Kate andava pelo seu pequeno quarto cheia de preocupação. Não podia evitar. Assim que o dia clareou, a cidade soube do que houve na prefeitura, e aquilo a acordou para as consequências.

Não era tola... sabia que havia uma margem do que podia acontecer ou não após seu ato. Mas, agora vivia esse depois, e isso a perturbava. Um. Porque ninguém bateu na sua porta. Dois. Alguns dos policiais saíram cedo em direção a uma casa. A casa dela.

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—Kate? –A voz da sua mão soou enquanto ela entrava no quarto. – O vestido secou. Poderia levá-lo antes de alguém manchá-lo sem querer... –Falou enquanto depositava a roupa na cama dela. E só depois, a olhou. –Algum problema?

—Não, mãe. Só preocupada que o atentado seja ligado ao meu grupo. – Suas palavras fizeram sua mãe sorrir, e dar um leve aperto em seu ombro.

—Todo mundo te conhece. Isso é impossível de acontecer. – O conforto dela a fez sorrir. –Não se preocupe. Notícias ruins chegam depressa. –Era um fato.

Sua mãe estava certa. Notícias ruins chegam rápido. Mas, isso não tirava aquela sensação de que algo iria acontecer. Um medo quase desnecessário para o momento, porém, escondia um alerta. Eles a conheciam, mas e Bea?

Caminhou até a cama e tocou levemente o tecido caro do vestido. Delicado demais e suave, mas se visse de longe, não pareceria nada disso. Assim como, aquela que o vestia diariamente. A mulher que não entendia, um mistério para sua mente, desde o momento que a viu naquele baile da cidade a quase dois anos atrás. Naquela época, nunca se imaginou trabalhando com ela, mas aqui estava. Com o coração acelerado, a desejou naquele quarto novamente.

A porta se abriu, e em reflexo fingiu que dobrava o vestido. Camuflando seus pensamentos irracionais. –Nunca imaginei te ver com uma roupa assim no quarto? – Seu noivo brincou enquanto entrava no cômodo.

—Não é meu. –Riu, mas não se virou. –Lembra da senhorita Donaval? – Ele assentiu com a cabeça quando a abraçou por trás. – Chegou, em uma das minhas reuniões, completamente molhada. E desde então, o vestido está aqui.

Essas duas. Ele beijou levemente o pescoço dela. –Ela não vai se importar se mantê-lo. Gosto de você em vestidos.

Em outras palavras, gostava quando era apenas uma Lady. –Mas, eu não gosto. E mesmo por você, não usaria. – Os lábios dele causavam calafrios. Eram quentes como a respiração dela na prefeitura.

—Eu sei. Mas, ainda posso tentar. –Virou-a, antes de dar um gentil beijo nos lábios dela.

Ele, era um homem gentil, um amigo que teve a vida inteira. Confiava a sua própria vida a ele. Por isso, quando ele pediu para serem namorados, aceitou. Amava-o com todo o coração. Mas, mesmo esse sentimento tão certo, perdeu forças para um outro. Um cheio de desavenças e caos. O mesmo que a fez imaginar que fosse ela ao invés dele.

Isso era errado.

—Eu acho que alguém está animado demais. –Falou, se distanciando.

Fazia tanto tempo. – Desculpe. Mas, já estou de saída. Só vim dizer um ‘oi’ para a minha noiva. – Fez uma pausa antes de acrescentar. – Oi!

Um sorriso formou-se em seus lábios enquanto respondia. –Oi.

Era um momento simples, mas que aquecia seu coração. No entanto, tudo desapareceu quando sua amiga apareceu na entrada do seu quarto. –Kate! –A mulher gritou quando seus olhos se chocaram.

Seu coração gelou. - O que houve? – Essa era uma notícia ruim.

Beth odiou interromper o momento deles, mas não tinha como deixar isso para depois. –Beatrice foi encontrada desacordada em uma estrada. Parece que foi uma emboscada.

Assim que o nome dela foi pronunciado, já estava pronta para ir. Por isso, após alguns minutos, se encontrava entrando no pequeno hospital da cidade, e questionando a atendente. – Beatrice Donaval? Preciso vê-la.

