As Crônicas da Tempestade

Capitulo 28 - Alianças incertas


Capítulo 28 – Alianças inesperadas

Algum lugar entre a República Federativa do Fogo e o Reino da Terra

— O que você está fazendo aqui? — Lian Fu indagou quando se afastou de seu noivo, havia um certo rancor por trás de todo o alívio. Ela o cutucou no peito com o dedo indicador — Onde foi que você se meteu, estávamos preocupados com você seu idiota!

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Jee deu apenas aquele dar de ombros típico mineiro e lançou um olhar de cumplicidade para a outra figura encapuzada ao lado em busca de apoio, mas o outro apenas balançou a cabeça. Sem escolha, suspirou exasperado:

— Eu estive preso, fui capturado por Yuzushi Atakano logo depois de te deixar em casa naquele dia — ele falou, doía não poder contar toda a verdade, ao menos não ainda.

Dalai limpou a garganta e chacoalhou as correntes do pulso casualmente.

— Dá pra tirar esses troços? Nutro uma alergia terrível por essas coisas.

A figura pegou um alicate de pressão da moto e cortou as algemas sem esforço.

— Temos que sair daqui antes que mandem reforços de Valu para investigar o atraso do comboio. — A figura disse com a voz abafada por debaixo do capacete checando o relógio.

O mineiro fez menção de subir na moto, mas a mão de Lian Fu se fechou em seu braço como garras.

— Essa conversa ainda não acabou, Jee. Eu quero respostas, você me deve isso — ela disse quase num sussurro.

— Vai tê-las, eu prometo, mas não aqui — ele falou e passou um capacete para ela.

Ela jogou as pernas por cima da moto e os quatro partiram. Viajaram por horas a fim colocando a maior distância possível entre eles e a maldita prisão. O sol já castigava a tempos no céu quando chegaram ao aparente destino.

Se tratava de uma antiga cabana de madeira abandonada bem no meio do nada caindo aos pedaços pela ação constante dos ventos daquela área do deserto. A propriedade também contava com um celeiro em anexo cujas marcas enegrecidas indicava sinais de incêndio. Deixaram as motos no meio de alguns arbustos secos e seguiram a pé até a cabana.

— Esse lugar parece que vai cair com um sopro — Lian Fu disse usando os dedos para afastar a luz solar.

— Já estive em lugares piores — Dalai comentou testando o assoalho da varanda e sorrindo com o rangido em resposta. — Pelo menos temos um teto... ou a maior parte dele.

Jee tomou a dianteira, apoiou o ombro na porta de ferro, enfiou a mãozona num buraco e suspendeu o trinco. Sentada numa poltrona de frente para a porta estava Yuzushi Atakano de pernas cruzadas tomando uma cerveja.

— E aí — ela os cumprimentou erguendo a garrafa.

Dalai riu. Uma risada que começou baixa e depois passou para uma gargalhada descontrolada.

— Nunca vou entender vocês da Nação do Fogo, cara. São todos muito suicidas — ele afalou atravessando o batente caminhando em sua direção já puto. Lian Fu bloqueou o caminho do rapaz com o braço.

— O que ela está fazendo aqui? — ela exigiu para Jee.

— Então...

— Eu tirei vocês de Valu — ela disse simplesmente gesticulando as mãos.

— Depois de nos mandar para lá, vadia! — Dalai tentou passar pela capitã. mas ela o conteve de novo.

— Melhor do que deixar que fossem executados por Fírion — ela ergueu uma sobrancelha — Porque essa era a outra opção, obrigada!

Dalai bufou e virou as costas para apoiar as mãos nas grades da varanda.

— Não tenho medo de morrer, eu vivo a minha vida preparado para isso.

— O que você quer Atakano? — Lian Fu perguntou furiosa.

Yuzushi pousou a cerveja na mesa ao lado e se inclinou para frente.

— Estava errada quando deixei que Fírion tomasse parte da rebelião, é difícil de admitir mas foi bem idiota da minha parte. Nunca direi que foi um erro depor a Senhora do Fogo, porque já devia ter sido feito a muitos anos atrás. Não foi pessoal, mais ou menos, mas alguém tinha de fazer alguma hora. E aquela víbora se aproveitou de nossa fragilidade momentânea e atacou.

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— É o que acontece quando se dá um golpe de Estado no meio de uma guerra — Dalai disse com escárnio.

