— A estátua foi atirada ao mar. Tive a sensação de que a criatura estava ainda mais disforme e a expressão do rosto parecia ter mudado, como se estivesse sentindo muita dor, mesmo!

Kane toca o ombro do filho mais jovem.

— Não havia mais motivo para que você mantivesse aquela aberração junto de nossa família, depois de todo o mal que ele fez.

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— Gostaria de manter aquilo sob vigilância. Um dia, certamente alguém irá encontrar a estátua e conseguirá quebrá-la e libertará Lenine.

— Espero que isso demore muito. – Kane coloca os óculos escuros e beija a testa do filho. – Tenho de retornar para a central de polícia para ver o treinamento dos novatos. Aquelas “coisas” que me mandaram, foram tiradas da Loucademia de Polícia! Estou contando os minutos para que a Governadora emita o parecer sobre o pedido de perdão, para que vocês retomem seus cargos em minha equipe!

Killian observa o pai afastando-se e agradece aos Céus por ter sido escolhido para ser adotado por ele. Todo o ensinamento e amor recebidos fizeram de Vlad e dele, dois homens honrados, valorosos e persistentes. Tinham sido agraciados com aquela adoção e com aquele pai perfeito, oferecido como presente pelo destino.

Feliz com seus pensamentos, ele retoma seu trabalho no escritório de sua agência de seguranças e esquece-se do tempo. Momentos depois percebe a aproximação de Regina, entrando pela porta de vidro.

— Podemos conversar?

— Claro! Sente-se!

Regina se acomoda à frente da mesa do cunhado e mostra-se preocupada.

— Nas últimas semanas tenho sonhado muito com Reyninna. Pedi para que a advogada dela fosse até Campina e verificasse as condições da casa e das pessoas que ainda vivem por lá.

— A Condessa pode estar desesperada, tentando comunicação com você. Mas eu lhe peço que deixe aquela monstruosidade, exatamente onde está. Não precisamos da presença dela em nossas vidas e imploro que você tenha o mesmo pensamento que eu.

— Fico imaginando se alguém descobriu o local onde está sepultada. – Regina espreme os lábios.

— O que acontece se isso for verdade?

— Ah, Killian! Ela irá beber do infeliz ou dos infelizes e não posso afirmar que será despertada com racionalidade. Sabe-se lá o que pode ser despertado.

— Lenine nos disse que quando ela bebia pessoas de forma desenfreada, ficava animalizada e louca. Precisamos ficar preocupados?

Ela se inclina para frente sobre a mesa.

— Tive todos esses meses para refletir, depois de minha volta. Desta vez, usarei minha racionalidade exata da policial treinada por Kane. Caso ela retorne atrás de Vlad, eu irei acabar com a raça dela e de quem estiver junto.

Killian gosta do que ouve e sorri.

— Conte comigo, cunhada.

— Por favor, não comente com Vlad a nossa conversa. Não quero preocupá-lo, porque ainda está fragilizado com o que viveu e viu nos porões daquele castelo.

E mais dias e meses se passam, tentando colocar a normalidade de volta àquela família. Um ano de areia escorre pela ampulheta do tempo e ajuda a cicatrizar as feridas feitas pelas garras do destino de cada um.

Naquela tarde, Regina entra em seu carro e deposita marmitas térmicas no banco do passageiro. Havia combinado que levaria o jantar, para permitir que Vladimir tivesse mais tempo livre para brincar com Johnathon.

Retomando seu caminha para casa, ela se perde em pensamentos e retornam àquela noite em que tinha chamado seu marido de covarde, provinciano e medíocre. Nenhum dos adjetivos que o depreciaram era verdadeiros, porque naquele momento de desespero, tinha de fazer algo que preservasse a vida valiosa de seu homem.

Na verdade, para toda a família, Vladimir era o centro das atenções. Um homem que despertava em todas as pessoas, o desejo de oferecer proteção. Ela mesma fazia o possível para poupá-lo e mantê-lo sob suas asas poderosas, como se ele não tivesse maturidade o suficiente para caminhar sozinho. Até na hora do sexo, ela apreciava mantê-lo sob seus domínios e ele sempre demonstrava amar a sensação de ser conduzido.

