Além de uma vida

Sobre preferir morrer II


Ponto de vista de Alice

Estava com todos da família ao meu redor quando aconteceu. Tinha voltado da caça, tomado um banho, vestido uma das roupas que Rose comprara naquela manhã - apenas um improviso, Alice - e conversava com Esme sobre o que iria fazer quando vi a decisão de Isabela. A decisão final, a decisão que não mudaria como a outra da floresta. O fim.

Carlisle escondeu a chave de todos os carros - como se eu não soubesse onde ele havia escondido -, e Emmet me segurava enquanto eu tentava me acalmar. Liguei para minha irmã, e então liguei para Edward, e no segundo seguinte Rosalie e Esme também me seguravam. Ela não quer se transformar, ela não quer se transformar, Isabella tem menos de seis meses de vida e não quer se transformar.

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Vampiros não dormiam, era mais uma maldição do que uma benção naquela noite. Na manhã seguinte, quando vi que Edward passaria pela porta, corri até a entrada e já estava o esperando no portão quando ele surgiu com o carro.

"Você não pode deixar isso acontecer." Foram minhas primeiras palavras na manhã de quinta feira, quando meu irmão saiu do Volvo. Naquele momento em nada me importava sua expressão de derrota, seus olhos tristes: eu apenas precisava mudar seus pensamentos, de algum jeito, faze-lo, de alguma maneira, terminar com aquele absurdo. "Edward, ela é minha irmã, você não pode-"

"Você quer que eu faça o que?" No segundo seguinte Jasper estava entre nós, novamente me segurando - por mais forte que Edward seja, era eu o perigo naquele primeiro ano. "A transforme sem que ela me peça?"

"Fizeram isso comigo e eu estou bem!" rosnei, inconscientemente tentando me livrar dos braços de meu antigo professor. Senti minha angústia aumentar quando falei as próximas palavras, já sabendo que elas machucariam um dos que eu mais amava, mas não conseguindo para-las. "Ninguém pediu a minha permissão! Ninguém pediu!" Me soltei no segundo seguinte, algo no meu peito parecia estar se partindo. "Me desculpe." pedi, olhando para meu vampiro enquanto tentava recuperar o controle, mas sabia que Edward não iria colaborar para aquilo - também, em sua situação, como poderia?

"Você nem mais falava, você estava morrendo-" Mais uma vez o desespero me invadia, enquanto um forte sentimento de impotência tomava cada vez mais conta de mim - mas que droga, Jazz!

"Ela também está!" outra vez falava sabendo que minhas palavras não ajudariam em nada. "Ela está morrendo, e deve estar assustada, e eu nem mesmo posso abraça-la!"

"Você acha que eu não sei disso, Alice?" Ao menos tinha conhecimento que aquele seria o fim da briga. "Você acha que eu não estou desesperado também? Que eu não a quero para sempre ao meu lado?" O pior fim, o fim que voltaria a deixar toda a família aflita. "Você acha que, com ela morrendo outra vez, eu não vou querer seguir? Porque eu não aguento mais. Eu realmente não aguento mais."

No silêncio que se fez, só ouvi Edward batendo a porta de entrada enquanto ia para seu quarto. Passaria o resto da manhã ali, até chegar a hora de buscar Isabella na escola - o que ele faria. Ao menos seria sua última semana na escola - minha irmã apenas gostaria de se despedir dos poucos amigos que fizera ali. Esme falaria de seus medos para Carlisle, e ambos temeriam que o passado se repetisse. Ao menos aquilo faria Emmet e Rosalie ficarem mais unidos do que nunca, algo bom no meio de tudo aquilo.

"Al, meu amor, você não vê nada?" Os braços que antes me continham agora me abraçavam, Jasper finalmente conseguindo deixar o ambiente mais leve do que há segundos atrás - ainda assim, as emoções eram muito mais pesadas do que gostaria. "Nada diferente?"

"Todas as decisões a levam para o mesmo fim." suspirei, me soltando naqueles braços. "Eu posso ligar, posso tentar mostrar que não sou esse monstro, posso tentar convence-la, ter uma conversa controlada ao lado dela. Ela ainda vai escolher partir. Edward não acha justo interferir em sua escolha, e quer-" E quer morrer também. Era esse o destino, então? Ela sempre morreria, e ele precisava morrer também no final? A angústia crescente no meu peito me tirava um ar que eu não precisava, era como se necessitasse de algo que não tinha mais, como se não conseguisse mais aliviar aqueles sentimentos. "Eu não sei mais o que fazer, e por Deus," Realmente, eu não tinha mais aquela opção para ficar mais leve. "Eu não consigo nem chorar!"

