Anoitecer

Capítulo Cinco — Desistir sem lutar.


Eu me olhava no espelho, tentando reconhecer a antiga Serena ali. Mas, apenas os olhos claros, pareciam iguais. Meu rosto - antes um tanto rechonchudo -, agora estava mais maduro. Minha mandíbula estava mais marcada, e, eu parecia ter envelhecido pelo menos uns três anos ou mais. Fora uma das coisas que eu gostara na transformação. Meu corpo estava com mais músculos - músculos esses, que eu sempre tivera por causa do boxe, mas que depois da minha transformação, estavam mais evidentes.

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Tive que cortar meu cabelo, também. Os fios escuros agora batiam no meu ombro, um tanto repicados. Dando um ar selvagem que eu, particularmente, gostei. E, em falar em ombro, um pouco abaixo do direito estava a tatuagem da matilha. Uma coisa bem piegas, estilo clube do Bolinha, mas eu gostara.

Aquilo me fazia sentir parte de alguma coisa e não apenas a garota assustada que antes eu era.

Fiquei encarando a tatuagem.

Era peculiar. Redonda, com dois lobos desenhados de forma tribal... Talvez mostrando um pouco da selvageria de um lobo, ou simplesmente que éramos um todo, em busca de salvação de nós mesmos e até mesmo para os humanos contra todos esses sangues sugas.

Já estava acostumada com a alta temperatura do meu corpo - mas, no começo, foi meio estranho. Tudo que aprendi na escola, fora em vão. Quanto mais um corpo estiver quente, mais frio você vai sentir. Frio? Já fazia um tempo que eu não sentia.

Meus maravilhosos moletons estavam guardados no fundo do meu guarda-roupas.

Suspirei, pondo uma regata cinza e um shorts. Logo saindo do meu quarto e indo para a cozinha; para variar, eu estava com fome. Por sorte, Will tinha aumentado nossa despensa com comidas fáceis e rápidas.

Como a lasanha que eu estava esquentando no microondas agora, por exemplo.

A porta de casa foi aberta e logo três clones de pele marrom-avermelhada, altos e de cabelos curtos e pretos, entraram e se acomodaram na minha casa.

Paul se jogou no sofá, pegando o controle da TV e ligando num canal de desenhos animados, Embry sentou no banquinho do balcão e Quil veio me cumprimentar, com um beijo no meu rosto.

— E aí Serena! — Gritou Paul da sala, virando o rosto para a minha direção. A sala e a cozinha de casa era dividida apenas por um balcão de mármore, o que facilitava a conversação. — Pode fazer mais duas dessa lasanha? Estou com fome.

— Eu também quero. — Quil acrescentou.

Virei para Embry, erguendo uma sobrancelha, perguntando se ele também iria querer.

Ele acenou com a cabeça, sorrindo.

Peguei mais sete lasanhas congeladas do freezer, colocando-as em cima da mesa e tirando-as da embalagem.

— A comida tá em falta na casa de vocês, ou vocês são só uns mortos de fome, mesmo? — Perguntei, sarcástica.

O resto da tarde passou dessa maneira: Paul jogado no meu sofá, comendo, Quil jogado em outro, também comendo, Embry na poltrona - adivinha? Comendo. E eu, no chão, com as costas apoiadas no sofá, enquanto comia, também.

Will chegou pouco depois que os meninos foram embora, trazendo uma mochila nas mãos. Franzi o cenho.

— Oi. — Falei. Fui em direção a cozinha, levando os pratos para a pia e deixando-os lá, depois lavaria.

Will me seguiu, colocando a mochila no balcão e olhando divertido para as embalagens em cima da mesa.

— Os garotos estiveram aqui?

— Eles não saem do meu pé, você sabe. — Falei, tentando soar indiferente, mas na verdade eu adorava aquilo.

Eles me tratavam como uma irmã mais nova, sempre soando protetores e não me deixando em paz nem um minuto.

Muito diferente de Londres – lá, eu ia para a escola durante a manhã, chegava em casa e comia alguma coisa e logo depois ia para a academia que tinha em casa, ficando a tarde toda e parte da noite treinando. Tirando alguns dias que eu ia pegar Cole na escola e depois íamos tomar um sorvete.

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— Isso é bom. — Ele disse. Mas, pelo tom que usou, parecia querer abordar outro tema.

Will era campeão em enrolar.

— Aonde quer chegar?

