Eu passei o resto da noite induzindo meu pai e meu padrasto a me dizerem como poderia ser a reação de John ao acordar e quanto mais eles me falavam mais esperanças eu nutria, apesar do susto talvez isso seja uma coisa boa, talvez ele com essa descarga de estresse possa ter seus pensamentos e emoções em ordem outra vez, eu sei que pode ser ingenuidade da minha parte acreditar que ele pode acordar mudado, mas não custa nada me manter esperançosa quanto a isso.

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O dia seguinte havia chego e já se passava das 8:00 da manhã, depois de muito insistir consegui convencer a meu pai e Frank a irem descansar, Tony estava em nosso quarto e segundo Jarvis tinha ido tomar banho e eu estava aqui em frente ao espelho do banheiro olhando o meu reflexo como se ele fosse ganhar vida e me dizer algo, depois de perder mais alguns segundos me olhando eu joguei um pouco de água no rosto e saí e bem no momento em que John estava despertando, ele parecia ter acordado de algum pesadelo puxava o ar com força e assim que percebeu o cateter em seu braço tentou puxá-lo.

— Ei, ei, não é nada ruim. - eu digo e coloco a mão em cima de seu braço, ele não reluta me olha com uma cara de cansaço e joga a cabeça para trás e fica quieto uns segundos antes de levar as mãos à cabeça. - Tá com a cabeça doendo? - ele assente e eu pego um dos remédio que Frank me disse que era pra dar ele caso acordasse assim. - Tome. - digo estendendo-lhe um copo de água e o comprimido. - É pra dor de cabeça. - aviso e ele pega o que lhe ofereço, toma e volta a fechar os olhos, eu olho para o soro que já está em suas última gotas e como aprendi com meu pai o retiro e o descarto em uma lixeira que estava servindo apenas pra isso. - Teve um sonho ruim? - ele assente, é, parece que voltamos ao mesmo John. - Quer tomar um banho? - pergunto e mais uma vez ele assente, pego algumas roupas para que ele se troque no banheiro, o ajudo a se levantar e com alguns tropeços o levo para o banheiro. - Consegue sozinho ou quer que eu chame seu pai. - eu ouço seu sorriso abafado e ele nega com a cabeça. - Você nos deu um susto e tanto. - digo olhando pra ele que agora está sentado no vaso sanitário, ele não me diz nada apenas fecha os olhos e faz uma careta provavelmente por conta da dor de cabeça. - Vou deixar você tomar seu banho em paz. - digo dando-lhe as costas e caminhando para fora do banheiro, mas antes de sair eu tive de fazer a pergunta que vem martelando a minha cabeça desde ontem. - John, o que eu sou agora? Sua mãe ou uma pessoa de confiança? - pergunto, mas ele fica calado e com um sentimento de frustração saio do banheiro.
— Os dois. - o ouço responder antes de eu fechar a porta e me viro para olhá-lo, ele ainda está sentado no vaso sanitário, ainda aparenta estar sentindo dor, mas tinha um esboço de sorriso que me passou duas impressões de exaustão e de derrota. - Obrigado por ter me tirado do frio.
— Obrigado por ter me dito que estava com frio.- eu respondo e o vejo ficar de pé. - Não se feche mais, John, nós estamos aqui, sempre estaremos aqui.- eu digo e fecho a porta.

A alegria me toma por vê-lo mais aberto, no entanto, a minha razão tenta frear os meus sentimentos ao me fazer pensar que ele já foi “aberto” comigo antes e que o fato de ter me reconhecido como mãe não muda muita coisa e por pensar nisso eu vi o meu riso sumir.

— Ei, cadê o John?- Tony pergunta ao entrar no quarto e me vendo trocar a roupa de cama.
— Se acordou e foi tomar um banho.
— Como ele está?
— Está bem, só reclamou por causa de dor de cabeça e me agradeceu por tê-lo tirado do frio, embora não tenha sido eu que o tenha tirado do frio.
— Ele disse mais alguma coisa? - nego com a cabeça enquanto forro a cama.- Então Brian e Frank estavam certos quando disseram para não esperarmos que ele fosse mudar da noite pro dia.
— Paciência, Tony...
— Eu já tô cansado de tanta paciência! Puta que pariu, o que ele precisa pra entender que você está aqui, que eu estou aqui?! Hein?! Eu tô movendo céus e terras para que o resto dos Vingadores não venham aqui ou não queiram arrastá-lo pro QG para interrogá-lo sendo que se fosse outra pessoa eu teria sido o primeiro a me mover para levá-lo pra lá!
