No dia seguinte...

P.O.V Do Beck

Jade e eu combinamos de levar meus avós ao Bingo, era sábado e eu pensei que poderia ser divertido. Em Calgary, aos finais de semana ocorriam Bingos beneficentes para arrecadar fundos para a caridade, o povo da cidade era solidário, e principalmente aos sábados, os idosos se reuniam para ir ao Bingo, apesar de ser feito para todas as idades, geralmente os netos acompanhavam os avós. Convidei a West e ela topou, Ben e Rayne já tinham compromissos para aquela tarde.

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O Bingo começava às 17h e terminava às 20h. E claro, fui mais cedo para comprar as cartelas, comprei 8. Custavam 5 pratas. Dei duas para Jade, duas para o meu avô, duas para a vovó e fiquei com duas.

— Como estou? Estou apresentável para ir ao Bingo? - A morena apareceu na sala, onde a aguardávamos.

— Está linda. Linda como sempre. - Fui até ela, a girei e lhe dei um selinho.

Mamãe bateu palmas, a elogiando. Olhei para o meu pai que sorria, Rayne assoviou com o bebê no colo, as crianças estavam na sala brincando com a gata da família, e meu cunhado estava assistindo um programa qualquer.

— Obrigada, amor. - Sorriu meiga.

Ela sabia encenar muito bem. Jade estava se saindo tão convincente. Ninguém desconfiava da nossa farsa.

Estava usando uma calça jeans de lavagem escura, uma blusa marrom-café de mangas compridas, um casaco preto e botas de cano curto sem saltos. Cabelos soltos com as pontas onduladas, a maquiagem mais leve, exceto pelo batom vermelho, e carregava uma bolsa pequena.

— Vamos? - Olhei para ela novamente.

— Vamos! - Sorriu, vi um certo brilho diferente naqueles olhos incrivelmente lindos.

Minha família nos acompanhou até lá fora, onde acomodamos meus avós no carro, certificando de que estavam confortáveis e bem presos ao cinto de segurança. Eles pareciam crianças empolgadas, amavam ir ao Bingo.

Dirigi com cuidado pelas ruas de Calgary, o bairro parecia uma viela, com ruas estreitas, calçadas cobertas de neve, com árvores em cada recanto, casas no mesmo estilo rústico, sobrados com varandas e telhados cobertos de neve também.

Crianças brincavam por ali com a supervisão de adultos. Era uma região tranquila. Com tendas de venda de bebidas quentes, sopas e caldos. Jade afirmou gostar do clima frio. Eu amava pois me remetia ao Natal.

— É longe? - Perguntou quebrando o silêncio entre nós.

Meus avós estavam lá atrás cantando músicas antigas da época que eram jovens. Apesar da idade avançada e da memória falha, eles ainda tinham decorado muitas canções. Sempre recordando de algumas populares da época deles.

— Não. Os Bingos ocorrem na casa de uma anfitriã da cidade, viúva de um ex-prefeito. Ela mandou construir um salão para abrigar até 50 pessoas. Lá eles servem lanches. E hoje é dia de mingau de aveia com mel. - Contei para ela que estava curiosa.

— Hum... Interessante. - Disse num tom de divertimento.

— Para onde vão as arrecadações de hoje? - Indagou.

— Para o Little Angels Marie's. Um lar para bebês abandonados. Eles abrigam bebês recém-nascidos até os 3 anos. Apartir dos 4 anos, são transferidos para orfanatos maiores em cidades vizinhas. - Expliquei.

— Oh... - Ela ficou sem saber o que falar. Acho que ficou comovida.

— Bebês abandonados. Triste, né? Como uma mãe ou um pai pode abandonar uma serzinho tão inocente e frágil? Isso tudo me revolta, sabe? Sei que o aborto é horrível, mas um abandono também não deixa de ser... - Dei minha opinião.

— Verdade. - Concordou. - Você já visitou esse lugar? - Quis saber.

— Já sim, uma vez. Eu tinha 15 anos. Meus pais levaram Rayne, Ben e eu. Foi uma experiência única. - Sorri recordando.

— Imagino. - Murmurou.

— Quer ligar o rádio? - Decidi mudar de assunto, percebi que ela tinha ficado triste, ou era impressão minha?