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Ponto de vista de Rosalie

Uma semana havia passado desde a decisão, e novamente morávamos - pois Emmet havia me convencido a mudar - numa casa cemitério. Apesar de Edward mal passar em casa desde que Isabella desistira da escola, Alice passava todos os seus minutos tentando descobrir uma possibilidade que fizesse a irmã desistir de sua escolha, e Jasper já não mais conseguia manter o clima agradável - ele mesmo estava em seu próprio desespero.

Estava parada na frente da pequena casa que a humana dividira com Alice já fazia uma hora, mas esperara Edward sair para tocar a campainha. Ele me olhou agradecido ao me ver parada ao lado de minha Ferrari, entrando no seu Volvo com sacolas e uma lista de compras na mão - tudo que Isabella queria comer antes de morrer, talvez?

Eu vou tentar, irmão. Eu vou tentar uma última coisa.

"Posso entrar?" falei quando a porta abriu, me revelando uma jovem menos magra do que eu imaginava, mas com olheiras maiores do que me lembrava. Faria minha melhor maquiagem naquele rosto no dia, com certeza.

"Rosalie?" Nos vimos poucas vezes, e sim, havia a chance dela fechar a porta na minha cara, não querendo desperdiçar seus últimos segundos de vida comigo, que a tratara tão mal no passado. Mas então, ela sabia o porquê de minha quase raiva, não sabia? Seu desrespeito com sua humanidade me tirava a razão, essa humanidade que eu tanto desejava. Essa humanidade que eu gostaria que Isabella parasse de tanto querer agora. "Claro." Bella respondeu, tomando mais um gole do que havia em sua xícara. "Eu posso," Com certeza iria me oferecer aquilo, esquecendo-se por um momento do que eu era. "Esqueça."

"Obrigada." agradeci, entrando e fechando a porta atrás de mim. "Fique à vontade para tomar seu café, Bella. Sofá novo?"

"Edward meio que destruiu o velho." ela respondeu, parecendo um pouco embaraçada, ficando mais vermelha ao ver que eu havia entendido o que acontecera. Talvez meus planos mudariam um pouquinho, então.

"Não precisa ficar envergonhada." disse, rindo. "Emmet e eu já destruímos uma casa." Sentei no sofá provavelmente comprado pelo meu irmão e Isabella acabou ao meu lado, a caneca sendo colocada vazia em cima da mesa de centro, que parecia mais bamba do que deveria. Abriu a boca uma, duas vezes, mas acabou mantendo-se em silêncio. "Pode falar o que você quer falar." Tentei lhe dar um pouco de coragem, mas foram mais algumas tentativas antes das palavras saírem.

"Se você veio aqui para tentar me convencer-" Perdeu a viagem, completei mentalmente.

"Eu nunca vou tentar te convencer a ser o que somos, Bella." Nem mesmo agora, nem mesmo para salvar meu irmão, eu tentaria convence-la - ao menos com palavras. Mas poderia apresentar nossa vida para ela. Poderia fazê-la ver que não era tão ruim, que era sim suportável, quando havia alguém ao seu lado. Que por aquela pessoa, pelo amor da sua vida, valia sim o sacrifício - era naquilo que eu acreditava. "Você é livre para sua escolha, sempre. Eu sei o quanto é difícil abrir mão de algumas coisas humanas, sei bem."

"Do que você sente falta?" A pergunta me pegou um tanto de surpresa.

"Filhos. De envelhecer enquanto os vejo crescer. De ter um cachorro." Que eu não queira matar de hora em hora - mas deixei aquela parte de fora. "Mas se fosse para morrer, e nunca mais achar Emmet-"

"Você não se lembraria de nada disso."

"Será?" Do mesmo jeito que você não lembrou de meu irmão? "Mas chega dessa conversa, vamos falar de coisas alegres! Eu vim te entregar nosso convite." mudei o assunto, tirando um envelope vermelho de dentro de minha bolsa. Esperei ela abrir para continuar. "Você ainda vai, não vai? Nós antecipamos um pouquinho, então o casamento será no sábado que vem."

"Em dois dias?" A resposta veio num tom surpreso quando seu cérebro fez as contas. "Rosalie-"

"Me chame de Rose."

