A.l.é.x.i.a

The Cure


-Nova Iorque. Hospital. 2035.-

–Aléxia-

Olhava para minha mãe aflita, ela ainda falava com Robert no telefone e gesticulava muito.
Estávamos no andar do tio Clint, com o próprio e a tia Bobbi. Era do mesmo jeito que o nosso, mas havia várias coisas pessoais dele e “cheirava” mais a Marrie do que qualquer outra coisa ou alguém.
Tio Clint sentou no sofá ao meu lado e passou as mãos pelo meus ombros.
–Fique tranquila, loirinha- ele disse olhando bem nos meus olhos.
–Pode deixar- digo com uma voz cansada e volto a olhar para a minha mãe preocupada. Quando ela pararia de gesticular como uma doida?
–Tudo bem. Estou indo- minha mãe guarda o celular e se levanta rapidamente. Tento não notar suas olheiras e as marcas de lágrimas. Ela olha para mim e gesticula para a porta- Vamos, Alex, temos uma garota para salvar.
Sorrio quase que involuntariamente, não contendo a ansiedade que estourava dentro do meu peito, e percebo que não sou a única, já que tia Bobbi esboça um enorme sorriso para mim, levantando a mão na altura do rosto.
Levanto-me rapidamente já sabendo o que ela queria, e então corro em sua direção, batendo minha mão contra a dela.
–Boa sorte, afilhada- ela deseja energética, apertando minhas bochechas como ela fazia quando eu tinha cinco anos.
–Obrigada, madrinha- agradeço e então viro a cabeça na direção de tio Clint, dando-lhe uma piscadela, que é retribuída instantaneamente.
Eu amo meus padrinhos.
–Vamos, Aléxia!- minha mãe grita do corredor, já do lado de fora, e então eu a encaro, correndo em sua direção.
–Não esquece de me ligar, Nat!- tia Bobbi grita para minha mãe, que faz um joinha para ela, aproximando-se da porta.
–Fique com a Ashley, por favor- mamãe pede e então fecha a porta, mesmo sem ouvir a resposta de tia Bobbi.
Logo começamos a correr para o elevador, dando sorte por ele chegar imediatamente. Deixo minha mãe entrar primeiro e ela aperta o botão da garagem, fazendo a porta fechar.
Começo a pensar em tudo que aconteceu, reviver o momento em que minha discussão com Scarlett começou. Ela tinha seus motivos para brigar comigo, e eu tinha os meus, e curiosamente, ambos envolviam nossos pais.
Nunca nos demos completamente bem, mas jamais seria capaz de machucar Scarlett por vontade própria, pelo contrário, eu sempre a ajudava quando ela se metia em alguma encrenca na escola, já que fez parte do programa em Londres para alunos avançados (juntamente comigo e Robert) e mesmo sendo meses mais nova que eu, ela sempre fazia questão de dizer o contrário aos amigos. Estávamos começando a ficar amigas quando nos mudamos. Desde então, tanto eu quanto ela mudamos muito. Me lembro de quando eu chegava com meus cabelos- quase invisíveis de tão claros- presos em um simples rabo de cavalo, e ela me mostrava os penteados que tia Pepper fazia nela, exibindo seus belos e longos cabelos castanho-arruivados, que hoje são completamente castanhos. Aliás, nunca entendi o real motivo dessa mudança.
O que realmente importa é que nunca fomos amigas íntimas, muito menos inimigas mortais, então mesmo que ela tivesse merecido apanhar, eu me sentiria culpada pelo resto da vida.
–Alex- ouço minha mãe me chamar e então balanço a cabeça, encarando-a- O que foi?
–Estava lembrando de algumas coisas- respondo simples, evitado encara-la nos olhos. Eu sabia que aquelas olheiras haviam sido causadas por mim, e sinceramente me arrependo disso.
–Não me diga que é sobre o seu rabo de cavalo- minha mãe fala sorrindo, levando-me a rir nasalmente, balançando a cabeça em um "sim"- Era o que eu sabia fazer de melhor, querida.
