Apenas uma garota...

Capítulo 41 - Preterição


Eu caminhava pela Rua Seymour, me sentindo culpada por faltar aula e tentando me convencer de que a minha habilidade iria funcionar. Minha ideia era encontrar David Lancaster indo para o trabalho e tentar conversar com ele. Depois de muito insistir com Elizabeth, ela me recomendou ir até ali naquela hora, às 8:50 a.m. Será que eu o encontraria? Será que daria certo e eu o convenceria de que Jaden estava mais próximo do que ele imaginava? Era um tiro no escuro.

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Certeza de que é por aqui, Elizabeth?”, indaguei, me sentindo meio idiota em fazer aquilo.

Não seja tão incrédula, confie. Continue andando”. Era tão fácil falar...

Quando cheguei em uma esquina, ela pediu:

Concentre-se. Queira ver.

Por que sempre em esquinas?”, questionei. “Da vez que salvei Carter foi em uma esquina também”.

Não qualquer esquina. Esquinas com quatro ou mais caminhos diferentes e que não sejam sem saída. Não é uma obrigatoriedade, apenas fica mais fácil. Só se concentre, depois explico melhor”.

Olhei para as três direções. Me concentrar? Era fácil falar. As pessoas caminhavam e esbarravam em mim de quando em quando, algum carro buzinava, podia escutar os freios dos carros parando no sinal. Vez ou outra, alguém sem muito bom senso caminhava falando um pouco alto demais no celular. Uma mulher parou na minha diagonal direita frontal com um cappuccino na mão, bebendo distraidamente. Como me concentrar com tanta coisa acontecendo ao redor?

E então, aconteceu. Tudo ficou devagar e imediato, preciso e amplo. A mulher do cappuccino estava indo trabalhar e tinha a chance de perder a sua bebida, o homem falando alto demais estava com problemas com a esposa, uma mulher que esbarrara em mim estava deprimida. As pessoas caminhavam e deixavam rastros de possibilidades atrás delas e era bizarro que eu conseguisse vê-las daquele jeito.

Mais bizarro ainda era ver o ritmo da sua caminhada: lento ao invés da pressa tresloucada e impaciente de outrora. Suas vidas eram repletas de caminhos diferentes, mas elas só olhavam para frente como se suas visões periféricas tivessem sido perdidas, como se aquele fosse o único caminho possível, o caminho que não levava a nada que não fosse um ciclo tedioso e interminável de trabalhar para ir para casa para trabalhar para ganhar dinheiro para ir para casa e um dia morrer, um caminho que não levava a lugar nenhum. Quantas possibilidades desperdiçadas.

Olhei para o meu lado esquerdo e vi David Lancaster só em seu carro através do vidro preto. O sinal passou do amarelo para o vermelho do seu lado da rua, mas ele já estava parado. Precaução, algo havia acontecido. Um... acidente? Vi seu trajeto: ele iria estacionar na quadra seguinte. De súbito, tudo voltou ao normal: o sinal abriu, o homem esbarrou na mulher do cappuccino e o líquido caiu pelo chão, as pessoas voltaram ao seu caminhar apressado a lugar nenhum.

Procurei ignorar a pulsação na cabeça e fui ao estacionamento. Não foi difícil encontrar o veículo, era um dos poucos SUV que tinha e David Lancaster saiu do carro. Ele estava um pouco diferente do que eu via nos meus sonhos: a expressão mais cansada, discretos fios grisalhos nas laterais. Porém não tinha problema, eu reconheceria aquele homem em qualquer lugar. Ele me lembrava Jaden: tinha a mesma mandíbula, o mesmo nariz, as expressões eram semelhantes. Por um momento, perdi o fôlego. Senti meu coração bater rapidamente e minhas mãos suavam. Meu Deus, aquilo era tão palpável que era surreal. Tomei coragem não sei de onde e me aproximei:

― Mr. Lancaster?

Ele olhou para mim, curioso e um pouco receoso:

― Sim?

― Meu nome é Shelly, sou estudante da King David High School e gostaria de fazer algumas perguntas sobre a sua empresa para um trabalho de química. Pode ser agora, preciso marcar algum horário...?

Ele sorriu, parecendo estranhar. Hostie, o sorriso era igual.

