Capítulo 7: Esperança

Eu nunca pensei que iria para a cadeia, sempre me comportei bem, mas posso lhe dizer que de tudo o que eu passei com Miki, ir para prisão foi de certa forma tranquilo. Só que a minha vida sempre foi um fracasso e nada poderia mudar, nem mesmo uma criança.

Primeiro eu fui para uma sala de interrogatório. Dois policias estavam lá, um estava sentado, este parecia calmo e compreensivo, o outro estava de pé apoiado na parede com uma expressão dura no rosto.

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Quando me sentei fiquei cara a cara com o policial a minha frente.

- Por que você atacou uma criança? – Ele perguntou como se tentasse entender minhas motivações para tal “ato” violento.

- Eu estava me defendendo, ela me atacou primeiro – o desespero começou a agir, não queria ficar preso, dizem que a prisão é um lugar ruim.

- Mentira, você é um estuprador filho da... – O policial malvado bateu o punho na mesa cheio de raiva, grunhi de medo.

- Vamos manter a calma – o policial bom tentou acalmar o malvado e olhou para mim com uma expressão compreensiva. – Você foi pego em flagra, vai para cadeia.

- Ah – choraminguei.

Tive que tirar as minhas roupas para tomar um banho de mangueira em alta pressão, me senti tão violado. Depois me deram uma muda de roupa xadrez. Quando estavam levando minha antiga roupa embora deixaram o bolinho cair, fui rápido o bastante para pegá-lo sem que ninguém percebesse.

Minha cela não era nada de mais. Uma cama simples sem lençol, uma pia, um espelho manchado logo em cima, as paredes eram cinza. A grade bateu atrás de mim.

- Aproveite o quanto quiser, vai ficar muito tempo aqui – o policial saiu girando o molho de chaves no dedo indicador.

Sentei na calma e guardei o bolinho debaixo do travesseiro duro.

Eu desabei, lágrimas esquentaram as minhas bochechas. Em poucos dias minha vida miserável – mas pacata – mudou totalmente, eu tive que enfrentar um avião cheio de fadas gays, demônios fantasiados, passei pelo Inferno, um labirinto com bichos de açúcar, sem falar que fiquei a beira da morte em alguns momentos, tudo culpa de Miki.

Enquanto limpava meu rosto, percebi uma coisa, Miki me fez passar por muita coisa, mas não era culpa dele.

Era da Madame Zucrinéia.

Ela tinha dito que as estrelas estariam ao meu favor, ou algo do tipo, é tudo culpa dela, mas por quê? Por que eu? Eu não deveria ter entrado naquela tenda, nada disso teria acontecido, como eu sou burro, pensei.

- Tem alguém aí? – Ouvi uma voz enquanto lamentava minha vida.

- Quem é? – Entrei em estado de alerta.

- Graças aos deuses, pensei que ia ficar sozinha aqui.

A voz vinha debaixo da minha cama. Quando fui ver não tinha ninguém, só uma grade na parede, me aproximei, a grade era pequena devia ter uns 13 centímetros e levava a um túnel.

Minha mão apertou alguma coisa no chão, a grade abriu-se e me sugou.

Não sei como eu coube naquele túnel apertado. Mas o incrível foi para onde ele me levou.

Uma sala redonda com um teto de vidro no qual se podia ver o céu noturno cheio de estrelas. Comecei a pensar como seria a Noite de que Miki falou.

O cômodo era mais simples que minha cela. No centro havia uma lancheira escolar – isso mesmo, uma lancheira – presa no chão por várias correntes e lacrada por cadeado no formão de caveira.

- Finalmente, pensei que ia ficar sozinha aqui pelo resto da minha vida – a voz de uma criança saía da lancheira. – Qual o seu nome? O meu é Esperança.

- Ah, oi, eu sou o Charles – apresentei-me.

- Você é tão novo, como veio parar nessa prisão?

- É uma longa história, você não vai querer saber sobre minha vida chata.

- Eu tenho todo o tempo do mundo, como pode ver eu não vou a lugar nenhum – a lancheira tremeu mostrando como estava bem presa no chão pelas correntes.

- Já ouviu falar nas Raposas do Poente? – Uma almofada azul gigante materializou-se ao lado da lancheira e me afundei nela.

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- É claro, são criaturas maravilhosas – Esperança disse alegre.

- Pois é de todos esses monstrinhos maravilhosos eu tive o azar de conhecer o pior deles – eu não queria que minha voz saísse tão acida, mas fazer o que.