— Conversei com Sam ontem e achamos que você já pode ir para a escola. Fiz sua matrícula hoje de manhã e passei para comprar seu material. — Apontou com o polegar para a mochila que trouxe.

Escola? Eu sabia que teria de ir para a escola, mas pensei que essa ideia tinha ido pra lama assim que me transformei. Sam me proibira de ir a lugares muito movimentados, de fazer coisas que me estressam e tentar, ao máximo, controlar meus nervos. Talvez a escola seja uma prova – um teste nível Hard para ver se eu estava pronta.

Dei de ombros.

Se Paul conseguia, eu conseguiria. Apesar de ter todas as emoções descontroladas e não só a raiva, como ele.

— Ok. Tudo bem. Quando começo?

Will sorriu aliviado e revirei os olhos com sua ideia que eu iria encrencar sobre isso.

— Amanhã, os meninos vão passar aqui te buscar.

Fiz que sim com a cabeça, olhando rapidamente para o relógio e voltei para Will.

— Vou patrulhar essa noite. Volto tarde, não me espere acordado. — Fui até ele e recebi um beijo na testa.

Mesmo orgulhoso, Will sempre ficava preocupado com eu ir patrulhar. Eu conseguia ver através de seus olhos escuros, que ele queria que eu continuasse em casa, sem ter que correr atrás de vampiros loucos e sanguinários.

— Se cuida, ok? — Ele gritou quando eu já estava indo em direção a porta.

— Pode deixar!


.oOo.

Eu estava morta de sono. Patrulhar até tarde e ainda acordar seis horas da manhã para ir a escola era sacanagem.

Me encarei no espelho, dando uma supervisionada na minha roupa. O jeans claro e gasto marcava bem todas as minhas curvas, enquanto a blusa de manga longa cinza cobria minha bunda e os boots pretos foram a escolha perfeita para andar pelas ruas da reserva.

Eu iria de carro, mas Sam cismara que eu tinha que andar a pé por aqui para decorar os caminhos.

Passei a mão pelo meu cabelo molhado, que já estava começando a secar e fui direto para a sala. Assim que entrei no cômodo, fui recebida pelo falatório alto dos garotos. Seth, Brady e Collin estavam no sofá assistindo um desenho qualquer, Paul estava na poltrona mexendo no meu notebook – ele desenvolvera um vício pelas redes sociais e sempre que podia usava meu computador para entrar nelas. Quil, Embry e Jared estavam na cozinha, comendo alguns dos pacotes de salgadinho que eu deixava escondido no armário ao lado da pia.

Não era exatamente uma surpresa eles estarem ali, já que eu os ouvira chegar enquanto ainda estava no banho.

Joguei minha mochila em cima do sofá e fui direto para a cozinha, querendo tomar um bom café forte para acordar. Mas a pessoa sentada no banquinho do balcão me fez parar meu passos.

Era incrível como o imprinting agia mais forte quando eu o via de surpresa. O coração acelerava, o sangue era bombardeado para cada parte de meu corpo, minhas pernas vacilavam e meu cérebro, momentaneamente, virava geléia. Isso numa fração de segundos que deixaria qualquer um louco. E logo depois disso, vinha a imensa vontade de me jogar em seus braços. Pedir desculpas por complicar tudo e finalmente viver o felizes para sempre.

Mas é claro que eu tentava ignorar tudo isso.

Continuei andando, indo direto para a cafeteira e pegando um copo no armário. Eu sentia seus olhos queimando em minhas costas.

— Bom dia. — Murmurei para todos, recebendo outros “bom dia” mais animados.

Mas sempre, claro, com o dele se destacando da galera. Com sua voz grossa e extremamente boa de ouvir, Jacob me respondeu com um “Bom dia, Serena”.

Inferno. Por que meu nome tem que ficar tão melhor quando ele diz?

Coloquei o copo na cafeteira, deixando o café descer enquanto eu ia até o armário e procurava por algo para comer.

Onde estava Will, afinal? Eram seis e pouco da manhã e nenhum sinal do meu pai. E isso que ele normalmente acordava mais cedo que eu.

Peguei um pacote de salgadinho e abrir, metendo minha mão dentro e pegando tudo o que podia, logo enfiando na minha boca. Nessas horas que eu mandava o foda-se para as “boas maneiras” e me comportava como um caminhoneiro.

A minha fome era pior que a de um, então, tudo beleza.

— Animada para o primeiro dia? — Quil perguntou, sorrindo zombeteiro e enfiando alguns salgadinhos na boca.

