–Rudolph!

Eu tinha acabado de entrar na escola e vi o Rudolph um pouco mais adiantado que eu, ele estava solitário como sempre. Passei a noite pensando na imagem dele entrando na mata e me perguntando o que ele estava fazendo ali. Corri um pouco para conseguir alcançá-lo.

–Rudolph!

–Oi, Rebecca.

–Hã, como vai você?

–Estou como sempre.

–Solitário e sério?

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–Tipo isso...e você, como está?

–Curiosa.

–Curiosa, por quê?

–Digamos que eu estava de carro indo para casa e vi você entrando naquela mata sinistra que fica na estrada.

–...

Ele começou a respirar acelerado. A pupila dele diminuiu e ficou um pontinho preto no meio de um dourado intenso. Os olhos dele brilharam num amarelo dourado muito forte.

–Rudolph?

Ele engoliu seco.

–R-Rebecca, eu prefiro falar isso mais tarde.

–Mais tarde? Por quê?

Ele fechou os olhos e abriu 3 segundos depois.

–Porque o sino vai tocar.

–O sino...

A sirene para entrar na aula soou pelos nossos ouvidos.

–Como você sabia que...

Ele não estava mais do meu lado, que sinistro. Olhei ao redor e ele também não estava.

Isso foi a coisa mais estranha que eu já vi, como ele fez isso?

–Rebecca, o que está fazendo ai? Já para a sala!-a professora tinha acabado de chegar, que sorte.

Corri para sala o mais rápido possível. Subi as escadas de dois em dois degraus, cheguei em minha sala e fui direto ao meu lugar. Não tinha cadeira, droga!

Fiquei em pé onde seria o meu lugar enquanto a professora entrava na sala.

–Bom dia alunos. –ela olhou na minha direção- E você, o que faz ai?

–Estou sem cadeira.

–Vá pegar uma, garota.

–Mas eu não tenho força para carregar uma cadeira.

–Peça para alguém ir com você...

–Eu vou –Rudolph levantou.

–Pronto, agora vá antes que eu perca a paciência-que mulherzinha chata.

Eu e o Rudolph saímos da sala para buscar uma cadeira pela escola. Isso significa que: vou ter que bater de sala em sala para achar uma.

***

Primeiro nós decidimos ir nas salas do nosso corredor. Tinha mais duas salas além da nossa.

Batemos na sala da sétima série A.

–Bom dia –o Sr. Collins estava lá, ele é professor de história.

–Bom dia, por acaso vocês tem uma cadeira sobrando?

–Hã...- ele olhou ao redor- não.

–Obrigada.

–Por nada.

Sem cadeiras, que lastima. Então nós fomos na sala da sétima B e batemos na porta.

–Bom dia –era a professora de português.

–Bom dia, por acaso vocês não teriam uma cadeira sobrando?

A professora olhou ao redor da sala.

–Sinto muito, não temos.

–Ok, obrigada mesmo assim.

–De nada.

Sem cadeiras, de novo. Agora só nos restava ir no corredor dos maiores.

Descemos as escadas rapidamente. Atravessamos o pátio e fomos até o corredor dos maiores. Para chegar lá, tinha que subir uma escada que ficava ao lado da cantina. Subimos a escada e chegamos até um corredor enorme, cheio de salas.

–Espere aí –Rudolph segurou meu braço.

Ele começou a olhar ao redor do local e depois apontou para uma sala que ficava no final do corredor.

–Vamos tentar aquela sala.

–Ok.

Fomos até a sala sugerida pelo Rudolph, a porta estava encostada. Quando abri a porta, a sala estava vazia. Não tinha ninguém, as cadeiras estavam vazias.

–Cara, você é muito sinistro.

Ele deu um sorriso e sorri também.

–Qual cadeira você quer?

–Todas são iguais.

–Escolha uma.

–Hum...aquela ali.

Ele foi até a cadeira que eu escolhi. Foi só tocar que o encosto caiu no chão.

–Eu acho que é melhor escolher outra.

Eu escolhi e a cadeira também tinha algum defeito. Eu fui até a porta e tinha um bilhete.

Coordenadora, essas cadeiras estão com alguns problemas. Enquanto a senhora não mandar para o conserto, vão ficar separadas das demais. Todas estão com problemas, menos umas duas ou três. Dá para saber quais estão boas apenas tocando.

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Zelador John.”

Não acredito que nós vamos ter que mexer em todas as cadeiras para achar uma que preste.

–Está fazendo o que? –Rudolph se aproximou de mim.

–Nesta sala inteira, só tem duas cadeiras que prestam. Todas as outras precisam de conserto.

–Lascou-se.

–Exatamente, estamos ferrados.

–Então, como vamos descobrir quais estão quebradas?

–O zelador diz na carta que é só tocar.

–Melhor começarmos logo.