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― Você poderia ter ligado para a empresa.

Acho que minhas bochechas ficaram vermelhas:

― É verdade, desculpa, mas vi o senhor tão acessível que não resisti.

Ele olhou o relógio:

― Tenho trinta minutos, depois disto, estarei em uma reunião. Pode me acompanhar, se quiser adiantar algo.

Tirei meu caderno da bolsa e perguntei mentalmente a Elizabeth:

"Sobre o que eu pergunto?"

"Sobre os fármacos e sobre a inovação dos perfumes, os Lancaster são tradicionais com os fármacos naturais".

― Há quanto tempo sua empresa produz fármacos?

Ele sorriu gentilmente:

― A empresa não é minha, é da minha família por gerações.

Ele discorreu sobre os Lancaster muito brevemente: como seus antepassados, com a ajuda dos cherokees, desenvolveram nos EUA medicamentos com base em ervas, passando pela penicilina, todo um contexto histórico social. Ele parava de quando em quando para cumprimentar as pessoas no caminho do prédio: o porteiro, o segurança, o cara no elevador.

― Que responsabilidade ― comentei. Notei que ele mancava e que usava uma bengala para se apoiar: ― Acidente?

― De carro. Tem dois anos, tive que fazer algumas cirurgias.

― Entendo.

Saímos do elevador e um homem se aproximou e informou algo sobre dados econômicos, reuniões, almoço com...

― Estou ocupado agora, Henry. Chamarei você daqui a vinte e cinco minutos, creio eu. Certo, jovem senhorita?

Sorri amigavelmente. Chegamos à sala dele. Era decorada com simplicidade e discrição. Algumas fotos nas paredes e flores em um vaso perto da ampla janela de vidro deixavam o ambiente mais receptivo.

― Você me lembra alguém. ― ele comentou. ― Qual é o seu nome?

― Shelly. Shelly Revenry.

"Merda". Acho que essa foi uma das poucas vezes que ouvi Elizabeth xingar. Mr. Lancaster me olhou com desconfiança pela primeira vez:

― Você é parente de Mary Ann Revenry?

― Ela é minha mãe. O senhor a conhece?

― Ela lhe mandou aqui? ― o mesmo ar desconfiado.

― Não. — Acho que não preciso dizer o quanto fiquei confusa. — Vocês se conhecem?

O homem suspirou.

― Você não sabe de nada, não é?

― Eu deveria saber alguma coisa?

― Sua mãe foi secretária do meu pai. ― ele respondeu como se explicasse tudo.

― Sério? — Que mundo pequeno era aquele?

― Ela nunca falou nada sobre isso?

― Não. — Como assim minha mãe conhecia os Lancaster?

― Certo, isso é tudo o que você precisa saber. Vamos voltar às perguntas, são bastante inteligentes.

Inventei algumas perguntas sobre química e não pude deixar de pensar que Jaden as faria melhor que eu, especialmente por causa do assunto, que eu detestava. Acho que nunca copiei tanto em tão pouco tempo. O pior: realmente tinha um trabalho de química em que tínhamos que entrevistar algum farmacêutico ou algo do tipo. E lá estava eu, entrevistando o dono de uma empresa poderosíssima e que era o pai do meu melhor amigo. Mais louco impossível. Fui aos perfumes, mas ele logo informou:

― A questão dos perfumes é com a minha irmã. Ela retomou a produção de perfumes depois de muito tempo parado.

― O senhor tem uma irmã? — Sério, eu sonhava com aquela família direto e não sabia daquilo?

― Ela é um pouco distante, ficou nos EUA, nos falamos ocasionalmente. — ah, entendi. Ela é distante, então.

― O senhor se incomoda em responder algumas perguntas pessoais? O professor pediu informações sobre o entrevistado.

― Não é a minha parte favorita...

― E nem a minha. ― concordei.

― Mas posso.

― Quantos anos?

― 48.

Em alguns momentos, ele parecia oito anos mais novo e, em outros, cinco anos mais velho.

― Pelo visto, é casado ― constatei ao notar sua aliança.

― Temos uma Shellock Holmes aqui? ― Tive que rir. Deus, que senso de humor torto. ― Mas sim, casado.

