi não forçar mais as detenções, não se enganem, eu ainda aprontava mais que o Pirraça, só tive o cuidado de não ser pego em nenhuma dessas vezes. Havia colocado na cabeça que Ruby, sendo tão certinha como era, não gostaria de se envolver comigo se eu continuasse agindo como uma criança travessa. A confirmação disso veio em uma tarde no fim do inverno quando eu estava de bobeira pelos corredores e esbarrei em Ruby que, descobri mais tarde, estava indo visitar a irmã na enfermaria.

— Estou contente e orgulhosa por não ter que te dar detenção todos os dias. — Lembro-me que ela disse e piscou para mim antes de seguir seu caminho.

No dia seguinte estávamos reunidos no salão principal para um comunicado de nossa querida diretora enquanto eu esperava por notícias de Patrick Boot, um garoto da Corvinal que sentava na minha frente nas aulas de transfiguração e eu havia induzido a fazer perguntas para Ruby sobre, bem, sobre mim.

A minha sorte era que as mesas da Corvinal e Grifinória eram muito próximas uma da outra e eu conseguiria ouvir o que ela falava, já que fiz questão de sentar perto do lugar aonde Ruby estava.

— Olá, senhoritas. — Mesmo de costas percebi que Patrick se aproximava de onde Ruby e as amigas estavam. — É... bem, eu tenho um... trabalho para fazer e eu queria saber se vocês se importariam de responder algumas perguntas. — Ele era péssimo naquilo, infelizmente era minha melhor opção. As meninas devem ter concordado pois em seguida ele continuou. — Senhorita Chang, começarei você. O que você acha do grifano James Sirius Potter? — Eu quis correr e me esconder, virar e esbofetear aquela cara engomada de Patrick, desaparecer, pedir transferência para Durmstrang e muitas outras coisas, mas não fiz absolutamente nada, apenas senti meu rosto ficar tão vermelho quanto meu cachecol e fingi não estar ali.

Ruby riu enquanto uma de suas amigas perguntava que tipo de pesquisa era aquela.

— Ah! — Começou e eu resisti a vontade de virar para vê-la enquanto falava. — Eu amo James...

Ela falara mais coisas, tenho certeza disso, mas não ouvi. A única coisa que eu ouvira nos segundos seguintes foi a batida descompassada de meu coração e o eco de suas palavras em minha mente. Ela me amava.

Meu momento de êxtase interna foi interrompido por McGonnagal que chamava por todos. Apesar de estar viajando em um sonho perfeito no qual Ruby dizia que eu era tudo que ela sempre quis, consegui acompanhar o aviso da diretora.

— Há exatos dezoito anos, Hogwarts enfrentou a maior guerra que o mundo bruxo já viu e ouviu falar — começou a diretora Minerva McGonnagall. — Sofremos perdas que jamais serão reparadas — eu olhei para Fred, ele olhava para as mãos, sabendo exatamente o porquê de seu nome —, mas também vencemos a guerra. — Ela fez uma pausa e me olhou diretamente. Eu era uma criança, admirado por alguma atenção. Mas aquele olhar... me fez sentir encabulado. Eu era o único Potter ali e eu já havia recebido sussurros quando fui selecionado. — Nenhum daqueles que lutaram bravamente para que a maioria de vocês tivessem um futuro iriam gostar que nós só ficássemos lamentando suas mortes e, por isso, a cada seis anos, fazemos desse ano diferente. E esse ano, será o Torneio.

Houve sussurros pelo salão e eu olhava para os lados, percebendo que a excitação dos que estavam no sétimo e no primeiro ano exalava por todo o local, misturando-se com a minha.

McGonnagall pigarreou e todos pararam de falar.

