A luz do sol invadia devagarinho a janela do quarto de Nami, ela puxou o edredom e tapou os olhos para se proteger da claridade. Antes mesmo de sair da cama, a ruiva concluiu que precisava com urgência de algumas cortinas.

- Nossa, que sol forte... – ela murmurou enquanto sentava no colchão e apoiava os pés no tabuado, aquele seria um grande e longo dia. Nami olhou para o relógio que marcava 6:40, estava cedo demais, acordou 20 minutos antes do que havia planejado. – Droga...

Preguiçosa, ela caminhou até o banheiro e ligou o jato quente da ducha para esquentar, enquanto escovava os dentes na pia. Ela ficou encarando a própria feição sonolenta no espelho, os longos cabelos ruivos pareciam ter sofrido uma grande batalha na madrugada de tão bagunçados.

“Preciso estar bonita...” - a ruiva lembrou-se do que seu vizinho ao lado havia dito sobre o emprego, afinal, era um pouco difícil de esquecer a tal pessoa. Ou melhor, o tal assunto. Nami enxaguou a boca e deixou a escova na pia mesmo e rumou para o banho.

A água escorria forte e quente pela pele, ela aproveitou para se alongar e deixar que o jato fizesse uma massagem nos ombros e na nuca. Enquanto divagava, Nami sempre se perguntava se havia alguém no mundo que não gostasse de um bom banho, era a primeira coisa que ela fazia pela manhã.

- Pronto! – ela saiu do box com uma toalha torcida nos cabelos e outra em torno do corpo. Ela parou no amontoado de caixas e começou a revirar as roupas que haviam por ali. – Com certeza, vou precisar da ajuda do vizinho para montar o roupeiro. – ela falou um pouco irritada, vestindo uma calcinha e um sutiã qualquer.

- O que vestir para ir para aula? – ela pegou uma calça jeans justinha e levemente rasgada nos joelhos e nas coxas, junto de uma básica e all star branco. Nami secou brevemente o cabelo, fez uma maquiagem simples e foi para a cozinha. Ela abriu a geladeira um pouco descrente, sabia que não havia nada ali, talvez só o refrigerante de ontem e a pizza gelada.

- Droga...- obvio que só havia aquilo na casa, ela ainda não havia comprado nado para comer. Bom, pelo menos havia uma garrafinha de água gelada perdida na geladeira. – Vamos descobrir quantas horas sobrevivo sem comida...- ela deu uma risadinha do próprio infortúnio, pegou a bolsa e saiu para o seu primeiro dia de aula na Universidade da Califórnia.

Do outro lado do corredor, Roronoa também já estava acordado, na verdade, ele já havia se exercitado pela manhã e estava no banho para se livrar do suor e do cansaço. Diferente de Nami, seu banho era frio e rápido, a água gelada servia de alívio, como um elixir revigorante. Enquanto enxaguava o cabelo, o telefone residencial tocou até cair na secretária eletrônica, afinal, ele não ia sair correndo dali com shampoo na cabeça.

- Quem será... – passou as mãos no cabelo, jogando-os para trás e para se livrar do restinho de espuma. – Raramente alguém liga. – Roronoa ficou atento na mensagem após o bip.

“Roronoa, a quanto tempo?” – a voz do homem era grave e lenta, o que causou imediatamente uma sensação de desconforto em Zoro. Ele fechou rapidamente o registro e enrolou uma toalha me torno da cintura e foi para a sala, deixando um rastro de água por todo o local.

“Sei que está me escutando e sei que está ligação é uma surpresa...talvez nada boa, mas você não pode fugir do seu passado...” – ouve uma longa pausa e logo uma breve risada. “...de quem você é...”.

Roronoa sentou no sofá e cruzou as mãos, apoiando os cotovelos no joelho, os olhos verdes perdidos nas gotas de água que pingavam de seu corpo no tabuado de madeira do apartamento. “Precisamos que você volte a ativa, compreende? Estarei esperando retorno.”.

O bipe da secretária se alastrou pelo silencioso apartamento, Zoro se ergueu como um raio do sofá, trincando os dentes com raiva. Ele caminhou até o quarto e vestiu a primeira roupa que viu pela frente. Roronoa estava disposto a não voltar para o passado, principalmente agora que havia entrado para universidade e tinha um emprego calmo e pacato.