— O que você quis dizer com isso? Que seus amigos vão prender meu filho? É isso, Tony?!
— Ah! Por favor, não faça drama! Você sabe muito bem que eu nunca deixaria isso acontecer. O fato é que ele sabe de muita coisa e precisamos saber o que ele sabe tanto para pegar quem fez mal a ele quanto para entender no que ele estava metido.
— Então você e seus amigos esperem ele estar pronto, Tony, por que vocês podem ser os Vingadores, destruidores, justiceiros, seguranças do presidente, qualquer coisa se o meu filho não estiver pronto pra falar ele não vai falar e ai daquele que for forçá-lo.
— É por ter você falando essas besteiras que ele fica aí igual um mudo! Você com esse papo de “dê tempo ao tempo” só faz acovardá-lo!
— Você tá se ouvindo?! Você já parou para pensar que talvez ele não queira nos contar pra não ter de tá revivendo isso?!
— Eu também fui sequestrado, Pepper! Eu tive de falar o que passei, de reviver tudo inúmeras vezes toda a vez que fui interrogado por alguma agência ou quando conversava com você e o Rhodey!
— Você acha que aquilo foi um sequestro? - a voz vem das nossas costas e quando eu me viro vejo John com uma aparência melhor, mas com aquela cara de indiferença de sempre.
— E tem outro nome?
— Susto. - ele responde e passa por nós sem dizer mais nada, Tony rapidamente o seguiu bradando perguntas e exigindo respostas enquanto que John só fazia ignorá-lo.
— Eu tô falando com você, John! - Tony diz deixando claro que chegou no limite de sua paciência e o puxa pelo braço. - Desde que eu te encontrei que eu venho tentando me adequar a esse seu jeito fechado, ouvindo sua mãe, deixando você a vontade pra que quando estivesse pronto procurasse um de nós pra conversar, mas eu não vou mais fazer isso, tá me ouvindo? Já chega disso, eu cansei dos seus jogos, cansei dessa história de paciência, não quero saber se você gosta de conversar ou não, você vai falar o que eu quero saber e vai ser hoje! - eu nunca vi Tony ser tão sério e nem tampouco impondo tanta autoridade em sua voz e também nunca vi John demonstrando tanto desprezo em um olhar como agora.
— Devo dizer bom dia ou perguntar o que tá acontecendo aqui? - meu pai fala e os dois continuam a se embater. - A segunda opção pelo o que vejo. O que tá acontecendo aqui? - ele insiste e John se solta do aperto de Tony, assobia e sai de casa e não demora muito para que Scooby apareça e faça o mesmo caminho que John fez a pouco. - Ficaram mudos?
— Nada, pai, foi só Tony e John conversando. - ele arqueia a sobrancelha duvidando, mas não pergunta nada, eu vi Tony se movimentar e por um momento pensei que ele iria atrás do John, mas ele desce para a oficina e eu respiro aliviada.
— Conversando? Quando eu pegava daquele jeito no seu braço ou no do seu irmão não era pra conversar. O que houve?
— Tony perdendo a paciência e John de certa forma revidando. - eu digo massageando as têmporas. - Será que as coisas não poderiam ser mais fáceis? Por favor, pai, não comece com seus discursos sobre meus erros, está bem? Só por hoje.
— Eu não ia fazer. - sei, quem não te conhece que te compre, pai. - E então já fez o café da manhã? - nego com um aceno. - Então vamos relembrar a sua infância quando eu me juntava a você na cozinha e a gente preparava a comida.
— Nas minhas lembranças mamãe e Robert estão incluídos.
— Nas minhas também, filhota. - ele diz passando o braço por cima de meus ombros. - Não vai chamar o John?
— Não, deixa ele só, ele precisa pensar.- eu digo e ele não contesta.
— Os outros já sabem que ele acordou e que está tudo bem?
— Não. Jay, por favor, ligue para meu irmão e os pais do Tony e os avise que John já está acordado e bem.
— Sim senhora.
— Se ele fosse minha secretária grande parte dos meu problemas no consultório estavam resolvidos. - ele diz e apesar de sorrir a palavra secretária despertou raiva e curiosidade em mim.
— Pai, posso te fazer um pergunta?
— Já sei até qual é, e a minha resposta é que eu não tenho resposta.