― Filhos?

― Trê... dois.

― São três ou dois?

Ele hesitou.

― Tive três, mas o meu primogênito desapareceu aos quatro anos.

― Sinto muito. O senhor deve sentir falta dele, não? ― Ele franziu o cenho e os lábios, claramente incomodado. ― Peço desculpas. Creio que seja um assunto delicado.

― Sem dúvida.

― Qual a idade dos outros dois?

― 15 e 6.

― O senhor acreditaria se eu lhe dissesse que encontrei o seu filho?

David Lancaster olhou sério para mim e pareceu profundamente irritado ao afirmar:

― Você foi mandada por sua mãe, não foi?

― O quê? Não, eu...

― Não existe nenhum trabalho de química.

― É claro que tem, eu posso mostrar...

― Claro, depois de tanto tempo, ela tinha que me pregar uma peça.

― Mr. Lancaster, minha mãe não tem nada a ver com...

― Você não é a primeira pessoa que vem me dizer isso e não será a última, mas ouça bem: você não vai me empurrar qualquer garoto como se fosse meu filho e nem vai tirar dinheiro algum de mim.

A raiva implodiu dentro de mim:

― O senhor pode nadar, beber e comer seu dinheiro, porque ele é a última coisa que eu quero!

― Não me venha com esse discurso falso e hipócrita de...

― Pelo amor de Deus, eu conheço Jaden! É tão difícil acreditar?

― Você pesquisou sobre a minha família e está jogando sujo! ― Ele suspirou, irritado. ― Eu não sou obrigado a ouvir isso. Por favor, retire-se.

― Por favor, Mr. Lancaster, me escute...

― Se você não sair por bem, Miss Revenry, terei que chamar a segurança.

Bati o pé no chão, frustrada.

― É por isso que Angel e você brigam tanto, porque você nunca quer ouvir ― percebi, sentindo a dor da descrença nos meus ombros e as lágrimas se acumularem nos meus olhos. Andei em direção a porta e quando olhei para Mr. Lancaster, ele estava voltado para a janela. Aquilo inflou a minha raiva: ― Você pode não acreditar e não querer, mas eu não vou descansar até devolver o equilíbrio a você e a sua família. Passar bem.

Bati a porta e notei que as secretárias olhavam para mim. Olhei feio para elas e todas voltaram a trabalhar. Fui ao elevador e me senti tão frustrada que quase chorei, mas me contive.

Só a fins de informação, tinha muitas chances disso acontecer. Ele está muito incrédulo e acha que nunca mais vai encontrar o filho, tanto que cancelou as investigações de busca há quase cinco anos”.

Que homem horrível! Argh!

Talvez não seja você que tenha que resolver isso”.

E quem mais seria?” Esperei por uma resposta que não veio.

Saí do prédio e caminhei sem rumo pelas ruas, sem acreditar que aquele homem era tão fechado. Depois, voltei para casa e senti meu telefone vibrar: Jaden.

Shelly?

― Oi, anjo xingador. — senti a minha fisionomia perder um pouco de tensão.

Por que você não foi para a aula hoje? — ele pareceu preocupado.

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― Fui para uma consulta — menti.

Asma?

― É, mas está normal. Como foi a aula?

Ele resumiu a manhã:

Normal, o de sempre. — Seu tom de voz estava estranho.

― Tá tudo bem?

Não muito, mas nada preocupante. Vou ficar bem.

― Qualquer coisa vem dormir aqui.

Ok. Tenho que desligar agora, cheguei no Mr. Wang. A gente se fala depois, ok?

― Até mais, então.

Desliguei e deitei no sofá, sentindo a cabeça doer. Que manhã péssima. Fechei os olhos na esperança da dor passar, acabei dormindo.

Sonhei com dois homens conversando em um escritório. Reconheci David Lancaster e o outro não soube dizer quem era, mas não era o sequestrador. Ambos tinham uma taça de vinho pela metade na sua frente. Era um momento recente, pois David já estava com os cabelos grisalhos.

“Descendentes dos Lancaster originais”, Tommy me dissera. Se eles eram isso de verdade, David Lancaster provavelmente era o líder daquele clã, então eu conseguia entender porque aquele homem parecia carregar o peso do mundo nos ombros.