–Eu sei, mãe- começo, pegando em sua mão- Eu amava quando prendia meu cabelo.
–Se a Ashley já estivesse conosco, ficaria brava comigo, com certeza- minha mãe expõe e eu concordo com a cabeça, imaginando uma mini-Ashley batendo o pé, contrariada.
–Ficaria mesmo, principalmente depois de ver os penteados da Scarlett- falo e então percebo que, inconscientemente, eu sempre falaria sobre Scarlett. Ela é irmã do meu melhor amigo, estudou junto comigo, deu nó no meu cabelo diversas vezes tentando fazer seus penteados e vai terminar a faculdade comigo.
Como do nada eu quase a matei?
Ah, claro, não fui eu, foi a Fênix. Como sempre.
–Filha, mudando de assunto- minha mãe começou, fazendo-me suspirar baixo. Não mãe, por favor, não comece- Sabe que eu te amo, não sabe?
–Claro, mãe!- respondo um pouco surpresa, elevando a voz sem querer- Por que isso?
–É que... As vezes... Eu penso que talvez eu não consiga demonstrar meu amor por você, Alex. Quero ter certeza de que você sabe que é amada, mais do que tudo.
Demoro alguns segundos para responder, sentindo um bolo de lágrimas subir por minha garganta. Percebo que mamãe tem lágrimas banhando seus olhos verdes e então coloco a mão em seu rosto.
–Você é a pessoa que eu mais amo nesse mundo, mãe, e eu sei de tudo que já fez por mim, para me manter segura, feliz- despejo tudo que sinto, fazendo-a envolver-me em um abraço apertado- Eu te amo demais, mãe.
Ficamos em silêncio o tempo todo, até o elevador chegar à garagem. Por mais que só tenham passado poucos minutos até a chegada ao piso subsolo, pareceu uma eternidade, e isso pode sim ser considerado bom. A quanto tempo não abraçava minha mãe tão forte?
–Okay, tudo bem- minha mãe fala, mesmo que evidentemente contrariada- Podemos continuar isso depois, mas agora temos que ir, Scarlett não pode esperar tanto tempo.
–Sim, sim...- concordo e então ela sai do elevador, fazendo-me seguia-la. Ao parar em frente ao carro, eu a chamo.
–O que foi, Alex?- ela questiona, abrindo a porta do motorista. Sorrio e então ela arregala os olhos levemente.
–Eu dirijo.
🔸🔸🔸
Minha mãe saiu do carro um olhar um pouco surpreso, para não dizer assustado. Mesmo sabendo que ela é uma incrível agente e super-heroína, tenho que revelar que ela se assusta quando a questão sou eu no volante. Digamos que essa seja a minha fraqueza...
Entramos no hospital meio afoitas, caminhando a passos largos. Comecei a olhar mais adentro do hospital e encontrei alguns rostos conhecidos por ali: Steve, Marrie, Chris, Sharon. Mas mal me importei, minha mente estava focada em achar tia Pepper e tio Tony. Talvez eles nem quisessem falar comigo, mas teriam que ouvir, de uma forma ou de outra.
Estávamos quase alcançado Robert, que conversava com um outro moreno, de olhos incrivelmente azuis e desconhecido por mim, quando avistei Peter Parker e Gwen Stacy Parker chegando igualmente afoitos, com a pequena May no colo da loira. Eles eram os padrinhos oficiais de Scarlett, então não me surpreende eles estarem aqui tão rápido, mesmo aparentemente não tendo com quem deixar May. Ah, e para deixar claro, eu nunca os vi, mas Robert me deixava atualizada de tudo.
Robert. Ainda me lembro do que ele havia falado para mim. "Parabéns, Aléxia". O que ele pensava? Que eu tinha feito de propósito? Sinceramente, sim, eu me importo com o que ele pensa... Todos se importam com o que os melhores amigos pensam.