— Teremos torneios de vários tipos e, não, senhores Scamander — acrescentou McGonnagall — não será o Torneio Tribruxo. — Todos riram e eu vi os irmãos gêmeos murcharem em seus bancos da Corvinal. Eles eram filhos da tia Luna. Ela era um pouco maluca da cabeça, mas era legal. — Será um torneio que englobará do primeiro ao sétimo ano, terá atividades como "Pule o explosivim", um pequeno jogo de quadribol entre os alunos do segundo e primeiro ano — eu me senti super animado agora —, caça ao ovo de hipogrifo entre outras competições.

Os alunos mais velhos começaram a gritar algumas coisas que eu não estava conseguindo ouvir direito. Eu olhava ao redor, sem saber o que fazer. À mesa da Corvinal, Ruby olhou para trás e encontrou meus olhos. Ela sorriu e ergueu um dos polegares.

Eu sorri e voltei a olhar a diretora, que possuía um singelo sorriso.

— Ah, já ia me esquecendo — disse McGonnagall. — Haverá o baile de Primavera. Onde todos, sem nenhuma exceção, poderão ir. O evento celebrará o início do torneio que irá perdurar até uma semana antes das provas finais. Portanto, arranje seus pares. Façam deste ano memorável. Essas festividades tem o intuíto de nos lembrar que, juntos, nós podemos vencer o mal, pois, Hogwarts sempre estará lá para lhes acolherem quando os senhores mais precisarem. Podem comer! — Ela bateu palmas e a comida apareceu à minha frente.

O sorriso que iluminava meu rosto poderia ser visto facilmente a quilômetros de distância. Enquanto o caos se apossava do salão principal, com os garotos mais velhos correndo um lado para o outro e convidando as garotas de quem estavam afim antes que alguém o fizesse, eu fantasiava com qual deveria ser o momento perfeito para convidar Ruby, deveria ser rápido, tinha ciência disso, Ruby era bonita demais para ficar sem um par por muito tempo, mas também deveria ser perfeito.

Cutuquei Fred com o cotovelo e fiz uma careta de nojo ao olhar para ele, seria mais agradável ver um trasgo comendo. Ele ergueu a cabeça e a jogou no ar como se perguntasse "quié?" e eu pigarreei antes de recuperar meu estômago.

— Já sabe quem vai levar? — Perguntei duvidando que qualquer garota que o visse se alimentando aceitaria a proposta de sair com ele.

— Dominique?! — Gritou limpando a boca em um guardanapo e a ruiva desviou os olhos azuis em sua direção, visivelmente aliviada por ter sido tirada do papo histérico de suas amigas. Por isso eu gostava de Domi, ela não era como uma garota qualquer.

Observei Fred fazer um patético movimento de dança enquanto a ruiva revirava os olhos e dava de ombros, ouvindo gritos das garotas ao seu redor assim que elas repararam que a amiga já tinha um par.

— Dominique. — Fred concluiu com um dar de ombros e puxando uma coxa de frango de um prato e a destruindo com os dentes. — E você? — Perguntou sem se preocupar em desviar a atenção da comida.

— Ruby Chang. — Disse baixo. — Mas ainda não sei como chamá-la...

Fred tomou um longo gole de seu suco de abóbora e me encarou, batendo o copo na mesa e exibindo um largo e maroto sorriso.

— Eu sabia que tinha alguma coisa! — Tentei fazer uma careta mas acabei sorrindo.

— Você acha que ela aceita? — Perguntei porque, apesar de tudo, eu ainda era uma criança e tinha minhas inseguranças.

— Claro! Ela é só sorrisos para você. — Afirmou e eu olhei singelamente para trás, vendo Ruby observar a encenação dramática que Lysander e Vic faziam de Lorcan convidando sua namorada, Mellory Cornfoot, para o baile e lançando olhares, que eu não soube definir o que significavam, a cada minuto para a mesa da lufa-lufa.

Fred deu dois tapinhas em minhas costas, que foram sentidos como dois murros vindos de um dos galhos do salgueiro lutador, aquele cara era um brutamontes!

— Ah, eles crescem tão rápido! — Afirmou e voltou para seu ritual de alimentação, enquanto eu continuava a encarar Ruby me perguntando o que ela estaria pensando.

