—Minha Senhora, acorde.

Roslyn sentiu algo quente aquecê-la por todo o corpo. Piscou e abriu os olhos apenas para estar envolta em pura escuridão como sempre esteve desde que era pequena.

–O Senhor pediu que viesse acordá-la. Está esperando-a para a refeição da manhã.

Naquele momento, a menina se sentou abruptamente na cama totalmente desperta. Os cabelos levantados para cima, o vestido enredados ao redor dos joelhos e os olhos prestes a saltaram teve certeza que não era um boa visão para o marido. Não que esse pensamento fosse adequado para a situação que se encontrava.

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–Fala a sério?-Indagou, mal contendo a felicidade por ter autorização de deixar o quarto.

–Sim, minha senhora. -A alegria na voz de Marion fez Roslyn pular da cama e caminhar no que pensou ser a porta, mas foi parada pela voz da criada.

–Senhora, precisa de um banho primeiro.

Com a malcriação impregnada na menina desde que era criança, não conseguia evitar não ficar emburrada por ter que tomar banho. A água fria nunca lhe desceu bem.

*****

Alaric caminhou impaciente em frente a porta do quarto deles, esperando que Roslyn aparecesse. Ele rogou que nenhum dos seus homens aparecesse naquele corredor para não ter que explicar o porquê de estar esperando impacientemente o fim do banho da própria esposa.

Esperou por mais alguns segundos até que a porta fosse aberta e um batalhão de mulheres deixassem o quarto. Ele assistiu a todas elas ficarem rubras ao notarem sua presença imponente no corredor. Ele evitou resmungar algo pejorativo, achando o comportamento feminino no mínimo irritante.

Estava prestes a soltar reclamações sobre a demora até que enfrentou a pequena mulher no meio do quarto. Alaric puxou uma respiração ao ver finalmente o rosto de Roslyn, livre dos fios desgrenhados, da expressão de terror e das sujeiras. Não conseguiu evitar pensar como pode pensar que era feia?

Roslyn era linda.

Linda sem hesitações. A face cinzelada, o nariz afilado e pequenino com a ponta adoravelmente arrebitada. As bochechas salientes, a boca cheia e pequena, como era tudo nela. O olhos continuavam desfocados, mas tinha um intenso azul que os faziam brilhar. Os cabelos ruivos estavam trançados, e colocados sobre o ombro.

Seus olhos descerem em direção a o seu pescoço, mas logo sentiu um gosto amargo ao ver o comprimento do vestido. Não que não gostasse do formato do corpo da esposa, era assim como ela toda, adorável. As pernas esbeltas, a cintura estreita e magra, os ombros estreitos. No entanto, o problema foi a percepção de que suas pernas eram esbeltas, porque ele não deveria saber o formato das pernas de qualquer mulher respeitável.

Alaric se viu frente a ela, sem nem ao menos perceber que os pés o levaram até ela. Esperou mais alguns minutos em silêncio para se pronunciar, analisando suas feições delicadas.

–Algum problema, meu senhor?-A voz suave aqueceu o seu coração. Alaric não gostou disso.

–Sim, há. Suas vestimentas não são apropriadas. -Respondeu brusco.

O homem assistiu com verdadeiro fascínio o rubor tomar conta aos poucos das bochechas cheias.

–Eu entendo que não são apropriadas, mas são as mais indicadas no meu caso. -Replicou, mantendo a voz firme e o queixo erguido.

Alaric franziu o cenho, tendo problemas para entender a afirmação de Roslyn. Ele a olhou de cima a baixo, fazendo uma análise meticulosa de seus membros, tentando encontrar algum problema que possa ter escapado de sua vista antes. Mas, ao final chegou a conclusão de que além da cegueira, sua esposa parecia saudável.

–Explique-se.

–Sou cega. -Roslyn puxou a cabeça para trás, sentindo a presença muito próxima de Alaric.

–E no que exatamente isso implica em suas roupas?

–Caso use mais longo que isso, eu poderia sujar facilmente, porque às vezes não sei aonde estou pisando -assinalou as saias para embasar o seu argumento. -Dessa forma, é melhor usar mais curto. Além disso, as mulheres começaram a reclamar que as minhas roupas davam muito trabalho para lavar.