"Rose." A vi suspirar, e por um momento temi uma negativa. "Eu sou um sangramento ambulante."

"Carlisle pode dar um jeito nisso. Ele pode te receitar algo que controle os sangramentos por algumas horas, pelo menos." E ainda que sangrasse, a ideia era aquela. A ideia era mostrar que era possível conviver com aquilo, com sangue, se aquele era um de seus medos - por mais que Alice falasse o quanto tudo aquilo era inútil. "Só por algumas horas, Bella. É importante para mim que você vá. Por favor?" terminei sorrindo, enquanto segurava suas mãos com delicadeza.

"Tudo bem." Meu sorriso só aumentou. Precisaria fazer aquilo dar certo - e pegaria o vestido que não havia sido a primeira opção, graças ao sofá um novo plano em minha mente. Tinha 48 horas para fazer tudo aquilo dar certo, era tempo suficiente.

"Ótimo!" Minha voz já soava mais contente enquanto me levantava. "Vou pegar seu vestido no carro!"

"Vestido?"

"Você vai ser uma de minhas madrinhas, bobinha." Já estava na porta quando respondia - madrinha, claro.

Aquilo daria certo. Estava com aquele sentimento - quase uma intuição, que não havia no plano passado - de que no final daquela história, tudo daria certo.

Para todos nós.

—__

Ponto de vista de Emmet

"Entregou o vestido pra Bella?" Perguntei, enquanto puxava minha mulher para nossa cama de ferro reforçado com titânio - uma que ainda não havíamos conseguido quebrar. Rose fez que sim com a cabeça enquanto me dava um beijo rápido, se aconchegando no meu peito. "Ela aceitou?" Mais um sim. "Você realmente acha que isso vai dar certo?"

"Deu certo com a gente."

"Nós já éramos vampiros quando você me mostrou esse corpo maravilhoso." A lembrei, brincando com a alça de seu vestido.

"Ela já mostrou o corpo maravilhoso dela para nosso irmão." Não consegui esconder o olhar surpreso - o plano de Rose já havia dado errado antes de começar, então como achava que funcionaria? "Eu quero que Bella veja que podemos nos relacionar com humanos, normalmente. Até Alice - ela já viu que consegue, ela disse que vai dar tudo certo quanto a parte dela."

"E ela disse que vai dar errado, Rose." a lembrei.

"Mas eu mudei algumas coisinhas, Emm." ela contou, inutilizando mais uma de minhas camisas. "Até mesmo já deixei nossas roupas novas na casa de campo."

"Só não crie muita expectativa, ok?" Me livrei dos restos do tecido branco e acabei em cima dela.

Eu estava esperando me dar bem naquela tarde, com certeza. A casa estava vazia, cada um se ocupando como podia no dia chuvoso, o clima finalmente mais leve, Rose finalmente mais relaxada. Usava o conjunto preto que eu adorava, sorria, parecia feliz de verdade. Com certeza eu não estava esperando pela pergunta que veio após mais um beijo, após o vestido estar no chão.

"E se eu morresse, Emm?"

Me levantei em um pulo, me controlando para não socar a parede - porque a vontade era de destruir a casa.

"Por que você fica falando essas coisas absurdas?" falei quase com raiva, enquanto tentava manter o controle.

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"Não é absurdo." A voz de Rose saía triste, e a cada palavra o aperto em meu peito crescia. "Você me acharia outra vez? Se nós dois morrêssemos, acha que voltaríamos a nos encontrar como humanos? Como pessoas normais, com famílias normais, que podem envelhecer, que," Senti ela me abraçando por trás, sua testa apoiada no meu ombro. "Podem ter filhos. Começar uma família."

"Rose, por favor-" Me virei para ela e a segurei forte pelos braços, mas minha esposa simplesmente não parava de falar - e ela tinha que falar justo aquilo, justo no dia de nosso aniversário de casamento.

"Porque eu gostaria muito de morrer, Emm. Mas se não fosse para te achar outra vez-" agradeci pelas palavras terem finalmente cessado, um choro que nunca viria preso em sua garganta.

"Rose, por favor." Encostei a testa na dela, minhas mãos ainda a segurando forte, como se caso eu a soltasse, fosse perde-la para sempre. "Por favor, por favor, por favor," Como se meu medo, tão presente naqueles últimos anos, fosse enfim se tornar verdade se eu a deixasse ir. "Não fale isso nunca mais."