— Quero! - Respondeu.

[...]

Minutos depois, no Bingo, às 17h:26min...

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P.O.V Da Jade

Estávamos nos divertindo, pensei que fosse uma chatice estar num lugar como aquele, mas até que era legal e servia para ocupar a mente ou se distrair marcando as cartelas. Uma senhora passava em mesa em mesa carregando uma bandeja, servindo chá em pequenas xícaras de mica e café em copinhos descartáveis. Peguei mais um copinho de café, era uma delícia, eu já tinha tomado três.

As bolinhas com os números giravam no globo. Um rapaz alegre que usava camisa colorida e quadriculada tirou mais uma bolinha e anunciou o número no microfone.

— PEDRA DE NÚMERO 16. REPETINDO, PEDRA DE NÚMERO 16! - Praticamente gritou.

Olhei para a minha cartela, eu já tinha marcado 5 números. Olhei para o Oliver que estava todo sorridente, marcando o bendito número 16.

Rodaram o globo. As bolinhas brancas giraram. Mais uma bolinha retirada. Outro número anunciado. Número 23.

Rapidamente o marquei na minha cartela, esperando o globo ser rodado de novo.

Minutos depois...

— PEDRA DE NÚMERO 9, REPETIND... - O rapaz foi interrompido.

— BINGOOO! - Um senhor usando boina vermelha gritou vibrando. - BINGOOO! - Levantou erguendo a cartela da sorte.

— Parabéns, que sorte o senhor têm! Venha até aqui receber o seu prêmio! - O rapaz o chamou naquele sotaque canadense carregado.

O velhinho sortudo foi quase saltitante até a mesa onde faziam a entrega dos prêmios. Foi parabenizado por uma moça e recebeu uma caixa verde-esmeralda com um laço branco. Era uma sanduicheira.

Amassei a cartela. O próximo prêmio era uma cafeteira. Logo me animei. Eu precisava de uma cafeteira nova. Eu tinha que levar aquele prêmio.

[...]

Marquei mais um número na minha cartela. Faltava apenas um número para eu ganhar. Aquela cafeteira ia ser minha. Sorri, cheia de expectativas. Com certeza eu ia ganhar. Olhei para o único número que faltava... Levantei o rosto, fitei o globo rodando, as bolinhas girando e girando.

Minhas mãos estavam ficando trêmulas. De pura ansiedade. Eu ia ganhar. Eu tinha que ganhar aquela cafeteira.

Bolinha retirada. O número foi anunciado. Número 18.

— BINGOOO! - Gritei junto com alguém, olhei para o lado e lá estava o Oliver erguendo a cartela, orgulhoso.

Nós dois batemos o bingo... Quê? Não! Aquilo não podia ser possível. Tive vontade de bater nele e rasgar aquela maldita cartela dele.

Ele alargou ainda mais o sorriso. Fechei a cara.

— Duas pessoas sortudas bateram! Meus parabéns! E só temos uma cafeteira! E só um poderá levá-la para a casa. Vamos resolver isso, estão de acordo? Quem tiver o número maior na cartela, é o vencedor! - Decretou o rapaz.

Analisei cada número. Um por um cuidadosamente. O maior número que tinha ali era o 22.

— 22. - Falei para o Oliver.

— 25! - Vibrou. - Bingo! - Ergueu a cartela novamente e praticamente correu para pegar o prêmio. Exibido!

Amassei a cartela, chateada. Ele recebeu a caixa vermelha com o laço amarelo.

"Filho da mãe sortudo! Essa cafeteira era para ser minha!!!"

Eles fizeram uma pausa, era a hora do lanche. Serviram o mingau de aveia com mel em tigelinhas de cerâmica desenhadas. Seus avós começaram a tomar, o moreno pegou uma tigelinha azul e sentou ao meu lado.

— Quer um pouco? - Me ofereceu.

— Não, obrigada. - Recusei.

— Está uma delícia, sério. Prove um pouquinho! - Tentou me convencer.

— Não quero. - Balancei a cabeça.

— Só uma colheradinha. - Fez bico.

— Tá bom. - Aceitei para não fazer desfeita.

Abri a boca, ele encheu a colher e me deu com cuidado para não me sujar. Devo ter arregalado os olhos ao provar aquela delícia quente e cremosa.