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Alaric não gostou daquela revelação.

–Eu não me importo se sujar todos os vestidos que tem em uma manhã. Voltará a usar os vestidos adequados, e se alguém reclamar mande falar diretamente comigo, entendeu?

–Sim. -Roslyn respondeu sem fôlego.

–Bom.

Sem conseguir resistir, Alaric acariciou a pele de seda do seu queixo entre seus dedos, forçando um pouco para baixo para que seus lábios se separassem. Inclinou a cabeça e tocou os lábios rubros com os seus, sentindo a maciez e a doçura de Roslyn.

–Está pronta?-Alaric tentou disfarçar a respiração alterada pelo contato simples.

–Sim.

Roslyn tentou manter as pernas firmes, mas a sua sanidade parecia ter desaparecido desde o momento que os lábios do homem pousaram sobre os seus. Por momento, pensou que iria se desesperar, mas só sentiu uma sensação prazerosa se apoderar do seu corpo. Ela podia permanecer naquela posição por dias facilmente.

Ele a guiou silenciosamente em direção as escadas, com a mão de Roslyn pousada na dobra do seu braço, caminhando de forma lenta para que o acompanhasse sem dificuldades. Durante todo o trajeto, Roslyn pensou que não deveria lhe informar que seu pai jamais permitiu que tomasse o desjejum junto com os outros. Ele odiava o fato dela não poder se alimentar só.

Mas, a felicidade de poder sair do quarto e poder sentir o seu clã por perto ofuscava o seu medo. Ela poderia fazer isso, comeria pouco para não derrubar nada e sairia antes mesmo que o marido notasse. Ficaria bem.

A quietude do salão lhe pareceu estranha. Geralmente, podia escutar a comoção do quarto em que ficava. No entanto, ouviu apenas a respiração do homem ao seu lado e alguns cochichos de conversas. Havia algo de errado.

Caminharam pela longa extensão do salão por entre as mesas, durante todo o trajeto Roslyn sentia o nervosismo aumentar à medida que o silêncio se fazia ainda mais presente. Sentia olhos perfurarem sua pele como alfinetes.

Sentou-se rigidamente, sem saber que expressão adotar tendo quase certeza que havia quase o salão inteiro analisando suas ações. Ela estava quase se arrependendo de ter aceitado ser levada até o salão.

–Coma.

O comando frio do marido não ajudou em nada a melhorar seu estado. Ela levantou a mão para cima, pensando que se percebesse que não fazia ideia para onde dirigir a mão para conseguir pegar a comida, ele iria lhe socorrer. No entanto, permaneceu com a mão estendida, perdida.

–Qual o problema?-O sussurro baixo e ameaçador veio da sua esquerda.

A mulher se inclinou discretamente em sua direção, abaixando a cabeça.

–Não sei onde está a comida. -Roslyn respondeu no mesmo tom, ressentida.

Ela o ouviu praguejar, logo depois algo fofo pressionar a sua mão.

–Coma, agora. Antes que eu me arrependa e leve você de volta para o quarto.

Sem fazer conta a ameaça, Roslyn levou a comida a boca, notando que o pão seco era o que tinha na mão. Notou que o ar tenso começar a se dissipar aos poucos, e o barulho de conversa aumentar. Graças aos céus. Conseguia ouvir o marido conversar baixinho com alguém a sua frente, mas algo que falou conseguiu capturar.

–...Gilbert foi morto e nós precisamos rápido de alguém que…

–Gilbert?-Se intrometeu antes que conseguisse se conter.

O silêncio rapidamente predominou entre os homens que conversavam.

–Não se intrometa Roslyn.

Ela estava começando a se cansar dos comandos do marido.

–Está morto?

O grunhido exasperado ao seu lado quase a fez calar a boca, mas não se conteve.

–Roslyn…-O tom de aviso morreu nos lábios do homem quando foi interrompido por uma voz mais suave e branda.

–Você o conhece?

–Sim, é um grande amigo.

–Ele foi morto quando invadimos. No entanto, não sabemos onde ele guardava os manuscritos que mantinha as contas do clã. Sem eles será difícil administrar o restante.

–Já chega, Sebastian.

O tom de aviso parecia também se estender a todos que o desobedeciam, pensou amarga.

