As Aventuras Bizarras de Beta Fisk

Descobertas nem um pouco animadoras


Xingando o ônibus mentalmente, Leonard tinha sua agonia estampada em seu rosto. Os óculos redondos caíam toda hora, escorregando pelo nariz oleoso. Repreendeu a si mesmo por não ter investido na compra de um carro quando pôde. Entretanto, parando de pensar sobre isso, seu passeio agonizante de ônibus estava para acabar. Desceu no ponto cinco minutos depois, na entrada de um cortiço. O número 74 escrito no papel era o seu guia dentro daquele labirinto sujo e com cheiro de esgoto. Apesar das más qualidades, as pessoas que moravam ali eram de boa índole, para a surpresa de Leo. Sempre tivera um pensamento preconceituoso sobre aquele lugar, mas não fora ele que formara tal opinião e, sim, a sociedade. Observando agora, mais de perto, não era nada parecido com o que os outros falavam.

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Driblando as pessoas no caminho, Leonard chegou ao barraco número 74. Bateu três vezes na porta sem maçaneta. No lugar da popular e comum bola dourada havia uma corrente para prender a porta à parede feita com pedaços variados de madeira. Sua agonia crescia a cada minuto que Alfa ficava sem abrir a porta. Então, a corrente foi retirada da porta e Leonard entrou. Alfa estava atrás da porta, vestindo apenas uma camiseta cinza surrada três vezes maior que ela e um moletom desbotado. Antes de qualquer coisa, eles trancaram a porta. Então, Alfa se jogou nos braços de seu sol, beijando-o. E Leonard respondeu à altura. Muitas pessoas podiam vê-lo como um nerd clichê, que só estuda e assiste The Big Bang Theory. Mas ali, naquele momento, ele era Leonard, o único que Alfa ama, amou e amaria naquela vida. Ali, naquele momento, ele estava sendo o protetor de um ser mais poderoso e mais (muito mais) velho do que ele. Ali, naquele momento, ele estava sendo um herói, dentro de seus critérios.

— Meu amor, achei que você não fosse voltar tão cedo. – comentou Leo, ainda abraçando Alfa. Esta estava com o rosto enterrado no peito do homem. – O que faz aqui? E o que foi aquela ligação agonizante? O que está acontecendo?

— Delta me achou, Leonard. – ela respondeu. A cor sumiu do rosto do estudante. – Eu estava indo dormir quando ele entrou em casa. Mas, eu consegui fugir.

— E Beta?

— Ele provavelmente já deve saber que eu estou aqui. – Alfa se desvencilhou dos braços de Leo e pegou dois copos no armário de quinta mão e pequeno que havia sobre o fogão. Dentro da geladeira ela pegou uma garrafa de água gelada e serviu os dois. – Eu sinto todos os meus irmãos voltando suas atenções para esta cidade. Beta convocou todos para o ajudarem a me prender.

— Por que não considera a possibilidade de eles quererem te matar? Confia tanto assim neles?

— Não preciso confiar. Se eu morrer, todo o multiverso será comprometido. Mesmo que tudo esteja fadado a acabar, com minha morte, esse fim estaria mais perto de acontecer. Muito mais perto. E não é isso o que Beta quer. Ele quer que suas criações perdurem.

Leonard bebeu o conteúdo do copo enrugando a testa.

— Por que não tenta fazê-lo entender a verdade?

— Ora, Leonard... – Alfa riu, debochando da proposta.

— Estou falando sério, Alfa. – Leo insistiu. – Se ele entendesse que você não é a culpada pela morte dos seus criadores...

— Leonard, você conhece o Beta. Ele é muito cabeça dura para aceitar tal verdade. É mais fácil fugir dele do que tentar mudar sua mente. Beta é o ser mais teimoso que eu conheço. Nunca mudaria de opinião.

Leonard passou a mão no queixo, pensativo. Então, ele teve uma idéia.

— E se... e se não fosse você que tentasse mudar a mente dele, mas, outra pessoa?

— O que quer dizer?

— Beta faz tudo o que Alice diz. Pode ser que ela consiga mudar seu modo de pensar.

— É, isso é possível. Quer arriscar?

— Sim. – disse Leo sorrindo, mas, logo seu sorriso morreu. – Mas, como vou fazê-la acreditar em mim? E se Beta já falou mal de você para ela?

— Isso é óbvio, ele já deve ter falado. Mas, podemos chantageá-la.

— Chantageá-la? Com o quê?

Vem. Eu vou te mostrar. – com o indicador, Alfa pediu para que Leo a seguisse até seu quarto. Apesar de viver em um barraco dentro de um cortiço, Alfa tinha um notebook de última geração. Alfa só estava naquele cortiço porque estava se escondendo. Senão tivesse que se esconder, tudo seria diferente...

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— Depois que você me ensinou a mexer no notebook e na deepweb, eu andei pesquisando algumas coisas. Mas, eu achei isso daqui por acaso.

Um site confidencial preencheu a tela do eletrônico. Leonard não podia acreditar no que estava vendo. Era muito difícil de conseguir o que Alfa achou por acaso, mas, tudo é possível na deepweb.

— Isso vai fazê-la comer na minha mão.

...

