Giane acordou com batidas na porta do quarto. Abriu os olhos lentamente, ouvindo Fabinho resmungar. Jogou as pernas para fora da cama, se arrastando até a porta. Abriu-a, encontrando Belle nervosa.

_ Mamãe, o Miguel tá mal. – avisou a menina, um tom agudo de pânico na voz. No segundo seguinte, a corintiana já atravessava o corredor correndo, ouvindo os passos de Fabinho atrás.

Entrou no quarto do filho, o encontrando chorando e apertando a barriga. Catarina estava de joelhos na beirada da cama, com carinha de sono, mas parecendo preocupada com o irmão mais velho.

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_ O que aconteceu? – perguntou o pai, abaixando ao lado da cama com a esposa.

_ Eu acordei, achando que ele tava me chamando. – explicou Belle – Mas não vi ele. Aí vim aqui, e ele tava assim.

_ Filho, o que você tá sentindo? – perguntou Giane, vendo que o garoto estava com febre.

_ Tá doendo, mamãe, tá doendo muito. – o menino chorava, tremendo – Tá doendo aqui.

Ele indicou o lado direito da barriga, e os pais tremeram. Giane colocou a mão no local, vendo o filho arquejar de dor. Encarou o marido, que parecia tenso.

_ Não se mexe campeão, está bem? – perguntou Fabinho, e o menino concordou – Belle, Cat, coloquem qualquer roupa, está bem?

As duas saíram correndo, enquanto o casal ia até o quarto e colocava a primeira roupa que encontrou. Miguel havia passado o dia reclamando de falta de apetite, de não conseguir ir ao banheiro e até de estar enjoado. Mas como ele estava brigado com Marcela, os pais acharam que o problema era mais emocional do que físico.

Fabinho carregou o menino até o carro, enquanto as duas meninas acompanhavam a mãe. Miguel deitou no colo da irmã gêmea, ainda chorando, enquanto Cat não sabia o que fazer. Giane estava no banco da frente, mas o corpo estava virado para trás, a mão acariciando o filho, tentando acalmá-lo.

Os dois se lembravam de já terem visto aquilo acontecer, quando eram bem pequenos. Uma das crianças que estava no lar de Gilson e Salma acordara passando mal. Ele reclamava das mesmas coisas que Miguel, e quando foi para o hospital, foi diagnosticado com apendicite aguda. E era o que eles temiam que estivesse acontecendo com o pequeno.

Na emergência do hospital, levaram Miguel para ser examinado. Os pais e as duas irmãs tiveram que ficar esperando, e se era angustiante para Giane e Fabinho, para Belle era a pior tortura do mundo.

Por mais que brigasse muito com Miguel, ambos tinham uma ligação única e especial, que é a ligação que há entre irmãos gêmeos. Um sempre sabia o que o outro estava sentindo, tinham o costume de completar as frases do outro, e era comum saberem quando o outro estava com problemas, assim como havia acontecido naquela noite.

E a pior angustia do mundo era não saber como ele estava. Apesar de ter pouco mais que oito anos, Belle já tinha noção de quando algo era sério, e a expressão dos pais dizia que o estado de Miguel era bem sério.

Apenas Cat parecia alheia a todo o clima pesado, já tendo novamente adormecido na cadeira do hospital. Giane já estava prestes a passar mal de nervoso, quando o médico afinal apareceu.

_ E então doutor? – os três se levantaram em um pulo, caminhando até o homem de branco.

_ O apêndice está inflamado, mas ainda não supurou. – os pais suspiraram aliviados – Mas precisamos operar com urgência, para não correr esse risco.

_ Você vai cortar ele? – assustou-se Belle.

_ Vou sim, mas ele não vai sentir nada. – prometeu o médico – Nós vamos dar um remedinho para ele dormir, e vamos fazer um corte pequeno, e tirar o que está machucado.

_ E ele vai ficar bem? – questionou a menina, temerosa.

_ Vai ficar ótimo. – o médico a acalmou, voltando-se para os pais – Vocês querem entrar comigo, para falar com ele?

