Felicidades e medos


Todos agora estavam na grama observando o nascer do sol. Haviam muitas nuvens no céu, mas conseguíamos observar os tons de laranja e vermelho surgindo no horizonte. Enquanto os outros se sentavam em partes diferentes da grama sem se importarem com suas roupas molhadas pela brincadeira no rio, eu e Nessie ficamos no colo de nossos parceiros para nos aquecer.

-Ei bruxinha, tira uma duvida do tio Emm, porque você parou seu desenvolvimento aos 16 anos?

Eu já estava corada antes de responder a Emmett, todos me olhavam com curiosidade.

-Ah, é que eu quis continuar sendo a casula da família. – enterrei minha cabeça no peito de Seth buscando refugio para minha face corada.

Emmett estava gargalhando ao lado de uma Rose sorridente e mesmo sem muita vontade, esta lhe deu um tapa no braço para que ele pare-se de rir, de rir tão alto já que todos estavam rindo do meu motivo, mais que singular, para continuar com 16 anos.

-Venha meu amor, vamos entrar. Você esta molhada e o dia esta frio. – Seth me salvou de meu constrangimento e me levou para o quarto.

Todos estavam com sorrisos no rosto e Jacob também se levantou levando Nessie consigo em direção a sua casa.

-Vamos indo também familia, tenho que me arrumar para ir trabalhar e esta princesinha aqui tem que se cuidar, agora ela carrega um lobinho - rio apontando para a minuscula barriga de Nessie -

Os olhos de todos apontavam para o horizonte, os casais se despediam de nós quatro sem deixar de acarinhar seus parceiros.

Seth me levou ao quarto pelos fundos da casa, entrando pela janela para não molhar o piso de Esme. Entrei no chuveiro, o banho quente trouxe conforto ao meu corpo e logo o cansaço me tomou, voltei ao quarto vestindo um pijama leve e me encolhi embaixo do edredom, Seth se colocou ao meu lado aquecendo mais meu corpo e logo peguei no sono.

Após algumas horas meu corpo voltava preguiçoso a vida, abri vagarosamente meus olhos e encontrei um par de olhos negros e brilhantes me observando. Me apoiei na cama para vê-lo melhor, contemplar meu paraíso na terra. Seth estava sentado em uma poltrona ao lado da cama, ele me lembrava a figura de guerreiros gregos, seu torso forte, as linhas retas de sua face, o peito nu...como ele é perfeito.

-Você esta realmente acordada agora?

-Sim, acho que estou bem consciente. – belisquei meu braço – mas estou triste, você esta tão longe de mim. – fiz um biquinho –

Ele riu – Desculpe amor. Seu sono foi agitado, você falou dormindo e se levantou varias vezes. Só achei que seria mais uma e que logo voltaria a dormir. – ele se levantou e se sentou na cama ao meu lado.

-Eu falei dormindo? Não sabia que fazia isso! Não lembro de ter sonhado! O que eu falava?

-Que me amava. – seu sorriso era enorme –

-Bobinho. – brinquei dando uma tapa em seu ombro – Eu te amo muito, você agora é a minha vida.

-Nala? – ele corou um pouco e sentou na cama ao meu lado–

-O que?

-Em sua crença existe algum tipo de cerimônia de casamento? –seu olhar era tão profundo nos meus que esqueci de onde estava-

-Amor?

-Desculpe Seth, me perdi em pensamentos – na verdade eu estava deslumbrada com tamanha beleza- Casamento? Bem, minha mãe se casou, mas foi mais como a união estável de hoje, não teve celebração ou um juiz de paz para concretizar os votos. Minha tia nunca se casou. –pensei por uns momentos- Não acho que tenha algo especifico dentro de nossa crença, apenas agradecemos aos elementos, ao Sol e a Lua, entrelaçamos nossas mãos e a prendemos a uma corda simbolizando a união de duas pessoas – enruguei a testa - por que da pergunta, você vai me pedir em casamento? –eu estava tão ausente da realidade daquilo que não percebi que ele realmente pretendia fazer o pedido –

-Eu pretendo sim. Depois que você apareceu em minha vida eu sabia que nunca haveria outra pessoa, mas não senti necessidade de oficializar. Eu te dei meu corpo e minha alma como prova deste amor e não queria nada em troca, mas você também me deu seu amor de forma incondicional e este, para mim, é o maior símbolo de união que pode haver entre duas pessoas.