— O que achou do rapaz, Donald? — Mr. Lancaster indagou, sentado confortavelmente em uma poltrona.

— Abalado, porém firme. Muita presença de espírito, apesar das circunstâncias. Tommy fez bem em ajudá-lo, ele parecia perdido quanto aos meios de conseguir o que queria.

Lembrei do que Jaden havia me dito: Tommy havia chamado um advogado dos Lancaster para cuidar da sua emancipação.

— Que era ficar em Vancouver e ser independente legalmente.

— Exato.

Depois de bebericar seu vinho um pouco mais, David lembrou:

— Tommy comentou que ele trabalha em um mercado.

— Sim, e alugou um apartamento em Chinatown, do mesmo dono do mercado, antes dos pais adotivos falecerem. É um cara esforçado, tem muita garra e é bem inteligente.

— O nome dele é Jaden, não é? — A curiosidade de David era sutil, mas existente.

— Sim. Jaden Pendlebury. Posso entender porque Tommy quis ajudá-lo. Além do mesmo nome, o garoto parece absurdamente com você.

David ergueu as sobrancelhas:

— Donald, pare por aqui.

— Ah, Dave, você sabe que não sou dado a essas coisas, mas vocês têm a mesma ruga na testa quando ficam confusos, o mesmo sorriso sarcástico, o mesmo queixo. Ele foi adotado, pode perfeitamente...

David Lancaster se levantou, entrelaçou os dedos na nuca e ergueu a cabeça, em um gesto incomodamente familiar.

— Don, você sabe que parei com as buscas por uma razão. — Sua voz demonstrava um cansaço de anos.

— Eu sei, mas ele tem os mesmos cabelos e olhos de Angel, seu maxilar...

David suspirou e olhou seriamente o homem à sua frente:

— Don.

Donald suspirou também, parecendo inconformado.

— Tudo bem, Dave, não vou insistir. Ainda estou com a ficha dele, se quiser. — O homem jogou um papel na mesa do Lancaster, que fingiu não notar aquele gesto. — Falarei com Ellie e Carter antes de ir.

Ele engoliu o restante do seu vinho e comentou:

— Ótima escolha. Obrigado pelo vinho e pelo pagamento. Eu não cobraria se não tivesse que pagar aos meus assistentes, o cara vai ser um bom homem daqui a uns anos. — ele dirigiu-se à porta, mas quando pôs a mão na maçaneta, argumentou olhando para o dono do escritório: — Dave, somos como irmãos, conheço você desde que me entendo por gente, nossos pais eram irmãos muito unidos. Eu não levantaria uma questão importante dessas se fosse para trazer um sofrimento desnecessário. Pense nisso.

Donald saiu da sala e assim que ele fechou a porta, David olhou o papel, onde havia uma foto três por quatro de Jaden e alguns dados básicos. Ele pegou a folha A4 e a examinou com olhos curiosos e duvidosos, com a dúvida lentamente os invadindo, mas depois os largou. Sentou-se e limitou-se a beber vinho.

O sonho mudou.

De repente, eu estava em um parque de diversões bem movimentado, embora estivesse um pouco frio. Vi Thomas segurando a mão de um menininho loiro bem familiar. Que dia bonito.

― Tommy, vamos na roda gigante! ― Jaden pediu, o sorriso encantador e fofo, os cabelos loiros esvoaçantes no vento.

― O que você quiser, criança.

Eles chegaram à fila da roda gigante e Thomas colocou o garotinho no braço.

— Quem fará aniversário amanhã? — o mais velho perguntou.

— Eu! — a alegria de Jaden era contagiante. — Você vai me dar o quê?

— Ah, é surpresa. Você vai saber amanhã.

— Podia ser hoje! Vai, Tommy, me diz! — que voz fofa, meu Deus.

— É segredo.

— Aaah. — Jaden fez uma expressão de chateação que durou até eles entrarem em uma das cabines da roda gigante. — É tão lindo!

— Verdade, criança.

A tarde ia caindo lentamente, resfriada e fresca. Alguns poucos pássaros voavam, fazendo seu espetáculo crepuscular. Algumas nuvens ao longe prenunciavam chuva.

— Por que papai e mamãe não vieram? — Inteligente.