–Sabe de alguém que poderemos procurar que possa achar os manuscritos?-Roslyn gostou no mesmo instante do homem que lhe falava por não obedecer as ordens do marido.

A menina hesitou sem saber se seria bom contar o que sabia. Até onde ela sabia, ele poderia facilmente matar qualquer um deles ali.

–Roslyn. -ela olhou para o lado de onde a voz lhe chamou atenção. -Temos um acordo.

–Contarei se me levar junto com você. -Impôs.

–Está aprendendo a dar ordens agora, querida?-O tom de escárnio trouxe um sorriso de deboche aos seus lábios.

–Sou uma ótima aprendiz. -Revidou.

Se seguiu um silêncio decisivo, em que ela supôs que os dois homens estivesse trocando ideias.

–Como quiser. -Alaric soou contrariado, mas permitiu que Roslyn vencesse daquela vez. -Diga o nome.

–Só irei falar quando tiver certeza que não irão fazer nada sem mim.

Ela ouviu um riso e imaginou ser o amigo do marido.

–Que assim seja.

Após a refeição, o marido a levou para fora onde ela pode sentir o sol castigar a sua pele, uma vez que já havia esquecido a sensação de ser aquecida. Eles caminharam vagarosamente até Alaric parar abruptamente, levando Roslyn a uma parada brusca. Ele a virou sem delicadeza, agarrando sua cintura estreita para levantá-la em direção ao lombo do cavalo.

Roslyn segurou as mãos do homem em pânico quando foi sentada em cima do cavalo, oscilando perigosamente para trás, contudo antes de poder gritar por ajuda, Alaric já estava posicionada atrás dela, com os braços apertados ao seu redor, impedindo que caísse. Ela pensou em se afastar para manter uma distância entre seus corpos, mas preferiu não falar nada para que ele não se arrependesse de permitir que ela fosse com eles.

—A cabana fica perto do rio. -Emitiu antes que o marido perguntasse.

Com os calcanhares, Alaric incitou o cavalo a galope.

Eles chegaram relativamente rápido, Roslyn não queria admitir que acabou se recostando contra o peito do marido e gostou da sensação. Ela podia sentir o cheiro do inverno se aproximando através do vento.

A menina sentiu o homem descer do cavalo, e até mesmo havia escorregado um pouco mais para frente para facilitar que ele lhe descesse, contudo não sentia suas mãos sobre ela, apenas ouviu o pisar duro de passos sobre folhas secas. Eles não a levariam, pensou agitada. Sem se acovardar, deslizou pelo lombo do cavalo, até cair livremente. Amorteceu a queda com os pés e pôs se a andar na direção que ouvia os passos.

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A batida forte contra a porta chamou sua atenção, andou mais alguns passos e parou ao sentir algo bater contra seus pés. Mais batidas e o silêncio logo depois. Roslyn permaneceu parada esperando a porta ser aberta.

—Acha que mentiu para nós?-A voz sussurrada do que pensou ser o de Sebastian pareceu bem clara para Roslyn.

—Não menti. -Afirmou com convicção.

—Jesus Cristo -o som afogado soou um pouco mais a sua direita. -Como chegou até aqui?

—Tenho ouvidos, meu senhor -afirmou serena. -Deixe-me tentar.

Ergueu a mão para o ar e em poucos segundos, uma mão a ajudou a ir em direção a porta, subindo por uma escadinha.

—Edward, sou eu Roslyn, abra a porta por favor.

Todos esperaram em puro silêncio até que a menina começou a se desesperar pensando que realmente não havia ninguém ali, e os homens provavelmente iriam matá-la vendo que não tinha utilidade ao final. Mas, alguém parecia ter escutado suas preces pois o som da porta sendo aberta acabou com seus temores.

—Roslyn?-A voz desconfiada de Edward fez seus ombros caírem de alívio.

Ela teve a vontade louca de se jogar em seus braços, mas se conteve achando que o marido lhe esfolaria ali mesmo caso fizesse isso.

—O que eles estão fazendo aqui?-Roslyn voltou a ficar tensa quando ouviu o tom de ameaça em sua voz.

—Eu sinto muito por Gilbert. -Despejou para tirar o rumo da conversa para os dois homens ao seu lado.