Mas depois do que aconteceu aqui, te ver nos braços de outro e não poder fazer nada...eu sei que foi necessário e que você havia me pedido, mas aquilo me consumiu por dentro, eu queria matá-lo por ter tocado sua pela, te feito sangrar...Você é tudo para mim e quero que seja minha para sempre e que todos saibam disso...Você aceita meu amor, aceita ser minha mulher? – ele estendeu a mão em minha direção e me mostrou um anel feito com fibras de madeira e fios de ouro, ele estava envolto por um pequeno pedaço de couro –

Com muito cuidado peguei o artefato entre os dedos e sorri com a idéia de ser sua mulher oficialmente.

-É lindo – o trancado era delicado, um anel muito simples e de significado grandioso, percebi que em meio as fibras havia uma linha cinza, um fio de seu pelo – Seth, eu não sei o que dizer. –ele colocou o anel em meu dedo, serviu perfeitamente –

-Só diga sim meu amor.

-Seth – meus olhos estavam marejados - eu aceito, aceito ser sua mulher, sua amiga e amante para sempre. – nos beijamos de forma tão doce que me senti indo aos céus.-

Aplausos foram ouvidos pela casa e o som vinha em direção a porta de nosso quarto.

-Ah, que cena linda. Nossa bruxinha foi acordada pelo lobo mau e vai se casar! –Emmett era realmente impossível –

-Meus parabéns maninha.

Bella não teve tempo de me abraçar, Alice já havia entrado no quarto, colocado os homens para fora e me jogou uma lista de tarefas para serem realizadas antes do grande dia. Vestido, festa, convidados, comida, lua-de-mel, a lista era infinita.

-Alice, eu posso acordar direito antes. Eu estou suando e queria tomar um banho. Também estou com fome. – fiz a melhor cara de cachorrinho que pude e ela me libertou de sua loucura –

Alice permaneceu no quarto com Bella, Rose e Esme discutindo detalhes da festa e tentando unir a cerimônia Quileute com algumas características de cerimônias pagãs, a linha de seu pensamento não estava de toda certa, mas algumas coisas me agradavam.

Me demorei no banho, aquela ducha fria realmente havia acordado meus músculos e nervos. Meu nariz começou a sangrar, meu esforço foi muito grande e meu corpo estava reclamando, não poderia contar a ninguém, mas era sangue que saia de mim, eles perceberiam o aroma no ar e iriam me questionar depois, precisava de uma desculpa...mas meus pensamentos estavam em outro lugar.

Eu seria uma mulher casada. Eu me deixaria guiar por um altar, trocarias juras de amor e entregaria minha vida a quem amo, desta vez não haveria medo, eu poderia me entregar, amar para a vida toda – um sorriso bobo se formou e não consegui conter tamanha alegria – eu seria Anala Clearwater, um sobrenome finalmente. Por toda a minha vida eu sempre fui Anala e nada mais, agora eu pertenceria a uma família.

-Anala querida, esta tudo bem com você? – Bella havia entrado no banheiro para verificar o porque do aroma e viu meu nariz sangrando.-

-Sim Bella, estou bem. – sai do Box e coloquei uma toalha úmida sobre o nariz -

-Sentimos o cheiro de sangue. Você esta ferida?

-Nada de mais, meu nariz sangrou um pouco. Acho que meus nervos não agüentaram bem os últimos acontecimentos.

Bella estava preocupada. Me enrolei na toalha e fomos para o quarto.

-Eu sinto muito. Não entendemos o que você pode fazer e suas limitações. Você precisa de algo, quer que Carlisle a examine?

