Aprendendo a Recomeçar

Flerte, café e... Ciúmes?


“Minha cabeça diz que já se foi

Mas meu coração me diz que não

Ainda há um elo entre nós dois

Tentar te esquecer vai ser em vão

O tempo é o remédio pra curar

A dor de se perder um grande amor

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Mas nada é capaz de apagar

As lembranças que você deixou”

Invasões — Jorge e Mateus.

O estereótipo de patricinha diz que nós sempre acordamos tarde e por consequência odiamos manhãs, mas comigo isso não é verdade. Eu sempre acordei cedo, a vida toda e, mesmo depois de me mudar ainda continuei acordando, amo manhãs, ver o sol nascer no horizonte enquanto tomo uma xícara de café, mas hoje particularmente eu estava odiando. Tinha me recusado a sair de casa desde ontem, nem jantar eu quis, só me entoquei aqui no quarto arquitetando um plano de fuga que pudesse funcionar e não me deixasse desempregada ou pobre.

Mas a verdade era que eu não podia mais fingir que não tinha chegado, que não estava aqui e que não tinha uma festa beneficente para organizar. Principalmente depois de passar a noite em claro pensando nos prós e contras de talvez sei lá, atear fogo em Theo para garantir que ele não me irritaria mais nem se aproximaria mais de mim.

- Vamos lá, Cordélia, você nunca fugiu de nada na vida! Vai começar agora? – perguntei ao meu reflexo descabelado no espelho e por um instante pareceu que ele diria “Sim, vou começar agora”.

Antes de eu começar a quebrar a cabeça com esses devaneios que não levariam a nada resolvi ir tomar banho e descer e enfrentar o que quer que me esperasse lá em baixo. Peguei minhas roupas e a tolha e fui para o banheiro do corredor, isso era uma droga, mas o único quarto com banheiro era a suíte no fim do corredor que meus pais usavam quando ainda morávamos aqui.

Era uma droga ter que me vestir enquanto tentava não molhar a roupa no banheiro molhado. Assim que terminei coloquei só a cabeça pra fora, para me certificar que não havia ninguém no corredor, me recusava a deixar esses caipiras me verem sem maquiagem. Corri para o quarto e ajeitei os cabelos, eles estavam curtos o suficiente para não ter o que fazer com eles além de penteá-los, toquei as pontas e olhei para o meu reflexo no espelho, aqui, com esse quarto como cenário, eu senti ainda mais falta dos meus cachos compridos. Balancei a cabeça para me livrar desses pensamentos e sorri começando a maquiar, eu estou melhor assim, disse a mim mesma tentando me convencer. Essa sou eu.

Meia hora depois, terminei e calcei um dos muitos saltos que eu tinha trazido, esse seria um longo dia e eu o enfrentaria de cabeça erguida, maquiagem e saltos, nada menos para Cordélia Albuquerque.

Desci as escadas e ouvi o burburinho que vinham da cozinha junto com o cheiro maravilhoso de bolo e café fresco. Segui até lá e para o meu completo desespero, Theo foi a primeira pessoa que notei, com seus olhos azuis e braços fortes tomando uma xícara de café fumegante. Haviam outras pessoas também e a roceira mal vestida de ontem era uma delas, assim como tia Beth e um moreno de olhos escuros que eu não conhecia, mas tinha interesse em conhecer, lindo desse jeito, pode ser quem for que tenho interesse.

- Bom dia, princesa. Achei que não sairia do quarto outra vez – Theo disse e o olhei feio.

- Não me chame assim – rosnei passando direto por ele e indo me sentar do outro lado da mesa ao lado do moreno desconhecido, assim que fiz isso a roceira mal vestida me olhou feio, não entendi, mas se isso a estava irritando sorri, nada como irritar alguém pela manhã.

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- Acordou grossa como sempre – Theo ignorou meu comentário e sorriu. E merda! Precisava ter um sorriso desses? – Dormiu bem, Lilly? – ele perguntou e estava claramente tirando uma com a minha cara.

- Já disse pra não me chamar assim! É Cordélia! E eu dormi muito bem, não está vendo meu bom-humor?

Theo abriu a boca para responder, mas tia Beth foi mais rápida.