— Eles estavam ocupados por causa da festa, mas depois de amanhã eles virão com você para o parque. — Tommy acabou me esclarecendo. Jaden, em sua memória volátil de criança, esqueceu-se temporariamente dos pais e voltou sua atenção para a festa:

— Vai ter bolo?

— E pipoca, doces...

— Eba! Tia Emmy vai vir?

— Sim, tio Donald também...

— Sua filha vai poder vir?

Uma sombra escura pairou no rosto de Thomas:

— Não, ela não poderá vir.

— Aaaah — Jaden fez uma expressão triste. — Por quê?

— O marido dela não dei... não pode vir e ela também não.

— Você leva bolo para eles depois?

— Levo.

Jaden deu-se por satisfeito. Desceram da roda gigante e o menino viu algo que o encantou:

― Carrossel, Tommy, carrossel!

A mãozinha de Jaden se desprendeu da mão de Tommy.

― Ei, Jaden, volte! Espere! Não solte minha mão assim!

Tiros foram ouvidos. Thomas voltou-se na direção dos tiros e viu que tinha dois homens mascarados e de preto que corriam em sua direção. O ameríndio correu na direção que Jaden tinha ido. O menininho havia se escondido embaixo de uma mesa coberta e chorava. Então, vi uma menininha de cabelos tão pretos quanto os meus e de olhos brincalhões azuis aproximar-se dele. Ela era estranhamente familiar, por mais que eu nunca a tenha visto. Seu vestido bege bordado era bonito. Ela o chamou:

― Vem! Vamos brincar!

Jaden a seguiu, voltando a sorrir, mas parou ao ouvir novos tiros.

― Não tenha medo, vem! A gente se esconde deles, conheço um esconderijo. Vem comigo!

Fui arrastada por alguma força desconhecida para perto de Tommy. Ele se protegia dos tiros e atirava também com uma pistola. Acertou a perna de um e o braço de outro, mas eles fugiram. Thomas notou a fuga e se levantou ao ver que a polícia estava chegando.

Começaram a procurar Jaden e vi o desespero de Tommy:

— Ele estava do meu lado e só soltou a minha mão uma única vez!

Fui arrastada novamente para perto de Jaden, que havia seguido a menininha até a saída do parque e que continuava a chama-lo. Ele corria atrás dela:

― Ei, onde você vai? Me espere!

Depois de dobrar duas esquinas e de fazer Jaden andar duas quadras, a menininha sumiu.

― Ei, onde você tá? Menininha, cadê você? Tommy? Tommy!

― Shelly.

Sentei tão rápido que bati a cabeça na testa da minha mãe.

― Ai! ― foi a expressão simultânea e coletiva.

― Meu Deus, Shelly, precisava disso? — ela perguntou, alisando a própria testa. — Tabarnak!

― Agora tudo faz sentido! Meu Deus, como eu não liguei os fatos antes?

― Você bateu a cabeça forte demais, disso eu te asseguro.

— Ok... talvez eu tenha batido a cabeça um pouco forte. Se quiser trazer gelo...

Ela foi à cozinha e, enquanto isso, peguei o meu celular — quase o deixei cair devido à desorientação — e procurei Tommy nos meus contatos. Liguei para ele e ele logo atendeu:

Alô?

— Tommy, sou eu, Shelly. Você pode se encontrar comigo agora na minha casa?

Eu estou um pouco ocupado agora. É urgente?

— Bastante.

Ouvi um suspiro e ele prometeu:

Dou um retorno daqui a cinco minutos, ok?

— Certo. Faz um esforço, é muito importante.

Despedimo-nos e minha mãe trouxe o gelo, ela também segurando uma compressa na própria testa.

— O que houve?

— Acho que descobri algo muito importante sobre os pais de Jaden. — pensei em perguntar a ela sobre David Lancaster, mas optei por não fazê-lo.

Senti meu telefone tocar:

Shelly?

— Diga, Tommy.

Não posso ir à sua casa, fica um pouco distante e eu não tenho muito tempo. Pode ser no Stanley Park às 4:30 p.m.?

— Ok. Nos encontramos lá.

Desliguei.

— O que houve, Shelly?

— Preciso conversar com Tommy.