–Natasha?- ouço Peter exclamar surpreso, alternando seu olhar entre mim e a minha mãe. Vejo-o analisar-me de cima a baixo, fixando seus olhos castanhos em meu rosto, estreitando-os. Será possível que bem ele, que nunca me viu, percebesse alguma semelhança entre mim e o Capitão?
–Ah... Olá- minha mãe exclama sem expressão nenhuma, mas internamente se segurando para não ser mal-educada, afinal, ele não tem culpa de nada. Sei que ela está impaciente e só quer chegar logo na UTI, onde está Scarlett- Essa é a minha prima, Aléxia- Peter acena para mim ainda com curiosidade e eu sorrio, tentando fazê-lo desviar o olhar- Agora temos que ir. Bom te ver de novo, Parker!
Peter nem teve a chance de responder e mamãe começou a puxar a minha mão, e logo estávamos quase correndo pelos corredores.
Assim que nos aproximamos da UTI, tive vontade de parar. Eu sei que não havia nada para pensar, a Fênix havia dado uma trégua, eu tinha a chance de salvar uma vida, uma família, uma tragédia que eu havia causado... Não podia simplesmente parar para pensar.
–Desculpe, senhoritas, vocês precisam de autorização para entrar na UTI- o segurança (que surgiu do nada, eu juro!) nos barrou e pude ver minha mãe dando um suspiro cansado, lançando-lhe um olhar feroz, que eu juro que fez o segurança tremer até a medula.
–Então chame Tony ou Pepper Stark- ela disse com voz cansada- Ou os dois, não me importo. Só vá logo!
O segurança fez uma careta incomodada, como se quisesse questionar "quem é você para me dar ordens", mas somente assentiu, talvez reconhecendo minha mãe. Enquanto esperávamos, eu observava a temida Viúva Negra batendo os pés rapidamente no chão e ficar impaciente, andando de um lado para outro como uma adolescente que espera o telefonema do paquera. Prendo o riso e olho para o lado contrário, fitando ao longe Zachary brincando com May.
Minha mãe era uma pessoa muito confusa.
De repente, sinto alguém me puxando e me envolvendo em seus braços. Assim que sinto seu perfume cítrico invadir minhas narinas, sorrio e a aperto mais ainda.
–Nervosa?- pergunto com um riso, mesmo sabendo que ela negaria, apesar de realmente estar nervosa. Eu conhecia minha mãe como a palma da minha mão.
–Eu? Nervosa?- ela zomba com a voz carregada de ironia, mesmo soltando um riso baixo- Você me conhece, Aléxia.
Estava pronta para retrucar quando ouço passos apressados pelo corredor.
–Natasha?- a voz de tia Pepper soa baixa, falha e incerta, fazendo-me virar e olhar para trás. A situação dela não era das melhores. Mesmo tendo chorado bem mais que minha mãe, suas olheiras não eram tão profundas, mas sua postura derrotada, curvada e as feições desesperadas eram suficientes para deixar-me ainda mais culpada. Desvencilho-me de minha mãe e vou em direção à tia Pepper que, surpreendentemente, me abraça com força.
–Vai ficar tudo bem- sussurro em seu ouvido, escutando-a soluçar de leve. Era tudo culpa minha. Eu sabia da capacidade da Fênix, Scarlett não. Eu poderia ter evitado tudo isso...
–Então é verdade?- ouço ela sussurrar de volta para mim, afastando-se em seguida- Você tem a cura?
Seus olhos claros me encaram com uma esperança absurda, o que faz com que eu encare minha mãe, buscando sua ajuda.
Mamãe somente fez um movimento positivo com a cabeça e desviou o olhar para tia Pepper, movendo os lábios em um discreto “aqui não” e apontando disfarçadamente para o segurança. Tia Pepper esboçou o que acredito ser uma tentativa de sorriso e assentiu, com as bochechas coradas. Claro, ela não estava acostumada a esconder identidades secretas/heróicas e coisas desse tipo. É compreensível.