Era... Era... Era tão... Céus! Eu não tinha palavras certas para descrever o sabor.

Tomei a colher dele e roubei a tigelinha.

— Ei! - Protestou.

Ri me divertindo enquanto tomava o seu mingau.

— Roubado é mais gostoso! - Justifiquei.

Ele riu e foi buscar outra tigela para ele.

E após aquilo, ele me surpreendeu me dando a cafeteira de presente. Fiquei feliz e agradecida. Sua atitude foi de fato inesperada. Beck era um cara bacana. E estávamos nos dando super bem. Éramos praticamente amigos.

Nunca sequer imaginei que aceitar ser sua noiva de mentirinha e embarcar naquela loucura pudesse nos levar até ali, em Calgary, no Canadá. Sua família tinha me aceitado. E, bem, estar vivendo aquilo tudo ao lado dele e de sua família estava sendo uma experiência e tanta.

[...]

P.O.V Do Beck

Meus avós acabaram cochilando no carro. No caminho para a casa, acabei parando para comprar sopa para levarmos, estacionei o carro em frente à uma tenda de venda, o cheiro que exalava era de dar água na boca. Jade desceu comigo, ambos agasalhados, ela enfiou as mãos nos bolsos. Tinha um cartaz de cartolina escrito à mão com o menu da noite.

— Já provou sopa de cordeiro? - Perguntei para a morena.

— Não. - Respondeu. - É boa? - Se interessou.

— É maravilhosa. - Garanti.

— Então, eu quero! - Sorriu.

A dona da tenda veio nos atender. Panelões estavam no fogo.

— Boa noite, meus jovens! - Nos cumprimentou toda simpática.

— Boa noite. Queremos levar para a viagem. Nos veja duas porções de sopa de cordeiro com verduras. Uma porção de sopa de mariscos. Uma porção de sopa de legumes. E três porções de sopa de carne. - Fiz os pedidos a família toda.

Richard era o único que não tomava sopa. Ele era muito bebê.

A alegre vendedora encheu os recepientes descartáveis. Eram tigelinhas térmicas apropriadas para sopas e caldos. Ensacolou tudo e a West me ajudou a levar toda aquela sopa de diferentes sabores para o carro.

[...]

— Você trouxe o meu caldo de camarão? - Ben já estava bisbilhotando, destampando as tigelinhas.

Rayne e Jade estava pondo a mesa, com pratos fundos, colheres para tomar sopa. Havia torradas e fatias de pão na cesta de vime.

— Não tinha. - Menti.

— Tinha sim, mas não compramos! - A morena me delatou.

— Nossa! Que insensíveis, os dois! Isto é maldade demais para a minha pessoa! - Dramatizou pondo a mão no peito.

Revirei os olhos e a dedo-duro riu.

Ben se afastou fingindo estar chateado.

— Eu queria caldo de camarão. - Fingiu secar uma lágrima.

— Só lamento. - Murmurei.

— Ben, pare de frescura e venha ajudar aqui também. - Rayne o repreendeu.

— Já estou indo... Mandona! - Resmungou.

— Eu ouvi isso! - Retrucou ela.

Ele revirou os olhos e fez cara de descaso. Arrumando os talheres preguisosamente.

Meu pai conduziu meus avós para a mesa de dois lugares. As crianças também tinham a própria mesa. Quando tomavam sopa, faziam uma lambança danada, isso incluía os nossos avós também.

Meu cunhado estava dando mamadeira para o bebê, que quase cochilava no colo dele.

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Cherize estava pela cozinha farejando o cheiro de sopa. Miava e se enroscava nas pernas da West. A morena apenas ria, talvez estivesse incomodada, apesar de não reclamar da gata.

Mamãe tinha ido atender a porta. Devia ser a dona Martha, uma vizinha que vivia sozinha, viúva, os filhos moravam na Suíça, e ela costumava nos trazer biscoitos de polvilho, bolo de abacaxi e torta de limão.

— Boa noite, família! - Me surpreendi quando a mamãe retornou para a cozinha com a Barbie da família.

— Evangeline! - Minha irmã exclamou alegre.

