Antes De Ser Mulher Eu Era Uma Menina

O Traficante Da Escola


No primeiro ano do ensino médio, me lembro que todos os alunos daquela sala me respeitavam, pois o traficante da escola gostava de mim, no sentido de que eu sempre tirava dúvida dele, e de quem viesse a mim, sobre a matéria da aula. (E a mãe do traficante era pastora, decepcionante, espero que hoje ele esteja em um caminho melhor).

Não era atoa que ele era o líder dos garotos, ele era incrível. Teve um dia que conversamos com telepatia! Como assim??

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Aconteceu o seguinte, o intervalo tinha acabado de acabar. Só ouvimos um barulho bem grande no banheiro masculino. Estouraram uma bomba nele. Minha turma foi a primeira suspeita. Três colegas que os professores suspeitavam. Esses três foram para a diretoria, dentre eles, em um aluno foi encontrado uma caixa de fósforo em seu sapato. Foi fácil encontrar o responsável pela bomba? Muito, não acham? Os adultos são fáceis de serem enganados, principalmente os adultos que não assistem série de investigação.

Me lembro de apenas olhar pro traficante e mentalmente perguntar:

“Você é o responsável por tudo isso?”

Ele balançou a cabeça confirmando. Admito que essa cena de telepatia foi bem top.

O garoto que estava com a caixa de fósforo no sapato, foi expulso da escola. No dia seguinte, ouvi os colegas comentando, que não foi aquele garoto que colocou a bomba, mas ele levou a culpa pois o traficante mandou ele colocar a caixa de fósforo no sapato e ser responsabilizado.

Sinceramente, fiquei admirada em como esses caras eram leais a ele, para chegar em tal ponto. Eu, por outro lado, era conhecida como a pessoa que dedura todo mundo. Mas como essa escola não tinha ambiente familiar me senti muito pequena para denunciar esse cara.

Porém teve um dia que eu tentei, fui falar com a coordenadora que estava rolando drogas na escola, ela disse que já sabia. Eu fiquei com cara de poker face e deixei para lá. Ela no mínimo deveria expulsar o traficante ou colocá-lo em uma terapia.

TESTANDO A PROFESSORA

A professora de biologia do fundamental gostava de mim. Um dia ela perdeu a paciência com a turma e proibiu todos de saírem da sala até para irem ao banheiro, pois eles fingiam que iam ao banheiro para matar aula. Claro que dou todo meu apoio para a professora para agir dessa forma com meus colegas. Porém eu estava cansada de me sentir ameaçada pelos professores, sabendo que a ameaça era para meus colegas, por isso assim que ela falou seu decreto na sala tiver que levantar a mão e testá-la:

“Professora posso ir ao banheiro?”“Sim!” - Imediatamente ela me respondeu.“Por que a Alice professora?” - meus colegas reclamaram.“Só Alice pode sair, porque ela é diferente de vocês, é comprometida, quieta na aula…” - O resto não ouvi, pois já estava fora de sala.

O legal é que no fundamental eu não era perseguida pelos colegas por ser uma aluna educada e conquistar os professores. Eu era perseguida, pois não queria me enturmar e sempre dava um olhar mortal para todos que se aproximavam. Mas esse olhar mortal começou por causa do primeiro menino que eu gostei. Depois que ele me deu um fora, eu me senti tão tímida que não queria ninguém perto de mim. Mas no ano seguinte, após as férias, esse menino percebeu que eu existia (após me declarar publicamente) e fazia de tudo para conseguir minha atenção. Felizmente eu não sabia que isso queria dizer que ele gostava de mim, eu só o achava irritante. O pior é que por ele ser popular, os meninos copiavam ele em tudo. E as meninas morriam de ciúmes caso outra garota se aproximasse dele. Também era perseguida, pois tinham inveja de mim, por isso eu fazia de tudo para ser invisível, mas dava errado, eu chamava atenção. Eu achava que as garotas terem inveja de mim era coisa da minha cabeça até o dia em que elas se reuniram no vestiário e falaram o quanto elas queria peitos como os meus… Isso me fez lembrar das crianças da outra escola perguntando se eu havia colocado silicone. No ensino médio colocar silicone, que mundo é esse gente??