–Venham- a outra ruiva nos chama, começando a caminhar pelo mesmo corredor pelo qual veio até nós.
Suspiro e me preparo para andar, mas sinto a mão de minha mãe buscar a minha. Levanto o olhar e a encaro, tentando transmitir tudo o que eu sentia agora. Medo, angústia, preocupação, culpa... E não me surpreendo quando mamãe sorri para mim, dando um beijo demorado em minha bochecha.
–Sei como é, minha filha- ela começou, agora virando-se de leve para fitar tia Pepper, que ainda caminhava lentamente, completamente absorta- Mas você vai conseguir. Eu confio em você.
Somente sorrio de volta, entrelaçando minha mão com a dela, e logo estamos seguindo tia Pepper até o lugar onde Scarlett estava.
Eu nunca entrei em uma UTI, e a única coisa que eu sei é que só é permitido uma ou duas pessoas a cada leito. Eu tentava não pensar nisso, mas a qualquer hora sinto que alguém vai entrar e expulsar minha mãe de lá. Não sei se conseguiria sem ela. Mas... Entrar ali e enfrentar o que eu sentia era quase uma obrigação para mim, e eu devia cumpri-la para me sentir aliviada.
Assim que chegamos em frente ao leito de Scarlett, percebi tia Pepper engolir em seco, como se já estivesse me avisando de algum modo que eu não gostaria de ver o que tinha atrás daquela cortina azul e mórbida. Mas, de qualquer jeito, ultrapassei minha mãe e fui parar ao lado da ruiva, entrelaçando meus dedos como em um tique nervoso.
Tia Pepper encarou-me como que perguntando se eu estava pronta para ela abrir a cortina e eu somente balancei a cabeça afirmativamente, sentindo um frio desconfortável percorrer minha espinha, fazendo minhas pernas vacilarem. Porém, era tarde demais para correr.
Logo a cortina foi aberta, e eu pude ouvir minha mãe soltar um suspiro atrás de mim, colocando sua mão em meu ombro, mas agora, parecia que nada mais acontecia a minha volta. Agora só haviam Scarlett e eu.
Monstro. Talvez eu seja um.
A morena estava entubada, com fios saindo de todos os lugares possíveis. Uma das pernas estava engessada até a coxa, e no braço esquerdo um fio mais grosso saía praticamente de dentro de sua pele, ligando-a ao soro. A cabeça tinha uma faixa um pouco manchada de sangue, que cobria toda sua testa. As bochechas, o nariz, o queixo, as orelhas, o pescoço.... Tudo estava com cortes que não acabavam mais, fora o que acontecera internamente, que eu havia feito questão de saber: três costelas quebradas, uma hemorragia, um dos rins danificados e um leve trauma na coluna cervical. Se fosse qualquer outra pessoa, não estaria aguentando até agora, tenho certeza.
Em segundo plano, pelo canto do olho, percebi tio Tony segurando uma das mãos de Scarlett, com a cabeça baixa. Ele deve estar se sentindo impotente, sem poder ajudar a filha, a sua garotinha, a permanecer viva. Ele é o único que possui tipo sanguíneo O, como o dela, mas por causa do Extremis, seria algo completamente em vão. Extremis. Mais uma vez, algo que poderia ter sido evitado.
–Aléxia- ouço minha mãe me chamar e então viro-me em sua direção, só percebendo agora que eu tinha os olhos marejados. Ela estava ao lado de tia Pepper, que alternava o olhar entre Tony e Scarlett.
–Sim- solto simples, pressionando de leve os olhos e permitindo que uma lágrima solitária descesse pela minha bochecha esquerda.
–Conte o que aconteceu, querida- mamãe pediu, colocando as mãos nos ombros da outra ruiva, como que para ampara-la, se necessário.
De repente, tudo voltou a minha cabeça como um tornado.

