Completamente grogue, Alice acordou em uma superfície macia. Encarou o teto branco até sua visão se estabilizar. Em sua mente a cena que vira rodava várias vezes, com o botão do replay apertado. Sentou-se e se deparou com Beta na ponta da cama.

– Posso sentir seu nervosismo, Alice. Fique calma, não ousaria tocar em você.

"Então, como eu vim parar em cima dessa cama, ô gênio?", pensou Alice. Não conseguia falar.

– Alice, posso ouvir o que você pensa. - ele a encarou. Seus olhos estavam castanhos de novo. - Como poderia deixá-la no chão ao vê-la desmaiar?

– E precisava me trazer para o dormitório? - Doía em Alice ver aquela cara de cão abandonado. - Qual foi a desculpa que você, seja quem for, deu para Mona e para Leo?

– Disse que havia achado você desmaiada na sala e que ia te trazer para a enfermaria.

Beta apertava a colcha florida da cama, visivelmente nervoso. Esticou-se para se aproximar de Alice, mas ela se encolheu ainda mais. Ia ser difícil se explicar.

– Senhorita Carter, eu não sou um monstro. Não sou um demônio ou extraterrestre. Minha existência está mais perto do conceito de deus.

– Deus? - Alice indagou de forma incrédula.

– Sim. Sou o segundo mais velho de uma linhagem de irmãos que criaram este universo e...

– Criou o universo?

– Sim. É uma criação minha.

Alice respirou fundo.

– Pouco me importa o que você é, Beta. Apenas quero saber o seu objetivo para com a humanidade.

– Protegê-la, é óbvio. Também é minha criação e seria louco se quisesse destruí-la.

Alice estava boquiaberta.

– Nos criou também?!

– É tão difícil assim acreditar?

– Bem...sim. Quantos anos você tem?

– A idade do universo menos um. - ele apontou para Alice - Posso me sentar ao seu lado?

Alice hesitou. Tinha medo. Mas, ao mesmo tempo, tinha uma promessa a cumprir. Optou pela permissão da aproximação. Beta sentou-se alegremente ao seu lado.

– Quantos irmãos você tem, Beta?

– Conhece o alfabeto grego? - ele puxou um caderno.

– Apenas algumas letras.

– Eu dei aos gregos como escrita as iniciais de cada um de nós no início de sua civilização. - com o dedo, ele escreveu a sua letra no caderno. As linhas brilharam dourado e iam se apagando lentamente. - Essa é a minha.

– Se você é o segundo mais velho, alfa é o primeiro.

– Primeira. Alfa é a única mulher. E a mais perigosa e destrutiva de todos.

– E com qual você tem mais amizade?

– Com o mais novo, o Ômega.

– Que coisa fofa. - sua barriga roncou - Eu tô com muita fome.

– Não é pra menos! Já são onze da noite. Vamos, eu faço alguma coisa para você comer na cozinha do refeitório.

– Você pode entrar lá?

Beta sorriu.

– Não há lugar que não me pertença. Isso quer dizer que sim.

Chegando na porta da cozinha, Beta tocou na maçaneta e ela se abriu. Cada ovo que ele pegava, automaticamente era reposto. A frigideira mexia-se sozinha enquanto Beta fazia um suco de laranja. Com a desculpa de que na cozinha não tinha sabão, Alice foi à um dos banheiros. Se assustou com a sua aparência. Rapidamente ela arrumou o cabelo, tirou as remelas dos olhos e lavou as mãos.

De repente, um estrondo no último box a assustou. Quem estaria usando o banheiro à essa hora? Seu coração disparou e ela congelou onde estava. Sua mente clamava por Beta. Então, um homem arrombou a porta do box e saiu com tudo. Alice não ficou para ver quem poderia ser, saiu correndo pelo corredor, em direção à cozinha e à Beta. Não gritou. Não era de gritar. Sentiu que o estranho a seguia e acelerou o passo.

Entrou com tudo na cozinha, assustando Beta.

– O que foi, Alice? Para que a pressa?

– Tinha alguém no banheiro e ele me seguiu até aqui.

Imediatamente, Beta abraçou Alice, protegendo-a. A atmosfera ficou tensa e a garota se agarrou ao seu protetor. A porta abriu-se lentamente, revelando um homem alto e robusto, com cabelos cor de fogo e os olhos amarelos. Parecia exausto. Alice sentiu Beta amolecer.

– Sigma?! - Beta exclamou - O que faz aqui?

– Alfa está vindo.

Beta empalideceu. Aquela era uma notícia horrível. Alfa está vindo.