Bella a mãe

Nunca imaginei que gostaria tanto de trabalhar como professora, educar, ou deseducar como era o meu caso, me proporcionava grande alegria e ver aquelas crianças virarem adultas descentes me causava grande orgulho. Mas do mesmo modo que me alegrava com seus sucessos eu não conseguia ficar inerte aos problemas pelos quais passavam. De uma forma estranha eu tentava aconselhar da maneira mais suave que podia, afinal eram crianças e não miniadultos teimosos e burros.

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Os bruxinhos confiavam em mim e volte e meia vinham me confidenciar segredos. Talvez fosse o fato de eu parecer mais nova que os outros professores e consequentemente mais acessível. Sem falar nas histórias que existiam sobre minha época de estudante. Como o caso de quando "sem querer" pendurei Samanta Stone junto aos quadros da parede norte do castelo. Ninguém mandou me irritar!

– Professora Swan? - chamou-me choroso Heliot Finger, eu também choraria se tivesse um sobrenome de merda daqueles.

– Sim? - sequer ergui meu olhar para o bebezão.

Continuei prestando atenção nas tarefas que corrigia. Minha escrivaninha estava lotada de trabalhos que deixei para a última hora. O que eu podia fazer? Eu odiava trabalho burocrático e corrigir provas e tarefas definitivamente se encaixavam nessa classe. Eu preferia me ver louca em alguns dias do que corrigir aqueles garranchos em todo o ano letivo. O que posso dizer? Nunca fui um exemplo de pessoa quanto mais de professora.

– Professora?

Torci meus lábios com desagrado e soltei a pena dentro do tinteiro. Ergui minha cabeça e fitei o chorão. Franzi o cenho quando o notei com um enorme calombo na testa.

– Er... Queria falar com a senhora sobre o Black. – murmurou tremendo.

– O que tem ele?

Heliot apenas apontou para a própria testa. Estranhei aquilo. Sirius não era flor que se cheire, mas dificilmente agredia alguém que não merecia e nunca ouvi qualquer desentendimento entre os dois.

– Eu não fiz nada! Eu juro! Eu só esbarrei com ele no corredor e então ele me empurrou e começou a me bater. – defendeu-se rapidamente.

– Vá para a enfermaria, depois resolvo isso.

Voltei aos meus afazeres, mas a preocupação me impediu de continuar.

– Quer saber? Foda-se essa merda! – joguei tudo para cima e segui a passos rápidos pelos corredores.

Os alunos me cumprimentavam com sorrisos, mas logo eles desmanchavam quando não obtinham respostas.

Segui pelos corredores de Hogwarts em direção aos dormitórios não demorei a encontrar Lílian e Thiago sentados em um sofá. Os dois tinham feições extremamente entristecidas. Remo estava sentado sobre a mesa de centro e diferente de seus amigos ele estava bem irritado. Será que Dumbledore expulsou Sírius por causa da briga?

– Hey crianças, onde está o amigo de vocês? – perguntei como quem não quer nada.

– Você ainda não sabe professora Swan? – por ser Líli a perguntar eu não lhe dei uma resposta malcriada, então apenas balancei minha cabeça em negativa. – A senhora Black veio hoje buscar Sírius, ele vai sair de Hogwarts.

Não pude evitar arregalar meus olhos em surpresa. Não era a toa que Sírius estivesse perturbado.

– Aquela mulher é louca! Ela provavelmente vai manter Sírius enclausurado até que ele tenha idade para se casar com uma de suas primas loucas. – exclamou Remo irritado.

Não me espantava que Orion e Walburga Black fizessem exatamente aquilo. Suas convicções sobre sangue puro eram repulsivas. Torci meus lábios em preocupação antes de girar em meus calcanhares e caminhar para a sala de Dumbledore.

Eu tinha em meu coração um pressentimento muito ruim. Algo ruim aconteceria com Sírius. A loucura de seus pais estava o colocando em perigo extremo e eu não permitiria que eles lhe fizessem mal.

– Professor? – bati a porta antes de entrar. – Preciso de férias.

Ele piscou rapidamente com a surpresa que o assolou. Então sua expressão mudou para astuta.