~Flashback on~

Eu ainda estava na sacada, após Steve ter saído com Sharon, quando senti uma enorme dor de cabeça. Não era uma daquelas dores normais, que você tem certeza de que tomar um bom banho e dormir um pouco resolve, mas sim de um jeito estranho e até o latejar era diferente, ritmado como um martelar insistente. Instintivamente agarrei a barra, curvando-me para frente, como se esse simples movimento fosse fazer minha dor de cabeça sumir.
Mas não era algo normal... Ah, eu sabia muito bem o que era isso.
Virei-me para trás e uma mulher de fogo estava diante de mim. E não era um fogo estilo Johnny Storm, era um fogo mais... Elegante, formoso. Ele escorria por seu corpo como uma cachoeira e, tenho que admitir, era uma visão muito bonita.
Fênix.
–Vou ser breve, sabes que não posso ficar muito tempo aqui- ela disse e eu prendi a respiração. A visão bonita agora nem fazia mais diferença. Que vontade de mata- la.
–Vá em frente, Vossa Alteza- eu disse irônica e me curvei, fazendo seus olhos acenderem mais ainda demostrando sua raiva.
A sensação de estar livre da Fênix por dentro, mesmo que só por segundos, era a melhor recompensa que eu poderia receber no momento. Eu me sentia normal, como qualquer outra garota da minha idade.
–Irei curar a filha do Stark- ela disse e eu arregalei os olhos surpresa. Desde quando ela se preocupava com alguém além dela mesma?
–Como?- perguntei confusa, questionando o fato dela não estar se aproveitando da situação para tirar uma comigo.
De qualquer forma, ainda estávamos no mesmo lugar e Fênix me encarava como se eu fosse uma criancinha inocente.
–Aléxia, querida- ela disse com aquela voz que os professores usam para explicar algo para gente do jardim de infância- Quem sou eu mesmo? Ah! A Fênix, um dos seres que tem controle sobre toda matéria, certo?
–Ah- disse fingida e revirei os olhos- Havia me esquecido, perdão.
–Então, com esse poder, irei curar Scarlett. E a explicação é simples: Transferirei o fator de cura máximo para o sangue que você doar. Scarlett não herdará nada do que você tem, mas será curada. Simples! E também não ficará com o fator de cura para sempre, ele irá se esvair de seu corpo no momento que estiver tudo certo com ela- Fênix disse e sorriu, ficando com aquela pose de “sou demais, agora me obedeça”.
Ainda não conseguia acreditar, mas apesar de ter um pé atrás, não podia perder a oportunidade,
–Nossa. Lembrarei disso quando eu

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me machucar.
–Não, querida, o fator de cura só funciona se eu quiser. Você tem um pouco por causa dos seus pais, mas se um dia você estiver no estado lamentável da Stark… Vou pensar muito sobre o assunto- ela disse e desapareceu, fundindo-se com o meu corpo novamente, gerando mais uma rápida dor de cabeça, bem menos aguda que a anterior.
Fiquei de costas para as luzes da cidade por alguns segundos, tentando ainda processar a ideia direito.
Eu poderia salvar Scarlett.
Corri até o elevador e apertei o botão para o andar do tio Clint para falar com a minha mãe. Finalmente ninguém ia me pertubar mais sobre esse assunto.
Porque agora… eu tinha a cura.

~Flashback off~

Tia Pepper me olhava atentamente enquanto eu contava a história e, ao que parece, o amparo de minha mãe foi necessário em um momento. Apesar de ter sido o mais sincera possível, omiti várias partes, é claro. Já tio Tony não tirava os olhos de Scarlett, segurando a mão da filha como se estivessem grudados. Eu sabia que ele estava ouvindo, porém também sabia que ele não iria desviar a atenção da sua garotinha. Olhando os dois assim, mesmo sem Scarlett poder corresponder, eu sentia mais ainda a falta de ter um pai.
Sei que minha mãe é incrível e fez de tudo para eu não sentir falta de um pai, e nem quero ser ingrata. Ela desistiu de muita coisa por mim. Desistiu do amor da vida dela, desistiu dos amigos, desistiu de uma vida como vingadora que ela tanto amava, tendo que trabalhar como gerente de uma loja (não queria trabalhar como espiã ou policial porque temia que alguém nos achasse). Embora eu nunca soube o porquê de tudo isso, eu a respeitava.
Mas eu via os pais e suas garotinhas, via eles as protegendo e brincando com elas, via Steve e meus sentimentos se misturavam como se eu tivesse os jogado numa batedeira e fizesse um bolo.
–Então… pode tirar seu sangue agora?- tia Pepper perguntou e eu assenti. Pela expressão dela, ela mesma faria isso se minha mãe não se colocasse no meio, pegando nas mãos da outra ruiva..
–Melhor chamar o médico, Pepper.
–Ah sim, claro!- ela exclamou como se estivesse esquecido, e não descarto essa possibilidade, e apertou o pequeno botão ao lado da cama onde a morena estava, para chamar uma enfermeira.
Enquanto minha mãe puxou tia Pepper para o lado, tio Tony levantou a cabeça por um mero instante, parando o olhar em mim. Fitei seus olhos, que estavam claramente vermelhos, e a expressão derrotada.
Não, aquele não era Tony Stark, o Homem de Ferro. Aquele era meu tio Anthony, um pai desesperado e inconsolável.
Assisti-o suspirar fundo, dando mais uma olhada em Scarlett antes de voltar a olhar para mim. Ficou alguns segundos em silêncio, talvez remoendo alguma ideia, mas então finalmente abriu a boca, lançando-me um olhar diferente, um que eu nunca havia visto, mais sincero que todos, um olhar de...
–Obrigado, Aléxia.

