Capítulo 12

Como iríamos prender um homem, dentro de um lugar grande como a mansão Stanpleton eu não sei. Só sei que não estou mais tão animada. O presente foi lindo, não posso negar isso, mas eu gostaria de poder expor meus sentimentos a ele sem a vergonha da recusa agora. Não estou com a cabeça no lugar certo e toda vez que tento colocá-la lá, alguma lembrança minha com Sherlock durante estes dias me atrapalha a pensar. Quem disse que o amor atrapalha o raciocínio estava certo... MAS O QUE É ISSO ANNE BERGERAC?! VOCÊ VAI PERDER A CABEÇA, POR UM HOMEM ARROGANTE E CHEIO DE SI?! NÃO MESMO! Eu posso estar apaixonada, mas não perdi o meu autocontrole. Vou tomar as rédeas desta situação e se até o final desta empreitada eu não for a futura senhora Holmes, não importa, o azar será todo dele.

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_ Para Scotland Yard. – exigi ao cocheiro, colocando a cabeça para fora do cabriolé.

_ Yard? A uma hora dessas?

_ Sim Holmes, a uma hora dessas. Precisaremos de toda a ajuda necessária. Passou pela sua cabeça que somos apenas três e que talvez Craiven tenha mentido. Lord Stanpleton pode ter chamado alguns amiguinhos para ajudá-lo. – ele abriu a boca para me responder e voltou a fechá-la. Mas como ele responderia? Eu estou totalmente certa. Não poderíamos confiar que Charlotte Craiven tivesse mesmo se arrependido de ser cúmplice no caso e não avisaria Lord Stanpleton. Não podemos deixar tudo a sorte do acaso, precisamos nos precaver. Afinal, não penso que algum de nós está disposto a correr riscos.

Chegamos até a Scotland Yard, onde Lestrade estava com apenas alguns homens. Relatamos nossa situação e ele pareceu hesitar um pouco, porém, bastou eu lançar um olhar fulminante para ele concordar absolutamente. Contudo, bastou eu me virar para falar com Watson para perceber que Sherlock Holmes havia sumido.

_ Onde...?

_ Acabou de sair. – ora, e essa agora? Saí da delegacia e ao olhar para o lado, me deparei com Holmes subindo no cabriolé e saindo a galope. Não seria mais fácil pegar somente o cavalo? Enfim... Saí correndo atrás dele e saltei para subir no degrau do cabriolé, me agarrando à janela. Se gritasse dali, com certeza ele não me ouviria. Coloquei meu pé no parapeito da janelinha e comecei a subir. Sem pensar duas vezes, alcancei o topo e corri até me sentar ao lado dele na direção.

_ Anne?! Mas, como...?

_ Você... não... acreditaria... se eu te... contasse... – ele riu do fato de eu estar sem fôlego e continuou a apressar o cavalo. Assim que eu recuperei minha compostura, recomecei a falar. – Posso saber por que roubou um cabriolé?

_ Lestrade demoraria demais para organizar os homens dele e eu quero acabar logo com isso. Sem falar que gosto de fazer justiça com minhas próprias mãos.

_ Poderia tentar ter o mínimo de paciência. – ele me lançou um olhar zangado e eu sorri. – Ah, perdão. Esqueci-me de que você já demonstra, só por me aguentar. Só espero que eles não demorem.

_ Lestrade e Watson saberão se cuidar. Agora, é melhor nos apressarmos, se você estiver certa e Craiven tiver mentido, Stanpleton já estará bem longe de Londres agora. –

A Mansão Stanpleton ficava ainda mais sombria e aterrorizante durante a noite. Minha mão gelou de repente, segurei a pistola de meu pai instintivamente e desci da carruagem... com a ajuda de Holmes. Nenhum sinal de Lestrade, então teríamos que agir sozinhos. Sherlock não deixou pronunciar uma única palavra e saiu me arrastando entre as sombras das tantas árvores.

_ Você fica aqui, esperando Lestrade e Watson chegarem. – disse me escondendo atrás de uma árvore.

_ Não... ele... matou meus pais, não quero ficar aqui parada. – me silenciou com um olhar frio e continuou.

_ Prometeu me obedecer. Fique aqui Anne. – e saiu, me deixando ali sozinha. O jardim estava tão silencioso que se poderia escutar as correntes de ar que passavam por ali. Uma atmosfera de medo atormenta este lugar, dá para sentir e com certeza eu não vou ficar aqui sozinha. Saindo dali, encontrei Holmes tentando abrir uma janela por fora.

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_ Quer ajuda? – ele me olhou surpreso e ao mesmo tempo satisfeito, o que me deixou muito confusa.

_ Não mandei você ficar...

_ Desde quando eu obedeço você? – acho que ninguém precisa responder a esta pergunta. – Quer ou não a minha ajuda?

_ Não sei. Se eu não consegui abrir, como você...? – não esperei ele terminar e retirei um pequeno grampo do meu cabelo, o que fez uma boa mecha cair, e comecei a mexer na janela. Era uma das antigas, dá mesmo um trabalho maior até alcançar a fechadura, mas nada que um apertinho não resolva. Pronto, consegui.

_ Você ia dizendo...?

