And More Confusion

Capítulo 13 - Contabilizando os danos


And more confusion
Kaline Bogard

Parte 13
Contabilizando os danos

A medida que Sam avançava e se aproximava do cemitério seus passos ficavam mais lentos e pesados.

Dean não podia ver, do chão onde estava deitado tentando se arrastar; porém cada vez que o moreno erguia o pé, deixava marcas cada vez mais profundas no solo de terra, como se o corpo do rapaz pesasse muitos quilos.

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O cemitério servia como um imã, atraindo-o. Chamando-o. Exigindo sua presença.

Não enxergava direito. Sentia, mais do que via, o caminho.

Apenas se deixava levar.

Dean compreendeu que estava perdendo o irmão, perdendo-o por que era fraco. E pequeno. E inútil.

– SAMMY!!

Desespero dobrou seu ímpeto. Cravou os dedinhos na terra da estrada e fez força para arrastar-se para frente. Tamanho esforço rendeu-lhe um avanço de poucos centímetros.

– Sammy... – um soluço subiu pela garganta e foi seguido por outros. Dean ergueu o queixo de leve e fechou os olhos, começando a chorar. Não conseguiria salvar seu irmão.

As lágrimas deslizaram pelo rostinho infantil e misturaram-se com o sangue, enquanto o choro sentido sinalizava a dor da derrota e o desespero de ver alguém que amava avançar para a morte sem poder fazer nada para impedir.

Então Samuel começou a afundar no solo sagrado.

Estava quase cruzando a entrada do cemitério, mas já era o bastante para o Myling considerar a dívida paga. A terra parecia transformar-se em areia movediça e mesmo assim Sam avançava.

Passo a passo.

Afundava até os joelhos quando um calor atípico o atingiu no peito. Ele sentiu como se algo fosse arrancado de si e, em seguida, tudo desapareceu.

Dean estava assustado. Achava que não havia nada mais a se fazer por seu irmão caçula quando notou uma transformação no ar. A atmosfera ficou mais densa...

Ainda com lágrimas embaçando os olhos verdes tentou observar o que acontecia. Viu, surpreso, a menina Myling ser arrancada do pescoço de Sam e flutuar no ar por alguns instantes antes de evaporar-se e desaparecer em súbitas chamas douradas.

– Sammy...?

O moreno não respondeu, apenas pareceu perder as forças e caiu para trás, ainda preso na terra até quase os joelhos.

– SAMMY!!

Ver seu irmão desabar devolveu forças ao menino, que se apoiou nos joelhos e meio engatinhou meio arrastou-se até o outro. Ao alcançá-lo colocou a mãozinha na face pálida com cuidado.

– Sammy... fala comigo... por favor... vai fica tudu bem. Dean promete que vai...

As pálpebras do rapaz estremeceram. Ele gemeu e abriu os olhos devagar. Mal teve tempo de compreender o que acontecia e Dean jogou-se sobre ele, abraçando com força e voltando a chorar.

– Que... bom... Sammy...!

Desajeitado o Winchester mais novo conseguiu sentar-se. Foi a vez dele abraçar Dean contra seu corpo, acolhendo-o. Sam se lembrava de tudo. De cada segundo desde que fora preso pelo Myling. Mesmo no ponto em que simplesmente perdera o controle dos movimentos.

Lembrava-se de tudo.

– Pode me perdoar, Dean? – implorou em um fio de voz.

O loirinho foi parando de chorar aos poucos. Sentiu as lágrimas de Sam caindo sobre si.

– Sinto muito...

– Tá tudu bem, não foi culpa do Sammy. Foi a minininha...

Assim que as palavras escaparam dos lábios infantis o abraço intensificou-se. Sam sabia que Dean estava certo, que a culpa era toda do Myling, mas ainda assim, o rosto ferido de seu irmão era uma visão marcante. Ficaria para sempre em sua mente, sendo culpa sua ou não.

– Sammy – Dean gemeu dolorido – Ta mi sufocano eu...

O moreno riu e chorou ao mesmo tempo. Afrouxou o abraço, mas ainda manteve Dean preso contra si, talvez por que aconchegando o menino daquela maneira não via seu rosto ferido.

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– Vou ligar para Bobby – bateu uma das mãos no bolso de trás da calça e conferiu que o celular ainda estava lá – E pedir que ele traga uma pá...

Depois de livre do espírito Myling a terra se solidificara novamente, prendendo Sam na estrada até os joelhos.

Dean balançou a cabeça e não disse nada por alguns segundos.

– Vo pode ganha um milk shake depois disso... num vo? – estremeceu – Temos que i embora logo. Tá frio aqui...

O pedido inocente, de alguma forma, quebrou o clima ruim e fez Sam rir alto.