— Você mudou muito depois que o tio Linc “morreu”, pai. - ah! O tio Lincoln, como sinto falta dele, mas ele morreu ou assim dizem não acredito que ele tenha morrido por que nunca acharam o corpo dele, mas isso é só um pensamento meu, depois que ele foi dado como morto pelo exército em 92 o meu pai mudou radicalmente e através de suas atitudes foi afastando muitas pessoas que eram próximas a ele.
— Sua mãe me disse a mesma coisa antes de sair da minha vida. Ela é casada oficialmente com o Frank agora, sabia? Eva Russell é o nome dela agora. Sinceramente, eu achei que ela só queria o divórcio pra encerrar de vez qualquer laço comigo que não seja filhos e netos. - ele comenta com infelicidade enquanto pega os ovos na geladeira.
— Pensei que eles já fossem casados.
— Não, eu briguei bastante pra não dar o divórcio e você conhece sua mãe tudo ela quer resolver no diálogo e toda vez que eu aumentava a voz ela abandonava a ideia, e fomos levando, aí pouco tempo antes do seu acidente ela me procurou revivendo a história, de início neguei, mas depois vi que não adiantava nada protelar isso, ela não vai deixar o Frank e mesmo se deixar não vai voltar pra mim, então, eu resolvi acabar de vez com isso.
— Sinto muito, papai.
— Eu errei, eu tenho que arcar com as consequências.
— E o seu filho, pai? Ele mora com você?
— Não, graças a Deus! Eu não suportaria viver com aquele menino. - ele diz e eu o olho incrédula. - August é terrível, Ginny! Ele conseguiu fazer a proeza de reunir em um só a minha chatice e a arrogância da mãe dele, ninguém da nossa família gosta dele. Você acredita que quando Audrey era menor ele a jogou dentro da piscina mesmo sabendo que ela não sabia nadar?
— Meu Deus! Robert...
— Quase o matou! Depois daquele dia prometi a mim mesmo que nunca mais o uniria com nossa família.
— Bom, então eu o detestava também, não é mesmo? - ele assentiu. - Ele conheceu John e Tony?
— Conheceu e também conseguiu a antipatia deles.
— Já tentou conversar com ele? - ele me olha com uma cara de: “o que você acha?!” e eu meio que me encolhi. - Desculpe, acho que por um momento esqueci que criou 2 filhos. - ele riu e me entregou o primeiro prato com omelete. - Bom, se ele não sabe reconhecer o seu valor quem sai perdendo é ele, pai, mesmo tendo errado aqui e ali o senhor sempre foi um bom pai.
— Agradeço por isso. - ele diz após beijar a minha cabeça. - Mas vamos esquecer August e focar no que interessa, comida! - ele diz animado e eu foco em ajudá-lo, enquanto revezamos o que fazíamos na cozinha nós comentávamos sobre algo da nossa antiga vida e isso me distraiu dos problemas que com certeza mais tarde viriam.

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Depois que o café ficou pronto eu pelejei para conseguir trazer os dois ou pelo menos um dos dois de volta, mas nenhum quis, meu pai claro, percebeu o que estava acontecendo e subitamente mudou de planos optando por ficar mais algum tempo na casa do seu não querido genro.

Pouco tempo se passou e logo o restante da família chegou e graças a isso o único que consegui trazer de volta foi o John que estava mais uma vez em seu silêncio mortal, ele estava com raiva e se percebia isso até pela maneira como respirava, eu vi ele fechar o punho vez ou outra e ele realmente parecia estar usando de todo o seu auto controle para não se irritar conosco.

— Jovem Stark, seu pai o chama na oficina.- Jarvis avisa e eu arqueio a sobrancelha. Desde que John voltou que Tony não o chama aí de repente ele faz isso? Aí tem! Contrariando todos os meus pensamentos John se põe de pé e desce.
— O que será que ele quer? - me pergunto e meu pai me olha com curiosidade, ele sabe que o clima não é o dos mais amistosos e que esse súbito chamado do Tony é de se estranhar, sendo impulsiva eu me levanto e antes mesmo que eu chegue nas escadas ele surge. - Cadê o John?
— Pensei que estivéssemos sós. Mas cadê seu irmão e a família dele?
— Eles vieram aqui, mas foram fazer turismo. Cadê o John?
— Tá conversando com o Rhodes.
— Rhodes? Mas ele nem...- eu nem preciso completar, automaticamente a minha mente já me joga informações e eu entendo a manobra que Tony fez para me driblar. - Como você pôde?! Será que você não é capaz de respeitar os limites de ninguém?!
— Não. Hoje eu acabo de vez com isso.