Eu contei a minha história para Esperança, que me ouviu atentamente. Nunca pensei que ia falar disso para alguém, mesmo que ela fosse uma lancheira.

- Você disse que mora com sua mãe, o que houve com seu pai?

- Nunca o conheci e minha mãe diz que ele deve ser bem velho porque quando o conheceu ele tinha cabelos bancos. – Eu nunca parei para pensar no meu pai, ele não deu nenhum sinal de vida, então presumi que é porque não liga para mim.

- Entendo.

- E você? Como veio parar aqui?

- Já ouviu falar da caixa de Pandora?

- Claro.

- Bem, então não tem muito que explicar. Quando os meus irmãos fugiram eu decidi ficar, mas eles jogaram uma maldição na caixa para que eu nunca mais possa sair, eu não faria mal a qualquer ser vivo, eu nem poderia se quisesse – eu podia ouvir os seus suspiros de tristeza.

- Seus irmãos fizeram isso com você?

- Não, foram outros, eu não quero falar sobre eles.

Ficamos um tempo em silêncio, até que ela falou:

- Charles – ela hesitou. – Eu posso tirá-lo daqui para você voltar a sua vida.

- Como? – Eu não levei muita fé, porque eu era um azarado.

- Eu estou aqui faz muito tempo, então pude mapear esse local. Mas eu estou presa pela maldição.

- Eu posso te ajudar nisso, tem como você trazer a minha cama para cá?

Em poucos segundos minha cama estava lá. Fui direto para o travesseiro e peguei o bolinho, que estava intacto mesmo estando debaixo do meu travesseiro.

- Quando fui para o Inferno, Hades me deu esse cupcake, que quebra qualquer maldição e te deixa imune contra ela. Só que... Depois da primeira mordida ele perde o efeito.

- Não, Charles, você não pode fazer isso por mim, eu te ajudo a decorar as saídas, já me acostumei com a solidão.

- Não, eu posso viver com essa marca estúpida, mas você precisa ficar livre.

Respirei fundo, encostei o bolinho no cadeado. Quando a cobertura tocou o metal houve um brilho de cegar os olhos e a fechadura, simplesmente, abriu.

- Muito obrigada, Charles, não sei como agradecer.

As correntes desapareceram e só restou a lancheira, que notei tinha gravuras apocalípticas gravadas na tampa. O fecho abriu sozinho. Joguei o bolinho no chão, era inútil naquele estado.

Uma menina saiu de dentro da lancheira. Ela tinha cabelos pretos e lisos, um olhar inocente, usava uma camisola com estampas de flores e estava abraçando um ursinho de pelúcia. Ela olhou para mim com um sorriso alegre e eu só por causa disso.

- Livre, finalmente.

Um alarme barulhento soou no recinto.

- Eles devem saber que eu saí – Esperança disse alarmada.

- Vamos embora daqui – disse.

- Charles, espere. Você realmente achou que de todos aqueles males presos dentro da caixa, eu, logo eu seria diferente.

- Do que você está falando? – A expressão de Esperança mudou do infantil inocente para o inocente ameaçador.

- Desculpe, mas eu sou tão ruim quanto os meus irmãos. Adeus, Cacumbu. – Um pop estrondoso estourou quando Esperança desapareceu.

A grade me sugou de volta para cela. Estava chocado, além de desperdiçar a única chance que tinha de me livrar da maldição eu liberei um mal antigo e, possivelmente, perigoso.

Deitei na cama e dormi.

- Acorde! – Acordei com alguém gritando comigo.

- O quê?

- Alguém pagou sua fiança, está livre.

Devolveram as minhas roupas e me expulsaram a chutes da prisão.

E sabem quem eu encontrei do lado de fora da prisão?

Miki.

Ele tinha pagado minha fiança? Será que ele tinha começado a gostar de mim?

Nem pense nisso, disse ele com aquele tom neutro de sempre, você não saiu da prisão por minha culpa.

- Então, quem foi?

Uma fada-do-dente materializou ao lado de Miki, chacoalhou a varinha e um lampejo mágico me atingiu. A prisão desapareceu e eu estava numa corte, algemado. Várias fadas cochichavam, mas quando eu apareci, elas me olharam com desprezo.

- Miki, o que está acontecendo?

Quem respondeu foi uma fada com ar de superioridade:

- Charles, você está aqui para ser julgado pelo assassinato de uma fada-do-dente.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.