— É só escola, Quil. — Revirei os olhos. — Por que caralhos eu estaria animada para ir pra escola?

Todos riram do meu mau humor matinal – que, surpreendentemente, era pior que o meu mau humor costumeiro.

Meu telefone começou a vibrar no meu bolso, o peguei e atendi, sem prestar atenção em quem ligava.

Provavelmente era minha mãe, já que ninguém em La Push parecia ter celular, e todos os garotos estavam aqui. Então, sim, era mamãe provavelmente.

Nena! — Pega de surpresa, ouvi a voz de Cole. Meu irmão mais novo, filho de Mariza com John. Coloquei o salgadinho em cima do balcão e sorri.

— Seu pestinha, você não deveria estar dormindo? — Perguntei tentando parecer séria, mas falhando, pois a risada dele logo preencheu a linha.

Cole era meu bonequinho de porcelana desde que nasceu. Loiro, branquinho e pequeno, acabou virando uma das únicas coisas que faziam Londres parecer melhor.

Ele me via como um exemplo e eu, na maioria das vezes, tentava agir certo para que ele me visse como sua heroína. Mas ele achou o máximo quando teve que ir com Mariza me buscar na cadeia, quando fui detida por invadir propriedade privada. “Minha irmã é uma gangster, sabia? Ela foi presa no sábado!”, ele espalhava na escolinha.

É uma da tarde, Nena! Não posso dormir agora!

— Puxa, me esqueci do fuso-horário. — Comentei, olhando o relógio na parede da cozinha. — Olha, garotão, tenho que ir pra escola agora. Aí já está de tarde, mas aqui são seis e quarenta da manhã, e sua mana aqui vai se atrasar. Mande um beijo pra mamãe, e diga para ela me ligar mais tarde.

Tudo bem… — Ele pareceu triste. — Mas posso te ligar mais tarde também, né?

— Claro que pode. Beijo!

Desliguei a chamada e coloquei o celular de volta no bolso, logo pondo o copo vazio na pia e colocando minha bolsa no ombro. Peguei o salgadinho e me virei para os garotos, que estavam rindo.

— Quem diria que Serena sabe ser doce quando quer. — Zombou Paul.

Revirei os olhos e dei um soco no ombro dele, que soltou um au! e começou a esfregar a mão na região que bati.

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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Vai se ferrar, Paul.

Todos foram saindo de casa fazendo uma algazarra, com um bom humor duvidoso para aquela hora da manhã. Mas, Jacob estava se levantando do balcão, jogando sua mochila no ombro e olhou pra mim, com olhos pidões. Usava uma camiseta de manga longa branca, jeans e tênis – tranquei um suspiro.

Era crime alguém ser tão lindo a essa hora da manhã!

— Podemos conversar? — Ele perguntou, cauteloso.

Mordi o lábio.

— Tudo bem. — Assenti levemente, parecendo indiferente mas com um milhão de borboletas dançando salsa no meu estômago. — Pode ser no caminho para a escola? Estamos meio atrasados.

Ele sorriu aquele sorriso perfeito, me fazendo estremecer. Comecei a andar até a porta, sendo seguida por ele. Tranquei a casa e enfiei a chave no bolso de trás, dando uma rápida olhada no caminho e vendo que os meninos já estavam bem na frente.

Mas que bando de traíras!

Eu e Jacob começamos a andar em passos lentos até a escola, um ao lado do outro, perto demais para a minha saúde mental.

— Você sabe que não podemos fugir disso, não é? — Ele perguntou, mas quando abri a boca para responder ele me interrompeu: — Não, espera, agora eu vou falar. Eu tenho me mantido longe, te dando um tempo, mas não está dando certo. Toda vez que te vejo de longe, meu peito se aperta e é como se eu estivesse me torturando! Eu sei que se sente assim também, Serena, então por favor não vamos continuar sofrendo por algo desnecessário. — As palavras jorraram de sua boca, enquanto ele movimentava as mãos e parecia frustrado.

Abri a boca para o responder, mas nada saía. Fechei novamente e parei de andar, me virando para ele. Jacob me encarava esperando uma resposta, os olhos escuros brilhando em dúvida.

Quando finalmente encontrei minha voz, a única coisa que saiu foi um:

— O que quer dizer com isso?

Ele suspirou, buscando paciência e passou a mão direita pelo cabelo, bagunçando-o.

— Quer dizer, Serena, que eu não vou desistir sem lutar.