Atakano engoliu o orgulho e continuou:

— Não pretendo permitir que a República Federativa do Fogo se torne parte da Aliança Libertadora, isso é um fato. Fíron tem que ser detido ou morto de qualquer maneira. Por isso preciso da ajuda de vocês.

— Não vai rolar! — Dalai disparou e lhe lançou um olhar de desprezo — Não aprovo os seus métodos. Você causou a porra de uma guerra civil! E agora me diz que foi por nada? Centenas de pessoas morreram, não consegue ver isso? Será que não entra sa sua cabecinha sequelada? Você quer lançar outro ataque?

Atakano assentiu com a cabeça.

— Pense quantas mais morrerão se Fíron permanecer no poder da nação. Acha que ele vai nos tratar justamente? Ele será absoluto, sua palavra é lei.

— Se atacarmos será um massacre! — Lian Fu interveio — Mesmo com a sua atual influência não dá pra pedir que a população lute contra o exército da Lótus!

— Acabamos de passar por uma rebelião, o povo não vai ficar parado e aceitar Fírion de cabeça abaixada. Essa luta vai acontecer quer queiramos ou não — Jee partiu em defesa.

— Está de acordo com esse plano? — Lian Fu indagou furiosa

— Não estamos sozinhos — Atakano disse apontando com o queixo para a figura misteriosa.

A figura puxou o capuz para trás revelando a cascata de cabelos escarlate escuro. Uma jovem, na flor da idade de no máximo 19 anos, com olhos de um verde escuro e um sorriso sedutor recheado de mistério. Alguns piercings na orelha e no nariz, também uma tatuagem tribal escapulia da gola de seu casaco preto. Ela parecia achar graça de toda a situação.

— Por favor, não pense em nós como se já estivéssemos dentro. Somos mais como aliados relutantes.

Dalai riu.

— E quem diabos é você? — ele perguntou.

— Pode me chamar de Hana — ela disse ao rapaz e se virou para Yuzushi — Ainda não tomamos seu partido, Atakano. Precisamos de uma garantia, temos algumas exigências.

— E quando não tem? — ela retrucou apoiando o queixo na palma da mão — Passem a noite aqui e pensem a respeito das propostas e amanhã chegaremos a um consenso.

— Não pretendo ficar aqui — Dalai disse indo em direção as escadinhas.

— Boa sorte em caminhar até a civilização. Só coloquei combustível o suficiente nas motos para trazê-los até aqui. Um dos meus homens vai trazer o resto amanhã, então... Fique à vontade.

Dalai lhe lançou um olhar de ódio e saiu porta a fora. Precisava esfriar a cabeça antes que fizesse algo muito idiota. Então ele caminhou por horas, se o sol quente o incomodava ele não demonstrou, apenas seguiu em frente sem nunca olhar para trás assombrado por seus próprios fantasmas do passado e os recentes também. Em algum momento encontrou uma enorme pedra se projetando em diagonal da terra e sem esforço ele a escalou e sentou-se para observar a vastidão do deserto rochoso que o cercava.

Nem mesmo a paisagem familiar lhe rendeu algum conforto no caos que se instalara em sua alma. A brisa acariciava seus cabelos como os toques gentis de uma mãe, no entanto por mais que tentasse imaginar o contrário, Dalai sabia que estava sozinho e ferido outra vez e isso nunca iria mudar.

Então isso é a derrota? Agora entendo por que as pessoas são obcecadas pela vitória, é uma droga..., Dalai refletiu consigo observando o céu tomar um tom rosado no horizonte, o quanto mais terei de sujar as minhas mãos de sangue até que estes loucos fiquem saciados? Quanto mais eu luto mais distante estou de encontrar paz. O que eu faço agora, Iann?

Ele não respondeu é claro, ele nunca respondia.

Já passara da meia noite quando o rapaz voltou para a cabana. Yuzushi Atakano havia indo para seu quarto e Dalai não encontrava Lian Fu e Jee em lugar algum então supôs que eles estavam tirando o atraso. A única de pé era a misteriosa Hana que estava largada na mesa da cozinha com uma garrafa de pinga tomando alguns tragos para esquentar os ossos.

— E o filho pródigo retorna. — ela ergueu o copo para ele — Me acompanha?

Dalai puxou uma cadeira e esperou enquanto Hana se esticava para apanhar mais um copo no armário. Pelo canto do olho ela o avaliava à medida que enchia o copo com uma dose generosa. Ela deixara para trás o casaco preto, ele reparou, vestia agora uma camiseta roxa extravagante que deixavam à mostra as tatuagens de espinhos que subiam pelos braços.