Uma semana antes do baile. Andava em círculos em um dos corredores aos quais eu sabia que Ruby passaria em breve, saindo da aula de transfiguração. Até o recente momento eu ainda não tinha encontrado tempo para convidá-la para o baile, então naquela tarde eu resolvi matar a aula de voo e fazer isso.

Convenhamos, eu sabia voar melhor que grande maioria que estava ali, empatado somente com Fred, Dominique, Lisa e Clarisse Wood, que parecia ter aprendido voar ao invés de andar.

De qualquer maneira, eu vinha praticando um discurso nos últimos dez minutos, mas não consegui impedir minhas mãos de tremerem assim que a porta se abriu e vários alunos da Corvinal e Lufa-Lufa saíram de lá. Quando todos já haviam se dispersado, vi um rapaz loiro da lufa sair aos tropeços da sala, seguido por Ruby e Victoire que estavam contentes demais com o que quer que tenha acontecido.

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— Hey, Ruby. — Chamei quando elas se aproximaram.

— Olá, James! — Exclamou e mostrou-me um sorriso que exibia todos os dentes.

— Não cumprimentamos mais os parentes, certo, entendido. — Victoire resmungou de seu canto.

— Será que eu podia falar com você um minutinho? — Pedi para Ruby assim que percebi que ela continuava seu caminho.

— Claro! — Disse ainda sorrindo e Victoire também parara sua caminhada. Relutantemente desviei os olhos de Ruby para encarar minha prima, que demorou um tempinho para entender o que eu queria.

— Ooh! Ah! Sem cumprimentos e ainda me manda embora? Certo. Entendi! Te vejo na comunal. — Informou antes de se virar e sumir pelos corredores.

— Então? — Ruby perguntou e eu voltei minha atenção para ela, esquecendo todas as palavras que havia decorado.

— É ... é ... — gaguejei e esfreguei minhas mãos suadas na capa, o que eu tinha ido fazer ali mesmo? — Você... — Ah, sim! O baile. — "Vocêirbailequercomigoir?"¹ — As palavras soaram fora de ordem e saíram tão rápidas que nem eu consegui entender. Ruby inclinou a cabeça um pouco na minha direção e gentilmente disse: " Hum?", fazendo minhas mãos começarem a tremer.

— Você quer ir... ir ao b-baile comigo? — Tentei mais uma vez e esta saiu melhor que a última, apesar de ainda estar ruim.

Ruby abriu a boca em um sinal de surpresa e a expressão que seu rosto adquiriu não me deixou nem um pouco feliz.

— Sinto muito, James. É claro que eu adoraria ir ao baile com você, mas já me convidaram e ... eu aceitei. — Ela parecia culpada por algo e bem, ela era! Não deveria ter conseguido disfarçar minha decepção porque ela abriu a boca para dizer algo mais, mas eu fiz uma careta, murmurei um "tudo bem" e deixei o corredor antes que pudesse me sentir ainda mais humilhado.

Mas não estava tudo bem. Assim que virei no segundo corredor, apertei meus passos, quase correndo na direção da torre da Grifinória e resmungando a senha apressado para o quadro da mulher gorda.

Não foi difícil de encontrar quem eu procurava. Sentada em frente a um leão... não literalmente, em frente a Lisa, ella parecia concentrada em uma partida de xadrez.

— Cheque. — Ouvi Lisa dizer assim que me aproximei, mas não tinha tempo para aquilo. Pulei em cima da mesa onde o tabuleiro estava, espalhando peças pelo chão e encarei Dominique.

— Preciso de sua ajuda. — Confessei e senti meu corpo ser jogado no chão. Dominique resolveu ignorar o fato enquanto Lisa decidia qual maldição lançaria contra mim, e acabou por me encarar com certa curiosidade.

— E como eu poderia lhe ser útil? — Perguntou e eu passei a mão pela cabeça ao me levantar, indicando um canto mais isolado da sala.

