Amélia não gostava de ser feliz.

A noite não abraça as mulheres.


Logicamente Amélia sabia que uma mulher andando sozinha nas ruas cobertas pelo silencio da madrugada era algo tão seguro quanto nadar com tubarões famintos. E é claro que Amélia tinha medo, não faria sentido não o ter. Porém, nunca se obstruiu por conta do medo. Não permitiria que o glorioso silencio da madrugada lhe fosse roubado. Então lá estava ela a caminho de casa, não haviam ônibus nem táxis naquela hora. Poderia ter continuado na casa do homem, mas necessitava na própria solidão e não sabia contrariar as próprias vontades. Estava quase regulando a respiração pesada por conta do terror que sentia, quando percebeu uma presença a correr em sua direção. Sentiu uma fisgada no cérebro e as pupilas se dilatarem, era a adrenalina consumindo seu corpo. Apertou o passo o mais rápido que podia e olhou para trás para ver o desgraçado que teria que enfrentar de alguma forma. Era o homem. Era próximo a um orgasmo o alivio que sentiu.

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— Você ficou maluco? Quem é o imbecil que corre assim na direção de uma mulher numa rua deserta de madrugada? – Deixou-se aborrecer quando seu corpo deixou de sentir perigo.

— Porque diabos você foi embora? É louca de sair assim na rua a essa hora da noite? Para que tanto esforço para fazer charme? Se eu fosse outro eu deixaria você ai á Deus dará, mas como o bom cavaleiro que sou, não te deixo como merecia ai no perigo da rua.

— Quanta petulância. Não preciso da sua ajuda, você acha mesmo que em algum momento se passou pela minha cabeça fazer charme para algum homem? – Por um segundo pensou que de fato seria melhor um assassino a lhe arrancar as tripas do que aquele tribufu a lhe dizer aquelas asneiras.

— Você se acha muito boa né? Que outro homem você pensa que faria tudo o que fiz por você, tendo a fama que tem? Flertei com você por mais de um mês, gastei dinheiro com flores e jantares, até andei de mãos dadas para você me tratar assim! – Amélia quis arrancar-lhe os olhos com as unhas. – Nenhum homem além de mim te quer, os conhecidos todos recorrem a você quando querem uma noite fácil. As conhecidas todas te chamam de mulher da vida pelas costas.

Se sentiu esgotada pelas ultimas frases desferidas, sem nem mesmo pensar começou a ir embora. Seu corpo necessitava ir.

— Não se atreva a ir embora! Já vai atrás de outro homem? Não se atreva a rir da minha cara! Escuta aqui, escuta aqui Amélia, olha para mim. – O homem se calou de repente e respirou fundo, prosseguiu fazendo voz de coitado. Amélia parou e olhou contra a própria vontade, sabia que seria seguida se continuasse a ir embora. – Eu gosto de você, tá bom? Me desculpa ter falado assim com você. Não me importa o que os outros pensam, eu gosto de você. Volta comigo. Eu posso te fazer feliz Amélia. Até me caso com você, vem comigo que nenhum outro homem vai te querer assim.

Amélia riu, não sentiu mais medo naquele momento. Lembrou-se de como os homens podiam ser patéticos, recobrou o lado racional do cérebro. Não conseguiu responder pois a boca era ocupada por uma gargalhada.

— Eu vou fazer você engolir essa risada! – O homem começou a se aproximar.
Alarmou-se. Olhou nos olhos do homem e foi como se a morte lhe cantasse. Se partiu a correr.

— Isso! Corre mesmo! Corre, que eu vou te pegar.

Amélia colocou a bolsa em frente ao corpo e começou a buscar pelo punhal que sempre levava consigo. Nunca na vida havia andado desarmada. Do mesmo jeito que nunca veio a ser uma mulher religiosa, mas naquela hora rezou ao punhal para que lhe salvasse.