No dia seguinte, Alvo acordou com os gritos da mãe tentando acordar Tiago.

-Acorda, garoto! –gritava ela, do andar de baixo. –Vamos, já vai ser meio-dia e você ainda está nessa cama!

Acordar Tiago era uma façanha que poucos conseguiam fazer com facilidade. Geralmente, Gina começava a chamar o garoto lá pelas dez e meia, mas nas férias era inevitável, ele sempre acabava acordando depois do meio-dia. Quem o via podia jurar que havia desmaiado, pois ele simplesmente não ouviria se a casa desabasse.

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O pior de tudo é que Alvo dormia no quarto ao lado do irmão, então ouvia as batidas desesperadas da mãe na porta. Como esses quartos eram todos pequenos, todos os pertences de Alvo ficavam amontoados em volta da cama, não que ele já não fosse acostumado com isso. Ele não gostava muito de ficar arrumando seu roupeiro, afinal, para que ele precisava arrumar se dali a alguns dias já estaria bagunçado novamente? Essa era a lógica de Tiago, mas Alvo também concordava. Suas roupas ficavam todas emboladas no roupeiro, e geralmente quando ele abria a porta caía tudo em cima dele, mas depois de um tempo a pessoa se acostuma.

Seus livros escolares ficavam espalhados pela escrivaninha, assim como os pergaminhos, penas e a gaiola de Clatinie. Sua mãe vivia mandando o garoto arrumar, mas ele ficava completamente perdido e não achava nada se fizesse isso.

Ketwch estava sendo muito útil, porém, Gina geralmente mandava os filhos ajudarem nas tarefas domésticas, o que Tiago achava muito injusto, e dessa vez não fora diferente...

-Por que temos que ajudar? Estamos de férias! –protestava ele.

-Porque –retorquia a mãe – quando forem adultos e tiverem suas próprias casas, saberão arrumar a cama e lavar a louça.

-Eu sei fazer essas coisas, só não quero. –retrucava ele. –Além do mais, quando eu for adulto serei rico e terei uma centena de elfos domésticos para fazerem isso para mim.

Com a chegada da elfo, os irmãos pensaram que estariam livres das tarefas, mas se enganaram feio. Gina continuara mandando os três dobrarem a roupa, arrumarem os quartos e ajudarem a preparar as refeições.

-Mas nós temos um elfo! –exclamava Tiago. –Ketwch serve para fazer as tarefas domésticas!

-Não. – contestava Gina – Ketwch serve para fazer as tarefas domésticas quando seu pai e eu estivermos trabalhando, por enquanto ela fará tantas tarefas quanto vocês. Não tenho filhos preguiçosos.

-Então sou adotado. –resmungava Tiago.

Mas Tiago sempre conseguia pedir para Ketwch arrumar seu quarto escondido, o que a elfo fazia com muito gosto.

-Sim, meu senhor Tiago, Ketwch vai arrumar todo o seu quarto, meu senhor, e depois Ketwch pode fazer uma torta para o senhor?

-Eu adoraria. –respondia o garoto, enfiando a cabeça na porta para ver se a mãe não estava vindo.

Ketwch fazia mais vontades de Alvo do que dos outros dois, ele desconfiava que a elfo fazia isso por pena (“Meu senhor Alvo foi muito maltratado pelo Novo Lord das Trevas, ah foi!”), mas ele não se queixava, é claro, era muito bom receber leite com biscoitos todas as vezes em que ele acordava de noite.

O único problema eram Rosa e tia Hermione, que olhavam com reprovação a cada vez que os garotos pediam para a elfo fazer alguma coisa.

-Ketwch, me traga um copo de água, por favor. –pediu Alvo.

-Sim, meu senhor Alvo Severo, mais alguma coisa?

-Não, só estou com sede. –respondeu o garoto.

Ketwch saiu e Rosa olhou incrédula para o primo.

-Eu não acredito que você fez isso, Al! –disse ela.

-Eu estava com sede. –justificou-se o garoto.

-Mas a cozinha fica logo ali! Custava ter ido pegar? –perguntou a ruiva.

-Rosa, Ketwch é um elfo. É o trabalho dela, faz...

A prima revirou os olhos e o interrompeu:

-Minha mãe suou a camiseta para conseguir direitos aos elfos domésticos e você fica aí pedindo água para ela?