***

–Steve-

–Eu ainda não consigo acreditar- ouço Sue Richards balbuciar desacreditada ao meu lado. Fico confuso por um instante, ela está falando comigo ou com os seus filhos?
–Nem eu- respondo por precaução.
Ela me olha com seus olhos azuis incrivelmente fortes. Sua preocupação era mais com Pepper (posso apostar nisso), já que elas eram amigas de infância. Quando Natasha saiu da UTI com Aléxia (que estava com um curativo no braço) todos olhamos para ela esperançosos. Finalmente algo havia dado certo e era a própria Aléxia que tinha feito dar. Ela não iria ter aquela culpa esmagadora sobre ela.
Isso me deixava impulsivamente tranquilo.
–Aléxia!- chamei-a por impulso, recebendo alguns olhares. O mais expressivo deles foi o de Sharon, que parecia querer fuzilar-me ali mesmo.
Natasha travou por um instante e seus olhos estavam neutros, mas a conhecia muito bem e percebi uma pontada de desespero. Franzi o cenho confuso, o que tem? Nem com sua prima eu poderia conversar?
Aléxia me encarou confusa e sorriu. Não sei porque, mas o seu sorriso começou a me lembrar de Chris e seus olhos também. Ela, estranhamente, lembrava um pouquinho o meu filho.
–Ocorreu tudo bem?- perguntei e Aléxia assentiu, desfazendo o sorriso por um instante e caminhando até Franklin e Valéria Richards. Busquei o motivo de sua abrupta mudança de comportamento para comigo e então meus olhos pararam em Sharon, que agora encarava Natasha de um modo desnecessariamente intimidante. Não que Natasha fosse se sentir intimidada, pelo contrário, penso eu.
–Natasha!- ouço Sue exclamar, levantando-se da cadeira num rompante e parando na frente da ruiva em alguns segundos. Sou obrigado a desviar a atenção, voltando-me para Chris e Marrie, que jogavam pedra, papel e tesoura- Como estão as coisas?
Mesmo não querendo invadir a conversa, comecei a ouvi-la, mas minha atenção foi rapidamente desviada para um pigarro relativamente alto.
–Essa garota parece muito a Natasha, não?- ouvi a voz de Peter Parker ao meu lado. Sim, nós estávamos revezando as cadeiras já que não tinha como todos sentarem nas 10. Logo eu teria que levantar para ceder a cadeira à Reed, que agora mantinha uma conversa ativa com Bruce e Pietro.
–Elas são primas- respondi meio óbvio, não entendo realmente a intenção de Peter. Primas se parecem, tem o mesmo sangue, nada anormal.
–É…- o Parker somente soltou desatento, balançando a cabeça em seguida e levantando-se, cedendo a cadeira à Gwen, que colocou May sentada em seu colo.
Voltei a prestar a atenção em Natasha e Sue, que ainda conversavam paradas no corredor, quando observei uma médica passar, vestida em um jaleco impecável. A postura ereta e as pisadas leves compunham uma faceta tranquila, combinando perfeitamente com seu rosto sereno.
De fato, era uma mulher muito bonita.
Assim que ela passa por mim, esboça um sorriso doce, como que me cumprimentando, e então posso ler seu nome bordado em azul no seu jaleco.
Kemily VanPatter.

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