Entrei de soslaio no quarto de casal. Eu disse que não faria isso, mas não resisti ao tédio e a vontade. Agora, estou observando o adulto que comprou minha antiga casa enquanto ele dorme. Não posso ficar aqui por muito tempo, pois ele pode acordar. Faz apenas um dia que ele se mudou para cá, então ele provavelmente não vai gostar de ver que um fantasma o observou enquanto ele dormia.

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Para um homem de 25 anos, ele é bastante... Fofo? Sim, essa é a palavra. Mais fofo do que o normal. Mas é claro que não estou aqui para observar a fofura dele. Paro de observá-lo e me dirijo ao meu objetivo: o espelho. Tinha que ter certeza de que não estava acontecendo de eu estar visível, como outra vez ocorreu. Fico na frente do espelho, mas não consigo enxergar-me. Como o esperado. Esse cara deve ser algum tipo de médium ou algo assim. Eu realmente estou curioso, contando que ontem eu descobri apenas poucas coisas sobre ele durante o longo tempo que conversamos.

~ Flashback on ~


_ Pare de brincar comigo. É claro que você não é um fantasma.


_ Sou sim. - me sentei na cama e atravessei-a, só para provar. - Vê? - volto depois de pouco tempo. É um pouco desconfortável.


O adulto na minha frente arregalou os olhos, piscou um pouco me encarando com medo. Você não vai roubar minha alma ou nada assim, vai? É tudo que ele consegue dizer no final. Rio um pouco. Ele parecia ser um adulto durão, mas sinto que ele tem um jeito diferente por dentro.

_ Claro que não. Se fantasmas fazem isso, eu ainda não sei como fazê-lo. E mesmo que soubesse, eu não o faria. Acho que gostei de você, ehm - não terminei. Ele ainda não havia se apresentado.

_ Arthur. Arthur Kirkland. - reconheço esse nome, mas não sei de onde. Me obriguei a pensar melhor.

_ Hm... Ah! Você é um escritor britânico, certo? Acho que li seu primeiro livro no meu ultimo ano. O que você faz na América?

_ S-sim. Fico feliz que você tenha lido meu livro Vim para cá para escrever outros - Ele ainda está um pouco distante, como se estivesse tentando acreditar no que vê. Sua inquietude se transforma em questionamento. - Hm... P-posso te fazer umas perguntas?

_ É claro. - Não me importei muito. Teria a mesma reação na frente de um fantasma.

_ Você... Está preso aqui, certo?

_ Aqui na Terra, acho que sim. Agora, na casa não. Voltei para cá porque não tinha mais lugar pra ir. - Espere. Só agora me toquei de uma coisa. Sem pensar, pergunto automaticamente. - Você Vai querer que eu saia?

_ N-não. Acho que não vamos ter problema. E E-eu me sentiria um pouco solitário nesse casarão sozinho. - Ele fala com um toque de egoísmo, mas seu rosto cora e seus olhos verdes olham para o chão, quase inquietos. Tsundere. Estava pensando nos problemas que iria causar a mim, mas não quer demonstrar isso. Meu impulso foi soltar uma risada rouca, pois é realmente inesperado para um adulto como ele, mas é até fofo.

_ Então tudo bem. Continue com as perguntas.

_ B-bem... O que aconteceu com a sua família?

_ Sinceramente, eu não tenho idéia. Minha mãe se mudou com meu irmão logo depois que eu morri, e quando consegui chegar aqui eles já tinham sumido. Não sei nem onde estão morando.

_ Ah, sim - Ele pigarreia, se preparando. - Uma última. Eu li nos jornais que seu corpo foi achado bem machucado, mas não descobriram como você morreu... Como foi?

Fiquei um pouco sério. Pelo jeito que o outro reagiu, sério demais. Eu realmente não gosto de pensar sobre aquele dia.

_ Caí de um penhasco. Isso é tudo que eu posso te contar agora. - Não estava com a menor vontade de falar sobre isso. Pode ser a única pessoa que eu tenha a chance de contar, mas não agora.

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_ Tudo bem... D-desculpa. Não deve ser fácil para você falar sobre isso. - Levantei, fui um pouco para longe e depois me virei em direção a ele, com uma pergunta me incomodando.

__ Como você está tão tranquilo? Qualquer pessoa normal ficaria mais assustada.


_ Ah, eu vejo coisas assim desde pequeno. Normalmente eram fadas ou unicórnios, nunca tinha visto um fantasma. Mas já acostumei a essas coisas meio estranhas.

Rio. Uma pessoa que vê fadas e unicórnios? Se ele não tivesse me enxergando, eu acharia que ele é louco. Mas se ele me vê também, quem sabe não seja verdade.

~ Flashback off ~

Saí do quarto que agora pertence a Arthur e me dirigi ao jardim. Bem cedo de hoje, chegaram umas pessoas que pareciam especialistas e começaram a podar a folhagem absurdamente grande do gramado. Agora estão cuidando do campo, plantando umas novas flores e plantas nele.

Arthur deve ser um homem de dinheiro. A casa, mesmo abandonada, não estaria por um preço tão acessível, e os jardineiros eram muitos e experientes. Não seria muito surpreendente se ele fosse rico, pois ele é realmente um ótimo escritor e parece que ficou famoso nesse tempo em que estive aqui. Eu só li seu primeiro livro, que era um suspense policial surpreendente. Se não me falha a memória, o nome era "A Teia Dourada". Ele me mostrou alguns dos outros. Os gêneros variam de terror a romance, e parecem ser todos excepcionalmente bons. Queria ter tido a oportunidade de lê-los. - Isso porque eu só leio os livros que realmente me interessam. Naquela época, seu livro foi o primeiro que li depois de 3 anos sem tocar em nenhum outro. Minha mãe costumava dizer que para um livro ter puxado a minha atenção, ele já merecia um Primeiro lugar dos mais vendidos.