— Eu disse a você que ele só ia falar quando ele quisesse e ele só vai falar quando ele quiser. - eu falo e tento fazer meu caminho para descer, mas ele me impede.
— E eu disse a ele que ele ia me contar o que eu quero saber hoje e de hoje não vai passar.
— Vocês querem explicar o que é tudo isso? - Maria exige enquanto ela e os outros veem Tony em minha frente impedindo a minha passagem.
— Só Tony sendo um perfeito idiota.
— Só quero encerrar essa história de uma vez por todas, mas Pepper não facilita.
— Eu? E você acha que ficar forçando ele a alguma coisa e que socar ele quando não conseguir é a solução? - perguntei e isso foi a fagulha pra iniciar uma discussão que se espalhou por todos nós. Tim tim tim, esse som foi o que nos silenciou e foi causado por meu pai estar batendo uma colher de pau no fundo de uma panela.
— Mas o que é isso, Brian?
— Meu jeito de conseguir silêncio. Você tem como nos mostrar o que tá acontecendo lá embaixo?
— Tenho.
— Ótimo! Ginny, por mais que eu deteste o seu marido eu concordo com ele que temos de saber o que aconteceu, mas se quando ele mostrar o que tá acontecendo lá embaixo nós vermos um John arredio e que não queira de maneira nenhuma falar eu mesmo o tiro de lá. - não acredito nisso! Tony conseguiu o apoio de todo mundo aqui só por causa da curiosidade.
— Jay, pode transmitir o que está acontecendo na oficina na tevê da sala e inclua o áudio. - a tela antes preta se enche de vida e nos dá a visão de Rhodes e John, um sentado de frente pro outro John no sofá e Rhodes em uma cadeira.
“- Onde você estava, John? E quem são eles?
— Eu já disse que não sei.
— Vamos lá, carinha, eu tô tentando te ajudar. Me diz, onde você estava e quem são eles?
— Eu não sei quem são, eles tinham um bordão sobre cabeças que cortam e nascem, sei lá, eu nunca me detive a esses gritos de guerra e eu também não sei onde é a base, nós só tínhamos dimensão de onde estávamos quando estávamos no transporte que nos levava para o lugar onde eles queriam que a gente estivesse. Quantas vezes vai ser preciso eu te dizer isso? — Rhodes suspira, deixa os ombros caírem em sinal de derrota e maneia a cabeça.
— Tudo bem, se você tá dizendo que não sabe eu não vou mais insistir.- ele diz e John se levanta e ele logo se põe de pé também.— Mas isso não significa que eu acabei.- ele rola os olhos e se senta e Rhodes faz o mesmo.— O que você é?
— De acordo com a ciência, homo sapiens sapiens.
— E de acordo com as pessoas com quem você estava?
— Mais um no meio de muitos.
— O que você fazia?
— Muitas coisas.
— Que tipo de coisas?
— A maioria, senão todas a que você está pensando.
— Você é uma pessoa que atua em todas as frentes? - ele assente. — É um planejador, estrategista?
— E nas horas vagas, inventor.
— E um assassino?
— Também. - a minha boca se entreabre, o meu coração acelera e a minha cabeça funciona a mil tentando me fazer processar essa informação, meu filho um assassino?!
— Quantos?
— Nunca parei pra contar.
— Quais os nomes?
— Também nunca parei para perguntar.
— Eram pessoas de influência? Viviam no meio da política?
— Olha, não me interessava quem eram eu só ia lá e fazia, se fosse pra matar eu matava, roubar eu roubava, torturar eu nunca fui muito bom com isso, mas fazia também, se fosse pra vigiar eu vigiava, enfim, o que eu fosse enviado pra fazer eu fazia.
— Sem hesitar? - ele concordou. - Qualquer um?
— Qualquer um. - ele reafirma e quando eu olho para as pessoas ao meu lado todos exceto Tony parecem chocados.
— Quantos tem na sua equipe?
— Depende da operação, nem sempre precisa de equipe muitas vezes um só dá conta de tudo.
— Gosta de trabalhar sozinho? - ele assentiu. - Mas você estava sozinho? - ele negou com um aceno.—Tinha gente infiltrada? - ele assentiu.
— O que se faz nesses casos de captura do parceiro?
— Ou agiliza o procedimento ou aborta a missão, nesse caso eu acho que ele abortou caso o contrário você não estaria conversando tão tranquilamente comigo nem tampouco demorado tanto.
— O que levaram vocês lá?
— O que levaram vocês?
— Qual era o plano para aquela bomba?
— Qual é o plano pra toda bomba?