-Não, não é necessário. Só preciso descansar um pouco mais.

Mesmo não sendo necessário, Carlisle me examinou em seu escritório, colheu meu sangue e verificou minha pressão. Seria difícil verificar os resultados já que minha formação genética era diferente dos humanos.

---

Os dias foram se passando. Carlisle encontrou muita coisa para estudar em meu corpo, mas nada que saísse do normal para apontar para alguma doença, minha estrutura genética não era humana, não se assemelhava aos vampiros ou aos lobos. Acabei me tornando sua cobaia, sedia fios de cabelo, pedaços de unha ou pele e sangue, ele adorava estudar minhas ‘’mutações’’, estava escrevendo suas descobertas em um diário e se não fosse o fator ‘’mutante’’ dos meus genes ele ate teria publicado um livro.

Me lembrei que minha tia adorava estudar a arte da medicina e parte de seus livros estava comigo em meu baú. Eu selecionei os que queria e entreguei a Carlisle.

-Mas estão em perfeito estado! São textos religiosos, relatos sobre pestes ocorridas antes do nascimento de cristo. Há textos hindus sobre medicina do ano mil depois de cristo, anotações sobre disseminações, relatos sobre a peste de Atenas, a peste de Siracusa, a peste Antonina, a peste do século III...- a voz de Carlisle saia agitada, ele foliava os textos com o maximo de cuidado –

-Pode ficar com eles Carlisle, já os tenho na mente. Se tiver alguma dificuldade com as línguas utilizadas nos textos pode pedir minha ajuda.

-Estes textos são extremamente raros, você tem certeza?

-Claro, são os originais também. Cheguei a conhecer alguns dos médicos citados e boa parte do que esta relatado são fato que não foram para registros históricos ou livros, são observações pessoais misturadas a crenças da época. Nem tudo poderia ser divulgado ou provado e suas vidas corriam perigo se suas conclusões não estivessem dentro dos parâmetros políticos da época. A política, em suas diversas formas, sempre trouxe atrasos ao conhecimento popular. – o que envolvia dinheiro e poder sempre prevalecia, independente se era uma coisa boa ou não-

Esme ficou sem o marido por umas 12 horas, ele se trancou no escritório e estudou todos os documentos e nós duas para passarmos o tempo fomos preparar um bolo, o preferido de Nessie, queríamos alegrar a mais nova mamãe. Estávamos já na cobertura quando ouvimos um coração acelerado se aproximar da casa. Nessie não havia ido trabalhar hoje e estava sozinha em sua casa preparando algumas atividades para as crianças, algo deve ter dado errado, ela estava branca quando entrou na cozinha, mais branca do que o normal.

-Onde esta Carlisle? – sua voz era urgente –

-O que aconteceu Nessie? – Esme aparava seu corpo que agora se contorcia, um gemido cortou o ar e Carlisle já estava ao nosso lado –

-Leve-a para o sofá. – a voz de Carlisle era urgente –

-O que você esta sentindo Nessie?

-Esta doendo muito, o bebe, eu o sinto. Vô, não quero perder meu filho, me ajuda. – um novo grito de dor saia de seu corpo e sangue jorrou de sua boca.

Carlisle avaliou o tamanho de sua barriga e o sangue no chão. Haviam se passado apenas alguns dias e sua barriga já estava visível. Os espasmos aumentaram e marcas roxas apareceram por todo seu corpo. Eu ainda não estava forte o suficiente, mas conseguiria fazer.
Me aproximei do corpo de Nessie e coloquei minhas mãos sobre sua barriga, afastei Carlisle e Esme e comecei a evocar um feitiço de proteção. Envolvi seu útero com minha energia, murmurava apenas para meus ouvidos as palavras de proteção enquanto o corpo de Nessie voltava ao normal.

-Carlisle! – eu estava apavorada – o bebe se desenvolve rápido, eu não consigo...-minha voz já saia cortada, meu corpo tremia.- Ela precisa do sangue dele...Jacob. – meu nariz voltou a sangrar e vomitei sangue, minha visão foi ficando turva, não ouvi mais nada.

