— Sebastian! Quero conversar com você... Agora.

Tentei não olhar fixamente para ela, minha mãe, desde o momento que atravessava a rua, focado em olhar para os dois lados freneticamente. Minhas bochechas ainda queimavam, e podia vê-las vermelhas se destacando na minha pele um tanto pálida - que aparentemente conseguiu ficar ainda mais sem cor. Para piorar, o idiota do Charlie ainda ficou me gritando no outro lado, insistindo para que eu ligasse para ele. Admito que me senti bem, vendo-o daquele modo, com aquele olha aflito em minha direção. Como se estivesse arrependido de tudo que fez: da "traição" (admito que não estávamos juntos oficialmente, mas, ele deu a entender o contrário, me mimando com aqueles beijos e palavras bonitas, por exemplo), me fez sentir no controle da situação.

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Esta sensação - de estar acima de tudo - sumiu assim que vi as lágrimas da mamãe descerem pelo seu rosto. A última vez que vi minha mãe chorar era quando entravamos no carro para vir para cá, esta cidadezinha no meio do nada, e mesmo assim ela sorria enquanto chorava, demonstrando que não estava sofrendo como parecia. Mas, desta vez, é diferente. sua boca está tremendo, e seus olhos, agora estão sendo tampados pelas mãos igualmente trêmulas. Não sabia o que fazer. Esperava de tudo, menos aquela reação. A única coisa que consegui fazer ao vê-la naquele estado, foi começar a chorar junto. Não sei por que, mas, ver a pessoa que eu mais amo neste mundo inteiro chorando como uma criança que acabara de nascer, me deixa em desespero.

Abrace-a e aconcheguei seu rosto em meu pescoço, fazendo o mesmo comigo. Ao encaixar minha cabeça na curvatura de seu pescoço, pude sentir o perfume que mamãe usa desde que me conheço por gente. É um cheiro maravilhoso, que me conforta sem mesmo precisar de ser sólido. Acho que todas as mães precisam adquirir esse produto, pois foi ele que me fez parar de chorar aos poucos, e começa a tentar acalmar minha mãe, acariciando seus fios de cabelo lisos e macios.

— Não faça isso — ela disse depois de um tempo, se afastando e olhando em meus olhos. Seus braços agora estavam em meus ombros delicadamente.

— Isso o que? — perguntei um pouco confuso, feliz em vê-la parar de chorar. Não evitei em abrir um pequeno sorriso de canto.

— Se envolver com aquele garoto — meu sorriso desapareceu na hora em que compreendi suas palavras. — Charlie, não é?

Apenas acenei com a cabeça, ficando um pouco envergonhado também. Sempre tive muita intimidade com minha mãe, mas, tenho a impressão que essa será uma de nossas piores conversas. Agora eu já tenho certeza de o que eu quero para minha vida amorosa, e quero compartilhar esta decisão com ela.

— Sebastian, meu filho, não faça isso com você — repetiu. — Tem um grande futuro pela frente, não estrague isso se envolvendo com um menino! Por favor, por favor...

Aquelas palavras foram com um tapa na minha cara. Fizeram-me lembrar da carta que a diretora mandou para minha mãe, mas que nunca fora entregue. Não sei por que a guardei pra mim. Provavelmente foi o mesmo motivo pelo qual ela não me contará que se envolveu com uma mulher, ou eu não revelar que eu estava me envolvendo com um cara. Medo. Acho que foi medo de vê-la sofrer ao ler aquelas palavras. Medo de perder a mãe que eu tive até agora - talvez, o reencontro com uma figura do passado, faça-a se tornar outra -. Medo de tudo.

— Mas...

— Estou pedindo. Pode me ouvir, pelo menos uma vez? Não se envolva!

— Estragar meu futuro, mãe? — indaguei vagamente, adquirindo uma posição firme. — Assim como você estragou seu futuro se envolvendo com a Katarina? — logo depois que pronunciei o nome de minha diretora, percebi que sua pele ficou mais pálida, e seus olhos mais arregalados.

— Como você... — gaguejou.

Senti-me um pouco culpado. Eu havia lido uma carta de sua autoria, não lhe mostrado a tal carta, e agora estava aqui, tirando satisfação de algo que nem da minha conta deveria ser. Senti-me um monstro, mas acho que era a coisa certa a se fazer... Ela descobrira uma hora ou outra.

— Ela mandou uma carta para você... E eu li.

— Carta? Que carta? Não li nada da Kat... Quer dizer, Katarina — sua expressão ficou surpresa.

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— Mãe... Ela é minha diretora. Reconheceu você graças ao meu sobrenome... E... Enviou uma carta para você, através de mim — dou uma pequena pausa. — Eu li.

Mamãe ficou me encarando, tentando absorver tudo aquilo.

— Sebastian... Você o quê? — suas sobrancelhas se juntaram.

— Isso mesmo mãe — digo firme. — Não acredito que você não me contou algo deste porte!

— Não contei por que não queria que você cometesse o mesmo erro que eu! — se cala por um pequeno espaço de tempo. — Pelo visto eu falhei, já que há pouco tempo atrás o senhor estava fazendo algo completamente indecente com um outro garoto!

— Algo indecente? — bufo. — Estávamos apenas nos beijando!

— Como se beijar daquele modo no meio da rua fosse adequado — retruca. — Você não era assim. Talvez vir para cá tenha sido um erro.

— Eu não era assim, mãe, sabe por quê? Por que eu nunca entendi a minha falta de atração e interesse naquelas meninas que usavam decotes mostrando os seios de maneira indecente. Era por isso que eu não me dava bem com os outros garotos. Eles só sabiam falar sobre qual menina era mais gostosa... Eu não pertenço aquele grupinho, pois sou diferente mãe. Eu gosto de garotos, tá bom? Eu sou gay!

E então ela começou a chorar de novo, mas eu não a consolei desta vez, e sim subi para o meu quarto, fervendo de tristeza e vontade de chorar.

Olhei pela janela, e Charlie não estava mais ali, como nos filmes que quem trai implora o perdão, ficam plantados na porta dia e noite. Admito que tive esperanças que ele correria atrás de mim...

Fitei o celular, mas logo desviei o olhar.

Talvez seja melhor assim. Nós não estamos predestinados a ficar juntos, de qualquer maneira.