- Ele não pode fazer nada... – a voz saiu baixa, quase travada na garganta. Sua vida havia ganho um novo rumo e seria aquela até o final. Ele havia feito uma promessa e cumpriria, a menos que...

Exausta, Nami pensou que não iria aguentar aquela rotina de estudar dois turnos e, talvez, trabalhar a noite. Precisava falar com Zoro para conseguir o endereço do bar, havia esquecido de perguntar na noite anterior, os planos de sair do campus e ir direto para o trabalho fracassaram, teria que esperar até amanhã. Ou não, Zoro estudava lá também, os dois poderiam ir juntos para o serviço.

- Com licença... – Nami que estava no corredor de saída do campus principal parou um garota de cabelos negros e intensos olhos azuis para perguntar informações, a mesma ficou olhando para ela com sem muita expressão.

- Pois não?

- Ah, sabe me dizer onde fica o prédio da... – a ruiva ponderou por alguns segundos para relembrar o curso de Zoro, enquanto a misteriosa mulher a analisava dos pés a cabeça. - ...o prédio da Engenharia Civil?

- Oh, claro! É no prédio 7, segundo andar. Pelo menos é lá a maioria das disciplinas das engenharias. – a moça assentiu com um sorriso brevemente melancólico. Nami sentiu uma pequena apatia em relação a mulher, não gostou muito da forma que ela lhe fitava da cabeça aos pés. A ruiva ficou um pouco irritada, talvez fosse caipira demais para a capital, ou talvez apenas estivesse num dia ruim. Ela precisava mudar as coisas para que tudo desse certo e começaria com a morena.

- Obrigada pelas informações. – ela estendeu a mão para a morena e sorriu o mais simpático possível. – Me chamo Nami Woods, é meu primeiro dia aqui... obrigada novamente pelas informações.

A morena pareceu comovida com a situação, estendeu a mão e apertou com graciosidade. Nami ficou encantada com as unhas longas e bem feitas da mulher. Ela era linda.

– Prazer, me chamo Nico Robin. – ela se afastou. – Faço mestrado de arqueologia aqui.

- Ciências Contábeis, esse é o meu curso. – foi a única coisa que Nami se limitou a fazer, pois lembrou-se que tinha que correr para tentar encontrar Roronoa nas salas de aula. – Robin, espero reencontrá-la mais vezes, mas tenho que ir, senão não vou conseguir encontrar uma pessoa. Até mais.

Ela deu as costas para a morena e saiu contra o aglomerado de pessoas, Robin apenas deu de ombros e continuou na direção dos imensos portões de saída. E o mais engraçado era que ela também queria ver novamente a ruiva. No fim, Nami não era tão apática assim, poderia ser uma pessoa interessante dentro daquele campus cheio de engomadinhos para todos os lados.

Nami continuou sua jornada até o tal prédio sete, logo na entrada havia uma enorme placa listando quais cursos ali eram presentes, entre eles Engenharia Civil. A passos largos e rápidos ela subiu até o segundo andar que já estava praticamente vazio, mas como era teimosa, acreditava que ele ainda poderia estar por ali. Afinal, o que custava tentar?

Ela caminhou devagar pelo corredor, espiando sala por sala sem muito sucesso. Ela passou uma, cinco, doze salas, faltava apenas mais duas para chegar no final do corredor e com sorte, lá estava ele. Nami abriu a boca para chama-lo, mas Zoro parecia muito concentrado olhando para a tela do celular.

Roronoa estava sentado em cima da classe, os coturnos bem ajustados nos tornozelos, a calça jeans surrada e a camiseta preta pareciam deixa-lo mais selvagem do que já era. Nami ficou espiando da porta, a cena era digna de uma pintura, a pele quente de Zoro parecia reluzir contra as cores e luzes do por do sol que entrava pela enorme janela de vidro, exatamente como os brincos de ouro que usava na orelha.

Era de tirar o fôlego.

- Finalmente achei você...- por fim ela não se conteve e entrou na sala de aula. Ele apenas ergueu o olhar felino até ela e bloqueou a tela do celular e guardando no bolso.

- O que você faz aqui? – a voz grave de Zoro cortou o clima que Nami havia criado na mente, ele parecia irritado, o que a deixou na retaguarda. Seja lá o que estivesse acontecendo, com certeza, não era culpa dela. Ou era?