No horário de almoço, Beta, Alice, Elimona e Sigma sentaram-se juntos na mesa do refeitório. Leonard havia faltado nas aulas naquele dia e eles não sabiam o por que. As meninas arregalaram os olhos quando Beta e Sigma voltaram para a mesa com seus pratos lotados de comida.

— Não acredito que vocês vão conseguir comer tudo isso.

— Ah, Alice, minha querida, você nos subestima. – disse Beta colocando um ovo de codorna de um jeito sexy na boca.

— Só você consegue comer um ovo de codorna de um jeito sexy, Beta. – comentou Alice.

— Nojento. – sussurraram Elimona e Sigma ao mesmo tempo. Sigma ainda estava encabulado com o fato de Beta ter tocado Mona antes dele. De uma forma que apenas Sigma se permitia tocar sua amada (se ela permitisse, é claro). Sigma mudou sua forma despreocupada de pensar depois de conhecer Mona. Tudo era diferente agora. Mas, seu ódio por Beta ainda continuava fresco.

— Eu concordo com a gótica dark das trevas e o bombado do cabelo vermelho. – disse uma mulher loira sentando-se ao lado de Alice. No prato dela havia mais batatas fritas do que legumes. – Isso foi nojento, azulzinho.

— “Azulzinho”. – comentou Mona rindo.

— Desculpa, mas, quem é você? – Beta indagou, fixando seus olhos castanhos nos olhos verdes da menina.

— Élica. Élica Pittsburg. Mas, pode me chamar de Eli Gorda. – ela colocou duas batatas na boca.

— Você se chama de gorda? – Sigma enrugou a testa o máximo que pôde.

— Sim. Assim, caras bad boys e haters como vocês – ela apontou para todos na mesa – não falam isso de mim pelas costas.

— Eu nunca falaria isso. – comentou Alice. – E vou te chamar apenas de Eli. Meu nome é Alice.

— Muito prazer. – Élica respondeu comendo um pedaço de bife de fígado.

— Tá, mas... O que você ta fazendo aqui? – Beta estava ficando irritado.

— Você é Beta Fisk, certo?

— Certo.

— Eu quero entrar pro Clube de Mistérios.

A tensão entre Beta e a nova integrante da trupe cessou e ele logo abriu um sorriso.

— Ora, então seja bem-vinda.

— Obrigada. Er...você vai comer esse tomate aí? – ela apontou para os pequenos tomates no prato do outro que havia esvaziado um pouco.

— Vou.

— Ah, que pena.

— Levanta e pega lá na parte das saladas. – disse Sigma.

— Eu peguei, mas já acabou. E eu queria mais.

Então, Stephanie sentou-se ao lado de Beta. Estava vestindo uma regata branca quase transparente bem apertada e uma calça jeans decente.

— Oi, gente e aí? – disse ela olhando a mesa por inteiro até chegar em Élica. Ali, sua expressão fechou, assim como a da garota loira. – Ah, não. Você não.

— A piriguete de outro dia! Como vai o seu olho? Aquele que eu deixei roxo?

— Olha aqui, sua...

— Eu. Quero. Comer. Em. Paz. – Beta gritou. Todo o refeitório ficou em silêncio e o encarou. – Posso?

— Pode sim. – sussurraram as duas briguentas.

— Ótimo. – ele encarou o resto dos estudantes. – Voltem a comer, palermas!

Após comerem e terminarem de freqüentar as aulas, todos seguiram para o Pentágono. Élica e Stephanie foram junto dessa vez. Élica foi o caminho inteiro tagarelando sobre como passou em Engenharia Nuclear e como foi engraçado. Assim como todos os integrantes do Clube, Élica ficou impressionada com o tamanho da casa. Ao entrarem, encontraram Leonard jogando xadrez com Gama no meio da sala, com Mi, Ni, Omicron e Delta de platéia. Leo estava com olheiras gigantes.

— Leonard! – exclamou Alice.

— Leo! – Mona fez uma careta. – Você está com uma cara horrível.

— Gripe. – respondeu o homem, fanhoso.

— Eu ia pedir pra você me ajudar em um exercício, mas, eu tento me virar sozinha... – disse Alice à ele.

— Não, não. Eu te ajudo. Vem, vamos para um lugar com menos barulho. – disse Leo, se levantando. Beta o olhou torto. – Não se preocupe, namorado grudento. Eu só vou ensinar à ela como fazer um exercício.

Leo conduziu Alice para fora da casa, onde o pôr-do-sol tomava conta do bosque. Sentaram-se nos troncos caídos em baixo do Pentágono. Ali, Leonard leu e resolveu o exercício junto com Alice. Então, após a resolução, a menina se levantou e agradeceu.

— Alice! – Leo chamou antes que ela pudesse sair. – Eu preciso conversar com você.

— Diga o que quer, então.

— Eu sei o que Beta é. – ele soltou, na lata. Alice, meio assustada com aquilo, fingiu não saber do que ele estava falando.

— Leo, do que você está falando?

— Não se faça de boba. Você não é.

— Desculpe, mas não vou ficar aqui enquanto você me menospreza. – Alice virou as costas, decidida à voltar para a casa na árvore.

— Você vai ficar aqui, queira ou não. – Leo elevou a voz. – Até porque, a senhorita não gostaria que todos soubessem sobre sua verdadeira identidade, não é mesmo, Agente Romanoff?