Hanna

Nunca me sentira daquele jeito, agora que descobrira a verdade sentia tudo em minha cabeça, raiva, ódio, alivio, alegria, tudo mesmo, quanto mais chorava mais difícil ficava de me concentrar em uma coisa! Até que ouvi um barulho, não muito distante, me levantei e levei minha mão até onde ficava minha aljava, mas em vão, minha mão passou em um vão e logo praguejei, pois tinha deixado meu arco-e-flecha na caverna!

— Quem está ai?

Ninguém respondia, o barulho cessou, então, rápido como um raio uma mão tampou minha boca e agarrou meus braços para que não fugisse então em um pequeno sussurro disse:

— Está tudo bem não vou te machucar, sou eu Will.

Achei estranho, pois ele, quando se aproximava nunca fazia barulho, então tenho certeza de que não era ele que me observava antes!

— Você me assustou sabia?

Quando virei fiquei surpresa, pois nunca vira Will na luz ele sempre escondia seu rosto na capa quando treinávamos a noite, fazendo com que seu rosto ficasse irreconhecível, Ele se tornara mais baixo e magro sem a capa, sua barba era torta como sempre, aparentava uns 28 anos, ele era muito bonito a luz do sol, seus cabelos castanho balançavam sobre o vento. Por um instante me distrai, só despertei de meus pensamentos quando ele me perguntou.

— Esta tudo bem com você?

— an?... Ah sim ta sim, quer dizer mais ou menos.

— Seus amigos te contaram a história de seus pais presumo?

— Sim, só que por incrível que pareça eu não estou zangada com eles, quero dizer com meus pais. Esse pensamento já veio em minha mente quando eu tinha os sonhos, mas sempre os afastava.

— É meio difícil de ficar depois que descobre. – ele disse com um pequeno sorriso no rosto.

Seus olhos cintilaram mais uma vez, seus lábios pequenos sorrindo com uma grande satisfação. Como nunca ligara isso antes? Como sou burra.

— Meus deuses, eu não acredito... Você é?

— Aah, pensei que nunca iria descobrir garota.

— É meio difícil quando você se esconde toda hora entre sua capa. Mas então quer dizer que você esse tempo todo...?

— Sim, sim, esse tempo todo.

Fiquei atordoada, sentia a imensa vontade de dar um soco na cara dele. Mas não consegui, fiquei parada, imóvel tentando digerir aquilo, como nunca reparara antes? Era ele com certeza, tinha que ser, eu me lembro vagamente, mas era ele.

— Olha não tenho muito tempo aqui, mas você tem que fazer o que seu pai lhe pediu e tem que ser hoje à noite.

— Mas por quê? Eu não entendo, porque tenho que deixar meus amigos?

— Olha eu não quero ser inconveniente, até porque isso é assunto seus não meu, mas venho reparando que você não é mais tranquila como antes, você anda perturbada, nervosa, desconcentrada, e tenho quase certeza de o porque.

— Por quê?

— As vezes vigio você de dia, pedido de seu pai. E vejo como você olha para aquele garoto, sei como você se sente a respeito disso, e isso está te deixando desconcentrada! Desde que me falou que iria deixá-lo com a garota Lucy e partiria com sua outra amiga tive certeza de que ela não iria querer, apesar de não mostrar, ela prefere ele a você.

— Como assim, Meth nunca faria isso comigo, ela é minha melhor amiga.

— Desde quando mesmo? Aé quando Sam virou seu amigo, pelo que sei, ela está no castelo antes de você, e foi só ele virar seu amigo que ela virou também.

Aquilo atingiu meu cérebro de uma maneira inesperada, Will tinha razão, não sei se depois de virar minha “amiga” o sentimento se tornou verdadeiro pra ela, como ela pode fazer aquilo comigo? Não conseguia falar nada só olhava fixamente pra Will que continuava a falar, queria pedir que parasse, mas não conseguia.

— Enfim, você precisa deixá-los, eles não são seus amigos de verdade, dói muito em mim dizer isso pra você, mas é pro seu próprio bem, acredite.

Quando ele finalmente parou de falar, consegui colocar minha mete no lugar e então falei coma voz mais calma possível.

— Eu só precisava saber de o porquê que eu tenho que fugir, não porque eles são meus amigos.

Aquilo deve ter causado um pequeno efeito nele, pois ao dizer isso ele deu dois passos pra trás, respirou fundo e começou a falar novamente

— Me desculpe, não queria ter falado aquilo, é porque não aquentava mais vê-los te tratando daquele jeito falso. Mas enfim, você tem que ir porque se você ficar vai correr grande perigo. Aquela tal de Lucy atrai coisas ruins ao seu redor, você pode não ter notado, mas é muita coincidência vocês serem sequestrados e do nada uma garota indefesa, sem nenhum treinamento, salvar vocês tão facilmente. E depois do que aconteceu com Meth, você não sabe quem foi, mas eu estava observando, Hanna, era uma pessoa, mas não agia como uma.

De um certo modo ele estava certo, era muito difícil Lucy, sem nenhum treinamento, ter conseguido nos resgatar de três caras e mesmo ela dizendo que teve ajuda isso não me parecia certo, por que alguém iria pedir pra ela nos ajudar? Foi ai que tudo se ligou.

— É uma armadilha não é?

— Como assim? – Ele perguntou, mas seu tom de voz dizia que ele já sabia.

— Lucy, ter nos ajudado, mesmo que alguém nos quisesse a salvo, por que mandou ela pra nos ajudar? Por que não mandou uma pessoa mais habilitada para o trabalho? Um dos caras que nos sequestraram disse que estavam cumprindo ordens, não acredito que sejam ordens diretas de Lucy, mas acho que ela deve estar envolvida. Então não posso deixar meus amigos aqui com ela.

— Você está certa, mas não completamente, Sam e Meth nunca foram os alvos, ela só queria você Hanna, se você os deixar aqui, vai mante-los mais seguros, pois uma vez que você se for Lucy vai ter que te procurar e não vai se tornar uma ameaça para seus amigos.

Will estava certo, eu tinha que deixar meus amigos, por mais que isso doesse, por mais que eu quisesse lhes contar a verdade, não poderia por suas vidas em risco.

O sol já estava quase se pondo, então olhei pra Will e ele parecendo ler meus pensamentos confirmou com a cabeça. Antes de sair da clareira ouvi Will dizer.

— Não conte isso pra ninguém. – com um balançar de cabeça afirmei e continuei andando.

Quando cheguei todos continuavam na mesa, parece que discutindo algo, não me interessei só passei por eles, mas antes de entrar na caverna ouvi Meth dizer.

— Você esta bem Hanna?

— To sim.

— Mas Hanna... ainda falta uma coisa...

— O que Sam?

— Você disse que teve um sonho estranho ontem, disse que estava preocupada.

— Era só um sonho bobo, agora se me derem licença vou deitar um pouco.

Entrei na caverna e comecei a juntar minhas coisas, minha cabeça estava a mil, tive que me segurar pra não correr e dar um soco na cara de Lucy, aquela... Aquela sedutora de monstros, como ela pôde? "Confiei" nela esse tempo todo e ela só vem tentando me matar, quando terminei de arrumar minhas coisas deitei e fiquei olhando pro teto da caverna e então pensei.

“é melhor dormir um pouco, pois tenho que sair daqui essa noite”

Dormi um pouco e parecia que estava flutuando.