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– Essas férias repentinas não teriam nenhuma relação com a família Black, teriam?

– Credo professor! Eu quero ser feliz em minhas férias e não pegar algum tipo de demência, porque a loucura daquela família é contagiosa. Credo! – tremi meu corpo com repugnância.

O diretor olhou-me por longos minutos tentando ter certeza da minha mentira. Olhei-o com toda a inocência que possuía... O que não era muita. Todavia foi suficiente para ele acreditar, ou fingir acreditar.

– Tudo bem. Mas a quero de volta em 15 dias.

– Será suficiente. – sorri mandando-lhe uma piscadela e saltitei rapidamente para a saída.

– Bella! – virei meu rosto em sua direção. – Antes de ir arrume um professor substituto.

– Ok!

Voltei até a minha sala com um grande sorriso no rosto. Resolveria dois problemas com um feitiço só!

Enquanto arrumava minha mala ia narrando para a pena enfeitiçada o que eu queria que ela escrevesse em minha humilde carta.

Caro Moody... Tenho uma emergência para resolver e preciso de um substituto para as aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas nos próximos quinze dias. Minhas aulas estão em dia e basta continuar o cronograma do livro. Você terá apenas que corrigir alguns trabalhos. Eles estão empilhados em minha escrivaninha. Boa sorte!

Sorri comigo mesma. Olho-tonto sempre quis ministrar essas aulas, mas a diretoria de Hogwarts sempre o achou um pouco fora da casinha. Então ele teria essa oportunidade, Dubledore teria seu professor substituto e eu ficaria sem trabalho burocrático. Todo mundo feliz!

Puxei minha mala de rodinhas e com um grande sorriso no rosto parti de Hogwarts.

Demorei alguns dias para conseguir me instalar na pequena cidade na qual os Black viviam. Os moradores não gostaram muito da minha cara, para eles eu não parecia uma sangue puro. Como se eu fosse algum tipo de cavalo... Patético.

A cidade era tão conservadora que não havia sequer um trouxa vivendo nela. Arrogantes de merda.

Irritada com aquelas pessoas e com uma louca vontade de jogar um feitiço nuclear e apagar toda aquela escória do mundo eu finalmente me dirigi até a residência dos Black.

Bati a porta e não demorou para que Walburga Black abrisse a porta. Olhou-me com tanto entojo que quase vomitei em seus pés para dar motivo ao nojinho.

– Boa noite senhora Black, desculpe incomodá-la a essa hora da noite. Mas cheguei de viagem a pouco para entregar o histórico escolar de Sírius. Caso contrário não conseguirá matricula-lo em outra escola. Trouxe também os trabalhos corrigidos. – minha mãe se orgulharia da minha atuação, digo, educação.

Sorri distraidamente mexendo nos pergaminhos em minhas mãos. Ela parecia irritada. Uh! Que medo!

– Porque uma mera professora se deslocaria até aqui apenas para isso? – perguntou erguendo seu nariz.

– Seu nariz está sujo. – murmurei distraída pela melequinha. – Digo, eu estava de passagem, tirei férias há pouco tempo. Aproveitei para fazer este favor.

– Bastava mandar uma coruja.

– Minha vontade de explicar para Sírius um grave erro em sua descrição de um feitiço de proteção não se resolveria com uma coruja. – argumentei com meu tom se tornando um pouco agressivo.

A estranha mulher estreitou seus olhos em minha direção e eu lhe sorri como se nada tive acontecido.

– Então?

– Então o que?

– Onde está Sírius?

– Ele está ocupado agora, dê-me os pergaminhos e tome seu rumo. – a sua delicadeza quase me impressionou.

– Ora! O que um menino de 13 anos tem tanto a se ocupar? – dei risada dando um tapinha no ar e me intrometendo para dentro.

– Quem você pensa que... – ela começou a gritar furiosa, mas um grito mais forte a interrompeu.

A raiva me subiu a cabeça e eu puxei minha varinha.

– Onde ele está? – sibilei furiosa.

Walburga ainda me olhava com desprezo, ele se arrependeria amargamente de ter aquele nariz empinado de merda.

– Saia já da minha casa! – gritou ela apontando sua varinha e me lançando um feitiço em seguida.