–Não pode usar seus sentidos sinistros para isso?

–Ha ha, sentidos sinistros?

–Ahãm.

–Vamos começar, venha.

–Ok.

Eu comecei a mexer nas cadeiras. Em 5 minutos nós verificamos 25 cadeiras, mas faltavam 5 ainda.

–Faltam as dessa fila -Rudolph havia tirado o moletom preto.

–Nós demoramos muito para voltar, a professora deve estar com raiva.

–ACHEI!

–Achou o que?

–A cadeira.

–Quer que eu te ajude a carregar?

–A cadeira? Não, valeu.

–Mas ela é pesada.

–Eu consigo levantar com um braço só.

–Consegue?

–Ahãm.

Era verdade, ele estava carregando com uma mão só e fazia parecer fácil.

–Super força, sentidos sinistros...

–Você quer parar com isso?

–Você é da Terra?

–Sou.

–O que é isso?

Eu apontei para o ombro dele. Tinha uma ferida totalmente vermelha e úmida, o sangue ainda não tinha secado totalmente e parecia que estava queimada nas laterais.

–É uma ferida.

–Quando aconteceu isso?

–Ontem.

–Você não estava com essa ferida ontem.

–Foi pelo turno da noite, eu acordei com essa ferida.

–Na sua casa?

–Sim, na minha casa.

–Sua casa fica dentro daquela mata?

Ele olhou para mim, parecia que queria me matar. Ergueu uma sobrancelha e falou:

–Não.

Rudolph saiu rapidamente da sala com a cadeira numa mão e o moletom na outra. Eu fui logo atrás dele, como era rápido.

***

Na hora da saída, eu estava esperando o meu pai do lado de fora da escola. O Rudolph sempre ia mais cedo o que era bem suspeito.

Amanda estava vindo até mim, carregando a mochila com esforço.

–Oi Becca.

–Oi Manda.

–O que aconteceu com você e o Rodolfo?

–Não é Rodolfo, é Rudolph.

–Tanto faz, o que importa é a explicação.

–Não aconteceu nada.

–Nada...?-ela fez a cara de segundas intenções.

–Que cara é essa?

–Vocês demoraram muuuito para pegar aquela simples cadeira.

–Nem me fale, foi uma luta para achar uma cadeira naquela sala.

–Rebecca, você não me engana.

–Eu estou falando sério, acredita em mim.

–Por que ele voltou para sala sem o moletom?

–Porque ele quis.

–Quis fazer o que?

–Você sabe que eu não iria agarrar um cara que tem dois dias que eu conheço.

–Isso é verdade...

Eu ouvi uma buzina familiar, era o meu pai. Me despedi de Amanda e entrei no carro.

***

Meu pai parou num armazém que ficava na estrada para comprar umas cordas. Aquele armazém vendia de tudo, até animais de estimação.

Enquanto meu pai comprava as cordas eu estava andando pelo armazém para olhar algumas coisas. Me deparei com uma gaiola cheia de coelhinhos fofos.

Eu peguei um coelhinho preto, era o maior da gaiola e tinha olhos vermelhos. Era tão fofo.

Procurei o meu pai, provavelmente ele iria comprar aquele bichinho fofo e peludinho para mim. Ele estava no caixa, logo atrás de um senhor que aparentava ter 40 anos.

Fui até lá para falar com meu pai, o homem estava conversando algo.

–Eu quero cinco caixas de balas de prata -ele falava para o cara do balcão.

–Senhor Jones, para que tantas balas?- o balconista perguntou.

–Eu ouvi uivos ontem, uivos de lobos.

–O senhor viu um lobisomem?-perguntei.

–Sim, garota, eu vi. Tentei atirar nele, mas não acertei no coração.

–Só mata se atingir no coração?

–Sim, mas a bala de prata pode feri-lo muito.

–Onde o senhor mora?

–Eu moro em uma pequena fazenda para no lado oeste desta cidade. Tenho muitas vacas e distribuo leite de qualidade para os armazéns. O desgraçado do lobisomem comeu cinco das minhas vacas, então da próxima vez que eu olhar na cara daquele bicho do mato eu não vou pensar duas vezes.

–Vai matá-lo?

–Claro! É melhor matar do que ser morto.

O homem pegou suas mercadorias de cima do balcão.

–Sr. Jones, na próxima distribuição o senhor pode vir de novo?-o balconista falou.

–Claro, vou até anotar na minha agenda. Pode pegar uma caneta?

O Sr. Jones sentou num banco e abriu um bloco com capa de um material parecendo couro.

–Vamos, minha filha-meu pai puxou minha mão.

–Um minuto pai.

Eu fui até o velho fazendeiro.

–Senhor Jones?

–Sim?

–Qual vai ser a próxima data que o lobisomem vai aparecer?

–Daqui a uma semana, na sexta-feira.