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EDUCAÇÃO FÍSICA

Sempre fui uma pessoa competitiva, por isso não entro em jogos, ao menos que seja para ganhar. Nessa escola, não valia a pena dar tudo de si para ter um bom jogo. Uma vez torci meu tornozelo em uma partida de tênis, foi a pior dor que já tive, ao ponto que nem conseguia falar que havia me machucado. A dor continha minha voz. Depois falei com uma voz bem baixa que torci o pé. Tentei continuar jogando, mas todos riam de mim machucada, até meu próprio time, porque eu iria sacrificar meu pé para um jogo que não sou valorizada pelo meu esforço? Caí fora.

O que mais irritava é que os professores estavam do lado da maioria dos alunos, então quem controlava a escola eram os alunos, especialmente Heitor e Débora, por isso que comparo aquele lugar com a Eitoko Gakuen de Hana Yori Dango.

Depois, toda Educação Física começaram a fazer um complô, para me derrubarem e me machucarem durante os jogos, e o professor nem “percebia” essa perseguição. Eles me jogavam no chão e eu simplesmente caía. Não entendia porque eu estava tão fraca, mas desde pequena meus pés eram um pouquinhos tortos, só depois de muitos anos que eles foram se concertando. Então não tinha muito equilíbrio.

Vinha minha colega gordona, alta pra caramba e jogava o corpo dela em cima do meu, eu caia.

Na semana seguinte, foram fazer um novo jogo. Dividiram os times, e eu não quis jogar, me sentei num canto, meus colegas já planejavam modos de me machucar e me vendo sentada no canto da quadra não aceitaram minha ausência no jogo:

“Professor Alice está ali sentada, e não vai jogar? Eu também não quero jogar!” - Gritou Débora com muita raiva.“Alice, levanta daí e vai jogar.” - Falou o professor.“Não vou jogar.”“Então você vai para a diretoria.”“Está bem.” - Me levantei e fui.

A diretora era a ÚNICA adulta que se eu pedisse socorro ela realmente iria me ajudar. Infelizmente, quando me sentei para tentar arranjar palavras e me expressar para a diretora (que é mãe da metade dos professores da escola) a Cinthia chegou na sala, como pedagoga ela podia participar da conversa. Eu nunca fui boa para me expressar, não sabia como falar para as pessoas o que acontecia comigo, prova disso é que só agora nessa fic que estou conseguindo falar o que me ocorreu. Só falei uma frase com muita dificuldade:

“Ninguém nesta escola vale a pena.” - minha voz era trêmula.“E o Pedro?” - Cinthia perguntou.“Sim, o Pedro vale.”“E o Miguel?”“Também.”“Então Alice, alguém aqui vale a pena sim. Fica perto deles.”

Tudo bem que ela não resolveu minha questão, e me atrapalhou a me expressar com a diretora, mas uma coisa ela me ajudou. Ligar o botão de fod*-se para a escola toda e muda sua atenção a quem realmente gosta de mim. Me deu mais força ainda para enfrentar meus colegas.

Mas quero falar um pouco mais sobre a diretora, ela é uma doninha que cuidava das rosinhas da escola. Uma pessoa maravilhosa. Quando meus tios inventaram que meu primo era esquizofrênico por isso ele não podia mais frequentar a escola a diretora percebendo que eles mentiam, falou:

“Não se preocupe se ele se tornar violento eu o segurarei.”

Achei graça, pois ela não tem nem 1 metro e 50 direito e se posicionou dessa forma. Amo ela!

Graças às suas rosinhas, eu e Lígia tivemos bons momentos, enquanto esperávamos a van chegar, observando os caracóis, e os besouros.