---

-Acorda Nala! O que eu faço, me diga? – meu corpo estava sendo sacudido com violência, o local onde me seguravam estava ardendo em chamas. Senti uma dor forte no ombro, ele havia sido deslocado, a dor me trouxe de volta a consciência.

-Jacob....- um grito saiu de minha boca –

Ele me olhava desesperado, seus olhos cheios de água e vermelhos. Ele estava chorando. Ouvi as contrações e gritos de Nessie, meu feitiço não durou muito.

-Seu sangue Jacob, ela precisa beber seu sangue. AGORA – meu grito se união ao de dor de Nessie e Jacob correu ao seu lado cortando seu pulso com um bisturi e colocando o braço com o corte aberto sobre sua boca.

Carlisle estava ao meu lado, colocando uma tala em meu ombro e passando uma pomada sobre as marcas roxas deixadas por Jacob em meu braço. Nessie estava voltando ao normal, a cor de sua pele agora possuía um tom rosado.

-Obrigada Carlisle.

-Você esta muito fraca, precisa se deitar.

-Não é necessário, eu já estou melhor. O bebe, ele reconheceu a parte vampira no corpo de Nessie. Ela vai precisar ser acompanhada. – minha voz não passava de um sussurro –

Carlisle acenou com a cabeça e levou Jacob a seu escritório para falar sobre os problemas e riscos desta gestação. Esme levou Nessie e eu a meu quarto na casa e descansou nossos corpos sobre a cama.

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-O que você fez a ela Jacob? Você viu as marcas? Não ouviu seus ossos trincarem?

-Seth se acalme, ela é forte e já esta se recuperando.

-Me solte Carlisle. O que ele fez não foi certo. Não era necessário.

-Seth me perdoe. Eu não sabia o que fazer, ela estava perdendo a consciência e eu precisava saber como salvar Nessie.

No quarto eu ouvia os gritos e lamentos que vinham da sala. Eu precisava explicar a eles, mas meu corpo estava muito fraco. Esme estava no quarto conosco.

-Esme me ajude. Eu preciso ir a sala falar com eles. Eles não podem brigar assim. – eu já estava chorando e mal conseguia falar –

Esme me colocou no colo, meu peso parecia o de uma pluma enquanto me carregava com cuidado pela escada, ainda a uma velocidade humana.

-Seth. – eu o chamei em meio as lagrimas.

-Oh Nala, não. Você não pode se esforçar tanto. Volte ao quarto, descanse! – ele já estava ao meu lado me pegando dos braços de Esme -.

-Não Seth. Não vou voltar. Você não precisa brigar com Jacob. Ele não teve culpa de nada. – meu nariz voltou a sangrar - .

-Carlisle! – sua voz era de suplica –

-Eu não sei o que acontece com ela Seth, não sei como ajudá-la. Deixe-a falar, assim ela se acalma e volta a dormir.

-Seth, eu me curo mais fácil porque também tenho este dom amor. Não se preocupe comigo.

-Jacob, eu senti Nessie, senti sua dor. O bebe de vocês possui o seu sangue, ele nascera um lobo puro e por isso o corpo de Nessie o rejeita. Pelo que ouvi da gestação de minha Irma e o que conheço de fisiologia, seu bebe nascera em dois meses e para garantir que isso ocorra, Nessie terá que se alimentar do seu sangue. Seu sangue tem o poder da cura e permitira que ela leve a gravidez sem nenhum risco. Ela não tem veneno em seu sangue então não há risco de seu corpo rejeitar o seu sangue.

Jacob entendeu o que precisava ser feito e percebendo o olhar de Carlisle sobre meu corpo não fez nenhuma pergunta. Carlisle estava preocupado, meu corpo era uma incógnita para seus conhecimentos médicos, ele não poderia me ajudar.

-Seth, eu estou bem – meus olhos já estavam se fechando pelo cansaço e eu adormeci em seus braços –

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