– Claro que sim, Dean. Um super copo com o triplo de chocolate. E assim que chegarmos ao hotel podemos nos aquecer. Prometo.

– Oba! Sammy é o melh... – o adulto voltou a apertar Dean contra si – Sammy! To sufocano!!

Dessa vez Samuel não se importou de apertar o garotinho por um pouco mais de tempo.

– Sardento! – gracejou recebendo em troca um soquinho indignado.

S&D

Bobby chegou rapidamente trazendo suas coisas e a pá que Sam pedira. Dera mais trabalho encontrar o corpo da criança do que queimá-la e purificá-la o corpo. Por isso demorara tanto. E pelo que via, quase não conseguia a tempo.

Não escondeu a surpresa e o pesar quando chegou aos irmãos e viu o estado do rosto de Dean. As marcas vermelhas e o sangue davam um aspecto bem ruim, mas quando arroxeasse ficariam bem piores.

Apesar disso não disse nada. Pegou a pá e começou a escavar a terra ao redor das pernas de Sam, com cuidado para não feri-lo. Quando o solo estava revolvido o bastante, o moreno se soltou sem problemas.

– Obrigado, Bobby.

O caçador não disse nada, meneando a cabeça numa forma de aceitar o agradecimento. Aqueles dois eram como filhos para ele, sempre os socorreria qualquer que fosse a encrenca.

Pra ganhar tempo Sam pegou Dean no colo que nem mesmo protestou. O menino estava com frio, cansado e ainda se sentindo tenso por toda a emoção, por isso passou um bracinho pelo pescoço do caçula e suspirou feliz por poderem ir embora a salvo. Sem falar no rosto dolorido e na dificuldade de respirar.

Ao passar pela recepção do hotel Dean fingiu que estava dormindo e escondeu o rosto ferido na curva do pescoço de Sam, para que a velha senhora não visse as marcas. Além disso, Bobby aproximou-se dela e pediu informações sobre o “famoso” ensopado de carneiro, depois falou que preparassem e mandassem para o quarto deles. A velhinha se empolgou ao falar do prato que adorava.

Aproveitando a distração Sam foi direto para o quarto, que ficara aberto no fim das contas. Porém duvidava que alguém pudesse ter mexido nas coisas deles.

Apesar disso entrou cheio de precauções e só relaxou ao colocar Dean na cama, comprovando que tudo estava exatamente da mesma forma que deixara ao sair sob ordens da entidade sobrenatural.

– Está doendo?

Dean balançou a cabeça.

– Um poco. O sangue tá coagulano no meu nariz daí tem que respira ca boca aberta assim ó.

Sam apertou os lábios com força, desgostoso. Foi fuçar nas mochilas atrás do kit de primeiros socorros, o que deu tempo suficiente para Bobby chegar e entrar no quarto, trancando a porta.

– Como vocês estão?

– Bem! – o garotinho respondeu – Salvamo o Sammy. Isso é o mais importante.

– Eu estou bem – Samuel respondeu – Precisamos cuidar dele agora.

O loirinho fez uma careta ao ver o anti-séptico nas mãos do irmão.

– Vai arde?

Sam sorriu triste.

– Um pouco. Me desculpe.

– Sammy, pára de pedi disculpa. Num foi culpa sua. Faiz parte do serviço, lembra? Assunto de família...

– Dean...

– Num é a primeira vez que a gente se machuca. I nem foi tão grave assim, já passamo por apertos pior.

– Desculpa quebrar o clima, mas é melhor cuidar disso logo, Sam. Para que seu irmão possa tomar um banho quente e ir pra cama. Amanhã vai ser um longo dia.

O Winchester moreno acenou com a cabeça. Teriam que sair no dia seguinte para investigar a cidade e tentar encontrar um Cluricaun. Não sabia se a presença de um Myling era algo bom ou ruim, porém não deixaria o incidente desviar o foco da investida: salvar Dean e devolvê-lo a forma adulta.

Com um suspiro abaixou-se em frente ao loirinho, ainda sentado na cama e começou a limpar os ferimentos, recebendo em troca caretas e gemidinhos doloridos a medida que o remédio entrava em contato com a pele ferida. O pior foi perto dos lábios, onde o calcanhar de Sam deixara a marca mais feia. Os grandes olhos verdes lacrimejaram e o menino fez esforço pra não chorar, partindo o coração do irmão por se mostrar tão corajoso com tão pouca idade. Sam teve o ímpeto de desculpar-se novamente... acabou ficando calado. Palavras não adiantariam de nada mesmo.

Bobby encostou-se na parede pensando no próximo passo. Também ruminava como aqueles dois irmãos tinham o dom de se meter em encrenca e machucar um ao outro.

Mas o que preocupava mesmo o caçador era a intuição de que estavam perdendo tempo ali e que tudo estava longe de acabar.

Continua