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Mas Alvo já havia aprendido a não discutir com Rosa. De qualquer jeito, ela iria ficar lhe chateando até que ele levantasse e fosse pegar o copo, então ele resolveu ceder logo. Acontece que Rosa era muito teimosa, e quando metia algo na cabeça era difícil tirar.

Mas mesmo com essas coisinhas, eles conseguiam aproveitar as férias, tirando Gina que insistia em pôr Tiago para dormir cedo para ver se o fazia acordar cedo (o que não deu resultado) e, consequentemente, Alvo e Lilí tinham que ir deitar-se também. Felizmente, quando os Weasley vinham visita-los, os três irmãos podiam ficar acordados até tarde. Geralmente eles ficavam no quarto de Tiago (“Sempre podemos achar coisas interessantes lá...”, descrevia Alvo).

Mas realmente havia uma variedade de coisas que você poderia encontrar no quarto de Tiago. Bom, a maior parte delas eram roupas espalhados por todos os cantos, mas havia coisas bem legais, como na vez em que Tiago achou uma Caixa de Sapos de Chocolate ainda fechada.

-E então? O que vocês pretendem fazer esse ano em Hogwarts? –perguntou Tiago a Hugo e Lilí.

-Estudar. –responderam os dois.

-Não, não. –disse Tiago rindo. –Estou falando de aventuras, sabe, Floresta Proibida, a... Por Merlim! Nós podemos entrar na Câmara Secreta!

-Não seria meio que... Contra as regras? –perguntou Lilí, insegura.

-Contra as regras? –riu Tiago. –Nem um pouco. Não podemos sair dos terrenos da escola, ninguém disse nada sobre descer uns metros abaixo da terra, disse? Alvo e Rosa vão, não vão?

Alvo pensou um pouco antes de responder. Bom, pelo menos não havia mais nenhum basilisco.

-Acho que é uma boa ideia. –respondeu.

-Estão vendo? Se o Al topou até vocês...

-Não é possível. –cortou-o Rosa.

-Rosinha, você está falando com Tiago Sirius Potter. –disse Tiago, estufando o peito.

-E por acaso você é ofidioglota? -retorquiu ela.

Tiago abriu a boca, pronto para contestar, mas depois viu que não havia resposta.

-Meu pai é. –gabou-se Rosa.

-Uma ova! –exclamou Tiago.

-É verdade. –concordou Hugo. –Papai sabe falar a língua das cobras.

-Na verdade, -retorquiu Alvo – ele copiou do meu pai.

-Nosso. –corrigiu Tiago. Alvo concordou.

-Acontece que o seu pai não sabe mais, sabe? –perguntou Rosa.

Alvo e Tiago se entreolharam.

-Bom... Não. –admitiram.

Em geral, quando estavam juntos, eles não costumavam brigar. Claro, era impossível não haver algumas discussões quando se tratava de Rosa e Tiago juntos, os dois eram exatamente o oposto do outro, embora Rosa já estivesse mudando, afinal, a convivência te deixa parecido com os demais.

Mas com certeza a maior característica de Tiago era seu jeito criança. Ele vivia fazendo palhaçadas, brincando, debochando dos outros e falando coisas sem sentido.

-E em quem mais você bateu, Tiago? –perguntou Hugo, enquanto a mãe lhe servia uma concha de sopa de sopa.

-Ah, teve o Jack Johnson, do sétimo ano. –respondeu Tiago, engolindo uma generosa quantidade de purê de batatas.

-O que ele fez para você? –perguntou Lilí.

-Disse que eu perderia o jogo contra Lufa-lufa. –respondeu o garoto com indiferença.

Tia Hermione deu um muxoxo.

-Eu não acredito que você bateu no menino só por isso, Tiago! –disse ela. –Não seria mais prudente se você falasse dele para o Neville?

Tiago pensou por um tempo.

-Não. –respondeu com simplicidade.

Tio Rony deu tapinhas de aprovação nas costas do garoto – o que tia Hermione interrompeu apenas com um olhar – e Gina revirou os olhos.

-Você não tem mais onze anos, Tiago! –ralhou a mãe. –Acha que seu pai, seu tio e eu não ouvíamos essas coisas o tempo todo? Nem por isso nós saímos batendo nas pessoas.

-Sabe, Gina, eu acho que ele devia arrumar um emprego. –disse tia Hermione. –Talvez isso o deixe mais responsável...

-Trabalho? –engasgou-se Tiago. –Mas eu só tenho quinze anos! Isso é coisa de uma madrinha dizer para um afilhado tão querido como eu?

