Arborescente

Capítulo dez


Minha teoria de que permaneceríamos na sala se desfez, assim que todos terminaram. Ninguém comentou, em momento algum, o motivo de minhas lágrimas e agradeci silenciosamente por isso, embora desconfiasse que Karen iria perguntar quando estivéssemos no dormitório. Eu não deveria me importar mais com isso.

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“Ela não terá nada a esconder quando chegarmos à quinta fase” as palavras de Holden ecoavam em minha mente.

Ele desapareceu no meio do caminho, enquanto acompanhávamos Trudie para a mesma sala em que fizemos o exercício de identificar mentiras. Agora, tinha várias cadeiras e uma lousa no centro.

“Hora das leis...” pensei, desanimada.

Passamos a tarde inteira revisando as leis e suas punições, eu sempre confundia o tempo de prisão. Depois disso, Trudie decidiu nos levar até uma sala onde acontecia os julgamentos, as formas eram idênticas às da minha simulação.

― Promotores, juiz-presidente, espectadores, testemunhas, advogados e réus ― enumerou Trudie ― São os componentes de um tribunal. Os promotores defendem os interesses da sociedade, o juiz é a autoridade máxima... Não preciso explicar os outros, espero.

Negamos com a cabeça, e ela continuou.

― Eu disse, anteriormente, que usamos soro da verdade em nossos julgamentos. De fato, isso ocorre na maioria das vezes, mas um tribunal tradicional seria formado dessa forma ― explicou Trudie ― Preferimos nos prevenir. O soro é feito pela Erudição, e não podemos garantir que sempre o teremos ou se precisaremos, talvez, racionar, algum dia.

Era uma decisão sensata, concordei.

― Vocês podem decidir o que farão na facção, de acordo com suas classificações no final do treinamento ― continuou ― Sim, Pacey?

― Como acontece o julgamento? Sem a presença de soro, quero dizer ― perguntou.

― Primeiro: são formuladas perguntas ao réu, sendo que ele tem o direito de não responder. Segundo: o juiz apresenta todos os fatos do processo para os jurados. Terceiro: as testemunhas, se houver, serão ouvidas. Quarto: começa o debate, sendo que o promotor é o primeiro, depois vem o advogado. Nesse tempo, o promotor tem direito de pedir uma réplica ao que o advogado disse, o juiz decide se concede ou não, e o advogado pode responder a réplica. Em quinto: o juiz formula os quesitos a serem julgados, os jurados votam, os votos são contabilizados e, por fim, é dado o veredicto. Julgamentos costumam demorar horas para serem concluídos. Muitas vezes, demoram mais de um dia.

Era maravilhosa a ideia de fazer justiça, sem se arriscar como os audaciosos faziam. A cada dia mais, eu tinha certeza de que tinha encontrado o meu lugar naquela facção.

― Como lhes mostrei essa sala, nada mais justo do que lhes mostrar para onde eles vão quando culpados ― ela piscou, cúmplice.

Descemos vários lances de escada, até que as escadas tornaram-se de pedra e chegamos em um corredor escuro. Não tinha portas, eram paredes lisas. Trudie continuou andando por um bom tempo, até chegar em um painel, onde tinha lugar para colocar cartão magnético, passar digital... A segurança era admirável. Dava para ver a fileira de celas sem que precisássemos passar pelo sistema de segurança.

― Segurança reforçada ― ela bateu de leve, orgulhosa, no painel ― Agora vamos voltar antes que deem por nossa falta.

Ouvi Karen resmungar sobre precisar subir os degraus novamente.

― Vou liberá-los novamente hoje. Entretanto, não quero saber sobre bebedeiras novamente. Espero não precisar instalar uma trava no dormitório ― ela fixou o olho em Todd, que já estava mais lúcido ― Vão precisar das apostilas para o exercício que lhes darei.

― Pacey deve se sentir em casa ― brincou Nolan, e todos rimos, exceto o garoto, que corou.