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Mesmo sendo mais jovem, Killian se punha como escudo e impedia que os problemas e ataques não atingissem a preciosidade chamada Vladimir. E assim eram todos os membros de sua família, que modificariam o curso das águas apenas para evitar que ele molhasse os pés.

O que ele despertava nas pessoas? Por que todos que o conheciam, sentiam os mesmo anseios de refugiar Vladimir em seus braços? Até mesmo o pequeno Johnathon se mantinha vigilante nos movimentos do pai e procurava ajudá-lo em tudo em que se propunha fazer. Seria carisma? Demonstração de carência? Bom, a verdade é que ela amava saber que sua força despertava confiança naquele homem e que ele confiaria sua vida às mãos dela.

Distraída, Regina para no semáforo e aguarda a permissão para continuar. Subitamente, uma forte pancada na lateral de seu carro faz com ela acorde de seus pensamentos. Regina sai do veículo e vai verificar o ocorrido.

— Foi um maluco que fez isso, moça. – um motoqueiro aproxima-se e fala. – Eu quase o atropelei porque ele surgiu do nada. Bateu no carro e desapareceu.

— Você está bem?

— Estou sim.

— Você viu o rosto dele?

— Vi apenas que era um jovem magro, alto e com cabelos compridos. Não saberia descrevê-lo com mais detalhes.

Um tempo depois, o carro de Regina para noutro semáforo e ela fica observando os pedestres atravessando a rua. Entre eles, um jovem alto, magro e com belos cabelos compridos, para diante do carro dela e a olha diretamente nos olhos. Sorri maldosamente.

Regina fica petrificada ao reconhecer aquele olhar frio e assustador, enfeitado pelas sobrancelhas naturalmente delineadas: era Lenine rejuvenescido. Mas tudo acontece rápido demais e ela volta à realidade, quando as buzinas dos outros carros começam a ser acionadas.

Quando finalmente chega em casa, ela é recebida por um filho saltitante e sorridente.

— Mamãe! O papai recebeu um quadro com ele usando cabelo grande e barba! Tá bonito, hein?

Alguns minutos depois, ela e o filho entram na sala de estar e encontram Vladimir sentado no sofá, observado o quadro.

— Eu ajudei o papai a abrir a caixa! Eu usei a máquina de tirar os grampos! – Johnathon bate num dos bíceps.

Regina se senta ao lado do marido.

— O que é isso?

— É uma das telas que Reyninna idolatrava numa galeria do castelo. Havia outra na biblioteca e ela me mostrou a tela para tentar me convencer de que eu era o Vlades.

— Mas você é o Vlad! – o menino vai sentar-se no chão, bem na frente da tela.

— É demais!

— Demais, Regina? Ela usou as habilidades demoníacas para me retratar! Não é real!

— Vamos pedir uma análise para saber a idade do quadro. – ela sorri deslumbrada.

Vladimir se levanta do sofá. Anda um pouco pela sala e depois se volta para a esposa.

— Isso é que menos importa, Gigia! A questão é: quem enviou para nós e por quê?

— Os empregados? Os ciganos?

— Por favor, Regina! Eles não sabem onde estamos! Pode me afirmar olhando nos meus olhos, que Reyninna está mesmo sepul...dormindo? – ele olha rapidamente para o filho atento. – Lenine foi jogado no...está nadando e Reyninna está dormindo...quem me enviou isso?

— Eu tive a impressão de ter visto Lenine hoje.

— Ahhh, pronto! O cara foi libertado...aliás, os dois foram libertados!! – ele cobre os olhos com uma das mãos. Começa a ficar histérico. – Eu não vou suportar o que vivi naquele castelo, mais uma vez!! É assombro demais para uma pessoa! Eu não quero viver aquilo de novo, Regina!

Regina segura os ombros dele. Encaram-se por alguns segundos e em silêncio.

