Anjo Morto

Questão de sorte


Eu o encontrei escorado em uma árvore brincando com as folhas secas no chão. Cheguei perto, ele não me viu, mas sabia que eu estava lá.

–Dormiu bem? - Ele não parecia nem um pouco preocupado agora, ao contrário, ele estava super tranquilo.

–Não sei se dormi. Não me lembro de nada da noite, mas não me lembro de acordar. Pensando bem, não me lembro se quer de ter adormecido… O que vamos fazer agora?

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Ele me olhou, deu um sorriso quase imperceptível e se levantou. Passou a mão na calça para tirar o barro, pegou a mochila de meus ombros e colocou-a em seus próprios. Deu alguns passos e parou:

–Você não vem? - Depois se virou com um sorriso nos lábios e começou a andar novamente. Eu o alcancei e perguntei se iríamos voltar a ir pro oeste, seja lá o que isso significava, a resposta foi um sorriso maior. Gosto de fazê-lo sorrir, isso me faz sorrir.

Não sei quanto tempo caminhamos, o tempo parecia menor quando eu olhava para ele, e eu não estava cansada, o que era estranho pois normalmente estaria ofegante.

Passamos por uma fazenda, aquelas com um galpão e moinhos de vento e casa de madeira. A casa era pequena mas o espaço do lado de fora era muito grande, com um gramado lindo e uma árvore com balanço de madeira. Vi duas crianças saindo de dentro da casa e correndo na grama uma atras da outra. Elas pareciam tão felizes… É incrível a maneira como as crianças ficam felizes com tão pouco. Quanto mais simples, melhor. Precisam apenas de um gramado e de um amigo. Quando crescemos isso muda. Já na adolescência tem como notar. A forma como querem ter o celular atual ou a roupa mais bonita, um gramado não é nada mais que memorias, e os amigos nada mais são do que colegas. Mas quando atingimos a idade adulta, a mudança é muito drástica. O carro novo, o dinheiro, a casa, até os filhos se tornam “objetos” para se destacar e serem “felizes”. Um gramado não passa de um gramado, e os amigos não são nada mais que estranhos. Deveríamos prestar mais atenção no que as crianças dizem ou fazem, podemos aprender muito com a sabedoria delas.

Seguimos em frente e a paisagem mudava a cada passo. Sei que já estávamos bem além de nosso ponto original porque uma placa dizia o nome de uma cidade diferente. Essa cidade parecia menor e mais residencial, sei disso porque vi crianças brincando com uma bola na rua deserta, enquanto na outra cidade as ruas eram usadas apenas para a passagem de carros.

Algumas quadras de distância, em uma rua com árvores em ambos os lados, havia um parque de diversões. Tinha uma montanha russa e aqueles jogos de argolas. Parei de caminhar e o puxei pelo braço, acho que ele não tinha percebido o parque até que eu o mostrei. Perguntei se podíamos ir. Ele hesitou, mas concordou.

–Vai ser muito divertido! Nunca fui a um parque de diversões... Vamos na montanha russa??

–Eu prefiro começar com os jogos de argolas. Sabe, eu sou muito bom nisso. - Ele se gabava demais… era engraçado.

–Bom, em alguma coisa você precisa ser bom, né! - Respondi com um sorriso provocativo.

Ele ia responder, mas preferiu ir jogar e provar que eu estava errada. E para falar a verdade, ele realmente provou. Nas 10 tentativas, ele acertou 8. Eu por outro lado, acertei 3. Fiquei me perguntando qual a técnica necessária, mas seja ela qual for, não dominei. O que me intrigava, era a forma que as vezes mesmo fazendo exatamente o movimento igual o anterior, você não acertava. Acho que isso tem a ver com sorte, ou talvez não. Talvez seja porque você nunca conseguirá fazer duas coisas exatamente iguais, e não sei se isso é uma coisa boa ou ruim, e se isso explica porque somos todos diferentes. Eu sei que estava pensando muito e muito rápido sobre um jogo de argolas. Um jogo de argolas que no caso eu perdi.

–Podemos por favor ir na montanha-russa logo? - Implorei

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–Claro, vamos - Ele passou os braço em minha cintura e fomos para a fila.