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Trudie apontou para uma pilha de papéis em cima da mesa, resmungamos só de pensar no trabalho que íamos ter. Nem fomos para nosso dormitório, ficamos ali mesmo.

― Casos solucionados! Para que? ― reclamou Karen, o joelho em cima da mesa e a mão aberta, apoiando a cabeça.

― Para terem certeza de que prestamos atenção em todos os detalhes ― disse Todd, dando de ombros.

― Se pegássemos um caso em aberto e errássemos, a pessoa quem ia pagar ― eu disse.

Levantei o olhar da pasta quando ouvi um barulho de vidro quebrando-se.

― O que foi isso? ― perguntou Todd, olhando por cima do ombro.

― Que droga! ― ouvi Petal reclamando, enquanto Reilly corria para lhe ajudar.

― Está ferida? ― ela perguntou.

― Só me cortei, estou bem ― respondeu Petal, parecendo frustrada consigo mesma ― É melhor eu pegar algo para varrer isso aqui.

― Deixa que o faxineiro vê isso depois! ― disse Karen, virando-se na cadeira ― O que aconteceu? Isso era um copo?

― Eu estava com sede ― explicou ― Mas ele caiu da minha mão, escorregou.

― Relaxa! Não acho que Trudie vá se importar ― Mischa reconfortou-a ― É só um copo, acidentes acontecem...

Petal olhou em agradecimento para as três, e voltou-se para seu lugar, pegando a sua pasta para analisar, assim como os outros. Eu deixei escapar um bocejo, enquanto fazia anotações em uma folha branca, com uma caneta, que Trudie nos disponibilizou para facilitar a tarefa.

― E se nós... Descansássemos um pouco?

Viramos para olhar incrédulos para Pacey.

― Estudos apontam que se deve estar concentrado em algo por 3 horas e dar um descanso ― ele balbuciou, nervoso pelos olhares que recebia.

― Rost, você vem com a gente ― Nolan levantou-se ― Tá na hora de você se divertir um pouco, deixar essa Erudição de lado...

O garoto tentou protestar, mas os outros apoiaram, e o levaram para fora da sala. Karen levantou-se e fechou a porta.

― Ótimo! Vantagem! ― disse Mischa, os olhos ainda fixos na folha.

― A gente continua aqui, mas podemos “treinar” um pouco ― sugeriu Karen, sentando-se de novo ao meu lado.

― Treinar o que? ― perguntou Mischa, de novo, a sobrancelha erguida.

― Como dar uns pegas ― debochou ― O que você acha?

― Tá falando de treinarmos a verdade? ― interrompi a possível discussão ― Como?

― Tem um jogo chamado “Verdade ou Consequência”. Os da Audácia usam apenas a parte da consequência, não se importam tanto com a verdade. Nós preferimos a outra parte, obviamente. As regras são as seguintes ― ela ajeitou-se na cadeira e sorriu para nós, animada ― Não existe a escolha. Cada uma vai fazer uma pergunta a pessoa desafiada. Se ela mentir, ela vai pagar uma consequência.

― Pensava que as brincadeiras eram apenas da Amizade. Parece que estava enganada... ― murmurou Petal.

― Os eruditos não brincam de nada? ― perguntou Mischa, chocada ― Nem de fazer perguntas entre si?

― Não é uma brincadeira! ― disse Petal, franzindo o cenho.

― Eu não entendi a parte da “pessoa desafiada” ― manifestei-me.

― Costumamos brincar isso de noite, antes de dormir ― Karen começou a explicar ― A cada dia, é uma pessoa diferente. Não tem isso de girar a garrafa nem nada.

― E hoje, a pessoa desafiada é você, Erin ― disse Mischa, dando um sorriso malicioso.

― Aeryn ― murmurou Reilly, não tão discretamente.

― Aeryn ― corrigiu Mischa.