_ Acho melhor... – concordou Fabinho, já que Giane parecia incapaz de responder – Belle, você ficar sentadinha com a Cat?

_ Mas eu quero ver o Miguel. – ela reclamou.

_ A gente vem aqui, te pegar antes de ele ir para a cirurgia. – garantiu o médico – Mas antes, faz companhia para a sua irmãzinha, pode ser?

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_ Tá bom. – a menininha concordou a contragosto, indo sentar ao lado de Cat, enquanto os pais seguiam o médico pelo corredor.

Entraram no quarto de Miguel, que estava um pouco grogue do remédio que haviam dado. O menino parecia assustado com o quarto do hospital, e suspirou mais aliviado ao ver os pais entrando.

_ Hey campeão. – Fabinho se abaixou ao lado do filho, enquanto Giane sentava na cama, acariciando o rostinho dele.

_ Como você está meu amor? – perguntou ela, com um fio de voz.

_ Ainda tá doendo, mamãe. Mas eles deram remédio. – Miguel respondeu, segurando as mãos dos pais – Eu já posso ir para casa?

_ Ainda não carinha. – o pai suspirou – É o seguinte Miguel, tem um negócio dentro de você, que chama apêndice. E ele tá machucado, por isso que você está com dor.

_ E como faz para parar de doer?

_ Os médicos tem que tirar ele. – Fabinho prosseguiu, vendo que a esposa não conseguia falar nada. Pela cara dela, ele sabia que na primeira palavra, ela provavelmente cairia em lágrimas – Eles vão te dar um remedinho para dormir, fazer um cortinho pequeno e tirar ele.

_ Vai doer? – o menino parecia assustado.

_ Não, o remédio não deixa. – prometeu o pai, e o filho assentiu.

_ Mamãe, você fica comigo? Eu não quero ficar sozinho. – pediu ele, apertando mais a mão da mãe.

_ Fico meu amor, pode ficar tranquilo. – ela acariciou os cabelos do garoto – Agora, eu e o papai vamos ali fora, porque a Belle quer falar com você. Mas depois eu volto, e fico com você, tá bom?

Ele assentiu, e os pais se levantaram. Fabinho beijou a cabeça dele, e guiou Giane para fora do quarto, enquanto o médico levava Belle para dentro. Assim que a porta se fechou, o publicitário puxou a esposa para seus braços, sentindo-a começar a tremer.

_ Calma, tá tudo bem. – prometeu ele, sentindo as lágrimas dele – Vai ficar tudo bem, não precisa ficar nervosa.

Claro que ele sabia que não adiantava pedir que uma mãe ficasse calma quando o filho estava prestes a ir para uma cirurgia que, querendo ou não, era arriscada. Mas já havia visto mães terem ataques nervosos em casos assim, e não queria que isso acontecesse com sua maloqueira.

_ Eu to com medo. – ela sussurrou.

_ Eu sei, eu também estou. – ele acariciou os cabelos dela – Mas a gente tem que ficar calmo, por eles. Isso já é bastante assustador sem nós tendo um ataque nervoso.

_ O que eu faria sem você? – suspirou ela, o abraçando mais apertado.

_ Sem mim você nem estaria passando por isso, porque quem é que ia aguentar te engravidar? – ele brincou, recebendo um beliscão seguido de um risinho baixo – A enfermeira está vindo, acho que vão tirar a Belle.

_ Acho que só vão me deixar ficar até ele dormir, eu já encontro com vocês. – ela prometeu, dando um selinho no marido – Vai ficar tudo bem, não é?

_ Vai pivete, eu tenho certeza.

Dentro do quarto, Belle estava sentadinha na beira da cama do irmão, os dois apenas se encarando em silêncio.

_ O médico disse que não vai doer. – ela prometeu para o irmão.

_ É, a mamãe e o papai falaram. – o garoto concordou – Belle, não conta para eles, mas eu to com medo.