Antes que tia Hermione pudesse dizer alguma coisa, Reéder entrou voando pela cozinha, carregava um bolinho de cartas.

-Cartas de Hogwarts! –exclamou Lilí.

A ruivinha deu um pulo do lugar onde estava e correu para apanhar as cartas amarradas ao pé da pequena corujinha, que bebericava o suco de Harry sem que o dono visse. Lilí pegou sua carta e entregou as outras a Rosa, Alvo, Tiago e Hugo.

Alvo não se surpreendeu ao encontrar dois livros a mais em sua lista. Este ano ele iria estudar Adivinhação e Runas Antigas, matérias que ele achava desnecessário. Além da lista de materiais necessários, havia ainda outro pergaminho dentro do envelope. Era o formulário que solicitava a permissão dos pais para que ele pudesse visitar a aldeia completamente bruxa, Hogsmeade.

-Ai... Meu... Merlim... –exclamou Tiago, os olhos fixos em sua carta.

Todos olharam para ele.

-Ah, eu tenho certeza de que o ano que vem você será o capitão. –disse Alvo. –E então poderemos ganhar a...

-Não é isso. –disse ele. –Bom, na verdade, eu fico muito surpreso que ainda não tenham me nomeado capitão do time, mas é... Isso...

Ele ergueu a mão que continha um pequeno distintivo reluzente, com a letra “M”.

-Tem certeza que essa é a sua carta? –perguntou Lilí.

Alvo deixou escapar uma risada, mas recompôs-se logo porque a mãe lhe lançou um olhar bravo.

-Claro que é! –irritou-se Tiago, olhando feio para a irmã. –E porque não seria?

-Eh... Nada... –sorriu Lilí.

Gina e Harry se olharam.

-Eh... Filho, você... Eh... Meus parabéns! –disse Harry.

-Isso é muito bom, Tiago! –disse tia Hermione satisfeita.

-Bom? –repetiu Tiago. Alvo jurou que o irmão teria um chilique e começaria um discurso sobre como ser monitor poderia estragar sua reputação, mas enganou-se. –Tia Hermione, isso é incrível!

-Mas você disse que monitor é coisa para “nerds”, Tiago! –disse Rosa, que parecia com inveja.

-Eu disse isso? Não lembro...

Naquela noite, os Potter e os Weasley tiveram que aguentar um Tiago muito eufórico que não parava de falar a todos o que iria fazer quando fosse monitor. Estava mais animado que Hugo e Lilí, que entrariam para Hogwarts pela primeira vez, e a entrega das cartas era, definitivamente, uma das melhores partes, pois só de ver aquela tinta verde no pergaminho amarelado, já deixava qualquer um numa alegria só. Mas eles não eram os únicos que estavam felizes, afinal, iriam para Hogsmeade!

Rosa quase teve um ataque cardíaco quando seu pai brincou e disse que ela era jovem demais para ir para a aldeia, mas a parte mais engraçada foi quando Tiago foi guardar seu distintivo e a garota começou a desabafar com Alvo.

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- Sinceramente, acho isso completamente insano. – ela disse. Alvo apenas deu uma risada. – Estou falando sério, não acho certo eles desperdiçarem oportunidades únicas como ser monitor com alguém como o Tiago! Deviam dar a alguém que tire notas boas, que tenha bom comportamento, que não tenha detenções e...

- Sabe que não pode ser monitora. – Alvo lhe lembrou. Rosa corou um pouco.

- O que? Eu nem estava pensando nisso, que bobagem!

Quando Alvo saiu para a cozinha, encontrou os pais conversando, e ele teve que rir:

-... Neville está louco? Tiago monitor? Ai, por Merlim, Harry, esse garoto vai dar detenções a qualquer um que lhe olhar feio!

-Ah, não pode ser tão ruim assim, pode? –riu Harry.

Alvo pigarreou para mostrar que estava ali. Quando a mãe o viu ficou muito corada.

-Eh... Não comente nada disso com o seu irmão, certo? –pediu ao filho.

Enquanto vestia o pijama, Alvo pensou no que a mãe dissera. Quem seria louco de nomear Tiago monitor? Mas então ele lembrou-se de uma vez em que estavam na sala da Prof.ª Claepwack e ela disse: ... E conversarei com o diretor para tomar medidas drásticas sobre suas atitudes, Potter...

É talvez essa fosse uma ideia de Claepwack para deixar Tiago um pouco mais maduro. Torná-lo monitor devia ser uma tentativa de converter o maroto...