Ela não sabia com quem estava se metendo.

Fiz com que minha varinha girasse em minha mão redirecionando o ataque bem em cima da bruxa. Walburga caiu ao chão, em tua testa um grande rombo causado pelo feitiço. Tecnicamente era um suicídio.

– E o feitiço vira contra o feiticeiro... – ri da minha própria piada.

Mas meu sorriso não permaneceu em meu rosto o grito novamente se fez presente. Senti meu peito apertado. Aquilo era crueldade, só podia! Eu podia sentir sua dor e agonia através do pedido de socorro.

Rapidamente segui o som até uma escadaria que levava ao porão. Não pensei duas vezes antes de pular para dentro.

Já vi muito nessa vida, mas nada parecido com o que acontecia.

O porão era escuro e úmido. A única iluminação provinha da parede onde imagens eram expostas. E o único móvel existente era uma cadeira elétrica, nela Sírius estava preso. Os olhos do garoto estavam fixos nas imagens de bruxos e bruxas matando e torturando outras pessoas, provavelmente eram trouxas.

O menino chorava e gritava pedindo que aquilo parasse, mas as imagens continuavam. Então a voz profunda de um homem vinham da escuridão.

– Apenas aceite meu filho. Os trouxas são criaturas inferiores. Eles não precisam de compaixão. Eles são uma infestação que deve ser exterminada.

Aquilo era uma grande brincadeira. Só podia! Pois eu não podia acreditar que um pai faria aquela tortura psicológica, aquela lavagem cerebral, com seu próprio filho.

Agora eu queria ouvir gritos, mas estes gritos viriam de um adulto e não de uma inocente criança. Tomada pela ira eu fiz aquele porão se iluminar com o meu feitiço. Orion Black foi jogado contra a parede.

Furiosa segui até ele empunhando minha varinha. Ao contrário de sua esposa burra Orion sabia quem eu era e arregalou seus olhos completamente assustado. Com o mesmo nojo que Walburga olhou-me a porta de sua casa eu o olhei. A diferença é que ele me dava verdadeiros motivos para enojá-lo. Notei ele se preparando para falar, mas não permiti. Não queria mais ouvir a voz daquele doente. Iria acabar com a sua raça, porém o choro as minhas costas fez-me parar.

Sírius já havia visto mortes demais. Não seria eu a colocar mais uma em suas memórias. Então apenas me aproximei e encostei minha varinha no pescoço de Orion.

– Você vai ficar longe de Sírius. Não ousará nunca mais tentar convencê-lo de suas ideias doentes. E se eu o vir próximo dele eu arrancarei suas tripas e as enrolarei no seu pescoço. Eu fui clara?

Orion apenas balançou a cabeça em afirmação.

– Ótimo! Agora é hora de você dormir. – antes que ele pudesse compreender minhas palavras o meu punho foi de encontro a sua têmpora e seus olhos reviraram em suas órbitas.

Corri até Sírius e o libertei da cadeira. Entretanto ele não se mexeu.

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– Sírius? Você está bem?

Ele apenas soluçou e tentou erguer os braços trêmulos em minha direção.

– Minha nossa! O que eles fizeram com você?! – exclamei assustada.

Apressei-me para pegá-lo no colo e carregá-lo para fora. Foi só quando chegamos num ambiente mais iluminado que percebi seus olhos sangrando e seu corpo praticamente em pele e osso. Alguns ferimentos cobriam seus braços, mas o pior eram as queimaduras em suas têmporas.

– Fique calmo. O pesadelo acabou agora. Vou tirá-lo daqui. – sussurrei.

Minha garganta estava fechada e um sentimento agonizante se apoderou do meu peito enquanto eu o olhava tão fragilizado. Não parecia em nada aquele garoto levado que vivia se metendo em confusão com seus amigos.

Tratei de aparatar na casinha fora da cidade que havia me estabelecido antes que fosse a casa dos Black. Se eu não tivesse subestimado a loucura do casal talvez Sírius estivesse em melhores condições.

Deitei o garoto na cama que já dormia exausto. Tratei de limpar suas feridas e preparar algumas poções curativas.