_ Parece que nunca é uma boa coisa subestimá-la. Vamos? – após um breve revirar de olhos da minha parte, passei pela janela e entrei na mansão. Um silêncio mortal. Talvez Stanpleton não estivesse mesmo ali.

_ Vou olhar lá em cima.

_ Não vou deixá-la sozinha.

_ Foi o que você fez há vinte segundos. Além disso, acabou de dizer que não deve me subestimar. Poderia pelo menos uma vez na sua vida, escutar o que você mesmo diz sobre mim? Obrigada. – antes que ele pudesse me responder, eu sai daquela sala e subi as escadas calmamente.

Mirei de soslaio as minhas costas e vi Sherlock Holmes me fitando, com um brilho de fúria e resignação. Tive vontade de me virar e rir debilmente dele, contudo, tive de me controlar. Por fim, escutei um murmúrio da parte dele e som dos passos deixando o local. “Difficile et charmante jeune fille” foi o que ele murmurou. Mas o que diabos isso quer dizer? Sempre que Sherlock Holmes não queria que eu escutasse alguma coisa, ele tinha a mania de usar seu fluente francês que eu tanto desprezo.

O segundo andar parecia tão vazio quanto o primeiro. Aquilo só estava me deixando mais assustada e com as suspeitas acertadas de que nosso homem havia fugido. Fui tentando abrir cada porta, de cada quarto, mas, nada dele. Todas estavam trancadas e isso fazia com que eu desperdiçasse tempo. Parei na porta do quarto de Lady Stanpleton. Será que ela estaria aqui? Forcei a maçaneta e ela não estava trancada. Entrei. O quarto estava escuro e eu não consegui enxergar nada. Andei cautelosamente até uma fresta da luz da janela e procurei uma vela e um fósforo.

O que vi a seguir quase fez com que eu perdesse minha total respiração. Lady Stanpleton jazia morta em cima da cama. Uma bala cravada em seu peito. E acima da cama os dizeres em sangue: “Minha amada Anne Bergerac, lamento que tenha descoberto meu segredo quanto a seus pais. Só não lamento mais, não poder estar aqui para poder eu mesmo, terminar com você, depois de ter consumado meu desejo.”

_ HOLMES! – pela primeira vez na minha vida, senti medo. Fiquei gelada até os ossos e branca como um cadáver. Ouvi os passos dele se aproximando. Estava com a Scotland Yard e Watson. Todos olharam chocados para a cena, como achávamos, Stanpleton havia fugido.

_ Não pode ter fugido há muito tempo. Vão para a estação! AGORA! – ordenou Lestrade a seus homens.

_ Não consigo acreditar. – dizia Watson, extremamente abalado.

_ Como não meu caro Watson? Depois de tudo que passamos. É apenas mais um homicida psicopata. – disse Holmes com ar imponente.

_ Vamos achá-lo. Mas antes, gostaria de saber o que ele quis dizer com “Minha amada Anne Bergerac”. Senhorita será que poderia...? – ele parou ao ver a situação em que eu estava. O olhar baixo, fitando minhas botas, tremendo como uma criançinha.

_ Está tudo bem Anne?

_ Eu pareço estar bem para você?! Stanpleton fugiu e ainda deixou essa... Essa mensagem escrita em sangue, ao que tudo indica, para mim! Tente analisar a sua pergunta Senhor Holmes e responda-a você mesmo! – reprimi o máximo que consegui o meu sarcasmo e desprezo. Sai a passos firmes daquele quarto, mas fui seguida por Sherlock Holmes. Ele me segurou pelo pulso e me fitou sério. A última coisa que quero, é a pena dele. Consegui me soltar e a dor no pulso era tão forte, que não consegui controlar a raiva que invadia meu corpo. O estapeei e não me arrependi de tê-lo feito. Ele não demonstrou reação nenhuma, apenas me agarrou pelo pulso outra vez e me abraçou.

_ Não. Não está nada bem. Mas se um dia voltar a me bater novamente... terei que lhe dar um castigo muito severo minha cara.

_ Vai me trancar no meu quarto e nunca mais vai me deixar sair? – rimos juntos, enquanto eu deixava escapar algumas lágrimas. Acho que seria ótimo tirar proveito dessa situação para saber, o que ele murmurou em francês sobre mim. – Holmes... o que você disse, em francês, enquanto eu subia as escadas?

_ Eu disse... Oho... Tirando proveito de uma situação para conseguir o que quer, não é isso? – por acaso ele lê mentes agora? – Não vou lhe dizer Anne. Agora que conheço seus métodos, terei mais cuidado.

_ Deveria ter deixado você ganhar aquele duelo então?

_ Finalmente entendeu. Vamos, temos que pensar em como iremos capturar Stanpleton o quanto antes. – ele fez sinal para que Lestrade e Watson nos seguissem. Só agora notei que eles nos observavam... vou ter que ouvir Watson falar sobre isso depois. Devo dizer que está sendo engraçado, pela primeira vez, estar de braços dados a Holmes, sem ser por um ataque de ciúmes.

_ Antes que eu me esqueça... não me arrependo de ter batido. – disse apertando mais meu braço contra o dele e fazendo Watson rir baixo atrás de mim.