A mulher olhou para ela sem qualquer urgência e do mesmo modo falou. –Parente?

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—Não. Amiga. – Precisava de algo mais. – O primo dela me pediu para cuidar dela enquanto ele está em outra cidade.

—Entendo! Está realmente sendo difícil encontrar Jonathan Donaval, e agora sei o porquê. –Ou seja, tinha poucos minutos a sós com a outra mulher.

Acelerou os passos enquanto a mulher a guiava até ao quarto, onde estava Beatrice. –O médico logo virá. –A mulher disse, mas não deu atenção. Sua única atenção estava para a mulher desacordada e com o rosto machucado. E sem se importar com ninguém, entrou no quarto.

—Por que sempre machucam seu rosto? –Pensou alto quando se aproximou dela, enquanto suas mãos tiravam alguns fios do rosto dela, e acariciavam suas bochechas.

—Ela pode se sentir quente, agora, por causa da febre. –O médico falou enquanto se aproximava da sala. – Kate.

Ela o conhecia bem. Era o doutor Henrique, um dos pais de uma de suas aliadas. –Como ela está?

—Bem até o momento. Provavelmente fraturou algumas costelas, e seu braço estava deslocado quando chegou aqui. Vai precisar ficar longe dos cavalos por alguns semanas. –Isso seria difícil, mas talvez Jon conseguisse a convencer.

—Obrigado. – O homem assentiu antes de sair. –Quem fez isso com você? –Pensou enquanto encostava sua testa na dela. Talvez não soubesse quem, mas sabia o porquê. –Não deveríamos ter feito aquilo. –Sussurrou sem deixar o contato dela. Tinha medo dela desaparecer.

—Não mesmo. – A nova voz era de um desconhecido, pelo menos para ela. Mas, pela certeza na voz dele só podia ser Jon. –Kate.

—Jon? – Perguntou quando ajeitou sua postura.

—Sim. Vim assim que ouvi a notícia que encontraram uma mulher na estrada. Sabia que era ela. – Caminhou até sua prima com cuidado. Com medo de interromper aquele equilíbrio.

Ele realmente se importava com ela. -Por que fariam isso com ela? –Assim como ela.

—Porque desconfiavam que era ela. Porque muitos odeiam a nossa família aqui. –Pegou a mão da sua prima com delicadeza. – Não é sua culpa, Kate.

Era sim. –Cuide dela, ok? – Não esperou ele responder para sair da sala. Precisava ter certeza que aquilo nunca mais acontecesse.

Era uma insanidade, mas deixou se guiar até a sede da polícia. E antes de parar, entrou enquanto lágrimas brilhavam em seus olhos. Era pessoal. Empurrou a porta da sala principal, se colocando frente a frente com o principal responsável. –Espero que esteja sendo averiguado o que aconteceu com a senhorita Donaval.

O homem apenas depositou o jornal que lia lentamente na mesa. Já esperava por isso. –Ela caiu do cavalo. Apenas isso.

—Claro. – Falso desgraçado. – Logo após a depredação da prefeitura. Não sou boba. –Aproximou ainda mais dele.

— O que sabe sobre ela, Kate? –Isso a pegou desprevenida. Com certeza, sabia quase nada, mas não falou para ele. Deixando-o continuar. –Sabia que ela já foi presa por tentar incendiar uma casa de um governante em Londres. Que invadiu jornais, e até discursões do alto escalão. Se alguém é capaz de fazer isso na prefeitura, é ela.

Beatrice havia feito aquilo? –Não, eu não sabia disso. –Ela parecia, sempre, uma Lady incapaz de se importar com nada... sempre. –Mas, isso é passado. Essa mulher que conheço não faria isso. Não porque melhorou, mas porque não se importa mais. Ela só está no meu grupo por causa dos contatos que tem no parlamento. Apenas isso. – Suas mãos pararam na mesa enquanto crescia ainda mais sua posição. – E eu sou a líder. E se alguém do meu grupo fazer algo, é porque eu autorizei. Não se esqueça disso.

Foram suas últimas palavras antes de sair da sala. Ela era a líder, e não Beatrice.