_ Não precisa ter medo Miguel, a mamãe não falou que vai ficar com você? – perguntou Belle, e ele assentiu – Então, ela não vai deixar eles fazerem nada de errado. Se eles fizerem, ela dá uma bronca e faz eles consertarem.

Miguel apenas assentiu, os dois ficando em silêncio de novo, enquanto observavam o médico mexendo em alguns remédios no canto da sala. A porta se abriu, e Giane apareceu com uma enfermeira ao lado.

_ Princesa, agora você fica com o papai, lá na sala. – avisou a mãe, se aproximando dos dois. A menina assentiu, virando-se para o irmão e sorrindo. Ela puxou a pulserinha de miçangas que tinha no braço, dando para ele.

_ Foi a Marcela que me deu. Fica com ela. – ela sorriu, dando um beijo no rosto do menino e descendo da cama, saindo do quarto depressa. Miguel ficou observando a pulserinha, um sorrisinho bobo no rosto.

_ Hum, tem alguém muito novinho para estar apaixonado. – brincou a mãe, indo se sentar ao lado do filho.

_ Eu não to apaixonado, mamãe. – ele garantiu, sem muita convicção.

_ Miguel, pronto para tomar o remedinho? – perguntou o médico, se aproximando dele. O garotinho olhou para a mãe, que assentiu. Ele então virou para o médico, concordando – Muito bem, você vai engolir esse comprimido, sem mastigar. Tudo bem?

Ele estendeu dois copinhos, que Miguel pegou. Em um havia dois comprimidos e no outro, água. Ele virou o primeiro, engolindo os comprimidos, virando a água logo depois. Logo, ele piscava pesado, voltando a se deitar.

A mãe ficou fazendo cafuné, até que ele pegasse no sono. Assim que Miguel adormeceu, o médico pediu que ela saísse do quarto. A fotógrafa suspirou, beijando a cabeça do filho e saindo do quarto.

Na sala de espera, encontrou as duas filhas adormecidas, e Fabinho as observando em silêncio. Sentou ao lado dele, atraindo sua atenção. Deu a mão para ele, os dois se confortando mutuamente, começando uma das esperas mais longas de suas vidas.

~*~

Cerca de uma hora e pouco depois, o médico apareceu. O casal levantou de um pulo, suspirando aliviado pela expressão do médico.

_ Ocorreu tudo bem, tranquilamente. – explicou o cirurgião, e Fabinho abraçou Giane, os dois não conseguindo esconder o alívio – Teremos que tomar alguns cuidados pós-operatórios, mas nada alarmante.

_ E nós podemos ver ele? – perguntou Fabinho.

_ Ele está no quarto, dormindo. Vai ficar assim um tempo ainda. – os dois concordaram – Vocês podem ficar os dois, se quiserem. As meninas estão onde?

_ Meu pai veio buscá-las. – explicou Giane, e o médico assentiu.

_ Bom, podem ir para o quarto do Miguel. É o mesmo de antes. Qualquer coisa, é só chamar. – o casal assentiu, caminhando para o local conhecido.

Entraram, encontrando o filho adormecido. A mãe praticamente correu até ele, enquanto Fabinho ria. Ela beijou o rostinho do garoto, que piscou um pouco grogue. Ele sorriu para a mãe, que sorriu de volta, e logo voltou a dormir.

_ Vem, senta aqui. – Fabinho sentou no sofazinho, chamando a esposa. Ela foi até ele, sentando ao seu lado e se aninhando a ele – Você conseguiu não surtar. Parabéns por isso pivete.

_ Eu só consegui porque você estava aqui. – ela garantiu, apertando a mão dele – Você me ensinou que eu não preciso ser forte sozinha, lembra?

_ E você aprendeu direitinho, to mais orgulhoso ainda. – ele riu, beijando a cabeça dela. A mulher bocejou – Pode descansar, eu fico de olho nele.

_ Não precisa. – ela garantiu – Eu te faço companhia.

_ Eu vou adorar.

Nenhum dos dois quis conversar. Apenas ficaram ali, observando o filho, e sentindo a presença um do outro.