Limpei as lágrimas de sangue de seu rosto e acariciei sua bochecha. Nunca tive algo por crianças, digo, sempre fui indiferente a elas. Nunca fui o tipo de mulher que tem ataques de fofura com bebês ou criancinhas. Talvez por que descobri que sou estéril inconscientemente tento não criar qualquer carinho babão por crianças. Entretanto não consigo me lembrar de qualquer sentimento meu em relação a elas antes disso.

Mas agora, olhando para Sírius um calorzinho engraçado se apoderou do meu coração e tudo o que consegui prometer lá no meu íntimo foi proteger o garoto pelo resto de sua vida. Ele seria meu protegido.

[...]

Observei a chaleira gritar com a água fervendo. Sírius estava dormindo há dias sem dar sinal de que iria acordar. Minha preocupação incomodava-me como uma coceira nas solas dos pés.

Pela manhã havia mandado uma carta para Dumbledore contando tudo o que encontrei na casa dos Black e meus planos futuros. Eu podia até imaginar sua feição ao saber dos acontecimentos.

– Professora... – um sussurro vindo das minhas costas assustou-me e a xícara que segurava para colocar o chá virou mil pedacinhos de porcelana.

– Finalmente acordou! Como se sente?

– Com fome. – murmurou sem graça.

Sorri.

– Vamos, sente-se. Vou preparar a mesa para que se alimente.

Logo eu preenchia a mesa com diversos pães, bolos, doces, sucos e guloseimas diferentes. Sírius não se fez de rogado e tratou de mandar tudo para dentro. Eu apenas o observava sorrindo pelo seu entusiasmo.

Até que o som de mastigação cessou. Seu olhar ficou perdido para então me olhar assustado.

– Eu não vou voltar para aquela casa, vou?

– Não, você não vai. Eu não vou permitir. – fiz questão de usar meu tom mais sério para que ele acreditasse. – Você vai voltar para Hogwarts junto aos seus amigos e continuar seus estudos.

– E no recesso?

– Você pode ficar em minha casa. – dei de ombros. – Ou se preferir ir para casa de seu amigo Potter. É sua escolha.

– E se meus pais vierem atrás de mim?

Se Sírius não tivesse passado por tudo o que ele passou eu começaria a me irritar com o excesso de perguntas. Entretanto exercitei minha paciência.

– Sua mãe está morta.

– Você a matou? – a falta de sentimento em sua pergunta não me surpreendeu.

– Não. Ela se matou por acidente. E seu pai está ciente que você está sob a minha proteção. Se ele se aproximar ele sabe o seu destino.

Sírius apenas abaixou os olhos e voltou a comer.

– Vamos ficar apenas mais um dia para que você fique forte suficiente para viajarmos de volta ao castelo. Você quer que eu pegue algum pertence seu em sua casa?

Ele encolheu os ombros.

– Não quero nada de lá, mas também não tenho dinheiro para roupa e comida.

Me compadeci de suas palavras.

– Seu orgulho em não querer nada que venha de seus pais é compreensível, porém tente não guardá-lo por muito tempo. Um dia todo o dinheiro deles será seu e você poderá gastá-lo com materiais trouxas. Será uma vingança e tanto. – sorri e ele não conseguiu evitar retribuir. – Quanto à roupa e comida não se preocupe. Meus trabalhos como auror me renderam uma boa poupança.

– Não quero que gaste comigo.

– E você vai viver do que? Vai voltar para casa de seus pais? – ele arregalou seus olhos. – Então pare de besteiras.

Mais uma vez ele abaixou sua cabeça. Suspirei.

– Vamos fazer assim Sírius. Eu pagarei por suas roupas, seus materiais escolares e tudo o que você precisar. Em troca você me respeita e me obedece. Pois agora todos os problemas em que você se meter serão de minha responsabilidade. Quando se perder mais uma vez na floresta proibida será a mim que Dumbledore chamará para que puxe a sua orelha.

Ele piscou várias vezes até perguntar timidamente.

– Você será como uma mãe?

Aquela palavra dirigida a minha pessoa soava de uma maneira muito estranha. Mas confesso que gostei e não pude evitar o sorriso torto em meus lábios.

– Algo assim. – respondi lhe mandando uma piscadela.