Silêncio.

—Gostaria de falar com você.

–Claro -o suspiro de alívio escapou dos seus lábios. -Mas, só você.

–Isso não irá acontecer. -Alaric se manifestou, tomando a frente da situação.

Roslyn sentiu o seu braço roçar contra a camisa de Alaric, e percebeu que ele havia se aproximado sem que notasse. Com medo dele fazer algo de ruim com seu único amigo que havia restado, ela virou em direção ao marido e pousou a mão em seu peito.

–Deixe-me falar com ele a sós. -Declarou ansiosa.

–Não. -Retrucou categórico.

–Ele irá me ouvir, se entrar só irá piorar a situação.

Uma mão forte pousou em sua cintura e a aproximou ainda mais para frente, pega desprevenida lábios quentes tocaram os seus com delicadeza mas possessivos.

—Não demore. -Afirmou, ainda com a mão a segurando perto.

Por fim ele a soltou, e Roslyn tentou ficar firme quando se encontrou sem apoio. Ela caminhou em direção amigo, e antes que entrasse completamente a porta foi fechada com força, braços grandes a envolveram em um abraço apertado e ela se permitiu inalar o cheiro familiar de Edward.

—Você está bem?-Sussurrou no seu ouvido.

—Vou ficar. -Tranquilizou o amigo.

—Não acredito que ele a obrigou a se casar com ele -esbravejou a soltando. -É um monstro.

Roslyn permaneceu calada, ela estava começando a descobrir que poderia confiar no marido em alguns aspectos apesar das atrocidades que quase fez com ela.

—Não temos muito tempo -caminhou para longe da porta dando alguns passos para dentro da pequena cabana, esperando que Edward a seguisse. -Preciso que confie em mim.

—Confio em você. -Mãos quentes envolveram as suas e Roslyn se sentiu aquecida por dentro.

—Preciso que dê os manuscritos a desrespeito do clã para o meu marido.

As mãos deslizaram pelas suas em uma incredulidade muda.

—Não.

—Edward, você não entende. O inverno está próximo, e os campos foram queimados, não há mais colheita a ser feita. Eu sei que posso estar soando incoerente, mas acho que podemos confiar nele para tomar conta do clã ao menos para nos ajudar a combater a fome -Roslyn esperou que protestasse, mas o silêncio reinou entre eles. -Não iremos sobreviver a um inverno.

—Ele ameaçou você?

—O que?-A incredulidade a fez dar um passo para trás.

—Ele de alguma forma fez algum mal a você para que dissesse isso?-As mãos de Edward se apossaram dos seus ombros a sacudindo ligeiramente.

—Não!

—Então, porque diz isso?! Roslyn, nós iremos dar um jeito nisso! Vamos acabar com ele, só precisamos de tempo. Eu sei que essa situação deve estar sendo terrível para você, mas não se preocupe iremos acabar com ele.

Roslyn sentiu o coração ser envolvido por algo frio que quase a fez perder a respiração. Não estava gostando do que Edward falava.

—Edward, do que está falando?

—Nós iremos atacar quando menos esperar.

Oh, Deus.

Não, Edward -afirmou com firmeza. -Isso seria uma declaração de morte para todos nós. Irá acabar com que restou do clã!

—O que quer que nós façamos, Roslyn?!-falou um pouco mais alto, soando alterado. -Que nós fiquemos submissos aceitando as ordens de um mercenário?!

—Não! Eu quero que apenas sobrevivam a esse inverno! Não entende?! Estamos sem nenhuma comida, sabe como o meu pai fazia, não se preocupava com nenhum de nós. Agora, eu preciso que você tenha paciência, iremos nos vingar, não duvide. Eu só peço que espere.

Implorou, prestes a se ajoelhar.

—E, você?-Franziu a testa confusa.

—Como assim?

—Ele não forçou você a…

—Oh, não!-replicou rapidamente. -Ele não consumou o casamento.

Edward encarou abismado Roslyn, duvidando que aquele mercenário na sua porta não tivesse assegurado a validação do casamento.

—Você não pode contar a ninguém!-Adicionou agitada.

—Claro, não se preocupe. -Acalmou cauteloso.

–Obrigado.