— Vai ficar me respondendo com perguntas?
— Vou se você já tem a resposta.
— Qual era o plano em geral? Qual a magnitude de destruição dessa bomba? O que você estava procurando ali?
— Olha, a gente sabe que aquela ''usina'' é uma fachada para uma instalação de base não tão secreta assim de pesquisa, o plano era conseguir o objeto alienígena e explodir tudo depois.
— Quem o quer?
— Não sei, tudo o que eu sei é que queriam aquilo.
— Se você tivesse dado isso estaria munindo os vilões, sabia?
— Heróis e vilões, bem e mal, são todos questões de ponto de vista. O que é bom pra você pode ser ruim pra mim, o que é um herói pra mim pode ser um vilão pra você e vice-versa. De todo o jeito, a minha parte era roubar e causar o caos. Agora, quem, como, quando ou o que iam fazer você tem de perguntar a outra pessoa.
— Quantos de vocês existem?
— Muitos, mais até do que você pode imaginar.
— Todos chegaram com a sua idade? - ele assentiu. - Como era o treinamento de vocês?
— Rigoroso, tinha várias etapas sabe, em uma treinávamos a pontaria, depois o combate corporal, a resistência, a capacidade de mentir, enfim, ia passando até que chegava o ponto onde você matava ou morria. - ele revelou e olhou para as mãos, Rhodes ficou em silêncio esperando ele levantar a cabeça ou falar alguma coisa e nós também. — Será que podemos parar com isso? Tô com uma dor de cabeça que tá me matando.
— Tudo bem, o que você falou foi o suficiente pelo menos por enquanto. - Rhodes diz e ele se levanta, eu o vejo caminhar e se dirigir para a saída da oficina, mas eu fiquei tão atônita que só me dei conta de que ele já estava aqui quando eu o vi encarando nós e a tevê ligada.
— Uma conversa só entre nós, né?
— Não sabia que Tony ia fazer isso. - ele diz se defendendo.
— Se você tinha acesso a recursos de comunicação por que não nos procurou? Por que você fez todo mundo aqui sofrer por 8 anos? - a pergunta sai antes mesmo que eu possa sequer pensar nela.
— Se vocês que estavam aqui e estavam bem, sofreram, o que eu posso dizer?
— Nós convivemos com a incerteza, John! Enquanto que você...
— Enquanto que eu o quê?! Me diz! Se você tá de saco cheio do meu silêncio, eu tô de saco cheio da tua voz, e das tuas perguntas e acusações. Vocês querem saber por que eu não falei com ninguém? Pois bem, não falei por que eu não lembrava de vocês e no tempo que lembrei achei que estavam mortos!
— Pera aí, pera aí, como assim? - minha mãe pergunta e de todos aqui ela e Maria parecem ser as únicas que não o julgava com o olhar.
— Explique isso direito, querido. - Maria pede.
— Eu não me lembro de tudo o que me aconteceu, não lembro como cheguei, muito menos quanto tempo passei, mas lembro daquele quarto pequeno e escuro, de ouvir ruídos de ratos, do chão duro e frio e do medo, eu tive medo, muito medo e eu tentava a todo custo me acalmar, quando eles vinham, quando o homem da cicatriz de ‘x’ na bochecha aparecia eu tentava mostrar a ele que eu não tinha medo, por que eu era um “homem”... Humpf! Quanta ilusão, não? Não demorou muito pra que eu já não conseguisse mais me segurar, eu chorava, eu chamava pelos meus pais, por todo mundo, eu ficava repetindo pra mim mesmo que se meu pai aparecesse e me salvasse eu nunca mais ia mentir pra mamãe, nem comer doce escondido, nem imitar o vovô, nem desobedecer a vocês, eu prometi que seria um bom menino, eu seria sim, mas as minhas promessas não bastaram pra ninguém, até que um dia não sei quanto tempo depois o senhor ‘x’ como eu chamava, veio e me mostrou que por eu estar sendo assim causei a morte da minha mãe e se essas palavras já me fizeram soluçar de tanto chorar quando eu vi a foto eu quase morri, eu não sabia que era montagem e eu nunca ia imaginar, ela era tão real, era você, eu tinha certeza que era! Ele deixou aquela foto comigo e eu perdi as contas de quantas vezes te pedi desculpas. - ele diz olhando para mim que já tinha o rosto banhado por lágrimas. - Depois disso eu não sei se tinha se passado, horas, dias, meses ou anos, mas eles vieram e me disseram que todos os meus avós também haviam morrido, eles dois em um acidente de carros e os outros por causa da idade. Aquele dia foi o dia que me tiraram toda e qualquer esperança, se minha mãe e meus avós estavam mortos quem estaria por mim?
