Passaram-se quatro anos desde que chegamos à Esmirna tenho dez anos, Reynolds sempre me chamava de Oito, meu numero lórico, mas como fomos viver com os humanos em uma comunidade hebraica ele me chamava de Joseph. Ele não me deixava ir à escola, disse que era muito perigoso e me ensinava em casa, dizia que eu não era como os outros. Eu era mais forte e mais inteligente que os humanos e certamente chamaria muita atenção indesejada, sempre dizia que tínhamos uma tarefa muito importante de derrotar os Mogadorianos e voltar para Lorien. Confesso que às vezes não acreditava no que Reynolds me falava. Se não fosse por meus sonhos com Lorien acho que pensaria que Reynolds estivesse louco.

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– Como nove crianças vão derrotar um exército alienígena? – Perguntei incrédulo.

– Vocês ainda não estão prontos, por isso estamos separados, para treinar e deixar essa barriguinha molenga bem forte. – Reynolds brinca me fazendo cócegas.


Ele sempre foi brincalhão. Nós éramos uma dupla e tanto, inseparáveis. Acho que foi a promessa que ele fez a meu avô. Pensando bem, o que nós tínhamos era muito mais do que uma simples promessa, éramos uma família.

Nossa rotina era puxada, Reynolds acordava todos os dias as 05:00AM para preparar o café da manha por que demorava quase uma hora para ficar pronto e parecia um almoço. Tinha pão integral, simit (pão no formato de rosca com gergelim), fogaça de azeitona e queijo branco, borek (massa folheada recheada com carne e espinafre), mel, geleia de laranja, um pote de azeitonas pretas, pimenta, sucuklu yumurta (ovo mexido com peperoni para molhar o pão) e chá turco, mas ele sempre me dava leite. Às vezes tinha que implorar para ele me dar chá.


– Por favor, Rey me dá um pouco de chá – implorei

– Não senhor, você precisa crescer forte, por isso precisa tomar leite. – disse empurrando um copo de leite na minha boca.

– Calma! Não sou mais um bebê pra você me dar comida na boca! – Disse afastando o copo com a mão, mas noto uma cara um pouco triste em Reynolds.

– Que foi? – Perguntei confuso.

– Nada, só que você cresceu tanto. Às vezes vejo você como meu filho.


Aquelas palavras me pegaram de surpresa. Eu nunca tinha parado para pensar como era a vida dele em Lorien, se tinha família, esposa ou até filhos.


– Você tinha família em Lorien? – Pergunto inocentemente.


Imediatamente os olhos de Reynolds enchem de lágrimas.


– Tinha. – Respondeu ele depois de alguns segundos.

– Naya... – Deixa escapar.

– Naya? Quem é Naya? – Pergunto curioso.

– Minha esposa, no dia da invasão... Ela tinha ficado em casa... Por que estava grávida... Depois da primeira explosão... Corri para casa... – Reynolds fala com lágrimas nos olhos.

– Quando cheguei em casa, lá estava ela, linda como sempre, com seus cabelos negros e lisos, pele bronzeada e carregava em seu ventre meu filho... Disse para ela se esconder no porão que mandaria algum Garde para protegê-la. Dei um beijo em sua boca e beijei também sua barriga.

– Eu te amo tanto, cuide do nosso filho. Tenho que ir, Icarus me disse por telepatia que teria que ir ao aeroporto. Eu te amo, fique viva, por favor, eu voltarei. – Disse Reynolds à sua esposa.


Aquelas palavras cortaram meu coração em milhares de pedaços. Reynolds abandonou sua família para me proteger.


– Eu sinto muito. – Disse abraçando Reynolds.

– Não precisa se desculpar, a culpa não foi sua. Por isso temos que treinar, você precisa ficar forte, desenvolver seus legados para vingarmos Naya, seu avô e todo povo de Lorien. – Disse Reynolds.


Terminamos o café em silencio e saímos, fomos até o porto onde pegamos nosso barco. Fomos uns 30 km dentro do Mar Mediterrâneo e mergulhamos. Fazíamos isso todos os dias, era nosso mergulho matinal.

Quando voltamos era mais ou menos 10:00AM. Reynolds me ensinava combate corpo a corpo. Eu ainda não tinha desenvolvido nenhum legado e minha força estava longe do ideal.


– Quando meus legados vão aparecer? – disse curioso.

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– Daqui a alguns anos magrelo. – Disse me levantando e me colocando em suas costas.


Consegui escapar de suas costas, mas me desequilibrei e cai.


– Você esta bem? – Disse Reynolds preocupado.

– Estou sim. – Respondo disfarçando a dor.

