Amizade Colorida

2ª temp. -Jennifer 1.2


—Tem certeza que não quer vir passar uns dias aqui em casa, Jenn? —pergunta Annie ao telefone. —Você vai ficar fazendo o que aí sozinha?

—Pode garantir que o que não falta é coisa para se fazer aqui. —estou com a cabeça inclinada para segurar o telefone entre o queixo e pescoço, enquanto coloco os ovos mexidos num prato. Minha mãe e meu novo padrasto haviam viajado para sua lua de mel, o que deixava a casa inteirinha para mim. Ou seja, trabalho dobrado. —A gente pode marcar pra sair. Eu, você e Nanda como nos velhos tempos.

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Me sento a mesa e me sirvo um copo de suco de laranja enquanto aguardo a resposta de Annie. Coloco os ovos dentro do pão e dou minha primeira mordida. Bebo um gole do suco.

—Claro que sim. Nanda volta de viagem hoje. Eu tento ligar pra ela. E se Patrícia não estiver ocupada, a chame também. —Annie soltou um suspiro. Já até sabia qual seria a próxima pergunta. —O que aconteceu com você ontem?

—Por eu ter saído mais cedo? —escuto ela murmurar uma afirmação e continuo. —Nada demais. Só estava muito cansada.

—Você e Leo conversaram? —ela pergunta num tom esperançoso.

—Um pouco. —digo enquanto faço uma careta.

—Já é um avanço. Você mal podia ouvir o nome dele. —Annie deixa uma risada escapar. —Sinto falta de como éramos há três anos, sabia?

—Eu também, Annie.

—Isaac já não é o mesmo. E nem você.

—Todos mudamos, Annie. Mas por quê? Vocês brigaram? —perguntei incrédula.

—Não, não é isso. É que não sei, costumávamos ter mais química sabe? —solto um murmuro de concordância enquanto dou outra mordida. —Hoje está tudo muito... Monótono, eu acho. Nos casaremos daqui a dois meses e eu não sei, já somos um casal, só que de idosos.

Solto uma leve risada com o último comentário.

—Já está tendo uma crise de meia-idade?

—Já encontrei meu primeiro fio de cabelo branco. —ela comenta rindo. —Eu tenho que ir, Jenn. Vou acabar me atrasando para o trabalho. Te ligo pra confirmar quando a gente sai. Beijo.

—Beijo.

Desligo o telefone e o coloco sobre a mesa e enfim termino meu café da manhã. Essa seria uma manhã atarefada. Estava no terceiro período da faculdade, o que significava que teria que arrumar um estágio. Meu currículo estava sobre a mesa e ele parecia me encarar enquanto eu lavava a xícara suja de café.

Vou para o banheiro. Escovo os dentes, ajeito meu cabelo e passo um discreto batom nos lábios. Pego minha bolsa, dou uma olhada em volta certificando-me que está tudo em seu devido lugar e saio de casa. Vou andando apressadamente, o tanto quanto meus sapatos permitissem, para o ponto de ônibus.

—Bom dia! —digo para duas senhoras que estavam sentadas no banco.

—Bom dia! —elas respondem em uníssono.

A mais velha delas me abriu um sorriso.

—Está atrasada, menina. O ônibus passou tem alguns minutos. —ela diz.

Me xinguei mentalmente. Isso significava que o próximo ônibus só passaria daqui a trinta minutos. E eu tinha menos de vinte minutos para chegar até o local da entrevista.

—Obrigada. —digo com um sorriso e me levanto. Seria melhor ir a pé. Pelo menos chegaria na hora.

Depois de cerca de dez minutos de caminhada já me sinto derrotada. Aqueles malditos sapatos! Por que eu não poderia ir de tênis?

Quando estou quase desistindo, escuto um barulho de buzina bem próximo a mim. Fico assustada por um instante. Uma moto cruza meu caminho e eu sou forçada a parar. Estou pensando seriamente em deixar aqueles sapatos de lado e começar a correr. Até que olho para o motoqueiro e percebo não é ninguém menos que Leo.

—Você quer me matar garoto? Eu jurava que ia ser assaltada. —comento colocando a mão sobre o peito.

Ele solta uma gargalhada.

—Quem não deve não teme, Jenn. —ele diz. —Está indo pra onde? Quer uma carona?

—Não é da sua conta. —recomeço a andar desviando da moto.

—O que aconteceu com a sua boa educação?

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—O que aconteceu com sua noção de espaço?

Leo revirou os olhos.

—Só estava tentando te ajudar. Mas esqueci de como você é autossuficiente.

Ele está prestes a seguir em frente quando o interrompo:

—Espera!

Engulo seco. Meu orgulho descendo pela garganta junto com minha saliva.

—Você está indo pra onde? —pergunto.

—Centro. Ali na Praça. —ele aponta para frente. —Minha mãe pediu pra comprar algumas coisas no mercado.

—Eu também estou indo pra lá. —murmuro. —Se não for incomodo, você poderia...

—Decidiu aceitar ajuda? —ele ergue uma sobrancelha e diz em tom zombeteiro. —Ora ora. Quem é você e o que fez com a Jennifer?

—Sem piadinhas, Leonard. —digo rolando os olhos.

—Sobe aí. —ele diz dando uma palmadinha no assento detrás.

Fico um pouco desconfortável ao colocar as mãos, uma de cada lado, em sua cintura.

—Relaxa, Jennifer. Eu não mordo. —ele riu. —Só se você pedir, é claro.

Solto um suspiro de reprovação e ele acelera com a moto, com aquele maldito sorriso no rosto. Ficamos em silêncio por um instante, até que ele diz:

—Por que você está tão... Bom, assim, desse jeito, ultimamente?

—Assim como? Que jeito?

—Me tratando com indiferença. Parece até que não nos conhecemos. Mudamos tanto assim?

—Creio que sim.

—Eu ainda sou o mesmo, Jennifer. —ele murmura mais para si mesmo do que para mim. Como tentasse se convencer que ainda era o mesmo Leo.

—Não posso afirmar o mesmo sobre mim, Leo.

—Mas eu conheço você o suficiente pra saber que estar fingindo ser alguém que não é. No fundo você é a mesma Jennifer de sempre. Só que não sei por que está tentando se esconder.

Fico em silêncio sem saber como responder. Em menos de dez minutos, Leo para a moto em frente ao prédio que lhe indiquei.

—Entrevista de emprego? —ele pergunta assim que estaciona.

—Um estágio pra faculdade, na verdade. —digo descendo da moto.

—Boa sorte então!

—Obrigada. E obrigada pela carona.

—Não tem de quê, Jenny. —ele diz com um sorriso.

Eu nesse momento me inclino para lhe dar um beijo no rosto e ele faz o mesmo. Uma sensação de djavu* me invade neste momento e recuamos juntos. Ele solta uma risada baixa enquanto minhas bochechas ficam vermelhas.

—“É realmente estranho um beijo no rosto quando duas bocas se conhecem”. —ele diz fazendo aspas com os dedos e, em seguida, morde o lábio, constrangido pelo o que havia dito. Ele me dá um beijo rápido na testa. —Até mais, Jenn. —ele então liga a moto e acelera. E eu o observo ir. Até perdê-lo outra vez de vista.