Ao Pôr do Sol

Regra do Jogo - Parte 2


Vejo os olhos várias vezes, sou sempre acordada com as malditas luzes de natal das outras casas. Levanto-me coçando os olhos com o braço, dou cada passo com delicadeza tentando chegar á porta do quarto, até bater uma parte da cabeça na quina da porta.

– Droga! – eu murmuro.

Abro os olhos, mas á inútil com a luz apagada. Continuo a andar até alcançar o monitor de luz, acendo tentando fazer o mínimo de barulho o possível. Deslizo pela poltrona até encontrar o telefone, então finalmente disco o número da casa de Scarlett. O telefone chama sem parar e nada dela atender, até que enfim:

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– Alô? – é ela e sua voz de sono.

– Scarlett, sou eu... Ash. – eu suspiro.- Eu não aguento mais, preciso ir para minha casa, deitar na minha cama, ver meus amigos... Ammy é uma das pessoas que eu mais amo no mundo, mas não dá para conviver nesse lugar!

– Você me ligou três horas para me dizer isso? Tudo bem... – ela diz bocejando. –O que aconteceu para você querer vir? Cara, você deveria aproveitar que pelo menos tem alguém da família para contar. Na boa, eu só tenho meu pai e ele não sabe o que é férias, minha mãe é uma louca que só pensa nela mesma. Nunca em mim. Você está tendo as férias mais perfeitas de sua vida e ainda me liga três horas para desabafar o quanto está sendo péssimo, e eu acho que não estou sonhando.

O problema de Scarlett era que ela se importava muito com o quanto a mãe dela não se preocupava com ela, eu não a culpo, ela era muito jovem e mimada quando tudo aconteceu e acabou sofrendo um grande transtorno de personalidade – suas notas despencaram, seus amigos se tornaram apenas meninos (com uma exceção para eu, é claro) e ela começou a apresentar comportamento estranho como muita raiva -, mas ela não deixa de ser a pessoa mais interessante que já conheci. Por fim suspiro deixando que uma lágrima queira fugir dos meus olhos.

– Scarlett, defina o amor? – eu a pedi.

– Amor é um simples sentimento que as pessoas acham que existe, eu posso ser a prova viva de que amor do tipo “romance” não existe. Sério agora eu preciso dormir, amanhã tem um encontro de skatistas logo cedo e tenho que ir de skate sabe como é...

– Bom sono, eu te amo sua retardada – eu digo soltando uma curta risada.

– Boa madrugada, eu também te amo... Volta inteira! – ela desliga o telefone.

Eu coloco o telefone no gancho, me encolho no sofá abraçando os meus joelhos e finalmente fecho os olhos. Normalmente, nessa época do ano eu costumo ser assustada por minhas lembranças que vão e veem em minha mente toda hora, o qual motivo que Ammy queira me trazer, que eu entupa minha mente de livros, é somente para esquecer de tudo. Aos poucos meus olhos vão se fechando dando espaço ao sono.

A luz do sol torna minha visão um pouco vermelha, minha cabeça vai deslizando pela poltrona até eu acordar assustada. É somente o dia. Eu me espreguiço, e volto a descer os pés até o chão até ver que estavam molhados. Eu levanto o meu olhar, e vejo que Ammy limpa o chão enquanto cantarola.

Bom dia Bela Adormecida – ela cantarola como se fosse engraçado.

Eu me levanto nas pontas dos pés e caminho até a cozinha sem responde-la, levanto em conta o fato que se eu respondesse iria ser pior, não me sinto tão má assim por isso. Sento-me á mesa, já esticando o braço para pegar o controle e a caixa de suco. Ela entra na cozinha e também senta-se á mesa, puxa a faca e lentamente corta o pão, então levanta o olhar e diz:

– Ouvi você ontem no telefone com Scarlett, ela está bem?

Regra número quatro de ter uma irmã mais velha: Sempre quando ela te pergunta algo de jeito estranho é porque ela sabe a resposta, então tente ser o mais sincera o possível o então corre. Eu tiro a atenção da caixa de suco, mordo o lábio inferior, suspiro e finalmente:

– Assuntos particulares, nada que seja da sua conta.

Ela volta brutamente a faca a deixando cair no prato e me olha frustrada, eu abaixo o olhar tentando voltar a atenção para a caixa de suco. Mas é tarde demais, o pior é que se eu correr com o piso molhado posso cair então o que me resta é ouvir.

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– Ashley, eu estou fazendo o máximo o que posso para tudo ser perfeito para nós. Mas as coisas não são simples assim, eu não estou conseguindo pagar a casa, e desse jeito é fácil demais que Joseph tome a guarda de Connor. Eu não quero voltar a morar com a nossa mãe, quero que sejamos felizes. Tente colaborar só por esses dois meses, prometo que voltará a sua vida logo.

– Desculpa – eu peço quase engolindo as palavras.

🌴

A noite sombria volta a reinar, eu mudo de canal sem parar só que nessa época do ano só passa filmes idiotas de natal. Tento me trancar no quarto e ler um pouco do livro que acabei de terminar, porém não acho mais graça nenhuma, eu já sei o que acontece. Então entro debaixo no chuveiro deixando suas gotas frias escorram pela minha pele, e quando finalmente saio do meu interminável banho. Olho pela janela é Thomas e mais três garotas. Então são duas noites e seis garotas, ás vésperas do natal... Estou arrumando um jeito no qual isso possa ficar pior, mas acho que já chegou ao nível máximo.