– Não vá! - eu gritava em vão, para o garoto que eu fazia juras de amor, em meus sonhos.

– É tarde demais. - ele me alertou. - Não posso mais ser dono de seu coração, sou fruto da sua imaginação. - eu tentava gritar para ele não me deixar, mas a minha voz não saía. E então, o meu despertador tocou.

Acordei assustada, banhada em meu suor. Ultimamente, meus pesadelos andam me perseguindo, sempre com a mesma mensagem: Ele não é bom o suficiente para você. Suspirei alto, me levantei e fui fazer a minha higiene matinal.

Como de costume, aqueles lindos olhos azuis se encontravam perdidos, totalmente indecifráveis. Me sentei ao seu lado, com receio de interromper os seus pensamentos, que os tornava ainda mais belo.

– Bom dia. - sussurrou aquele garoto tão misterioso, para mim.

– Bom dia. - sussurrei de volta, contendo o meu sorriso satisfeito, por ele ter notado a minha presença.

Depois do nosso curto diálogo matinal, não trocamos mais nenhuma palavra. Por que ele tem que ser tão fechado?

Ao chegar no Colégio, avistei um bolinho das garotas da minha sala e me aproximei, para ver sobre o que elas estavam falando.

– A Ágata vai ficar louca. - ouvi Renata argumentando.

– Ele é um galinha mesmo. - exclamou Sabrina com raiva.. De quem será que elas estão falando?

– Coitada da Ágata, não merecia isso. - Maria, uma menina da minha sala, suspirou.

Me aproximei mais e as garotas começaram a se cutucar, avisando que eu havia chegado.

– Posso saber, de quem vocês estão falando? - pedi explicações, mas todas se calaram.

– Ágata, acho melhor você não olhar para trás. - alertou Renata, então eu, imediatamente, olho para trás e me deparo com a pior cena possível:
Daniel agarrado numa garota da outra turma, acho que seu nome é Clara.

Sabe quando puxam seu tapete? Parece que você, é a pessoa com os piores problemas no Mundo. Nada do que te falam, melhora seu humor, você só tem vontade de cavar um buraco e enfiar sua cara nele. Foi exatamente assim, que eu me senti naquele momento.

Sai correndo para dentro do Colégio, empurrando quem estivesse bloqueando a minha passagem, pois a única coisa que eu queria era chorar. Me tranquei no banheiro e fiquei lá chorando. Até Renata e Sabrina aparecerem.

– Ágata.. - era a voz de Renata. - Sai daí, por favor. - ela implorava.

– Não! - gritei.

– Desse jeito você vai acabar perdendo o primeiro horário, amiga. - Sabrina tentava me convencer a sair do banheiro.

Abri a porta lentamente, com o rosto inchado e os olhos vermelhos.

– Vamos dar um jeito nessa carinha.. - disse Renata e eu sorri, enquanto Sabrina tirava seu kit de maquiagem da mochila.

Depois de dar muito trabalho para as minhas amigas, ouvimos o sinal bater e fomos para a sala de aula. Todos dirigiram seus olhares para mim, com certeza agora já estava muito mais do que óbvio, a minha paixão platônica por Daniel.

Arrisquei um olhar para ele e ele sorria serenamente para mim, como se nada tivesse acontecido. Cafajeste!

Acompanhei a aula, prestando atenção apenas no necessário. Recebi alguns bilhetinhos, então, decidi abri-los.

"Você está bem? Me responda o mais rápido possível, por favor.." arrisquei que aquela caligrafia era de Gustavo, mas eu não tinha certeza. Precisaria perguntar para Sabrina, no intervalo.

"O que aconteceu com você na entrada? Quero te apresentar minha namorada, no intervalo " rasguei o bilhetinho em vários pedaços, despertando a atenção de quem o escreveu. Sorri diabolicamente, enquanto levava os pedaços do bilhetinho de Daniel para a lixeira.

Rabisquei uma resposta para Gustavo e lhe passei por baixo da classe.

"Estou sim, obrigado pela preocupação"

Finalmente o sinal bate e todos saem rapidamente para o pátio, ficando apenas eu e Gustavo.

Enquanto me dirigia para o corredor, ouço ele me chamar:

– Ágata.. - sua voz é serena e fraca, forço um sorriso quando me viro, para olhá-lo. - Posso falar com você? - pergunta, estremeço.. ai vem bomba.

– Claro. - suspiro.

– Esse bilhetinho que você me passou.. - ele fala lentamente, retirando o bilhetinho do bolso e me entregando. - Não fui eu que te mandei. - ele completa, me deixando totalmente confusa.

– Não? - pergunto, totalmente intrigada e ele apenas balança a cabeça negativamente.

– Ágata! - é a voz de Sabrina, ela está parada na porta da sala. - Finalmente te achei. Oi Gus. - ele acena a cabeça para ela e saí da sala.

– O que aconteceu? - Sabrina pergunta, reparando minha expressão confusa.

– Você sabe de quem é essa letra? - entrego-a o bilhetinho, de dono misterioso.

– Hmm.. - ela analisa com cuidado a caligrafia. - Não, mas com certeza é caligrafia de garoto. - ela me dá um meio sorriso e eu viro a cabeça para olhá-la. Já sei o que ela está insinuando.

– Ok.. Depois a gente pega os cadernos de todos os garotos da turma e compara. - retribuo o sorriso e saímos da sala, indo procurar Renata.

Ao chegarmos na cantina, ainda me sentia angustiada, para descobrir de quem era aquele bilhetinho. Não tinha muitas opções aceitáveis, na minha sala de aula.

Encontramos Renata na fila, comprando doces, como de costume. Acompanhamos ela até o pátio e de repente, em um flash, vimos ela sair correndo até o observatório do Colégio.

Eu não esperava ver a minha amiga sofrendo daquele jeito, ela estava se sentindo, como eu me sinto em relação à Daniel. Eu e Sabrina tentamos consolá-la e então, depois que o sinal bateu, subimos para a sala de aula.

– Ágata.. - ouvi aquela voz, que fazia meu coração acelerar e meus olhos dilatar.. DANIEL.

Sorri de lado, pois independente dele me fazer sofrer, eu jamais conseguiria ficar brava com ele. Ignorei aquele chamado e continue prestando atenção na aula de Biologia, a minha preferida.

Então recebo outro bilhete do tal, dono misterioso.

"Eu sei que você quer, descobrir a minha identidade.. me chamo Júnior"