— Você pode dizer aqui — intrometeu-se Lisa.

— E você poderia calar a boca. — Resmunguei para Lisa, mas não dei tempo de ela responder, arrastando Dominique comigo para o tal canto. — Você precisa descobrir quem é o cara que levará Ruby no baile.

— Como é ?

— O nome, a ca...

— Isso eu entendi, queria só ver se você tinha coragem de me dar ordens outra vez. Escuta aqui, Sirius...

— Domi... — Pedi e ela me encarou, fazendo-me suspirar. — Eu estou apaixonado por essa garota. — Sussurrei observando se alguém havia escutado. — Não posso deixar um qualquer a levar no baile em meu lugar.

— Terá que arrumar outra pessoa para te ajudar. — Ela disse com desdém e eu a encarei estupefato, essa não era a Dominique que eu conhecia.

— Mas Mini. — Sim, eu havia apelado pelo apelido que só eu a chamava. — Você é irmã da melhor amiga dela, você poderia... — E então eu vi. Um rastro de mágoa bem escondido, mas visível se você prestasse atenção, e me senti um completo idiota. — Dominique? — Chamei e ela me encarou, de braços cruzados. — Você gosta de mim?

— Mas é claro que não! — Querem saber o problema de respostas rápidas demais? Elas te entregam. — Eu só estou preocupada com você, seu idiota! Ruby é mais velha, ela nunca vai gostar de você desse jeito, mas se você quer se iludir, tudo bem! O nome dele é Peter McMillan, ouvi a irmã dele conversando com a irmã da Ruby hoje e dizendo que ele finalmente criou coragem para chamá-la. Boa noite! — Ela saiu batendo o pé no carpete e eu permaneci ali, parado feito um idiota, sem saber o que fazer em relação a Dominique.

Mas agora eu não podia me preocupar com a crise de ciúmes fora de hora da minha prima, eu tinha que dar um jeito em Peter McMillan.

(...)

Enrolava meus dedos no pedaço de pano em tentativas frustradas de dar um nó na gravata quando Fred entrou no dormitório. Olhei para ele através do espelho e ele se jogou na cama.

— Então? — Perguntei enquanto ele revirava a mala a procura de seus trajes. Assim que encontrou as vestes me olhou sorrindo marotamente.

— Passei na enfermaria e decidi perguntar a madame Pomfrey de onde vem os bebês. — Gargalhei junto com o moreno que se recuperou rapidamente e prosseguiu. — Enquanto a velha gaguejava a procura de uma resposta, Peter McMillan entrou lá com o rosto estourando bolhas de acne e com o dobro aparecendo no lugar das que estouravam. — Ele tremeu de nojo com a lembrança e eu fiz uma careta ao imaginar a cena. — Pomfrey pareceu feliz por se livrar de mim e quando eu fui atrás ainda esperando uma resposta ela falou que teria que ficar a noite inteira com ele.

— Perfeito! — Conclui satisfeito e deixei o pano da gravata ao redor de meu pescoço, desistindo de amarrá-la. — E Dominique?

— Não a vi hoje, Victoire a sequestrou para a torre da Corvinal, mas ela afirma que você é um idiota presunçoso por pensar isso, seja lá o que for que você esteja pensando...

— Já que ela diz isso, pedirei desculpas depois da festa, mas agora tenho alguém para ... não te interessa. Até, Fred.

Ele resmungou algo em resposta mas eu já estava correndo a todo o vapor para o salão principal. No caminho, esbarrei em uma garota e segurei seus ombros para equilibrá-la.

— Sinto muito. — Pedi percebendo que se tratava da terceira garota no trem, a prima de Lisa. Qual era o nome dela mesmo?

— Okay. — Ela disse em um sussurro baixo e, assim que ela se equilibrou, voltei minha corrida, mas parei segundos depois. — James... — Ela chamou e eu a encarei, mostrando que estava com pressa. — Você não vai querer aparecer assim, certo? — Disse vindo em minha direção e amarrando o pano em volta do meu pescoço em uma gravata perfeita. Sorri admirado e beijei seu rosto.

