Apenas um Sorriso

Capítulo 12 – Ações e Consequências


“Antes o vôo da ave que passa e não deixa rastro.”
Alberto Caeiro – heterônimo de Fernando Pessoa

Aquela era uma linda manhã de sábado no fim de maio. Lily acordou bem disposta e feliz. Não era cedo, o que a fez ser a última do dormitório a levantar. Saiu da Torre da Grifinória para tomar café, mas ao virar um corredor do terceiro andar, viu Tiago entrando em uma sala de aula vazia. Aproximou-se da porta para dar-lhe bom dia, porém estacou ao ouvir o que era dito lá dentro.

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—Afinal, Pontas, como vai a aposta? Já conseguiu beijar a Evans, ou não? – disse Sirius

Lílian perdeu o chão e ficou muito pálida. Já não ouvia mais nada, não via mais nada. Se perguntassem, não saberia dizer como tinha chegado a um banheiro no andar de cima. O lugar estava vazio, ainda bem.

Apoiou as mãos na pia e encarou sua imagem no espelho. Seus lábios ainda estavam um pouco esbranquiçados. Prestava atenção a sua respiração, como se isso pudesse diminuir a dor que sentia. Uma avalanche de coisas passava por sua cabeça e, ao mesmo tempo, era como se sua mente estivesse vazia, em choque…

Era por isso… Estava explicado, então.

Como ela podia ter deixado isso acontecer? Como tinha acabado acreditando…? Confiando…?

Encheu as mãos da água fria que escorria da torneira e jogou no rosto.

O que fazer agora? Qualquer tipo de escândalo estava absolutamente fora de cogitação, Lily detestava isso. Qualquer ironia, sarcasmo, ou o que fosse… ela não tinha força pra isso.

Não ia descer ao Salão Principal. Não queria encontrar com ele, muito menos na frente de uma considerável platéia. Até porque, tinha perdido completamente a fome.

… … … … … … … … … …

—Almofadinhas, esquece isso.

—Por quê? Não quer dizer que está difícil demais e você quer desistir?

—Pára de insistir.

—Pontas, que cara é essa? – e percebendo alguma coisa, o amigo acrescentou – Você gosta dela?

Pontas soltou o ar dos pulmões com peso.

—Acho que me apaixonei por ela, Almofadinhas.

—Quer acabar com a aposta, então?

—Ela já não existe pra mim faz tempo.

—Ok, mas quero deixar claro que essa foi uma das últimas coisas que pensei que fossem acontecer.

… … … … … … … … … …

Quando Tiago chegou ao Salão Comunal, encontrou-o quase vazio pela bela manhã que fazia lá fora, apesar dos exames cada vez mais próximos. Lily estava em uma mesa próxima ao quadro de avisos lendo o livro de Poções.

—Não foi tomar café hoje? – perguntou sorridente – Não a vi no Salão Principal

—Não me lembro de lhe dever satisfações. – Lily disse com um tom frio sem olhá-lo

—Não estava pedindo satisfações. – ele disse surpreso

—Que seja. – ela falou juntando alguns pergaminhos e fechando o livro

—Lily, o que aconteceu? – ele perguntou sério

—Por que acha que aconteceu alguma coisa?

—Porque é óbvio. E você não costuma dar voltas no assunto. – ele disse no mesmo tom

—Não foi nada. – falou ela se levantando e então o olhou pela primeira vez – Só tive o desprazer de passar pelo corredor de Feitiços essa manhã e ouvir uma frase desagradável da conversa de dois indivíduos… Perdoe-me, não encontro um adjetivo à altura.

Foi a vez de Tiago sentir o peso de dez bigornas no estômago.

—Quanto ouviu, Lily?

—Só a primeira frase proferida por seu querido amigo Almofadinhas.

O rapaz fechou os olhos.

—Não ouviu mais nada? – ele perguntou

—O que mais acha que eu queria ouvir? Qual tinha sido o meu preço? – disse ela indignada

—Lily, me escuta. – Tiago a segurou pelos braços

—Não. – disse taxativa – Tenha um pouco de decência e me poupe de ouvir.

—Lily, por favor. – ele pedia

—Potter, me solta.

Tiago registrou o uso de seu sobrenome. Amy, que acabara de passar pelo Retrato da Mulher Gorda, também.

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—Por favor. – ele insistiu

—Eu é que peço. Me larga.

Amy se aproximou. Conhecia Lílian bem o suficiente para ver que a amiga, apesar da expressão séria, estava a um fio de desmontar. E sabia que, fosse lá o que tivesse acontecido, ela se sentiria muito pior se alguém, especialmente esse alguém, a visse desmontar.

—Tiago, deixa ela ir. – disse calma

—Mas, Amy…

—Agora. – disse na mesma voz segura

Sem ação, Tiago soltou os braços de Lily.

A ruiva pegou seu livro e andou em direção às escadas tentando manter o que seria sua velocidade normal. Se negava a sair correndo para o dormitório, se negava a demonstrar qualquer emoção diante dele. Mas sabia que tinha de subir logo, seu autocontrole estava chegando ao fim.

No dormitório, sentada no chão de frente para Lily, Amy a escutava apreensiva.

—Amy, eu fui tão estúpida. Não acredito que confiei nele.

—O que aconteceu afinal?

—Eu descobri porque ele se aproximou de mim. – ela falou com os olhos vermelhos – Ele e Black fizeram uma aposta, de que Potter não conseguiria me beijar.