– Vá tomar banho enquanto preparo o almoço.


No almoço comemos berinjelas recheadas com carne picada, Reynolds era um ótimo cozinheiro. Na verdade ele era ótimo em tudo. Ele era brilhante aprendia as coisas na metade do tempo.

Depois do almoço quase 01:00PM Reynolds ia para a internet buscar alguma informação da Garde, mas sempre sem sucesso, o que era um bom sinal. Eles estavam se escondendo bem.

Enquanto Reynolds fica horas na internet eu saia e ia até o portão de casa e sempre via alguns garotos brincando com uma bola na rua. Tinha um garoto alto, parecia ter uns treze anos e outros dois menores que pareciam ter minha idade. Reynolds não gostava quando brincava com outras crianças, ele era super protetor. Um dos garotos chutou forte a bola e foi parar no nosso quintal e rapidamente corri até a bola.


– Hey, esquisitão joga a bola ai. – Disse o garoto de treze anos.


Esquisitão, pensei, eu morava ali fazia quatro anos e não conhecia meus vizinhos.


– Posso jogar com vocês? – Disse meio sem jeito.

– Você sabe jogar? – Disse garoto de treze anos.

– Claro. – Menti.

– Qual é seu nome? – Disse o garoto mais novo.

– Sou Joseph e você?

– Meu nome é Adaliah e esses são meus irmãos, o menor se chama Ezra e o mais velho se chama Malque. – disse estendendo a mão com um sorriso no rosto.

– Malque agora podemos fazer dois times. – Disse Adaliah.

– Ok, eu e o esquisitão e vocês dois. – Disse Malque.

– Meu nome é Joseph. – digo serio

– Ok, esquisitão já seu que seu nome é Joseph. – disse rindo

Vou te mostrar quem é esquisito, pensei.

– Fica no gol. – Disse Malque autoritário.


O jogo começou. Malque com certeza era mais forte fisicamente que seus irmãos e facilmente passou por eles e fez o gol. Os irmãos não concordaram.


– Que tal trocarmos os times? – Digo.

Malque me encarou.

– Você que pediu. – Disse tentando me intimidar.


Malque me deu a bola e comecei a correr descontroladamente para o gol. Malque coloca o pé entre minhas pernas e caio. Um frio sobe por minhas costas que quase dou um soco em Malque, mas me lembro dos treinos com Reynolds que me dizia para manter a calma.


– É só isso que você sabe esquisitão? – Disse Malque rindo.


Toda vez que ele me chamava assim tinha vontade que arrancar sua cabeça. Até estranhei toda essa raiva, nunca havia sentido, talvez por que nunca ninguém tivesse me provocado. Corro outra vez em direção ao gol e chuto a bola com toda minha força, tanto que Ezra não consegue agarrar e vai direto no vidro do carro do vizinho da frente da minha casa. O barulho faz os irmãos correrem e me deixam sozinho na rua. Imediatamente o Sr. Mebahel ,nosso vizinho, sai da sua casa e me vê.


– Foi você garoto? – Disse bravo.


Somente balancei a cabeça. Sabia que Reynolds me mataria, mas foi muito legal fazer algo diferente pelo menos um dia. Sr. Mebahel me pegou pelo braço e me levou até minha casa.


– Boa tarde Sr. Mebahel. – Disse Reynolds abrindo a porta.

– Seu filho quebrou o vidro do meu carro. – Disse gritando.

– Jo... Joseph fez isso? – Disse surpreso e me olhando com cara de bravo. – Desculpe por isso, vamos pagar o prejuízo, amanha passo na sua casa. – Completou

– Assim espero. – Disse o Sr. Mebahel.

– Como você fez isso Joseph? – Disse bravo.

– Calma, estava jogando bola com uns garotos da rua. – Expliquei.

– Eu disse para você que não queria você com esses garotos. – Gritou.

– Eu tenho dez anos, não posso ir a escola, não posso conhecer meus vizinhos, você não pode me prender aqui dentro de casa pra sempre! – Gritei mais alto.

– Você podia ter machucado alguém ou “eles” poderiam estar vigiando. – Falou com um tom de medo em sua voz.

– Eles quem? Os Mogs? Eles nem estão aqui na Terra, você disse que estamos aqui há quatro anos e nada aconteceu. – Digo bravo.


Quando de repente sinto uma dor imensa em meu tornozelo direito. Era como se tivesse alguém com uma brasa me queimando, a dor era insuportável. Era minha primeira cicatriz, o primeiro sinal que os mogs estavam aqui na Terra e que em algum lugar do mundo o(a) número Um estava morto(a).