- Crianças, por favor – pediu exatamente do mesmo jeito que fazia quando éramos pequenos. – Comam primeiro e discutam depois. Dormiu mesmo bem, Cordélia?

- Sim – menti descaradamente. Eu não havia pregado os olhos. – Agora posso tomar café?

- Claro. Puro e com açúcar? – ela perguntou e fiz que sim um pouco surpresa dela ainda se lembrar disso.

- Aqui - me estende a xícara e tomo tranquilamente vendo os olhos curiosos da garota sobre mim. – Ah! – tia Beth exclama sorrindo. – Eu não apresentei vocês. Lilly, essa aqui é a Alice minha sobrinha que veio morar conosco há alguns anos. Alice, essa é a Cordélia, filha do senhor Ricardo. E aquele ali é o Hugo – apontou para o moreno ao meu lado sorri para ele. – Amigo do Theo e engenheiro agrônomo da fazenda.

- É um prazer – Hugo sorri pegando minha mão e posso sentir os olhos de todos sobre nós e é só por isso que respondo.

- Acredite, o prazer é meu.

- Hugo, vamos! – a frase de Theo é quase um rosnado e lhe dou um sorriso apenas para irritá-lo um pouco mais. A garota ao seu lado, Alice, parece querer me fulminar com o olhar. A encaro de volta bebericando meu café como quem não quer nada, ela pode vir, afinal, só estou procurando alguém para despejar minha raiva.

- Cara ainda não terminei de comer – Hugo reclama e Theo o olha feio, ele suspira pega outra fatia de bolo e dá um aceno de despedida antes de ser escoltado para fora por Theo.

- Meninas, podem comer com calma, tem mais bolo e pão aqui para vocês.

Tia Beth está mexendo em alguma coisa no fogão de costas para a mesa e eu e Alice estamos comendo em silêncio, um desconfortável e irritante, eu não gosto dela nem ela de mim a julgar pelo jeito como me olha, por isso só quero terminar de comer e poder sair daqui, talvez eu vá atrás de Hugo só para ver Theo morrendo de raiva. Ou ele me odiava a ponto de não querer o amigo ao meu lado, ou ainda tinha ciúmes de mim, eu gostava de acreditar que era a primeira opção.

- Está me ouvindo, Lilly? – minha tia me chama e pisco a encarando me dando conta de que estava olhando para a porta por onde eles saíram.

- Tia?

- Eu não sei muito bem por que você veio depois de tanto tempo, mas seu pai me disse que ficaria até o fim do mês e organizaria a festa beneficente da fazenda – ela começa e assinto sentindo a raiva borbulhar dentro de mim. Tinha mesmo necessidade disso tudo, papai? – Ele me pediu para acompanhá-la, mas como cuido da casa e dos empregados, Alice, vai digamos... Auxiliá-la enquanto estiver por aqui.

- É o que? Papai contratou uma babá, anã e mal vestida para ficar de olho em mim? Isso só pode ser brincadeira! – exclamo e vejo a garota ao meu lado ficar roxa de raiva.

- Anã e mal vestida!? – ela rosna. – Pois saiba que eu estou odiando essa situação tanto quanto você, talvez mais, afinal, sou eu quem tem que tomar conta da patricinha sem noção.

- Patricinha sem noção? – pergunto chegando ao limite. – Repete!

- Pa...

- Alice! – tia Beth a interrompe e nós nos olhamos feio. – E você também, Cordélia! Chega as duas. Não vejo motivo para essa discussão, achei até que poderiam ser amigas.

- Amigas? – perguntamos juntas. – Sem chance.

- Não tenho nada a ver com esse acordo sem noção que vocês fizeram com o meu pai. Vou dar uma volta, já que estou presa nesse maldito lugar – anuncio deixando a caneca sobre a mesa e saindo pela mesma porta em que os meninos saíram antes sem esperar por uma resposta.

Saio pela porta da cozinha sentindo o cheiro de flores e terra molhada que eu tanto gostava. Eu podia dizer o que fosse e negar até o último fio de cabelo, mas a verdade é que eu não havia esquecido coisa nenhuma, por que na primeira oportunidade, dez anos depois eu ainda me lembro de cada pequeno momento que passei aqui, com e sem Theo, só vivendo, sendo feliz e sonhando com um futuro que na época parecia há poucos passos de distância.

