Antônimos

Capítulo Um


Capítulo 1 – Biscoito da Sorte

As sobrancelhas rosadas estavam franzidas, a mão esquerda bagunçava os fios de cabelos róseos, enquanto a direita batia o lápis sobre a mesa de forma frenética. Vez ou outra a moça revirava os olhos esverdeados e ouvia o ranger de seus dentes, ela estava alcançando o ápice da sua irritação.

Tentou ignorar todo o barulho que vinha do apartamento vizinho em plena madrugada, e voltou a focar em seus estudos, pois na manhã seguinte teria uma prova de anatomia humana, e precisava tirar pelo menos um 7,5 se não quisesse conhecer os temidos “exames”.

Inclinou-se um pouco sobre os livros e começou a desvendar os mistérios do corpo humano, tentando compreender tanto a anatomia sistêmica¹, quanto a regional². Sentiu o cansaço começar a dominar seu corpo, mas não podia deixá-lo vencer, pois havia se proposto a estudar até às quatro da manhã, e ainda falta uma hora para isso.

Levantou-se e rumou até a cozinha, onde encontrou uma garrafa térmica que possuía café dos fortes, que tirava o sono de qualquer um. Encheu uma xícara com o líquido e voltou para o quarto a fim de retornar com os estudos.

Sentou-se e recomeçou a fazer o desenho do corpo humano, com todos os seus órgãos e tecidos, porém a sua concentração não durou muito, pois os gritos alvoroçados que vinham do apartamento vizinho cessaram e deram lugar a um coro desafinado que acompanhava a ridícula música que tocava.

Sakura fechou os olhos e respirou fundo, ela não iria se irritar novamente, estava convicta disso até perceber que a cada trecho a música ecoava mais e mais alta, impossibilitando-a de estudar, de dormir, de qualquer coisa.

— Maldito Uchiha! — Disse ao atirar a xícara vazia contra a parede, para por fim suspirar derrotada.

(…)

Ele fitava sua imagem no espelho embaçado pelo calor da água quente que até ha pouco saía do chuveiro. Os cabelos negros estavam molhados e grudavam em sua face pálida, os olhos eram tão negros que lembravam um par de ônix, os lábios e o nariz eram proporcionais ao seu rosto, sem dúvidas ele era um rapaz bonito.

— Você é mesmo gato, hem, Sasuke! — Falou para a si mesmo. — Não é a toa que todas as mulheres caem aos seus pés — deu um sorriso torto, o típico sorriso Uchiha que arrematava corações.

Em seguida retirou-se do banheiro e foi para o quarto, onde se vestiu, arrumou o cabelo e perfumou-se. Logo rumou para a cozinha para fazer o desjejum, mas ao abrir a geladeira percebeu que a mesma estava vazia.

Olhou de soslaio para o relógio pendurado na parede, ainda tinha meia hora, portanto se saísse de casa nesse exato minuto teria tempo para comer algo em algum café.

Correu até o quarto, jogou todo o material necessário dentro da mochila, e em seguida caminhou até a sala, que por causa da festa da noite anterior estava um caos completo.

— Não acredito que vomitaram no meu tapete — resmungou ao notar algo nojento grudado no mesmo. — Quando eu voltar darei um jeito nisso tudo — falou ao alcançar a porta.

Já no corredor, ele dava passos calmos e lentos em direção ao elevador, sua expressão estava suave e serena até avistar uma cabeleira rosa vindo da direção oposta, rumando para o mesmo lugar que ele. Seus lábios se curvaram num sorriso maroto, agora iria se divertir um pouco.

Aproximou-se da garota e fez a sua melhor cara, de um alguém inconformado, logo comentou:

— Está horrível Haruno! Está parecendo uma morta viva, já lhe disseram que dormir às vezes faz bem? — Viu-a revirar os olhos, enquanto seu maxilar ficava tenso. Sorriu divertido, ela estava se irritando.

— Se eu não tivesse um vizinho tão barulhento, talvez eu conseguisse dormir e muito — Respondeu ela irritada entrando no elevador.

Sasuke a seguiu e notou que a mesma fez careta ao perceber que não se livraria dele. O que ela não sabia é que atos de desafetos como esses instigavam o Uchiha a provocá-la.

— Eu acho que você devia conversar com esse vizinho desprezível Haruno, talvez ele seja bonzinho e faça menos barulho — disse ele.

— Acredito que não teremos uma conversa amistosa, afinal eu só iria até o apartamento do desprezível para matá-lo — falou com desdém.

— Por que todo esse ódio em seu coração? — Sasuke fingiu estar incrédulo.

Sakura, por sua vez, virou-se para olhá-lo nos olhos enquanto explicaria a razão de todo o ódio em seu coração, porém antes que ela abrisse a boca para falar a porta do elevador se abriu e por ela passou uma velha senhora de cabelos grisalhos, que estavam presos num coque frouxo. Ela trajava um longo casaco negro e botinhas beges aveludadas.