— Shhhhh! Fique calmo, meu amor! Mesmo que neste ínterim, alguém os tenha libertado e eles queiram vir atrás de você, encontrarão outra Regina. Mesmo amando a Condessa, não irei permitir que ela volte a atormentar você, meu amado. Fique calmo, por favor!

— Eu tinha conexão com ela, mas agora não a sinto por perto...e se ela fez algo que quebrasse essa conexão? Estamos vulneráveis, Regina!

— Ninguém virá tocar no que é meu! Desta vez, caso alguém surja para nos macular, sairá morto.

Regina olha para o filho e o encontra atento na conversa dos adultos.

— Sua tia loira quer pegar o meu papai?

— Ela quer, porém, não será exitosa.

Johnathon se levanta e vai abraçar as pernas dos pais. Levanta o rostinho e sorri para tranquilizar os seus adultos.

— Eu vou proteger vocês dois. Eu vou ser policial quando crescer e nenhum meliante vai fazer mal a vocês.

Derretendo-se com a declaração, Regina e Vladimir promovem o mais quente e protetor abraço coletivo.

Naquela mesma noite, a tranquilidade insiste em retornas para aquele espaço da casa. Sozinhos, protegidos pela santidade daquele cômodo, Regina e Vladimir deixam os problemas presos em alguma masmorra escondida em algum ponto longe dali. Enquanto toda a família dormia, o casal se aproveita da intimidade para reforçar os laços que os unia há mais de oito anos. Laços que se mostravam fortes e complicados para quem os quisesse desfazer.

Era o momento deles, em que seus corpos juntinhos, entrelaçados, se faziam um só. Os corações batiam em um único ritmo, harmonioso e apaixonado. Amor, paixão, desejo e posse coroava a união daquelas almas.

As roupas espalhadas pelo chão, o som característico que enchia o espaço e denunciava o significado daquele encontro de peles, beijos abusados e famintos, peles suadas e a cumplicidade numa dança harmoniosa sem ensaio algum.

— Você é a minha escolha. Vlad. E nunca acertei tanto como quando eu disse “sim” naquele altar. E eu quero continuar dizendo “sim” todos os dias, para você, o resto da minha vida.

— Eu encontro o amor de minha vida, todos os dias na mesma pessoa, Regina. Você é o meu refúgio, o meu alicerce e o meu tudo. Só conseguirei fazer a travessia da minha vida, porque sei que você estará ao meu lado e segurando a minha mão. Sim, eu sou covarde sem o seu amor.

E mais uma vez, Regina incentiva aquele homem a acompanhá-la em mais uma etapa daquele encontro. Fazem amor. E quando duas pessoas fazem amor não estão apenas fazendo amor, mas estão dando corda ao relógio do mundo.¹

E lá fora, no jardim da casa, dois olhos imortais fitavam a escuridão e tinham a nítida certeza de que conseguiriam ver as imagens que os sons prazerosos estavam enviando pelas paredes. Ouvia nitidamente cada uma das palavras suaves ou obscenas, e a esperança de poder viver aquele momento em algum dia no futuro, fazia com que os olhos assistissem com detalhes as cenas que imaginavam. E aqueles olhos choram lágrimas vermelhas, lágrimas de dor, lágrimas dos desprezados, lágrimas dos enlouquecidos pelo amor não retribuído.

— Tenho a esperança de um dia, serei alguém visível para você, meu amor. Alguém com quem irá compartilhar suas tristezas e alegrias, seus sorrisos e seu prazer. Você ainda é o motivo e a angústia do meu despertar ao anoitecer; é o brinquedo caro de uma criança pobre e é a beleza admirada à distância. Tão longe de mim, não sabe de meu abandono, da minha covardia e tampouco se lembra de que ainda existo.²

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E alheia a tudo que estava fora daquele quarto, alheia à beleza da noite e alheia à luz prateada que a lua emanava sobre a Terra, Regina se entrega ao seu amado com a intensidade dos famintos de amor. Sua busca não era por prazer, mas pela certeza de que o elo com Vladimir jamais seria rompido por quem quer que fosse.

Seu amor por Vladimir iria vencer o tempo, vencer a dor e vencer a morte.

FIM.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.