Eu não era louca. Pelo menos era o que eu achava. Se eu sou louca agora, me tornei louca, e foi tudo culpa da Capital. Foram os jogos que mudaram a minha cabeça, e as coisas que presenciei lá. Tudo começou quando eu fui escolhida na colheita.
- Annie Cresta - Disse uma mulher morena com um cabelo branco colado na rosto.
Todos olharam para mim. Eu tinha dezesseis anos na época e não tinha nenhuma experiência. Eu estava certa de que algum voluntário apareceria, mais ninguém deu as caras e alguém teve que me cutucar para que eu saísse do meu estado de choque e fosse ao palco. Eu fui, em passos lesados, ouvindo meu pai dar um soluço de choro. Cheguei ao palco e olhei para todo mundo dali de cima. Todos me encaravam com dó nos olhos.
- Domun Winch - A mulher anunciou o nome do garoto que seria meu parceiro.
Um garoto que parecia ter seus dezessete anos, cabelos e olhos escuros se posicionou ao meu lado. Ele parecia forte e confiante, enquanto eu parecia fraca e assustada.
O que veio em seguida foi muito rápido. Fui levada para uma sala no edificio da justiça, onde tive alguns segundos com o meu pai e com minhas amigas. Elas me disseram qualquer coisa sobre sorte, que e preferi ignorar. Sorte... Estava preocupada demais em tentar sair viva da Arena e elas ainda vinham de falar de sorte. Quando dei por mim, ja estava no trêm, em direção à Capital. Fiquei encolhida numa cama, lutando contra as lágrimas, calculando todas as maneiras possiveis de vencer os jogos. Mas não havia nenhuma. Eu não sabia fazer nada além de nadar um pouco e me esconder dos problemas, e agora não tinha como eu me esconder deles.
Alguém bateu na porta do quarto onde eu estava e ao ver que eu não respondi, entraram. Era Mags, uma mentora.
- O jantar está pronto - Ela sentou-se na beirada da cama e passou a mão na minha cabeça - É melhor você comer alguma coisa. Vai sentir falta disso depois.
Eu me levantei, em relutância. Me dirigi para a sala de jantar, onde estavam três pessoas : Mags, Domun e .... Finnick Odair?
Sorte... talvez fosse disso que minhas amigas falaram. Finnick Odair. Como eu pude me esquecer dele? O cara bonitão do Distrito 4 se pronunciou quando me viu.
- Finalmente saiu daquele quarto - Disse ele, com um sorrisinho no rosto - Eu já estava começando a ficar preocupado.
Aproximadamente dezoito horas depois, chegamos à Capital. Mal sai do trem e ja fiu levada para uma sala cinza, onde duas pessoas - que eu não soube identificar o sexo- começaram as transformações em mim. Arrancaram todos os pelos de meu corpo, alisaram meu cabelo e encheram minha pele de produtos. Depois chegou um homem chamado Onnick, e mais duas outras pessoas. Onnick me vestiu um vestido azul, com escamas na saia. As outras duas pessoas começaram a me maquiar. Eu sorri ao me olhar no espelho. Eu estava bonita.
- Uma sereia - Disse Onnick - Eu te transformei numa sereia.
Era verdade. As escamas na saia, a cor azul do mar na minha roupa e na maquigem, o meu cabelo longo, cheio de conchas para enfeitá-lo. Eu realmente parecia uma sereia.
Fui levada até a minha carroagem, onde estavam Mags, Finnick e Domun, que estava sem camisa, com uma calça azul com escamas idênticas as da minha saia.
- Nossa - Disse Finnick - Você está parecendo uma sereia.
Eu senti que ia corar, mas nem deu tempo. Me colocaram em cima da carroagem e logo eu estava no meio de toda aquela multidão que sorria e vibrava por mim. Senti um pingo de esperança. Será que elas queriam me ver vencer? Será que elas torciam por mim? Eu me forcei a sorrir e acenar as mãos para elas, que vibravam ainda mais quando eu o fazia.
O desfile acabou logo, e quando dei por mim, ja estava no apartamento do quarto andar, procurando meu quarto naquela imensidão. Finnick não pode subir com a gente. Disse que tinha assuntos pendentes na Capital e sumiu assim que eu desci da carroagem. Agora eu me sentia mais perdida do que nunca.
Finalmente achei meu quarto, com a ajuda de Mags e fui tomar um banho.