- Uma babá – resmunguei para mim mesma só para a irritação voltar e a tristeza ir. – Meu pai acha que tenho quantos anos?

Tropeço em uma pedra com meus saltos e só não caio por muito pouco. Não tenho ideia de para onde estou indo até avistar o estábulo. Eu paro no meio do caminho e encaro a construção de madeira que está exatamente como eu me lembrava mais adiante. Ele está lá, sei que Theo está lá por que cavalos sempre foram sua paixão, ele era apaixonado por animais no geral, mas cavalos, esses sempre tiveram um lugar especial em seu coração.

Estou prestes a dar meia volta e ir para qualquer outro lugar quando alguém me acena da cerca. É Hugo, risonho e divertido, Theo não está à vista, mas sei que ele está lá. Eu posso muito bem dar a volta e fingir que não vi certo? Errado. Theo não me afeta mais, e não sei a quem estou tentando provar isso, a mim ou a ele, quando começo a andar em direção ao estábulo.

Alcanço a cerca onde Hugo está sem maiores acidentes e ele me dá um aceno de cabeça.

- Quando a vi mais cedo não me pareceu que você era do tipo que se aventurava por aí – ele diz claramente jogando charme e descido entrar na brincadeira.

- Talvez eu seja exatamente esse tipo.

- Uma garota da cidade no interior, se me permite perguntar, que veio fazer aqui?

- Cumprir minha pena. Não estou exatamente de férias.

- Entendo – ele diz, mesmo que pareça não ter ideia do que eu estou falando. – Então que tal eu te mostrar o lugar?

- Ela não precisa – uma voz que não fazia parte da conversa até então responde. Theo parece olhando feio para o amigo. – Lilly nasceu e morou aqui até a adolescência. Acho que ainda se lembra de onde está cada coisa.

- Isso quem decide sou eu – respondo. – Se eu quiser aceitar a oferta de Hugo, vou aceitar. Você não devia estar sei lá, costurando uma vaca ao invés de cuidando da minha vida?

- Eu posso muito bem fazer os dois – ele responde sorrindo e quero socá-lo por me fazer querer beijá-lo.

- Idiota! – rosno e me viro para Hugo. – Aceito a oferta, é só me dizer quando.

- Eu vou dizer.

- Hugo... – a voz de Theo é claramente uma ameaça e tenho que conter um grunhido. É impressão minha ou nem me divertir eu vou poder aqui sem esse idiota estar na minha cola?

- Finalmente te achei, patricinha – Alice nos alcança ofegante, mas se recompõe no instante em nota os meninos a nossa frente, ela os olha e cora, seus olhos passam por Hugo e se fixam em Theo. Será que eles têm alguma coisa? Essa caipira magricela, por acaso é alguma coisa do meu cowboy? A ideia me faz querer sumir dali e depois me bater por me importar com isso.

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- Vamos, Lice, você estava procurando pela Cordélia? – Theo pergunta e a garota faz uma careta diante do apelido, mas está sorrindo. Depois arregala os olhos parecendo se lembrar de alguma coisa e se vira para mim.

- Assim que você saiu se pai ligou. Ele disse que tentou seu celular, mas você já deve ter percebido que eles não têm sinal aqui. A estrada é o mais longe que o sinal alcança.

- Um verdadeiro fim de mundo – resmungo. – O que o meu pai queria?

- Como eu vou saber? Não sou secretária, disse a ele que não estava e ele disse que ligaria mais tarde. Só perguntou se estávamos nos dando bem. Disse que já éramos melhores amigas – Alice respondeu ironicamente.

- Aparentemente você e meu pai vão ser dar muito bem, ambos adoram dizer coisas em meu nome. Agora vou lá ver o que ele quer. Hugo, vou esperar pelo convite, e Theo, o que eu faço ou deixo de fazer não é mais da sua conta.

E dito isso me virei de volta para casa e recomecei a marchar em sua direção, com uma Alice aparentemente muito irritada atrás de mim. Isso foi o suficiente para me fazer sorrir, sua irritação era um bônus, principalmente se ela estava com Theo.

Que Deus me desse paciência para aguentar os próximos dias, por que se me desse forças, eu provavelmente mataria alguém.