Reencontro.

Joseph Christopher sentia o coração apertar-se a cada batimento, o amado amigo, que em tantos momentos difíceis o apoiara estava completamente transformado agora.

Os olhos, outrora castanho-escuros, possuíam agora uma tonalidade rubra, as asas negras abriam-se belas e ameaçadoras em suas costas, os cabelos caiam-lhe pelas costas quase tocando o chão enquanto o manto negro cobria-lhe o corpo.

—A... Alex...

As palavras fluíram falhas e demasiadamente pesadas enquanto as lagrimas enchiam seus olhos.

—Não. – Respondeu Samael que, em um piscar de olhos, transportou-se, colocando-se a frente de Joseph. – Não mais.

Miguel avançou contra Samael, porém, Paimon se interpôs em seu caminho.

—Não vou deixar que você interfira, meu caro.

Ágares fez o mesmo barrando a passagem dos outros dois arcanjos com o auxilio de um demônio com a aparência de um touro humanoide.

—Seria uma imensa indelicadeza se intrometer em um reencontro tão emocionante.

Inoue não conseguia mover-se, um temor desconhecido tomara conta dela a impedindo de tentar algum contra-ataque.

—Não vou permitir que ninguém mais interfira. – falou Samael fazendo um movimento com a mão, formando uma cúpula de cor avermelhada que envolveu a Joseph e ele. – Agora ninguém nos interromperá.

Joseph não conseguia pensar em uma tentativa de sair daquela situação, o fato de encontrar o amigo e ver que ele tornara-se um demônio o deixava sem chão.

—Porque você fez isso?

A pergunta saiu meio embaçada.

—Existem mil razões, criança. – Samael acariciou o rosto do garoto. – O ódio pela sua espécie é a maior delas.

Os olhos de Joseph se estreitaram enquanto a fúria tomava lugar.

—Não estou perguntando nada a você, estou falando com Alex.

Disse ele através dos dentes cerrados, afastando a mão do caído com um empurrão.

Samael riu maliciosamente enquanto segurou Joseph pelo pescoço.

—Não resta nada dele aqui, tudo o que ele era serviu de base para meu renascimento completo. – ele levantou o jovem enquanto a energia negra começou a emanar. – Nada além do ódio que ele sentia por ter sido abandonado por você!

Com um movimento rápido e violento, Samael virou o corpo de Joseph pelo ar, cravando o jovem no chão com um grande estrondo.

—Joseph! – O grito desesperado de Inoue veio acompanhado de uma tentativa inútil da jovem tentar encostar-se à barreira, sendo repelida violentamente por uma onda de energia.

Miguel e os demais estavam de mãos atadas.

Joseph sentia a dor aguda no ombro enquanto Samael o levantava.

—Você acha mesmo que pode contra mim? – Questionou enquanto acertou um soco violento no estomago de Joseph. – Você não passa de um monte de lixo!

Samael então começou a desferir vários golpes no garoto que inutilmente tentava defender-se.

—O que foi não tem a essência de Gabriel? – perguntou ensandecido Samael. – Me mostre aquele poder que ele possuía!

Girou ele acertando um chute violento em Joseph, lançando-o na barreira que imediatamente o repeliu, fazendo-o gritar de dor.

—Que criança inútil. – Disse ele enquanto Joseph tentava se por de pé, o corpo do jovem esfumaçava devido o choque com a barreira. – Sua ultima cartada é lastimável Miguel.

Joseph respirava de forma acelerada.

“Você precisa reagir...” pensava ele pondo-se de pé, “Não é mais o Alex, se não reagir todos morreremos.”.

—Sabe... Eu achava que ainda poderia haver algo de meu amigo ai dentro. – Começou Joseph colocando-se de pé. – Mas eu vejo que estava enganado, talvez eu tenha culpa... – Ele cambaleou caindo no chão. – Pode ser que eu não estivesse ao lado dele quando ele mais precisou... – O choro de Joseph era sincero. – Mas...

O movimento foi inesperado, com uma velocidade ilegível Joseph atingiu Samael no ombro com o punho repleto de energia estática.

—Mestre! – Gritou Ágares.

—Mantenha a calma. – falou Paimon rindo. – Esse maldito moleque não tem coragem de atingir o mestre fatalmente.

Enquanto o sangue pingava sobre o chão, Samael começou a rir.

—Não vou permitir que use o corpo dele dessa forma... – Finalizou Joseph olhando Samael nos olhos.

—Te falta coragem. – Samael afastou-se. – Não tem coragem de me matar não é?

A espada chamada solidão surgiu na mão de seu dono.

—Porém eu não compartilho de tal emoção. – Joseph sentiu o metal frio atravessar seu peito. – Morra como seus pais.

A espada solidão, ao ser retirada do corpo de Joseph trouxe consigo uma grande massa de energia espiritual.

—Joseph, não!

Gritou Inoue desesperada.

—Não! – gritou Miguel enfurecido.

—Já disse que não vai pass... – Paimon foi interrompido por um soco que o arremessou para o outro lado do corredor.

O corpo sem vida de Joseph caiu pesadamente ao chão.

E então veio a escuridão.

***

O piloto de caças terminava seu turno vigiando o espaço aéreo quando seu radar captou uma leitura.

—Águia 01, para base. – sinalizou ele obtendo logo resposta. – vejo um objeto não identificado vindo em alta velocidade.

Quando terminou de falar, o piloto pode ver um rastro de luz cortando a noite.

—Base, está vindo em minha direção, repito...

A frase não pode ser terminada, pois o piloto necessitou fazer uma manobra evasiva e o facho seguiu rumo a São Paulo.