Por algum milagre as duas se davam bem, eram amigas de certa forma. Ainda bem que a loira atrevida nunca deu em cima do Anderson. Caso contrário, a Rayne certamente já teria arrancado aquelas fartas madeixas loiras que nossa querida prima possuía.

[...]

P.O.V Da Jade

Não gostei nadinha quando a prima do Oliver apontou pela porta da cozinha. Quando ouvi sua voz irritante não pude deixar de contrair os lábios. Olhei para o Beck que ficou tenso, Rayne sorriu cumprimentando a loira e Ben fez careta. Dona Rachel colocou mais um prato na mesa. Ben serviu o casal de idosos, e Beck serviu as crianças.

Nos sentamos à mesa, fiquei entre os dois morenos. Eles tinham feito as pazes e eu estava feliz por aquilo. Evangeline pendurou a bolsa vermelha no espaldar da cadeira e sentou de frente para mim.

— Como vai, Jade? - Sorriu amigável. O quê?

— Vou bem e você? - Fui educada como devia ser.

— Melhor ainda estando junto com a minha amada família. - Seu sorriso aumentou.

Forcei um sorriso. Ela parecia radiante. Era a primeira vez que a gente se via depois daquele incidente.

Começamos a nos servir. A sopa de cordeiro estava muito boa. Eu nunca tinha provado nada igual.

Evangeline se dava bem com os tios, com o vovô e a vovó Oliver. Com o Anderson e até mesmo com as crianças. Conversou com eles enquanto jantávamos, e por incrível que pudesse parecer, ela estava fingindo que nem via o Beck. Talvez estivesse com raiva ou sei lá... Só sei que ela estava o ignorando o jantar todo e ele parecia aliviado com aquilo.

— E aí, Ben? - Chamou a atenção do moreno de olhos castanhos-dourados.

— Hãn? O quê? - A olhou um pouco desconcertado.

— Saindo muito? Ainda está frequentando o Bill's? Jogando sinuca com os amigos? Ainda está saindo com a Samira? - Disparou as perguntas.

Ele a fitou, segurando a colher cheia no ar e piscou atordoado.

— Sim. Sim. Sim. E não! - Respondeu cada pergunta vagamente.

— Que tal irmos no Bill's amanhã? Nunca mais fui lá. Lá ainda vendem aquela cerveja amanteigada? Aposto que te ganho na sinuca! - Ela estava quase quicando na cadeira.

Ben quase engasgou, largou a colher no prato e a olhou novemente como se ela fosse louca ou tivesse 3 cabeças. Estava de olhos esbugalhados. Piscou ainda mais atordoado, apanhou um lencinho de papel e limpou a boca lentamente.

Seus pais se entreolharam disfarçando os sorrisos. Rayne e Anderson estavam surpresos. Olhei para o Beck que estava tão surpreso e confuso quanto eu.

O que estava rolando ali?

A Evangeline estava mesmo flertando com o Ben? Logo o Ben que a detestava?

— Hum... É... Pode ser. - Ele topou?

Beck me cutucou discretamente, prendendo o riso. Me segurei também.

— Ótimo! Você me pega às 19h? - Ela agia como se ninguém mais estivesse ali.

— Tá... Eu pego sim! - O Ben estava corando ou eu estava vendo coisas?

Cutuquei o Beck. Estava rolando um clima ali.

— Vocês querem ir com a gente? - Ela olhou diretamente para mim.

— Onde é esse lugar? O Bill's? - Indaguei por curiosidade.

— É o melhor e o mais antigo bar de Calgary! Vamos? Vai ser muito divertido! - Seus olhos verdes imploravam.

— Ah, nós iremos sim. Vai ser o melhor encontro duplo de todos. - Beck disse num tom malicioso.

Ben olhou para o irmão como se fosse voar no pescoço dele.

E algo me dizia que aquilo ia ser mesmo divertido e no máximo interessante. O que poderia acontecer demais? Era apenas um encontro duplo num bar, certo?

E além do mais, nossos dias em sua cidade natal estavam contados. Teríamos que voltar para L.A na terça-feira. Só tínhamos mais dois dias para estarmos na companhia de sua família, logo o nosso acordo chegaria ao fim e eu receberia o meu pagamento.

Afinal de contas, tudo não se passava de uma mentira, não é mesmo?