- Obviamente estava lhe procurando... – a voz dela sou um pouco apreensiva, mas não deixaria se intimidar, afinal, ele era o mesmo homem que havia lhe ajudado na mudança no dia anterior. – Você não me deu o endereço do bar, por isso pensei que poderíamos ir juntos.

Zoro ficou sentado onde estava, apenas olhando para a sua vizinha que parecia suplicar com aqueles enormes olhos castanhos uma vaga de emprego, um auxilio. O problema era que as coisas haviam mudando depois da ligação que receberá pela manha. Ele não poderia colocar em risco a vida de ninguém, principalmente de uma garota inocente que viera do interior.

- Você escutou o que eu disse? – ela perguntou novamente, fazendo-o acordar do transe de pensamentos.

- Sim. – Zoro saiu de cima da classe e caminhou na direção de Nami, chegando muito próximo, os olhos verdes dele pareciam muito claros contra a luz que entrava pela janela. – Vamos andando, se chegarmos cedo conseguimos falar com o dono.

Ele passou por ela e foi na direção da porta, Nami parecia um pouco atônica, pois ele não estava sendo tão sociável quanto fora no dia que se conheceram. – Ei! – ela girou nos calcanhares e correu para alcança-lo, não conseguia apenas ficar quieta, queria entender o que estava acontecendo. – Algum problema? Você parece irritado com a minha pre...

- Não... – ele colocou as mãos no bolso da calça jeans, apertando o celular com força entre os dedos. – Estou com muitas coisas para resolver e...- ele olhou para ela, na verdade, ele não sabia o que responder. - E eu só queria ajudar ontem, não me interprete mau.

- Se você está fazendo isso obrigado, pode parar! – ela segurou no bíceps dele, o rosto ficando levemente avermelhado. – Deve ser chato ter que ajudar uma garota que não conhece e que só teve pizza para retribuir. - Roronoa lançou um olhar vazio para ela, mas Nami sabia que havia algo mais ali, talvez preocupação.

- Relaxa, vamos lá conhecer o The Pickey, um dos bares mais tradicionais de Los Angeles. – ele afastou a mão dela do seu bíceps e voltou a colocar no bolso da calça. – Você não é um problema, Nami.

A ruiva apenas assentiu, concordando com as palavras do rapaz. Zoro era um pouco confuso, distante demais, não era uma vizinha que iria mudar algo na vida dele, era idiotice acreditar que ambos já eram amigos. Ele estava apenas fazendo um favor, nada demais, correto?

Ambos continuaram em silêncio até a saída da universidade, havia ficado um clima chato entre os dois que logo foi esquecido assim que ele parou diante de uma moto muito bonita, para não dizer impecável.

- Que coisa mais linda! – Nami passou a mão no couro do banco, estava boquiaberta. – Realmente, vocês devem ganhar muito bem de gorjeta! – ela olhou para ele quase assustada.

- Não... – ele sorriu um pouco sem graça. – Na verdade essa moto é uma herança de família. Essa belezinha é uma Fat Boy 2012... até que não é muito antiga, considerando que estamos em 2017. – ele deu de ombros e abriu o compartimento da moto e pegou de lá um capacete. – Pegue, só tenho um mesmo. É melhor ficar com você.

Nami segurou o capacete e ficou olhando para ele sem entender o que estava acontecendo. Eles iriam de moto para bar? Era isso mesmo? – Ei! Vamos na moto mesmo?

- Algum problema? – Zoro sentou na moto, fazendo o amortecedor descer um pouco. – Coloque o capacete e vamos, antes que eu mude de ideia...- ele zombou dela, mas Nami sabia que havia um pouco de verdade ali. A ruiva ajeitou o capacete coquinho preto sobre a cabeça, aquilo não protegia nada, mas ok! Ela sentou na moto e ficou pensando onde colocaria os braços, era meio idiota, mas ela não queria simplesmente abraçar ele e tal.

- Se segure. – ele falou dando a partida na moto, o som de motor ecoando por todo o estacionamento, as pessoas que estavam na volta olhavam curiosas, era impossível não olhar para a situação. Nami instintivamente abraçou ele com força, enquanto ele manobrava a moto para saída. Afinal, talvez aquilo não fosse má ideia.