— E então, quais os planos para o futuro? Vai aderir ao plano de Atakano de reconquista da Nação do Fogo ou vai seguir o próprio rumo e desaparecer? — ela perguntou ao vê-lo virar o copo.

Dalai deu de ombros e encheu novamente o copo e em seguida o de Hana.

— Não sei, ambas são más ideias — ele admitiu — Não há como fugir da Lótus para sempre visto que mandam na porra do mundo todo agora. Ao mesmo tempo que desprezo a ideia de mandar civis destreinados para a linha de frente, por mais numerosos que sejam as baixas serão terríveis. Toda essa merda é uma loucura desde o começo. Só fui idiota em pensar que haveria alguma diferença entre os lados.

Hana suspirou.

— Não achei que ia ser tão sincero comigo.

— E por que não seria? Estamos ferrados do mesmo jeito — ele disse depois tragou a bebida — Eu já te vi antes, alguns meses atrás no Reino da Terra. Não sei muito de quem você representa, mas sei quando estou sendo seguido — ele a fitou intensamente — Não estão nessa por terem um coração caridoso. O que vocês querem de verdade?

Um sorriso felino se formou em seus lábios quando ela se inclinou para frete e apoiou os cotovelos na mesa.

— As pessoas que eu represento desejam ser livres apenas isso, livres de uma forma que nunca será possível se Fírion assumir o poder. Não pode nos culpar por querer avaliar a situação antes de agir.

— Mas por que agora? Por que não no início dessa maldita guerra? — Dalai perguntou, havia uma certa dor em sua voz — Por que deixar que tantas pessoas sofressem?

Ela bebeu e deu de ombros:

— Não eram nossas pessoas, até agora. Pra onde pensa que Fírion irá agora que a Nação do Fogo caiu?

Dalai assentiu com cabeça de vagar.

— Pode até estar diferente com todos esses adereços mas conheço bem esses padrões nos seus braços, queridinha — ele anunciou — Você é uma mestra do ar da Irmandade não é?

Ela ergueu o copo para ele e ele encheu novamente.

— Pois é, não há por que esconder de outro dominador de ar, se é tão bom quanto dizem era certamente iria perceber. — seus olhos estreitaram.

— Não gosto de ser testado.

— E quem disse que está?

— O que a Irmandade quer comigo agora? Se bem me lembro ela não queria sujar o bom nome dos dominadores independentes aceitando um monstro anos atrás quando eu precisava.

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— A situação mudou Dalai, você era só um pivete sociopata no passado, hoje é o criador e mestre de seu próprio estilo de dobra de ar. — ela falou simplesmente — Seria uma pena perder esse conhecimento maravilhoso caso acabe morto numa sarjeta qualquer. Um dos nossos termos para lutar pela RFF é que você venha conosco para Cidade República e passe adiante seu estilo de dobra de ar.

Dalai não conseguiu conter a gargalhada, devia ser a cachaça subindo a cabeça.

— Eu não sou um mestre, garotinha, eu sou um monstro. Minha dobra não é uma arte, é uma arma de matança, não há beleza na morte — respondeu áspero.

— Repita isso para si se faz com que consiga dormir melhor a noite se quiser, mas nós dois sabemos que algo tão perfeito quanto a dobra de ar não se limita apenas a uma forma de matar. Quando se está conectado com o ar tudo muda, você se completa e finalmente se liberta dos grilhões do mundo terreno. Não tem como algo tão puro ser de todo ruim.

— Palavras bonitas de uma pessoa que nunca tirou uma vida — Dalai pegou a garrafa e deu um gole demorado — A realidade é uma merda, acostume-se.

— Pense nisso Dalai, só por um segundinho. É a chance de parar de destruir as coisas e começar a criar para variar. — Ela falou e bocejou e se esticou — Fique com a garrafa, para ajudar a refletir.

Dalai ficou lá vendo ela se levantar e desmoronar no sofá mofado da sala.

O líder da Lótus Branca passou pelo portão da prisão a passos largos e um sorriso presunçoso no rosto, nada poderia estragar o seu dia, finalmente o seu maior sonho estava a seu alcance. Desceu as catacumbas desgastadas pelas eras e deu breves olhares paras as celas cada dia mais cheias graças ao seu novo regime. Parou no fim do corredor na cela de um homem moribundo encolhido contra a parede agarrado ao toco onde ficava sua mão.

— Olá velho amigo...