Sentei-me no banco de balanço na extremidade do gramado, agora cortado. Aquele banco me lembra de coisas que me recuso a refletir agora, mas meus pensamentos estão muito fixos na mudança que minha vida sofrerá a partir deste dia. Poder ter alguém para conversar realmente me alivia do tédio e da solidão, mas imagino se Arthur iria gostar de ser seguido por um fantasma. Com certeza, ele irá se sentir incomodado. Imagino se devo deixar a casa, mas acabo deixando isso por conta de Arthur mesmo. Ele disse que não acha que seria problema, então se ele reclamar, eu me mando.

Minha reflexão foi cortada pela voz do mesmo me chamando. O mais velho, que ainda estava um pouco sonolento, me chamou e se dirigiu ao meu encontro. Sentou-se ao meu lado e disse de uma maneira estressada algo sobre eu não comer o café-da-manhã, mas eu não reparei pois estava prestando atenção em outra coisa.

_ Ei, Artie. Eles tão olhando pra cá.

_ Não me chama assim, pirralho. - Sua veia latejou de frustração. Também não me agrado com o chamativo de pirralho, sendo que nossa diferença de idade seria de apenas 4 anos se eu estivesse vivo, mas esse não era o momento certo para ficar com raiva de apelidos.

_Artie, é sério. É melhor você parar de falar comigo.

_ Você pode parar de me chamar com esse nome, por favor? Você é só um fantasma idiota que eu conheci ontem. Não tem o direito de me chamar assim. Essa última foi crucial. Ele realmente não quer prestar atenção no que eu estou falando, mas agora já é tarde demais.

_ Arthur. Os jardineiros. - Todos os jardineiros em volta olharam para Arthur com uma expressão mista de medo, desentendimento e julgamento. Não conseguiam alternar entre não compreender, achar que ele estava ficando louco ou sentir medo do suposto fantasma, eu.

Arthur faz o esperado. Olhou para eles com o rosto extremamente corado, mas levantou e saiu andando com calma e exalando superioridade. Levanto-me e o sigo, me contorcendo internamente para não rir da reação de todos. Ir lá para o meio e assustá-los seria uma idéia divertida, mas eles não terminariam de ajeitar o jardim depois dessa.

Entro nos fundos da cozinha logo depois de Arthur, e solto todo o riso que segurei. Ele me encara com olhar de repreensão por um tempo, depois tenta, sem sucesso, me dar um tapa na cara. É óbvio que a mão dele me atravessa. Isso só o deixa com mais raiva, e me dá mais vontade de rir.

_ Pirralho idiota, pare de rir da minha cara! Olha o que você me fez fazer, maldito!

_ Aí, a culpa não foi minha. - falo, tentando parar de rir - Eu te avisei que era melhor não falar comigo, você que ficou muito preocupado com outras coisas, Artie! - Obviamente estava enchendo seu saco. Mas mal o conheci faz um dia, e já dá para reparar que ele leva tudo a sério.

_ MEU. NOME. É. ARTHUR! SON OF A BITCH*.

_ Tá, tá, desculpa. Mas Artie é muito mais fofo, sabia? - Falo ainda rindo, levantando as mãos como se estivesse arrependido. Ele vira o rosto com raiva e anda em direção a mesa.

_ Vem. Eu fiz o café-da-manhã. - Acompanho-o até a mesa, me sento calmamente e digo uma coisa que ele provavelmente não deve ter pensado sobre.

_ Ei, você sabe que fantasmas não comem né?

_ Eu imaginei. M-mas não quero você lá fora, pode acabar fazendo alguma coisa e assustar os trabalhadores. - Claro que, na verdade, ele não queria ficar sozinho. No fim das contas, dá no mesmo.

_ Eu pretendia ficar quieto vendo como o jardim ia ficar, mas você já assustou eles por mim. - Rio mais uma vez, e ele acaba desistindo de falar sobre o assunto.

_ Mas hey, Alfred. Eu queria te perguntar uma coisa desde ontem.

_ Claro, diga.

_ Bem... Se você está preso na Terra, tem uma razão, certo? Ele tem razão. Na verdade, nem tinha parado para pensar nisso ainda. Tem aquele rumor sobre fantasmas que ficam presos na Terra deixaram de fazer algo que deveriam, mas eu não me lembro de ter deixado de fazer nada no momento. Minha vida sempre foi meio monótona, se eu me lembre bem.


_ Sim... Deve ser, mas eu não me lembro de ter razão nenhuma. Minhas memórias não estão muito estáveis, então não posso dizer com certeza.

_ Então, vou te ajudar a descobrir... S-se você quiser, claro. - Faço que sim com a cabeça - Me diz tudo que você se lembra.

_ Hm... Eu realmente não me lembro de muita coisa. Lembro que minha família era composta por minha mãe Amélia, meu irmão Matthew e meu pai Frederick. Lembro que éramos felizes, até - Paro para pensar melhor. Acho que tem a ver com isso de agora. Engulo em seco, tentando me lembrar de mais - Até a morte de meu pai. Depois disso... Ah, sim. Agora eu me lembro.