A expressão da amiga mudou. Ela certamente não esperava por isso.

—Tenho raiva de mim. Eu devia saber, não devia ter abaixado a guarda. Sou uma completa estúpida, Amy, e estou pagando por isso.

—Lily, pára. Se alguém tem de se culpar são eles e não você.

—Por que…? – disse a ruiva com a garganta fechada

—Porque eles não têm absolutamente nada que preste na cabeça. – Amy falou inconformada – Não acredito que fizeram isso com você. – disse a abraçando e afagando os cabelos da amiga enquanto Lily chorava

Amy não encontrava palavras para sua indignação. Tinha sido tão difícil a ruiva deixar toda a história de seu namoro com Willian para trás e agora isso…

… … … … … … … … … …

Pouco depois, Sirius entrou no Salão Comunal e encontrou Tiago sentado em uma poltrona em frente à lareira abaixado e com as mãos sobre a nuca.

—Pontas, - ele estranhou – o que aconteceu?

Tiago expirou com peso e levantou a cabeça.

—Ela descobriu, Almofadinhas. Lílian ouviu nossa conversa hoje.

—E daí? Se ela ouviu a conversa, também ouviu que você gosta dela.

—Não, - ele disse desanimado – ela só ouviu a primeira parte.

—Hum, e porque você não contou a segunda parte pra ela?

—Eu tentei, ela não quis ouvir. E acho que mesmo que escute, não vai acreditar em mim.

—Você realmente gosta dela. – Sirius disse

—Mais do que eu posso dizer. – Tiago falou triste

… … … … … … … … … …

—Lily, quer que eu peça aos elfos para trazerem alguma coisa pra você almoçar?

—Não. – disse a ruiva passando as mãos pelo rosto enxugando as lágrimas e se levantando – Eu vou para o Salão Principal. – falou apontando a varinha para os olhos em frente ao espelho

—O que é isso? – Amy foi ao seu lado

—Um feitiço para tirar olhos inchados, olheiras e afins. Ninguém vai me ver chorando pelos cantos, abatida e humilhada.

—Lily…

—Eu fui ingênua e aprendi a lição, mas vou ficar de pé. Só quero tomar um banho antes de descer. – disse pegando uma toalha e entrando no banheiro

Amy aproveitou para descer ao Salão Comunal e encontrou os dois rapazes ainda conversando em frente à lareira.

—Eu não acredito que fizeram isso. – falou aos dois

—Ela está brava?

—Potter, - ela frisou o sobrenome – se ela estivesse só brava seria sorte demais, até pra você.

—Também não foi tanta coisa assim. – fez Sirius

—Você pensa que sabe muita coisa, mas você não sabe nada. Ela não está a venda. – fez Amy – Ao contrário de vocês dois, pelo visto.

—Amy, ninguém disse nada sobre estar à venda. – Sirius retrucou

—Ah, não? Propor e aceitar uma aposta dessa? – ela dirigiu-se a Sirius e, em seguida, a Tiago. – Foi o quê? Prova irrefutável de caráter?

—Amy, eu realmente sinto muito. – falou Tiago – Se eu pudesse voltar atrás…

—Não pode. E é exatamente essa uma das razões porque você deveria pensar antes de fazer. Mal posso esperar para o ano letivo acabar para ela não precisar mais olhar para sua cara.

Tiago chegou a abrir a boca, mas não conseguiu dizer nada. Diante disso, Amy virou as costas e tornou a subir para o dormitório.

Almofadinhas virou-se para falar qualquer coisa de desculpável ou ânimo a Pontas. O amigo, porém, apenas levantou a mão brevemente em um pedido mudo de silêncio.

Contudo, no momento em que a moça saía, Remo descia as escadas do dormitório masculino.

—Por que Amy está tão brava? – ele perguntou ao se aproximar dos amigos

Mais uma vez, Tiago expirou com peso.

—Você vai acabar sabendo de qualquer jeito…

… … … … … … … … … …

O almoço se seguiu sem incidentes entre os setimanistas da Grifinória. Remo ficou com Mila à mesa da Corvinal. Alice, Amy e Lily preferiram um canto afastado da mesa da Grifinória, onde conversaram muito baixo. Os outros três Marotos ficaram no meio da mesa sem falar muito. Tiago remexia seu prato sem fome.

À tarde, Lily foi convencida pelas amigas a ir para os Jardins. Lá, as três ficaram sob a copa de uma árvore perto do lago. Mila chegou pouco depois.

—Será que até Remo? – Lily comentou

—Não, Lily. – Mila respondeu – Remo não sabia dessa aposta estúpida.

—Ele disse isso a você? – ela perguntou

—Disse, mas não é só. Ele discutiu com Tiago e Sirius por causa disso. Estão quase sem se falar. Parece que Pedro também não sabia. Se bem que ele não faz muita diferença.

—Mesmo porque, - fez Lice – Pedro apóia qualquer coisa que os outros dois façam.

—Lily, você está mais brava ou chateada?

—Não sei, Mila. – ela respondeu com os olhos nas pequenas ondas feitas pela Lula Gigante no lago – Não acho que esteja só brava e chateada.

Lílian não conseguia dizer a palavra, mas estava, entre outras coisas, decepcionada. Era difícil admitir, porque lembrava o quanto confiara nele, e isso a corroia.

Ela inclinou a cabeça para trás juntando o cabelo na mão, enrolando-o e prendendo-o com uma piranha.

—Lily…

—O dia está muito quente, Amy. – ela respondeu