— Eu! - Tony brada. - Nessa sua história maluca onde eu estava? - ele pergunta indignado e John balança a cabeça negativamente e olha para Tony de uma forma como nunca vi antes, com decepção e mágoa.
— Vivendo, de todos nós aqui você foi o único que estava fazendo isso.
— Eu vivi o inferno...- ele começou a gargalhar interrompendo Tony que tentou avançar pra cima dele, mas foi contido por mim e Rhodes. - Do que você tá rindo?!
— Que inferno você viveu? Tudo que eu vi foi você desfilando com mulheres e farreando por aí! Quer saber o que é inferno? Eu vou te mostrar! - ele tirou a camisa e no mesmo instante que vi aquelas marcas eu virei o rosto, o sentimento de impotência me dominou por inteiro eu senti o fluxo de lágrimas dobrar e o aperto no peito aumentar, o que fizeram com o meu filho? - Isso daqui, é o meu inferno. Eu fui chicoteado, queimado com ferrete nas costas, me colocaram de cabeça pra baixo e enfiaram a minha cabeça em um balde de água gelada diversas vezes, já levei facadas e tiros, tive de matar pessoas que nunca me fizeram mal pra poder viver mais um dia, fui espancado de todo o jeito e uma dessas surras me deixou quase cego do olho esquerdo, aí você vem abrir a boca pra me dizer que viveu um inferno?! - ele pergunta transtornado e nós ficamos em silêncio. - FALA!
— EU PROCUREI POR VOCÊ!
— E ONDE ME ACHOU? HAM?! EMBAIXO DA CAMA DA LOIRA? NO BANHEIRO DO QUARTO DA RUIVA? NO ARMÁRIO DA MORENA?! FOI LÁ?!
— Meu filho...- eu tento falar, mas ver mais uma vez aquelas marcas e o seu aceno negativo me toma as palavras.
— Antes mesmo de me falarem que a mamãe e os meus avós morreram eles me mostraram sobre você, mas eu acreditava piamente que você ia me encontrar, afinal, você é o Homem de Ferro, o invencível, mas acima de tudo o meu pai é claro que você ia me procurar e me achar, mas eu tava enganado, pra quê você ia perder seu tempo se eu não tinha serventia alguma? Eu não era atriz, modelo, a filha do governador, você tinha outras prioridades e eles faziam questão de me mostrar e de relembrar isso muitas e muitas vezes, até que um dia eu vi que não tinha como eu escapar quem podia me procurar não estava mais vivo e o único que estava vivo não estava nem aí pra mim, então eu deixei eles entrarem na minha cabeça pra me fazer esquecer de tudo e me manipularem como bem quisessem. - eu estava paralisada, nenhum comando meu parecia funcionar, os pensamentos se esvaiam, as palavras pareciam que não existia e as minhas pernas não se moviam, parecia que havia uma força invisível me calando e segurando. - Espero que isso seja o suficiente pra você e para os seus amigos vingadores, e diga a sua amiga ruiva que eu ainda vou devolver a bala que ela tentou meter na minha costela. - essa foi a primeira vez desde que ele começou esse relato que eu olhei pra alguém que não fosse ele, quando eu olhei para Tony eu senti tanta raiva que se tivesse uma arma ali quem ia tomar um tiro ia ser ele! - Você nunca conheceu o inferno, nenhum de vocês conheceu, então não abram a boca pra dizer isso, por que no dia que vocês conhecerem qualquer coisa de ruim que vocês viveram anteriormente vai parecer o céu. - ele diz e nos dá as costas e se eu já achei agoniante olhar para o seu peito ver suas costas foi bem pior.

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As cicatrizes de uma pele cortada vinham em horizontal, vertical e em outras posições, os cortes eram profundos e rasos e de diversos tamanhos e larguras e tinha até mesmo um por cima do doutro, a marca do ferrete era a direita e na altura de seu ombro e nos fazia vê um símbolo pequeno de um tipo de caveira com tentáculos e um pouco mais abaixo e ainda menor a numeração 104. Eu queria me mexer ir até ele e abraçá-lo, dizer alguma coisa, fazer alguma coisa, mas ao invés disso eu fecho os olhos e me deixo chorar silenciosamente enquanto ouço seus passos se distanciarem cada vez mais de uma sala onde todos estavam em choque.