— Obrigado, Gaia! — Disse e voltei a correr.

— É Maya. — Eu a ouvi murmurar antes das escadas girarem e nos mandarem em direções diferentes.

Cheguei ao salão principal bufando e apoiando as mãos nos joelhos para tentar recuperar o ar.

Enquanto tentava fazer isso, percebi casais surgindo das escadas de mãos dadas e indo em direção ao salão principal, conversando baixo para que só eles pudessem ouvir.

Respirei fundo uma última vez e, ao olhar para a escada a minha frente, a correria pareceu valer a pena. Com os cabelos negros cacheados e usando um vestido azul-claro tomara que caia que, a partir de sua cintura ia em leves camadas na direção do chão, Ruby era a garota mais bonita que eu já vira em minha vida. Ela tinha um sorriso nervoso e seus olhos corriam ao redor a procura de alguém.

Pigarreei e suspirei determinado, puxando as flores que um garoto da Corvinal trazia consigo, mas somente protestou antes de continuar seu caminho. Respirei fundo e subi três degraus antes de me inclinar ligeiramente e estender a mão em sua direção.

— Milady. — Chamei sorrindo e ela pareceu surpresa em me ver.

— James! — Sua voz era, como o habitual, doce, mas esta noite tinha uma pontinha de de ansiedade. — Para mim? — Perguntou surpresa assim que eu ofereci as flores para ela. — Oh, James! Eu agradeço, mas eu estou esperando...

— Ele não virá. — Informei e ela me encarou confusa. Suspirei e subi mais alguns degraus, ficando da altura de Ruby e a encarando nos olhos. — Eu sei que agora você pode não gostar muito disso, mas devo antecipar que fiz isso por nós dois.

— James? — Seu olhar agora me lembrava o de minha mãe quando me descobria aprontando algo.

— Ruby Chang Park. — Suspirei e a encarei diretamente nos olhos. — Eu te amo.

— James!

— E eu sei que você também me ama porque eu ouvi você dizer para o Boot! — Ruby pareceu surpresa mas suspirou ao se lembrar do que eu falava e apoiou uma mão em meu ombro, me olhando carinhosamente.

— James, eu nem sei o que dizer! — Confessou e sorriu de lado. — Veja, quando eu disse que te amava para o Patrick eu quis dizer que o amava como um irmão mais novo, que te amava como o primo mais divertido e fofo da minha amiga, não desse jeito. — Explicou-se e, a cada palavra dita por ela, era como se um osso meu estivesse se quebrando. Ela suspirou. — Eu sinto muito mesmo se em algum momento dei a entender outra coisa, mas veja bem, — Ela tocou meu rosto e sua mão era tão macia que por mais que quisesse não teria coragem de tirá-la dali. — Você é muito novo, James, ainda tem muito o que ver pela frente. Tenho certeza que ainda vai achar alguém que ame de verdade e que o ame de volta, mas, infelizmente, esse alguém não sou eu. — Ela esperou que eu falasse alguma coisa mas como não disse nada continuou. — Agora me diga, o que você fez com o Peter?

Bufei sem conseguir acreditar que ela havia perguntado aquilo, mas consegui reprimir um leve sorriso ao me lembrar a situação do lufano, talvez ao vê-lo em uma situação tão nojenta ela pelo menos desistiria dele. Não seria uma noite perdida, afinal.

— Enfermaria... — Informei e ela sorriu para mim, apesar da preocupação visível em seu rosto, e segurou a saia do vestido afim de ir para o local indicado. — Ruby... — Chamei quando ela passou por mim e a encarei. — Você acha que um dia terei chance? — Perguntei e ela deu um breve sorriso, erguendo os ombros e subindo às pressas uma das escadas. E eu soube a resposta.

Ruby Chang foi a primeira garota a partir meu coração. E os danos não me pareciam reparáveis.