Na opinião de muitos moradores do prédio, a velhota era um tanto assustadora, pois sempre deixava bem claro a todos que preferia os gatos, de preferência os pretos, aos humanos. Além disso, ela de alguma maneira sempre conseguia se livrar dos vizinhos que a incomodavam, a última vítima fora ninguém mais, ninguém menos que Uchiha Sasuke, desde então o apartamento que fica ao lado do setenta e um permaneceu vazio.

— Bom dia Chiyo-san! — disse a Haruno educada e recebeu um torcer de lábios da senhora, enquanto Sasuke ganhara um olhar gélido, que o arrepiou todo.

A rosada ao notar que o desprezível vizinho ficara tenso diante a figura de Chiyo abafou o riso, o mesmo lhe lançou um olhar irritadiço.

— Medroso — sussurrou para que ele ouvisse.

— Calada Haruno — ele a repreendeu.

— Frouxo — rebateu e ele revirou os olhos. — Sasuke eu achei que você era mais corajoso, sabe? O que o pessoal da faculdade faria se descobrisse que o grande Sasuke Uchiha é um covarde?

— O que? Você não faria isso? — Sua voz saiu entre dentes, agora era vez da flor de cerejeira dar o troco.

— Por que não? — Perguntou inocentemente. — Afinal, eu não tenho nada a perder.

— Talvez algumas noites de sono, que em minha opinião lhe cairiam muito bem? — Decidiu virar o jogo.

— Como é? Isso é uma ameaça? — As esmeraldas da moça esbanjavam fúria.

— Talvez sim, talvez não — deu de ombros. — Só te digo uma coisa… — o moreno virou-se para encará-la, sorriu divertido ao imaginar as feições furiosas da moça quando ele lhe dissesse o que tinha em mente — Você nunca vai arranjar um namorado se continuar sendo assim tão feia e acabada.

A face inteira da Haruno vermelhou, ela fechou ambas as mãos e começou a se controlar para não pular no pescoço do ser a sua frente. Sasuke podia falar qualquer coisa dela, mas agora o rapaz tinha apelado, e se ela estava num estado tão lamentável, ele, o vizinho desprezível, tinha culpa no cartório.

— Retire o que disse agora mesmo! — Sua voz ecoou firme e forte.

— Não! — Ele movimentou seus lábios lentamente, de maneira que a rosada pudesse lê-los.

— Agora! — A moça franziu o cenho.

— Você sabe tão bem, quanto eu, que não vai mudar o seu estado civil do facebook tão cedo — voltou a zombar.

— Desgraçado! — Sakura começou a desferir inúmeros socos contra o rapaz, mas nenhum o acertava.

— Vai com calma, desse jeito o ar não vai resistir — zombou.

— Parem! — Uma voz rouca ecoou no ambiente, fazendo com que Sasuke tremesse, e consequentemente fosse acertado pelo punho cheio de fúria da Haruno, que logo em seguida se dera conta do que fizera.

— Oh céus — arregalou os olhos ao notar que o vizinho desprezível levara a mão no estômago e se curvara de dor.

— Caramba Sakura! — Reclamou.

— Seus pirralhos briguentos e insolentes isto é um elevador e há uma velha senhora aqui, então parem de brigar como animais selvagens, eu já estou farta disso — Chiyo extravasou.

Enquanto isso Sasuke e Sakura não moveram um músculo, estavam assustados demais. Ao perceber a reação dos jovens, a velhota caiu na gargalhada, deixando-os atordoados e confusos.

— Esperem um pouco — ela pôs-se a vasculhar seus bolsos — achei! — Gritou ao encontrar dois biscoitos da sorte, que por algum motivo, certamente divino, estavam inteiros. — Peguem — esticou a mão para eles com os biscoitos sobre a mesma.

— Obrigada, mas…

— Nada de mas! — Gritou irritada, fazendo Sakura pular de susto. — Apenas peguem — sorriu docemente.

Receosa, a Haruno esticou a mão e rapidamente pegou um dos biscoitos que lhe fora oferecido, em seguida o Uchiha repetiu o ato, porém ele tremia muito mais que a moça.

— Isso mesmo, bons meninos — novamente Chiyo caiu no riso, e este aumentou quando a porta do elevador se abriu no térreo. — Até mais.

Os dois ficaram parados estáticos, apenas observando a velha sumir portaria a fora, assim que a perderam de vista suspiraram aliviados.

— Maluca — Sasuke murmurou.

— Será que devemos abri-los? — Indagou a rosada enquanto analisava o biscoito da sorte que recebera.

— Se não fizermos ela vai descobrir, e daí estaremos ferrados — respondeu.

Simultaneamente os dois quebraram seus biscoitos e se puseram a ler as frases da sorte que neles estavam, e estas por algum acaso do destino, ou não, eram iguais.

“A sua alma gêmea pode ser o oposto de você”