Não sei o que fazer. Reynolds está morto em meus braços, Lola também está morta a alguns metros dali, dezenas de montinhos de cinzas estão espalhados pela floresta destruída. Os Mogadorianos levaram minha Arca, minha herança, o único elo físico que tinha com Lorien agora se havia ido. Olho para os lados e só vejo destruição, minhas roupas estão rasgadas pela luta. Olho para céu e ainda posso ver o rastro de fumaça que a nave daquele Mog deixou. Será que eles vão voltar? Imediatamente me levanto e com telecinese pego a lona da barraca e enrolo o corpo de Reynolds e Lola, cavo um buraco fundo e coloco os dois corpos lá dentro. Vou até uma árvore e colho algumas flores e coloco sobre Reynolds. É impossível não chorar. Reynolds era meu Cêpan, meu amigo, minha família, como poderia seguir sem ele? Ele sempre tomava as decisões, me treinava, ele fazia tudo. Jogo terra sobre seus corpos e vou para a floresta.

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Caminhando, eu pensava em todos os momentos felizes que tive com Reynolds, seu sorriso torto, sua capacidade de rir nas piores situações, quando estávamos fugindo, quando dormimos embaixo da ponte, quando fomos ao circo, quando meu primeiro legado apareceu, minhas cicatrizes. Ele sempre esteve comigo e agora se foi, assim como todo meu povo, minha família, meu planeta.

Em algum lugar do mundo existem mais seis crianças como eu e não faço ideia de onde e como encontrá-las e como são seus rostos. A Número Um e Número Dois já estavam mortas, tive um sonho com uma garota que foi encontrada pelos mogs, mas felizmente não era a numero Três e graças ao feitiço lórico assim como eu ela sobreviveu. Agora ela deve estar presa em alguma base Mogadoriana e eu não quero acabar como ela. Tenho que encontrar um lugar para descansar, não posso voltar para casa nem para cidade seria muito perigoso. Decidi ficar nas aqui nas montanhas. Coloco a mão no bolso e vejo minha identidade falsa com o nome de Naveen, eu a rasgo e jogo no chão por que a partir de agora não teria mais nome, seria conhecido somente por Oito.

***

Caminho durante seis horas. A escuridão é total. Só consigo ver por causa do brilho da Lua. Vejo uma pequena gruta a alguns metros. Me teleporto até lá e vejo que é bem aconchegante e resolvi que passaria ali o resto da noite. Olho para fora e vejo algumas arvores e com telecinese consigo arrancar alguns galhos e com duas pedrinhas que estavam ali tento fazer fogo sem sucesso.

– Achava que isso seria mais fácil. – digo.

Depois de quase meia hora consigo finalmente uma faísca e ascender um fogo fraco. Tento dormir um pouco. Acabo sonhando com meu avô outra vez me levando para a nave, vejo as explosões perto da pista de decolagem, o piken horrível morrendo. De repente tudo muda, algo novo que nunca tinha visto em meus sonhos, vejo uma nave de cor perola perfeitamente oval descendo sobre o céu de Lorien e dela desce o maior Mogadoriano que já vi, ele era horrível sua pele tinha um tom de cinza, seu cabelo era curto e tinha uma cicatriz enorme e roxa em seu pescoço. Quando ele sai da nave ele olha em minha direção e diz:

– Olá Numero Oito, sou Setrákus Ra.

Estou outra vez na gruta. Setrákus Ra? Por que diabos ele esta na minha cabeça? Escuto um barulho fora da gruta e vou conferir e de longe vejo um homem de sobretudo preto e que quando me vê colocava a mão em seu bolso para pegar algo que parecia um rádio. Me teleporto para frente dele, ele se assusta e antes de pegar sua espada já o prendi com minha telecinese.

– Eu já estou cansado de vocês, vermes. – digo com ódio.

Ele me olha e sorri.

– Você me faz lembrar de como...

Jogo o Mog no chão e não o deixo terminar sua frase, de repente tudo parece mudar, as arvores, a montanha, a cascata, o lago, tudo começa a se desfazer. O Mog que estava caído no chão e se levanta e me olha, mas seu rosto estava diferente, era Setrákus Ra. Ele estava brincando comigo, ainda estava dormindo.

Acordo assustado, já era de manhã. Estou suando e meu colar está brilhando. Olho para os lados sem entender muito que tinha acabado de acontecer. Olho para fora e de longe vejo duas naves Mogadorianas pequenas e me escondo outra vez na gruta. Me sento no chão e coloco a cabeça entre as pernas e começo a pensar. O que será esse sonho? Por que sonhei com Setrákus?

Espero seis horas até que as naves vão embora. Estava faminto, apesar de não estar sentindo fome. Era estranho não sentir fome porque estava há quase dois dias sem comer nada, meu colar tinha um brilho azul fraco. Será que o colar me protege também de sentir fome? Olho mais uma vez para fora e tudo parecia estar tranquilo, espero mais uma hora e quando tenho certeza de que tudo está seguro, saio. Lá fora busco lenha, frutas e algumas folhas novas para fazer uma cama. Andei quase um quilometro e encontro um lago e me lembrei dos mergulhos com Reynolds, as lembranças me deixam triste, mas não resisto e entro no lago. Aquela agua fria parece que me desperta dando-me a força que necessitava para seguir em frente. Saio do lago e volto correndo pela floresta, me desviando de troncos e bambus que estavam no caminho e em poucos minutos chego à gruta. Com a luz do dia podia ver como ela estava suja e desordenada, com telecinese tirei algumas pedras que estavam lá e as deixei perto da porta para caso que algum animal querer entrar ou até mesmo os Mogs que todos os dias voltam para me procurar.

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***

Passei tanto tempo nessa rotina de nadar no lago, correr pelas montanhas e treinar meus Legados que até perdi a noção de quanto tempo havia passado, mas uma coisa eu tinha certeza, havia passado mais de um ano ou até dois. Meus sonhos seguiram, sonhei quase todos os dias com a morte de Reynolds e a traição de Lola, mas nunca mais sonhei com Setrákus ou algum outro Garde até ontem à noite quando ganhei minha terceira cicatriz.

Vi um garoto que aparentava ter quatorze anos, ele usava shorts e umas meias longas, suponho que seja para esconder suas cicatrizes, ele estava jogando basquete com seus amigos. Ao derredor posso ver uma densa floresta. Depois o vejo dormindo em uma casa feita de bambus com seu Cêpan que desperta com um forte barulho fora da casa. O Cêpan se levanta e vai até a porta e uma espada mogadoriana atravessa seu peito e ele só pode dizer ao garoto. –Corra! – E é exatamente o que ele faz corre com uma agilidade incrível sobre arvores e cipós, atrás dele vejo um grande Piken que parece estar faminto. O garoto chega até um precipício e da alguns passos para trás e pula. Quando ele chega do outro lado seu sorriso só dura alguns segundos porque rapidamente ele é levantado pelo pescoço e um Mogadoriano que empala sua espada eu seu peito matando-o .

Mais uma dor em meu tornozelo direito, mais uma cicatriz, um a menos para nos ajudar na luta por Lorien. Essa cicatriz foi diferente, pois era a primeira que havia recebido sem ter Reynolds ao meu lado.