O chuveiro era engraçado. Devo ter passado umas duas horas ali, apertando as imagens que apareciam numa tela touchscreen, me divertindo com as espumas coloridas e perfumadas que caiam do nada. Era divertido brincar com elas e com as opções. Ao sair do banheiro, um pijama azul estava em cima da minha cama. Eu o coloquei e saí do meu quarto para agradecer a quem quer que tenha sido por ter colocado aquilo lá para mim e para dar uma volta naquele imenso apartamento até que meu cabelo secasse. Mas não havia ninguém ali. As luzes estavam apagadas. As unicas luzes que haviam ali, eram do lado de fora, que entravam pelas grandes janelas do apartamento. Em cada cômodo, havia uma grande janela daquelas. Eu me divertia olhando as pessoas da Capital do tamanho de formigas. Passiei pelo grande apartamento e descobri a cozinha, a sala de estar, a sala de jantar e uma sala de lazer.
Ao entrar ali, na sala de lazer, fiquei maravilhada. Aquela sala tinha uma piscina com um aquário em volta. Era perfeita para mim. Fiquei ali na borda, admirando os peixinhos coloridos em volta da piscina.
- Acordada?
Levei um susto ao ouvir aquela voz e quase caí na piscina, mas um braço forte me segurou e me levou um pouco mais longe dela.
- Parece que não muito - Respondi, para Finnick, sem graça.
Percebi que ele estava com uma roupa diferente da que estava horas antes. No vagão, ele estava com uma camiseta branca e uma calça social beje. Agora ele estava com um traje formal preto, na qual as pontas das mangas do terno eram brancas. E foi pelo traje que percebi que tipo de assunto pendente ele tinha na Capital. E eu quis rir.
- Está com fome? - Ele me perguntou
- Um pouco - respondi.
- Ainda não jantou?
- Não. Eu acho que fiquei tempo demais descobrindo o chuveiro.
- Venha - Ele riu - Eu também não jantei. Vamos comer alguma coisa.
Finnick e eu fomos à cozinha. Tudo ali era novo e fino. A geladeira era de aço, assim como o fogão. As bancadas em volta do fogão eram de mármore. Eu me sentei em um lado do fogão, na bancada, enquanto Finnick pegava potes e os destampava, colocando do outro lado. Eu observei o rapaz preparar o jantar. Ele tirou um filé de peixe começou com a culinária.
- Peixe para o Distrito 4 - Disse eu - Como você é original.
Ele sorriu, mas não olhou para mim. estava ocupado demais cozinhando o peixe com tanto afinco. Finnick Odair. Bem que as mulheres da Capital e do meu distrito babavam litros em cima dele. Vendo-o assim mais de perto, ele era realmente muito bonito. Sem contar que sabia cozinhar e era um homem forte. Mas o que mais me catiavam nele até agora, foram seus olhos e seu sorriso.
- E então? - Ele me entregou um prato pronto - O que pretende fazer para ganhar os jogos, Annie Cresta?
Tirei os olhos deles e observei o peixe em meu prato. Dei uma garfada no mesmo e engoli-o com o molho agridoce, tentando engolir um nó que se formava em minha garganta.
- Eu não sei - Respondi, finalmente, sem tirar os olhos do peixe em meu prato.
- Bem - Disse ele, dando uma garfada em seu prato - Você tem que treinar bastante para que possa sair da Arena com vida.
Dei um sorriso sem graça e mais algumas garfadas na comida até terminá-la. E ao ver que eu não me pronunciava, Finnick o fez :
- Ah - Disse ele, sem graça - Você não...
- Não - eu o interrompi e coloquei meu prato na pia.Desci do balcão e fui até uma grande janela da cozinha, observar as formigas coloridas da capital. Elas pareciam felizes. Ansiosas para os jogos. - Não acho que tenho chance de sair viva de lá.
Ouvi o homem colocar seu prato na pia trambém e se aproximar de mim. Ele ficou ao meu lado, observando a Capital, assim como eu.
- Quais são as suas habilidades, Annie?
- O quê? - Me virei para ele.
- Quais são as suas habilidades? - Ele olhou em meus olhos - Você tem algum talento! Todos tem! Você pode correr rápido, escalar, nadar...
Pensei nas opções que tinha, mas nenhuma veio a minha mente de imediato. Não conseguia pensar em nada, a não ser minha morte na Arena. Finalmente algo me surgiu a cabeça.
- Eu sei nadar.
- Você nada bem?
- A-Acho que sim - Gaguejei.
- Ótimo - Disse ele - Você vai treinar comigo. A partir de amanhã, nadaremos naquela piscina que você gostou.
-Mas...
- Sem mas - Ele colocou o dedo indicador em meus lábios para me silenciar - Você vai sair viva daquela Arena.

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